sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Manifestação em Évora. Em 1637.

E, se não tivesse havido o 1º de Dezembro de 1640? Estaríamos a falar castelhano ou a contestar o poder de Madrid, como fazem tantos catalães, bascos e galegos?

Neste dia, o rei de Portugal era o mesmo de Espanha. Em 1580, Filipe II de Espanha e primeiro de Portugal, tinha prometido conservar as leis, a língua e os costumes de Portugal. Mas, no século XVII já estava em curso uma maior integração e um projecto de transformar o nosso país numa província.Em 1640, meses antes de Dezembro, tinha rebentado uma revolta em Barcelona, conhecida por ser a revolta de “els segadors” (à letra, os ceifeiros), descrita pelo português, mas em língua castelhana, D. Francisco Manuel de Mello que ainda teve problemas por defender a nacionalidade portuguesa.Com a revolta da Catalunha, os portugueses conseguiram consolidar a resistência, formar um exército, construir muralhas, visto que as forças espanholas estavam concentradas aí. Évora também sofreu com a ocupação pelo exército de D. João de Áustria.

Mas já em 1637 tinha havido uma revolta popular em Évora, que Severim de Faria tão bem descreve. Repare-se no que se passou, a partir da Praça Grande, hoje Praça do Giraldo:

Choveram no mesmo instante pedras nas janelas e casas do Corregedor, despedidas dos rapazes e pícaros da Praça, os quais, animados com a assistência do Povo, subiram acima e botaram na Praça, furiosa e confusamente, quanto acharam nas mesmas casas do Corregedor e, fazendo uma fogueira defronte delas, se pôs fogo a tudo.Escondeu-se o Corregedor em uns entre-solhos. E, sendo pouco depois achado pelos rapazes, passou aos telhados por uma fresta [...] se recolheu desairoso às casas do Cónego [...], que estão paredes meias com as suas. [...]Continuou a fúria do Povo amotinadamente pela Cidade e entrando em casa de Luís de Vila Lobos, logo na de Manuel de Macedo e de Agostinho de Moura, actuais vereadores, que já esta­vam escondidos, lançaram tudo o que havia nestas casas pelas janelas à rua, e grande parte se trouxe à fogueira que na Praça ardia. E ainda que estes vereadores não haviam entrado na nova diligência de inventariar as fazendas, tinham o ano passado dado consentimento a um novo tri­buto de um real por cada canada de vinho, e outro por cada arrátel de carne, que se vendessem pelo miúdo na Cidade, e porque logo então o Povo replicou, e não consentiu nestes novos reais, a que chamavam de água, executou agora nas casas dos ditos vereadores o ódio que desde aquele tempo havia concebido contra eles. E, querendo declarar mais como não consentira nunca aquele tributo do real de água, foi o mesmo Povo ao açougue e fez em rachas as balan­ças, porque as carnes se arrolavam para este tributo; e correndo às casas dos escrivães, trouxe a queimar na fogueira da Praça todos os livros e papéis que entendeu tocavam ao inventário das fazendas, ao tributo do real de água e também à quarta parte do Cabeção Geral, que o ano passado se havia imposto e em que o Povo do mesmo modo não consentia.Notou-se que em todos estes acontecimentos não houve ânimo nenhum de se furtar cousa alguma; tudo o que se achou nestas casas ou veio à fogueira da Praça ou saiu em pedaços pelas janelas, e tanto assim que até umas panelas de doces, que estavam em casa do Corregedor, vie­ram à mesma fogueira, sem haver quem lhes tocasse para outro efeito.
Foi este dia de grandíssima confusão nesta Cidade, e quase do mesmo modo os três ou qua­tro que se lhe seguiram, porque esta parte vil do Povo, que foi só que se moveu, amotinada em vários troços, andava furiosa de dia e de noite, corria e apedrejava as casas daqueles que nas ocasiões dos tributos se haviam mostrado menos zelosos do bem comum, e, como as justiças não apareciam e os nobres recearam que, se resistissem a este ímpeto, o poderiam acrescentar, acu­mulando-se de novo nos pícaros e maganos, a outra parte melhor do Povo, que não estava declarada, era tudo horror tudo confusão: o Povo se apelidava o Povo se ouvia e, sem ordem nem concerto, o Povo dispunha e executava.
Seguiu quase todo o Alentejo e o Reino do Algarve, e ainda alguns lugares da Beira, o exem­plo de Évora, e sucessivamente se foram levantando com os tributos do real de água e quarta parte do cabeção; e dos lugares maiores só Elvas, Moura e Estremoz ficaram quietos, e os demais foram os movimentos da mesma qualidade que em Evora, mais ou menos segundo a oca­sião do ímpeto, prudência das justiças e resistências dos nobres, que em toda a parte se opuse­ram a estes motins. Lugares houve em que vieram a fogueiras públicas os cartórios civis e cri­mes dos escrivães, em que não havia nada que pertencesse nem a tributos nem a inventários das fazendas.
Manuel Severim de Faria,«Relação do que sucedeu em Portugal, e nas mais províncias do Ocidente desde 1637 até Março de l638», in Alterações de Évora, int. e notas de Joel Serrão, Portugália, Lisboa, 1967, pp. 137-142.

Manifestação em Évora

Apesar da chuva intensa.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Amanhã há mais

28 de Novembro - Sul:

Portalegre,18h, Praça da República

Évora, 17h30, Praça do Sertório (junto à Câmara Municipal)

Beja, 17h30, Largo de S.João (frente ao Teatro Pax Júlia)

Faro, 20h30, Coreto do Jardim Manuel Bívar (junto à Marina)

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Ciudad Rodrigo e os monstros


Ciudad Rodrigo, bem perto de Portugal, também tem os seus monstros na catedral.
Na Idade Média eram representados. Hoje, também alguns se representam.
É interessante este nome Rodrigo que, aliás, é nome de vários reis de Leão e, por sua vez dos visigodos. Do lado de cá, também temos Figueira de Castelo Rodrigo, Castelo Rodrigo. No fundo uma mesma região (de Riba-Côa), dividida entre dois estados.

Avaliadores

Enviei para o programa Prós e Contras uma mensagem. Infelizmente não foi recebida porque o correio desse programa já estava cheio. Pode ser bom sinal ou apenas um critério.
A mensagem era esta:

Um dos problemas deste modelo é o da forma como se escolheram os professores que vão avaliar os outros e a legitimidade destes, o que se relaciona directamente com o concurso de professores titulares.

Com efeito, este concurso apenas teve em conta os últimos sete anos de carreira nas escolas, impedindo que fossem pontuados os cargos de professores com dezenas de anos de carreira que, por uma ou outra razão, tiveram menos cargos nos últimos anos, embora no conjunto da carreira até tivessem participado muito mais que outros. Também, devido a inúmeras mudanças nos curricula, em muitas escolas, deram-se cargos a professores que não tinham suficiente horário lectivo, o que lhes permitiu agora subir mais rapidamente. Os professores que nos últimos anos estiveram destacados ou requisitados nas universidades, direcções regionais etc. (e supostamente essas instituições iriam escolher os experientes para desempenhar funções), foram penalizados nos critérios de concurso. Por exemplo, um professor que estivesse convidado por uma universidade para a formação de professores, foi agora penalizado por não estar na escola, sem aviso prévio.
A situação deu origem a situações estranhas, como na minha escola , em que os professores de Matemática iriam ou vão ser avaliados por um professor de Educação Tecnológica.


Outro problema é a não avaliação prévia dos avaliadores no que respeita, sobretudo, às aulas. Alguns vão ser dispensados mesmo, outros podem (agora) optar por não querer, mas podem avaliar os outros.

Acresce que, como existem quotas, avaliadores e avaliados competem para as classificações de Muito bom e Excelente.

Os próprios avaliadores, sabendo de tudo isto e convivendo com os colegas, sentem-se numa posição desconfortável, dado que até muitos nem sequer estariam interessados nesta função.

Posto isto, um dos problemas que está em causa é a própria legitimidade dos avaliadores que não são reconhecidos como mais experientes que os outros, o que contraria totalmente os pressupostos do próprio modelo de avaliação do ministério.


As "gaffes" de Manuela Ferreira Leite

Não são apenas gaffes, é uma certa falta de jeito e é estar num partido que anda à nora, que não sabe o que é ser coerente e ter uma ideologia, que anda ao sabor da oportunidade, que permite que personalidades burlescas, gastadoras do orçamento se mantenham na corrida à Câmara de Lisboa, que gente com negócios pouco recomendáveis se mantenha na ribalta.

Ao contrário de outros desse partido e do “bloco central”, não me parece que Manuela Ferreira Leite tenha alcançado ou queira alcançar algum benefício pessoal. Mas, se continuar com aquele estilo técnico-financeiro, aquela falta de humor e as reviravoltas entre a admiração pelas medidas do governo e a colagem a reivindicações, também não vai muito longe.

Mas afinal, o que é que se esperava de um partido sem ideologia que, logo depois da fundação se tentou mostrar como social-democrata, sem que ninguém, nem os próprios, reconhecessem qualquer ideologia ou tradição social-democrata?

É que, a social-democracia tem uma história. Vem de uma cisão do marxismo, de lutas e discussões sindicais, como na Alemanha, na Espanha ou na Suécia. Apesar das críticas e dos diálogos, havia uma tradição de luta pelo atenuar da exploração capitalista do mercado sem restrições.

O BPN e o PSD e sócios

Não é estranho o que tem acontecido com o BPN. Mas é estranho acontecer isso com um banco.
Não é estranho em Portugal que, apesar de tudo não é dos países mais corruptos, mas existe aquela cultura do enriquecimento rápido (para alguns), com a fuga às leis e aos impostos, o “jeitinho” como lhe chamam os brasileiros, o “desenrasca “, o “primeiro eu e depois os outros”, a ideia de que quem engana o Estado é o mais esperto, até porque lhes parece que o Estado é uma entidade que merece ser enganada, como se não fosse financiado pelos contribuintes.

É estranho acontecer com um banco. Faz parte da ética capitalista que um banco esteja acima de qualquer suspeita, porque a confiança deve ser inatacável. Mas talvez isso fosse mais nos tempos em que os puritanos respeitáveis dominavam o sistema financeiro.

Vem agora Dias Loureiro defender a sua honra. Os seus negócios passaram, segundo ele, por Espanha, Cabo Verde, Guiné, Marrocos, Angola, Moçambique, Emiratos Árabes, Porto Rico etc. etc. Esteve em todas, conhece o rei de Espanha, Bill Clinton, tanta gente, fala em milhões.
E não sabe de nada e, quando diz alguma coisa é desmentido pelo Banco de Portugal.

Mas não interessa a pessoa, que foi ministro e um dos principais do PPD, mas o que permite isso, e dá para entender que outros estão calados mas também sabem.

O Banco de Portugal é uma entidade que supervisiona. Se há crimes financeiros a responsabilidade é de quem os fez. Não venham agora dizer que a culpa é do Banco porque não descobriu. É o mesmo que dizer que a polícia é que é culpada dos assassinatos.
Até prova em contrário as pessoas são inocentes. E é muito mau que um suspeito seja tratado como se já estivesse condenado. Sabe-se também que vai ser muito difícil provar estes alegados crimes, até porque, quando se trata de muitos milhões e muitas redes, com advogados e contabilistas especialistas, pagos a peso de ouro, com interesses difusos ou claros, há muitas formas de protelar, esconder, insinuar, obstruir a justiça.

O que eu também acho muito estranho é que grande parte dos indivíduos com responsabilidades neste banco e empresas associadas tenham passado pelo governo e sobretudo com o PPD/PSD.
Passar pelo governo e logo dirigir empresas, ganhar muitos milhões com isso, passar de um ordenado de alguns (pouco) milhares de euros para sócio com muitos milhões é aproveitar um serviço que não deveria ser um capital.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Roer a corda?


Há apoiante fidelizados do ministério que dizem que os sindicatos "roeram a corda" em relação ao memorando de entendimento.

Ora estamos quase em Dezembro. Onde é que está esse novo escalão?
Que avaliação de desempenho é que conta? A partir de quando? Janeiro?

Já não existe

Se a avaliação é para a melhoria do sistema de ensino, e se era indispensável a assistência a aulas, então qual é o sentido de só ser avaliado pela prática lectiva quem quer?
O modelo que até ontem era inegociável, hoje acabou. Mal ou bem deixou de ter coerência e foi atingido nos fundamentos.

Iliteracia minha?

No estatuto dos professores, a avaliação de desempenho vem no capítulo da progressão na carreira. Várias vezes perguntei em diferentes reuniões se quem estava no último escalão, também tinha que se submeter à avaliação. Recebi sempre a resposta que a avaliação era para todos.
Quando assinei um documento não o fiz sem pensar nas consequências. E, as consequências, seriam um processo disciplinar por desobediência que, só não teria mais consequências, se fosse uma atitude colectiva. Mas é um compromisso e um risco. Não é um papel que se rasga de qualquer maneira, a não ser, e os próximos dias podem trazer mudanças, que haja uma alteração da situação.

Agora, o que era a semana passada, já não é. Quem não se submeter à avaliação não é penalizado, apenas não sobe de escalão. Ora, os que não têm para subir o que é que fazem? Há uns dias eram ameaçados, agora fazem o que lhes apetecer? Ficam com Bom como na Madeira?

Os avaliadores dos quatro departamentos impostos também não vão ser avaliados, porque seriam pela Inspecção e, afinal, esta não vai avaliar. Portanto, também ficam de fora.

Depois há outra questão que também não percebo.
Em muitas escolas foram assinados documentos em que se suspendia a avaliação; não se solicitava, suspendia-se mesmo. Agora vem a interpretação de que, afinal, as pessoas assinaram como avaliados e não como avaliadores. Isto é, não admitem ser avaliados mas podem ser avaliadores.

Mas o que é isto? Alguém pode conscientemente ser avaliador sem ser avaliado previamente? Quando se suspende, só se suspende uma parte de si mesmo?

É tudo relativo e tudo sujeito a interpretações do momento?

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Castelo Mendo. Beira Alta




Os ovos de Fafe e as responsabilidades óbvias

Sigo aqui a ênfase de Vital Moreira em relação ao cumprimento da lei.
Atribuam-se as responsabilidades a quem de direito.


Lei n.º 3/2008de 18 de Janeiro
Primeira alteração à Lei n.º 30/2002, de 20 de Dezembro, que aprova o Estatuto do Aluno dos Ensinos Básico e Secundário
[...]
Artigo 6.º
Papel especial dos pais e encarregados de educação
1 — Aos pais e encarregados de educação incumbe, para além das suas obrigações legais, uma especial responsabilidade, inerente ao seu poder -dever de dirigirem a educação dos seus filhos e educandos, no interesse destes, e de promoverem activamente o desenvolvimento físico, intelectual e moral dos mesmos.
2 — Nos termos da responsabilidade referida no número anterior, deve cada um dos pais e encarregados de educação, em especial:
a) Acompanhar activamente a vida escolar do seu educando
[…]
f) Contribuir para a preservação da disciplina da escola e para a harmonia da comunidade educativa, em especial quando para tal forem solicitados;

Artigo 7.º
Responsabilidade dos alunos
Os alunos são responsáveis, em termos adequados à sua idade e capacidade de discernimento, pela componente obrigacional inerente aos direitos que lhe são conferidos no âmbito do sistema educativo, bem como por contribuírem para garantir aos demais membros da comunidade educativa e da escola os mesmos direitos que a si próprio são conferidos, em especial respeitando activamente o exercício pelos demais alunos do direito à educação.

O conceito de literacia do ministério (?!!).

Afinal, as escolas enganaram-se e não souberam ler ou não percebem a metalinguagem inserida nas entrelinhas. Afinal o independentemente da natureza das faltas, não é bem independentemente da natureza das faltas.

A prova pode ser simplificada. Mas o que é isso de ser simplificada? Então vai ou não vai avaliar o correspondente às aulas a que faltou?. E é uma prova, ou serão provas? Se o aluno tem 13 disciplinas ou áreas disciplinares não tem que fazer treze provas? E se faltar mais duas ou três semanas terá que fazer mais essas múltiplas provas e terá que haver mais planos correspondentes. Em que horários, se os professores e os alunos têm os horários preenchidos?

Imagine-se só a multiplicação de provas mesmo “simples”.
E, para quê publicar um despacho mais? E, amanhã o que virá, mais um "atestado de iliteracia" às escolas que não compreendem que o "independentemente" afinal não é bem independentemente e outras coisas semelhantes?
E o regulamento interno é para ser mudado a toda a hora?
Recorde-se que a lei foi publicada no ano lectivo anterior, a meio deste, gerando na altura, uma complicação muito grande sobre a forma como se aplicava a lei se com ou sem efeitos retroactivos. Resolveu-se adiar para este ano, embora fosse para entrar em vigor dias depois.
Veja-se a linguagem utilizada.

Lei n.º 3/2008 de 18 de Janeiro
Primeira alteração à Lei n.º 30/2002, de 20 de Dezembro, que aprova o Estatuto do Aluno
dos Ensinos Básico e Secundário
Artigo 22.º
Efeitos das faltas
[…]
2 — Sempre que um aluno, independentemente da natureza das faltas, atinja um número total de faltas correspondente a três semanas no 1.º ciclo do ensino básico, ou ao triplo de tempos lectivos semanais, por disciplina, nos 2.º e 3.º ciclos no ensino básico, no ensino secundário e no ensino recorrente, ou, tratando -se, exclusivamente, de faltas injustificadas, duas semanas no 1.º ciclo do ensino básico ou o dobro de tempos lectivos semanais, por disciplina, nos restantes ciclos e níveis de ensino, deve realizar, logo que avaliados os efeitos da aplicação das medidas correctivas referidas no número anterior, uma prova de recuperação, na disciplina ou disciplinas em que ultrapassou aquele limite, competindo ao conselho pedagógico fixar os termos dessa realização.
3 — Quando o aluno não obtém aprovação na prova referida no número anterior, o conselho de turma pondera a justificação ou injustificação das faltas dadas, o período lectivo e o momento em que a realização da prova ocorreu e, sendo o caso, os resultados obtidos nas restantes disciplinas, podendo determinar.
a) O cumprimento de um plano de acompanhamento especial e a consequente realização de uma nova prova;
b) A retenção do aluno inserido no âmbito da escolaridade obrigatória ou a frequentar o ensino básico, a qual consiste na sua manutenção, no ano lectivo seguinte, no mesmo ano de escolaridade que frequenta;
c) A exclusão do aluno que se encontre fora da escolaridade obrigatória, a qual consiste na impossibilidade de esse aluno frequentar, até ao final do ano lectivo em curso, a disciplina ou disciplinas em relação às quais não obteve aprovação na referida prova.


E agora o despacho a publicar:

1 – Das faltas justificadas, designadamente por doença, não pode decorrer a aplicação de qualquer medida disciplinar correctiva ou sancionatória.
2 – A prova de recuperação a aplicar na sequência de faltas justificadas tem como objectivo exclusivamente diagnosticar as necessidades de apoio tendo em vista a recuperação de eventual défice das aprendizagens.
3 – Assim sendo, a prova de recuperação não pode ter a natureza de um exame, devendo ter um formato e um procedimento simplificado, podendo ter a forma escrita ou oral, prática ou de entrevista.
6 – As escolas devem adaptar de imediato os seus regulamentos internos ao disposto no presente despacho, competindo às Direcções Regionais de Educação a verificação deste procedimento.
7 – O presente despacho produz efeitos a partir do dia seguinte à data da sua assinatura.
Lisboa,
16 de Novembro de 2008
A Ministra da Educação
Maria de Lurdes Rodrigues

Conferência de imprensa

A ministra convocou uma conferência de imprensa para aparecer no Telejornal das oito, horas de jantar.
E o que disse?
Que continua a trabalhar.

Olhe, também nós!
Para vir dizer isto mais valia que fosse jantar.
E também nós.

Há que assumir

O direito à resistência existe, mas só deve ser usado em último caso, perante a prepotência, quando são violadas regras fundamentais.
Quando se assina um documento, como tem sido prática em muitas escolas, em que se recusa este modelo de avaliação, não se trata apenas de uma assinatura, mas de um documento público e de um compromisso perante a sociedade, que não pode ser rasgado de qualquer maneira.
E, ao assumir essa recusa, há que ser coerente e propor alternativas.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Alternativas

Esta luta dos professores contra este modelo de avaliação, ao contrário do que acontecia há um ano, conseguiu despertar o interesse da opinião pública e da opinião publicada e encontrar algumas simpatias.

Distingo aqui opinião pública de opinião publicada, entendendo que a opinião pública é muito mais vasta e está directamente relacionada com uma massa de pessoas que se interessam e discutem problemas políticos e sociais, assumindo-se como cidadãos. Creio que em Portugal ainda é uma minoria, que vai crescendo. A maioria das pessoas nem sequer se interessa por muitas desta questões, uns porque estão preocupados com o seu dia a dia, os empregos precários, a saúde etc. , ou porque desconfiam sempre do Estado e dos que vivem melhor que eles ou porque se sentem ainda em piores condições, ou até porque confiam que alguém há-de resolver os assuntos. A opinião publicada depende de quem exerce o controlo nos media e, em Portugal, temos muitos comentaristas que enchem as páginas escrevendo sobre tudo e qualquer coisa, em estilo populista, a par de outros que põem problemas e contribuem para a solução.

Portanto, há que ter algum cuidado com o que se lê, até porque nem todos lêem o mesmo ou simplesmente nem lêem ou não se interessam, despertando alguns apenas quando há notícias sensacionalistas. Veja-se também os estudos sobre literacia em Portugal.

Repare-se também numa certa endogamia que existe entre os professores, não apenas a endogamia em sentido estrito (social, os casamentos inter pares), mas a convivência quotidiana, os sistemas de informação e comunicação comuns. Valeria a pena, por exemplo, estudar o impacto dos blogues na classe dos professores (aí creio que é evidente) e fora desses círculos (aí tenho algumas dúvidas e, por vezes, a linguagem muito técnica ou a excessiva adjectivação e estilo indignado em nada ajudam a que outros se interessem pela mensagem).

Nota-se, no entanto, que há uma inversão de posições em muita gente. Se é temporária ou não, veremos. O número de manifestantes impressionou todos, o dia a dia de muitos foi afectado, até porque os professores têm famílias e amigos, antigos colegas de estudo, algum peso até na Assembleia da República, nas autarquias e em outros centros de poder, até na imprensa e, sobretudo na blogosfera.

Mas há uma questão que é frequentemente posta por muitos. Que alternativas a este modelo de avaliação? É uma questão pertinente e necessária. Sem novas propostas pode parecer que toda esta luta foi apenas pela recusa de qualquer modelo.

Por isso, creio que todos os que intervieram neste processo devem propor vias diferentes. Não basta esperar pelos sindicatos, que também têm obrigação disso. E, como vimos, sobretudo nestas manifestações e nas tomadas de posição dentro das escolas, as propostas dos sindicatos são também alteradas pelos movimentos que se constroem .

domingo, 16 de novembro de 2008

Tolerância

«O deísta é um homem firmemente persuadido da existência dum ser surpremo tão bom como poderoso, que formou todos os seres extensos, vegetantes, sensíveis e reflexivos; que perpetua a sua espécie, que pune sem crueldade os crimes e recompensa com bondade as acções virtuosas. O deísta não sabe como Deus pune, como favorece, como perdoa; pois não é tão temerário que se gabe de conhecer como Deus actua; mas sabe que Deus actua e que é justo.[...] Reunido neste princípio com o resto do universo, não abraça nenhuma das seitas, que todas elas se contradizem. A sua religião é a mais antiga e a mais extensa; pois a simples adoração dum Deus precedeu todos os sistemas do mundo [...]. Crê que a religião não consiste nem nas opiniões duma metafísica ininteligível, nem em vãos aparatos ou solenidades, mas na adoração e na justiça [...]. O maometano grita-lhe: "Tem cuidado, se não fazes a peregrinação a Meca!" "Desgraçado de ti se não fazes uma viagem a Nossa Senhora do Loreto" – diz-lhe um franciscano. Ele ri-se de Loreto e de Meca; mas socorre o indigente e defende o oprimido.»

Voltaire, Dicionário Filosófico (1721)

16 de Novembro: Dia Internacional da Tolerância


Voltaire e Locke. Referências ainda necessárias.

Graça do Divor








Igreja do século XVI.
Era daqui que vinha a água para Évora. A "água da prata".

sábado, 15 de novembro de 2008

Manifestação de 15 de Novembro

Não fui porque não pude e porque penso que, depois de 8 de Novembro, o essencial é agir por dentro.
Mas estou solidário, isto é, estamos, porque o problema é o mesmo.

"O pesadelo burocrático e a desobediência à lei"

Li agora um texto muito interessante de um professor de Filosofia. Subscrevo quase tudo o que ele diz:

Sei que para ensinar bem os meus alunos tenho de continuar a estudar, a ler e a aprender. Como costuma dizer um amigo meu, Desidério Murcho, para se ensinar bem até à letra C é preciso dominar as matérias até pelo menos à letra M: é preciso um grande à vontade e um bom domínio do que se ensina para se antecipar dificuldades dos alunos, para se responder a dúvidas inesperadas, para se encontrar o exemplo certeiro, para indicar as leituras adequadas, etc. Isto exige uma grande preparação e uma actualização permanente do professor, além de um ambiente de trabalho tranquilo e estimulante. Até porque são as deficiências científicas que originam, na maior parte da vezes, as situações pedagogicamente mais desagradáveis.

Infelizmente, os escassos estímulos que ainda poderiam existir nesse sentido parecem pertencer ao passado. As escolas transformaram-se, de há dois anos para cá, numa balbúrdia constante e num verdadeiro pesadelo burocrático em que ninguém parece entender-se. E, com muita tristeza minha, vejo os livros de filosofia que todas as semanas encomendo na Amazon ou outras livrarias acumular-se sem quase ter tempo para os folhear. Preparar aulas decentemente é algo que também deixei de fazer, caso contrário nem sequer vida familiar poderia ter. Não fosse o caso de os alunos estudarem por um manual que conheço de cor – porque sou um dos seus autores – e as aulas seriam um completo improviso. Comparar o que se tem passado nas escolas nos últimos dois anos com a barafunda gerada com o atraso da colocação de professores no tempo do ministro David Justino é como comparar um episódio infeliz com a própria infelicidade. E o ministro David Justino caiu por causa disso.

Ver texto completo em:
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1349637&idCanal=2316

Os ovos de Fafe

Li agora um artigo de opinião no Diário de Notícias:http://dn.sapo.pt/2008/11/15/opiniao/os_ovos_fafe.html

Um extracto:
As manifestações de ódio, por vezes infantil, dos professores contra a "sinistra ministra" influenciaram muito mais os alunos do que as aulas de educação cívica. A participação de menores nas lutas políticas dos adultos nada tem de inocente. Os menores são influenciáveis e voluntariosos, logo são manipuláveis. Os menores podem fazer aquilo que os adultos, por razões tácticas, não podem fazer. Por exemplo, atirar ovos ou fechar escolas a cadeado. Os mecanismos pelos quais a manipulação ocorre também são conhecidos. Os protestos dos alunos, que emergiram um pouco por todo o País esta semana, resultam da imitação do comportamento dos adultos, do incitamento implícito dado pelos professores e da manipulação intencional exercida pelas juventudes partidárias que infiltram as associações de estudantes.

Respondi-lhe de uma forma simples, assinando como sempre:

Exmo. senhor
Tem alguma prova que os professores tenham influenciado os alunos em Fafe?
Por que é que não pergunta se foram influenciados pelos pais ou por outra associações? Não seria mais natural serem influenciados por quem os educa desde pequenos?
Não poderá esta reacção ter a ver com o estatuto do aluno que obriga a avaliações sucessivas em todas as disciplinas ao fim de duas semanas de faltas?. Ou com aulas de substituição sem qualquer relação pedagógica? Ou com currículos que podem ir a mais de uma dúzia de disciplinas e mais de 30 horas semanais, fechados no mesmo espaço?
E, por acaso, tudo o que o senhor pensava quando tinha quinze ou dezassete anos era sempre por influência de alguém, nunca se responsabilizando pelo que fazia?

Sabe certamente que o que menos interessa aos professores, que querem uma avaliação justa e semelhante a outros países europeus, é que se misturem desacatos destes com outros problemas.
Com os melhores cumprimentos.



Os comentários dos jornais espelham um pouco o grau de cultura e a responsabilidade cívica de quem escreve e de quem lê. São confrangedores muitos destes comentaristas: escrevem sobre qualquer coisa, não se preocupando em informar-se primeiro. Espremendo-se, não sai sumo, só ideologia, só preconceitos.
Um jornal de expansão nacional deveria ter mais cuidado e não imitar alguns pasquins, cheios de páginas sobre qualquer coisa, porque o que dá lucro é a publicidade.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Penamacor

Penamacor merece respeito. Não por causa de algum ex-membro intermitente da Assembleia municipal, eleito pelo PP. Isso não, isso não interessa, é gente passageira.

Há outras pessoas interessantes, mesmo que não concorde com elas em algumas coisas. Espero que na Assembleia da República alguém dê novidades!

Mas Penamacor tem uma história ligada à resistência. Aqui esteve uma companhia disciplinar. Gente que esteve na luta contra o Estado Novo foi, sem qualquer processo, fazer o serviço militar em Penamacor, em condições difíceis.

Houve presos célebres aqui, como Álvaro Cunhal. Muitos outros, sem quase saber porquê, aqui estiveram também. Por exemplo, o meu sogro. Quando, em 1949, com 18 anos apoiou a candidatura do General Norton de Matos, mal sabia ele que haveria de ir parar a Penamacor, sem qualquer julgamento ou acusação, e ter, até ao 25 de Abril, uma ficha na PIDE e uma interdição para qualquer possível emprego no estado.

Alguns acordaram tarde, outros fazem o jogo.

Alguns acordaram tarde.

Há mais de dois anos que se discute o problema da carreira e a avaliação dos professores. Eis que agora, depois de um longo silêncio comprometedor, o(a) rosto do PSD se decide a falar, ela que até já foi ministra da Educação.

Agora, vem também o Alberto da Madeira, como sempre, a falar da “palhaçada”, a cassete do costume, o pretenso anti-sistema que melhor favorece o sistema. Decidiu avaliar todos os professores por decreto, como se isso resolvesse alguma coisa. Quase parece estar conluiado com a ministra da Educação. Deu-lhe, não fosse a descredibilidade em que caíram, um pretenso argumento em favor do governo: se até na Madeira avaliam por decreto, então nós devemos continuar a "distinguir os maus dos bons".

Entretanto, andam por aí umas gaiatices de atirar ovos. Logo o secretário de estado vem insinuar que isto está orquestrado. Não diz, porque seria desastroso, que é alguma associação de pais deles, o que teria alguma remota lógica, visto que os pais são educadores. Insinua que há uma qualquer conspiração, à espera que todos compreendam quem são os maus da fita.
Dá jeito ser-se vítima quando já ninguém acredita.

Ora, a questão é se esta(s) carreira(s) é (são)ou não legítima(s), se esta avaliação é ou não boa e eficaz para o sistema de ensino, no respeito pelos direitos e liberdades.

Pouco que me interessam oportunistas, muito menos “palhaçadas” e ovos, só para omeletas e bifes.
O que interessa é ter Razão.

Argumentos

Comecei uma discussão sobre a questão da avaliação dos professores com uma pessoa conhecida, que tem sido um dos últimos a defender a posição da ministra da Educação. Não divulgo o nome por uma questão ética: é correspondência privada.

Estranho é que, à falta de argumentos, apareça este: "Há uma diferença entre nós. É que V/ defende os interesse do seu grupo profissional (se não pessoais). Eu não tenho nenhum interesse pessoal nem profissional envolvido na minha posição. E isso faz toda a diferença. O interesse próprio, seja de uma pessoa, seja de 120 000, não dá razão..."

O que é que isto quer dizer? Só por se estar numa determinada profissão todo o argumento está inquinado, deixa de ter validade? Exclui-se à partida o argumento porque determinada pessoa é, à partida, suspeito?
Só os de fora é que podem referir-se ao assunto? Mas se dão opinião vinculada a uma política como é que estão de fora do problema?

Para mim, trata-se apenas de falta de argumentos.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A opinião de Manuel Alegre

Confesso que me chocou profundamente a inflexibilidade da Ministra e o modo como se referiu à manifestação, por ela considerada como forma de intimidação ou chantagem, numa linguagem imprópria de um titular da pasta da educação e incompatível com uma cultura democrática. Confesso ainda que, tendo nascido em 1936 e tendo passado a vida a lutar pela liberdade de expressão e contra o medo, estou farto de pulsões e tiques autoritários, assim como de aqueles que não têm dúvidas, nunca se enganam, e pensam que podem tudo contra todos.O Governo redefiniu a reforma da educação como uma prioridade estratégica. Mas como reformar a educação, sem ou contra os professores? Em meu entender, não é possível passar do laxismo anterior a um excesso de burocracia conjugada com facilitismo. Governar para as estatísticas não é reformar. A falta da exigência da Escola Pública põe em causa a igualdade de oportunidades. Por outro lado, tudo se discute menos o essencial: os programas e os conteúdos do ensino. A Escola Pública e as Universidades têm de formar cidadãos e não apenas quadros para as necessidades empresariais. No momento em que começa a assistir-se no mundo a uma mudança de paradigma, esta é a questão essencial. É preciso apostar na qualificação como um recurso estratégico na economia do conhecimento, através da aquisição de níveis de preparação e competências alargados e diversificados. Não é possível avançar na democratização e na qualificação do sistema escolar se não se valorizar a Escola Pública, o enraizamento local de cada escola, a participação de todos os interessados na sua administração, a autonomia e responsabilidade de cada escola na aplicação do currículo nacional, a educação dos adultos, a autonomia das universidades e politécnicos.Não aceito a tentativa de secundarizar e diminuir o papel do Estado no desenvolvimento educacional do nosso país. Sou a favor da gestão democrática das escolas, com participação dos professores, dos estudantes, dos pais, das autarquias. Defendo um forte financiamento público e um razoável valor de propinas, no ensino superior, acompanhado de apoio social correctivo sempre que necessário. E sou a favor do aumento da escolaridade obrigatória para doze anos. Devem ser criadas condições universais de acesso à escolaridade obrigatória, nomeadamente através de transporte público gratuito e fornecimento de alimentação. O abandono escolar precoce deve ser combatido nas suas causas sociais, culturais e materiais.Não se pode reformar a educação tapando os ouvidos aos protestos e às críticas. É preciso saber ouvir e dialogar. É preciso perceber que, mesmo que se tenha uma parte da razão, não é possível ter a razão toda contra tudo e contra todos. Tal não é possível em Democracia.

Editorial da Revista Opshttp://www.opiniaosocialista.org/u_numero.htm

Sublinhados nossos

terça-feira, 11 de novembro de 2008

No pasa nada

É estranho, bastante estranho, para mais vindo de alguém com formação em Sociologia, vir dizer em público que não conhece nenhuma escola que tenha suspendido a avaliação.
É estranho, muito estranho que um ex-vereador intermitente de Penamacor, eleito pelo PP e agora arauto da modernidade, vir dizer que foi apenas mais uma manifestação.

É muito estranho não verem nada.
Faz lembrar aquela história do embaixador de Portugal em Espanha que, no dia em que começou a Guerra Civil, enviou um telegrama a dizer que não se passava nada.

Mas se não vêem nada o que é que lá estão a fazer?

Lamentável

Bosch, Jardim das Delícias

Lamentável
Hoje a ministra teria sido objecto de alguns apupos e ovos que sujaram o automóvel ministerial. Logo surgiu o primeiro-ministro a sublinhar que é lamentável.
É. Não se deve atirar ovos a ninguém, nem sequer a representantes de um governo quase falido.

Mas de quem é a culpa? Parece que é de alguns alunos. Certamente têm pais e mães que os educam e que são responsáveis civil e criminalmente por eles. Peça-se responsabilidades aos pais deles ou quando muito à CONFAP, na pessoa do senhor Albino Almeida que se apresenta como pai eterno e universal. Esses é que devem explicar o que aconteceu e não outros.

O ovo representa a vida, é certamente um desperdício atirar ovos a quem já nada tem a fazer na vida política.

Gostaria que o primeiro-ministro também achasse lamentável certas declarações e situações de ministros como Pinho, Lino e outros. Mas para quê exigir tanto em fim de estação?

Há coisas mais importantes. E não menos importante é o dia a dia.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

O dia 24 de Agosto e a Liberdade

Escrevia Almeida Garrett em 1820, em apoio da Revolução Liberal, ele que participou nela e que teve que mais tarde exilar-se em Inglaterra.

Já temos uma Pátria, que nos havia roubado o despotismo: a timidez [,] a covardia, e a ignorância, que o tinham criado, que me prostravam com vil idolatria ante as obras das suas mãos, acabaram. A última hora da tirania soou; o fanatismo, que ocupava a face da terra, desapareceu; o sol da liberdade brilhou no nosso horizonte, e as derradeiras trevas do despotismo foram, dissipadas por seus raios, sepultar-se nos infernos.

Qual era de entre nós, que se não pudesse chamar oprimido? Qual há de entre nós, que se não possa chamar liberdade? Qual foi o Português, que não gemeu, que não chorou ao som dos ferros? Qual é o Português, que não folgará com a liberdade? Nenhum por certo: os netos de Moniz, de Nun'Álvares, de Gama, de Castro, de Pacheco, e de Albuquerque, são os que sempre foram- Portugueses

Escravos ontem, hoje livres; ontem autómatos da tirania, hoje homens; ontem miseráveis colonos, hoje cidadãos; qual seria o vil (não digo bem), qual seria o infeliz que não louve, que não bendiga o braço heróico que nos quebrou os ferros, os lábios denodados que ousaram primeiro entoar o doce nome Liberdade?

Mas se almas há ainda tão abjectas, se corações tão pusilânimes, tão acanhados espíritos, tão baixos ânimos, tão envilecidos peitos, tão desprezíveis homens, que são esquecidos que são cidadãos, de que são homens, de que são Portugueses, ousam duvidar um momento da legitimidade, com que a mais nobre [,] a mais ilustre porção desta cidade clamou por uma constituição política, reuniu as suas forças para fim tão glorioso [...], se alguns timoratos e duvidosos, receiam e tremem; eis aqui quando um homem de bem, quando um Português, que o é, deve, acendendo o facho da filosofia, e das letras, fazer servir as suas luzes, e ilustrar a sua pátria, sacrificar-lhe as suas vigílias, mostrar que é cidadão.

Constituição Portuguesa de 1822

in http://www.arqnet.pt/portal/portugal/liberalismo/const822.html

CONSTITUIÇÃO PORTUGUESA DE 1822
Preâmbulo
[...]
As Cortes Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa, intimamente convencidas de que as desgraças públicas, que tanto a têm oprimido e ainda oprimem, tiveram sua origem no desprezo dos direitos do cidadão, e no esquecimento das leis fundamentais da Monarquia; e havendo outrossim considerado que somente pelo restabelecimento destas leis, ampliadas e reformadas, pode conseguir-se a prosperidade da mesma Nação e precaver-se que ela não torne a cair no abismo, de que a salvou a heróica virtude de seus filhos; decretam a seguinte Constituição Política, a fim de segurar os direitos de cada um, e o bem geral de todos os Portugueses.


Está na altura de a Assembleia da República dignificar a política educativa e chamar os responsáveis.

Em 1776 nos EUA

IN CONGRESS, JULY 4, 1776

The unanimous Declaration of the thirteen united States of America

When in the Course of human events it becomes necessary for one people to dissolve the political bands which have connected them with another and to assume among the powers of the earth, the separate and equal station to which the Laws of Nature and of Nature's God entitle them, a decent respect to the opinions of mankind requires that they should declare the causes which impel them to the separation.

We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal, that they are endowed by their Creator with certain unalienable Rights, that among these are Life, Liberty and the pursuit of Happiness. — That to secure these rights, Governments are instituted among Men, deriving their just powers from the consent of the governed, — That whenever any Form of Government becomes destructive of these ends, it is the Right of the People to alter or to abolish it, and to institute new Government, laying its foundation on such principles and organizing its powers in such form, as to them shall seem most likely to effect their Safety and Happiness. [...]

Esta semana é decisiva



As basófias de algumas pessoas, minimizando a manifestação de professores, valem o que valem. Já são poucos, muito poucos os idiotas do costume, os que não vêm nada além dos seus preconceitos e sectarismo arrogante.

A ministra já está praticamente sozinha na sua arenga. Bem pode dar entrevistas a dizer que os professores que pedem a reforma são os que só trabalhavam 8 horas e que há muitos professores que concordam com esta avaliação e que não se impressiona com mega-manifestações. Não se impressiona ela, mas preocupam-se os cidadãos em Portugal, que são os que interessam e que estão preocupados com a mediocridade e irresponsabilidade desta política. O dinheiro dos contribuintes não pode ser desbaratado pela incúria e teimosia. O descrédito é inegável e o seu poder está a diminuir drasticamente. Já ninguém acredita no que diz, nem na sua equipa de aplicadores autistas de projectos imprescindíveis e sem alternativa, interpretados em terceira mão, como se fossem descobertas inovadoras.

Há quem diga que de gente imprescindível estão os cemitérios cheios. E está mais que provado que este ministério, como está, com o que não deixa fazer (ensinar), só serve para empatar o ensino.
Há sempre alternativas e esta equipa ministerial já estragou muita coisa e já não está lá a fazer nada, a não ser estragos.
A Assembleia da República e o Presidente da República têm que actuar.

Os professores não podem esperar só por uma greve para as calendas de Janeiro. E não basta pedir a suspensão. É preciso que todos e cada um se vinculem a uma tomada de posição consequente.

Há que fazer já, como nesta escola:

a Assembleia-geral de Professores da Escola Secundária Eça de Queirós, da Póvoa de Varzim, reunida em 4 de Novembro de 2008, toma a decisão de SUSPENDER A SUA PARTICIPAÇÃO EM TODA E QUALQUER INICIATIVA RELACIONADA COM A AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO do Pessoal Docente, criada pelo Decreto Regulamentar nº 2/2008 de 10 de Janeiro e demais legislação subsidiária, pela defesa da qualidade do ensino e do prestígio da escola pública.

domingo, 9 de novembro de 2008

MADREDEUS


Ontem fui ouvir a música dos MADREDEUS e a Banda Cósmica.
Há uma fusão de sons da música clássica, portuguesa, africana e brasileira, rock ... que vale a pena ouvir com tempo.
E novas vozes que encantam.
O concerto foi no Teatro Ibérico. Este teatro ocupa o espaço da antiga igreja barroca do convento, uma prova que a arte barroca condiz e é espectáculo.
É pena que a igreja não esteja recuperada. Até há quem a queira transformar em garagem do Instituto de Formação Profissional, ao lado. Espero que isso não passe de uma piada.

Manifestação de dia 8 de Novembro
















Decisão do Plenário no Terreiro do Paço, com cerca de 120000 professores:
«Agir para que, em cada uma das suas escolas, todos os professores se comprometam com a decisão de suspender a avaliação de desempenho e recusem concretizar qualquer actividade que conduza à instalação ou desenvolvimento do modelo imposto pelo ME, tornando pública a sua decisão»

O direito à resistência existe


O direito à resistência existe, e é legal há muito tempo.

Há textos (quase todos) que no original têm mais força.
Em 1789 escrevia-se assim:

Déclaration des droits de l'Homme et du Citoyen de 1789

Préambule

Adoptée par l'Assemblée constituante du 20 au 26 août 1789, acceptée par le roi le 5 octobre 1789
Les représentants du peuple français, constitués en Assemblée nationale, considérant que l'ignorance, l'oubli ou le mépris des droits de l'homme sont les seules causes des malheurs publics et de la corruption dês gouvernements, ont résolu d'exposer, dans une Déclaration solennelle, les droits naturels, inaliénables et sacrés de l'homme, afin que cette Déclaration, constamment présente à tous les membres du corps social, leur rappelle sans cesse leurs droits et leurs devoirs ; afin que les actes du
pouvoir législatif, et ceux du pouvoir exécutif pouvant à chaque instant être comparés avec le but de toute institution politique, en soient plus respectés ; afin que les réclamations des citoyens, fondées désormais sur des principes simples et incontestables, tournent toujours au maintien de la Constitution et au bonheur de tous.

Article II − Le but de toute association politique est la conservation des droits naturels et imprescriptibles de l'homme. Ces droits sont la liberté, la propriété, la sûreté, et la résistance à l'oppression.
[…]
Article XI − La libre communication des pensées et des opinions est un des droits les plus précieux de l'homme : tout citoyen peut donc parler, écrire, imprimer librement, sauf à répondre de l'abus de cette liberté, dans les cas déterminés par la loi.
[…]
Article XV − La société a le droit de demander compte à tout agent public de son administration.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Este quadro de Goya faz-me lembrar alguém que manda mas que já está em fim de época.

Centenas de moções aprovadas

Na Escola Secundária Gabriel Pereira, em Évora, foi assim:
(extractos)
[...}

O abaixo‑assinado veio confirmar a existência, de facto, desse sentimento comum à larga maioria do corpo docente da Escola, expresso através das 128 assinaturas num universo de 148 professores.
Assim, perante uma tal constatação, o Conselho Pedagógico da Escola Secundária Gabriel Pereira considera da máxima importância, até mesmo urgência, a suspensão do actual modelo de avaliação do pessoal docente, questionando aquilo que a seguir sucintamente se aponta:
1. Os critérios que orientaram o concurso de acesso a professor titular criaram, na realidade, situações diversas de injustiça na diferenciação entre professor titular e professor.
2. A dimensão burocrática do actual modelo de avaliação que tende a transformar a escola numa espécie de empresa gerida por objectivos, onde a quantidade (de carácter estatístico) prevalece sobre a qualidade.
3. A integração, neste modelo de avaliação, de itens como o (in)sucesso dos alunos e o abandono escolar, indicadores que ultrapassam a área na qual se inscreve a actividade pedagógica propriamente dita, responsabilizando desadequada e injustamente os professores.
4. O facto de se estar perante um modelo que não é igualitário e tem em conta os resultados obtidos na avaliação externa quando nem todos os docentes leccionam disciplinas sujeitas a exames nacionais.
5. A não previsão do tempo verdadeiramente necessário, a integrar no horário efectivo dos docentes, para o cumprimento de tarefas impostas pelo actual modelo de avaliação, quer no que diz respeito ao docente avaliador quer no que diz respeito ao docente avaliado.
6. O desequilíbrio entre a avaliação dos coordenadores (que também são docentes) feita, este ano lectivo, exclusivamente pelo Conselho Executivo, e a avaliação dos outros docentes avaliadores ou não.
7. O descrédito e desvalorização da componente científica da didáctica específica de cada disciplina implícitos na avaliação realizada por docentes não pertencentes ao mesmo grupo disciplinar.
8. Possibilidade de conflito de interesses dado que a quota atribuída para as menções de Excelente e Muito Bom tem reflexos na atribuição de pontos, no posicionamento dos docentes no grupo disciplinar e no acesso ao topo da carreira.
9. A falta de qualidade e credibilidade das Acções de Formação promovidas pelo Ministério da Educação na área de «Avaliação de Desempenho dos Docentes».

[...]
Este novo modelo de avaliação revela-se, pelo contrário, desintegrador, redutor, gerador de conflitos, desmotivador e desumanizante. A implementação de um novo modelo de avaliação deverá passar por uma primeira etapa de experimentação, francamente aberta a ajustamentos e alterações num processo que deverá revelar‑se dinâmico e construtivo na valorização profissional dos docentes.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

We shall not be moved

CHORUS
We shall not, we shall not be moved
We shall not, we shall not be moved
Just like a tree that's standing by the water
We shall not be moved

We shall not, we shall not be moved
We shall not, we shall not be moved
The union is behind us,
We shall not be moved

We shall not, we shall not be moved
We shall not, we shall not be moved
We're fighting for our freedom,
We shall not be moved

We shall not, we shall not be moved
We shall not, we shall not be moved
We're fighting for our children,
We shall not be moved

We shall not, we shall not be moved
We shall not, we shall not be moved
We'll building a mighty union,
We shall not be moved

We shall not, we shall not be moved
We shall not, we shall not be moved
Black and white together,
We shall not be moved

We shall not, we shall not be moved
We shall not, we shall not be moved
Young and old together,
We shall not be moved

YES, WE CAN

Manifestação gigantesca de professores obriga a nova alteração de percurso
Concentração e plenário nacional no Terreiro do Paço, com manifestação para o Marquês de Pombal


14.30 horas: Concentração no Terreiro do Paço
15.00 horas: Plenário Nacional de Professores
16.00 horas: Manifestação Nacional que passará por Rossio, Restauradores, Avenida da Liberdade e Marquês de Pombal
17.30 horas: Aprovação da Resolução da Manifestação e encerramento da iniciativa
Tendo em consideração a previsível dimensão do Plenário e da Manifestação Nacional de Professores marcados para o dia 8 de Novembro, tendo como indicadores a mobilização que existe nas escolas e o número de autocarros que ultrapassa os utilizados em 8 de Março de 2008 (cerca de 600 em Março de 2008; já se atingiram os 700 a dois dias de 8 de Novembro de 2008), o local de concentração e o percurso da manifestação tiveram de ser novamente alterados.
Todos ao Terreiro do Paço!
in http://www.fenprof.pt/

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Chegou a hora!

Esta semana é fundamental.
Está na hora de tomar posições.
Já dezenas de escolas, e o número está a aumentar, tomaram posição em relação a este modelo de avaliação. Há que aumentar o número e mostrar que os professores não podem vergar em relação ao irracionalismo, à invasão da privacidade, à perda de direitos, à disparidade de critérios, à arbitrariedade.

Como poderemos ser professores se nos humilharmos todos os dias?
Como poderemos ser professores se deixarmos que a arbitrariedade acabe com o que de melhor tem o nosso sistema de ensino?

Vamos a esta.
E se for preciso, e será certamente, vamos dia 15.

Não dá é para escolher só esta ou aquela data.
É preciso concentrar esforços.

sábado, 1 de novembro de 2008

Manifestação dia 8 de Novembro

TODOS NO DIA 8 DE NOVEMBRO

EM UNIDADE, OS PROFESSORES SERÃO MAIS FORTES PARA DERROTAREM A POLÍTICA EDUCATIVA DO GOVERNO

A FENPROF saúda o facto de ter sido possível chegar a acordo com três movimentos (APEDE, MUP e PROMOVA) no sentido de se realizar apenas uma grande iniciativa nacional de Professores - Plenário seguido de Manifestação, com trajecto ainda a definir - no dia 8 de Novembro. A FENPROF regista o tom construtivo e de procura de consensos e soluções que caracterizou a reunião do dia 29 de Outubro, sem prejuízo das diferenças de opinião e de análise críticas de parte a parte.
A FENPROF tudo fará para manter em aberto todas as vias de diálogo com a certeza de que a unidade de todos os professores e educadores num momento particularmente difícil assim o exige.
O Secretariado Nacional da FENPROF.

Visitas de estudo

Rua de Monsaraz
Visitas de estudo



Com todo este enredo destes “alumbrados” que mandam, estão cada vez mais em causa as visitas de estudo. E a contradição é evidente: os programas das disciplinas aconselham a fazer dezenas de visitas de estudo, o dinheiro para pagá-las só aparece do bolso de alguns, que não do Estado, e os professores são cada vez mais penalizados por fazê-las, por causa deste estatuto que foi decidido mas não discutido, por causa destas inúmeras regulamentações e interpretações a que estamos sujeitos e por causa destas mentalidades anteriores à segunda metade do século XVIII. E destas avaliações penalizadoras , sem eficácia e sem sentido.

Agora, se algum professor fizer uma visita de estudo, tem que deixar planos e repor aulas para os alunos de outras turmas. Imagine-se o que é fazer um intercâmbio com escolas estrangeiras, coisas normais em qualquer país europeu, coisas normais noutros países que assim vão aproveitando os subsídios europeus que nós, dirigidos por gente que se acha inteligente a si própria, desperdiçamos a favor dos outros. Ainda por cima num país que esteve tão isolado durante tanto tempo e que precisa desesperadamente de ter gente mais conhecedora e mais aberta.

É o provincianismo suburbano que manda em nós. Nem são rurais, que aliás desprezam, nem têm consciência do que é ter acesso a uma cidadania.

Há quem não faça, ou não queira fazer ideia, do que é organizar uma visita de estudo. A preparação necessária, a planificação (não a do papel para mostrar) dos tempos, dos lugares, das necessidades, dos objectivos, dos meios, transportes e outros, dos contactos, do conhecimento prévio do terreno, dos orçamentos, das imprevisibilidades, etc. E o estar naquele, ou naqueles dias, com uma atenção permanente e o resolver dificuldades inesperadas

Também não conhecem o gozo de verem gente nova espantada com as coisas que há no mundo!

Há quem não faça ideia da falta de oportunidades dos alunos de conhecerem isto ou aquilo. Não é só uma questão de dinheiro. Quantos alunos não dizem que já foram a Lisboa mas afinal só conhecem os hipermercados. Não terão direito a conhecer outras coisas? Ou será que conhecer arte, música, património etc. estará só destinado àqueles que já pertencem à elite?

Se perguntarmos a ex-alunos do que é que se lembram da escola, passados uns anos do que é que se lembram? Recordam-se de um ou outro professor que os influenciaram, têm saudades dos intervalos e dos colegas, lembram-se também de alguns maus momentos. E lembram-se das visitas de estudo em que aprenderam alguma coisa.

Por favor. Que haja algum bom senso, mesmo que não haja visão e, já agora, um pouco de cultura.