terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Solstício e Mitra ou o Natal

Mitra, o Deus Menino nasceu a 25 de Dezembro, filho de uma virgem.
 Sucede a festa ao festejo do solstício de Inverno, já antes glorificado pelos romanos, Sol Invictus: dia em que o Sol começa a crescer, depois de (re)nascido (natus).
Era um culto de origem oriental (persa), que se tornou quase universal no Império Romano, sobretudo no exército, antes do cristianismo se tornar obrigatório. O sincretismo religioso já era usual, as religiões iam continuando o que estava na origem. Por isso também se faziam fogueiras, a luz da noite em contraponto com a do dia.


Imagem atribuída a Mitra, no museu de Mérida, antiga capital da Lusitania. Aqui ainda jovem antes de se sacrificar.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Paços do Concelho de Alvito



Câmara de Alvito: a inspiração mudéjar numa torre símbolo do poder municipal.

Centro Histórico de Évora. Limite de velocidade:30 km/hora

Existe um erro comum da parte de muitas pessoas que circulam no Centro Histórico de Évora. Como se aprende que, de um modo geral, o limite de velocidade em zonas urbanas é de 50 km/hora, há quem presuma que não é necessário olhar para os sinais.
Em todas as entradas do Centro Histórico há sinais com a limitação de 30 km/hora. É esse o limite em toda a área há muitas décadas. E também, contrariamente ao que alguns pensam, não é obrigatório ir à velocidade máxima permitida. Em muitas ruas e praças a prioridade é para os peões, assinalado já em muitos pavimentos. E em ruas estreitas que não têm passeios isso é muito claro.

Trânsito da Rua da Ladeira

É necessário discutir a cidade como um todo, como um sistema em que as várias partes têm influência umas nas outras. Acima de tudo porque a cidade deve ser vivida por todos, permitindo a liberdade de cada um sem que essa se sobreponha aos outros. Discutir e fazer. Uma proposta:

No sentido da valorização do centro histórico de Évora e no bem estar dos seus habitantes, umas das principais preocupações que tenho neste âmbito está associada ao trânsito. Entre os vários casos que se poderiam escolher, considero cada vez mais importante pensar no trânsito na Rua Gabriel Vítor do Monte Pereira, antiga Rua da Ladeira. O clube dos Vinte, o Centro de Actividades Infantis e a Adega do Alentejano criam um fluxo de viaturas e paragens de viaturas incorrectamente a que se acrescenta o trânsito oriundo do Largo de Santa Catarina e veraneios entre a Praça do Giraldo e o Largo Joaquim António de Aguiar, onde há novos espaços de funcionamento nocturno. Todos estes equipamentos tornaram a vida dos moradores insuportável dia e noite. A rua não apresenta condições técnicas para o fluxo de viaturas que a atravessam, originando graves problemas de acessibilidade e poluição aos seus moradores. Com esta observação não estou a questionar a importância das actividades das entidades que citei, pelo contrário, o objectivo é que se dignifiquem de forma articulada com a sua envolvente social, pois existem soluções para isso, que poderei enumerar e que já foram aplicadas noutras cidades.


O sinal da zona de cargas e descargas no pequeno Largo junto ao centro de actividades infantis, está incorrectamente sinalizado e vários condutores fazem desse reduzido espaço parque de estacionamento permanente, esquecendo que os moradores precisam de o utilizar, no mínimo, para descarregar os produtos alimentares para suas casas. Os serviços técnicos da CME alhearam-se desse problema à revelia de orientações superiores - quero dizer da presidência do município - para a correcção da sinalética do local. A PSP intervém na medida das suas possibilidades, mas a má colocação dos sinais limita-a na execução da sua actividade fiscalizadora. É urgente corrigir esta situação.

Uma chamada de atenção aos sócios do clube dos vinte certamente resolve algumas das situações de paragem indevida, é gente de bem e que compreende as situações, a mesma atenção deve ser seguida pela adega pela direcção da adega do alentejano

Os familiares das crianças do centro de actividades infantis colocam as viaturas em frente das portas impedindo o acesso aos seus moradores numa clara situação de falta de educação cívica e moral, para com os idosos que aí vivem, num claro exemplo como a degradação de valores tem afectado a sociedade eborense. A responsabilidade deste comportamento não é da direcção da "escolinha", mas a sensibilização da direcção junto dos familiares das crianças para esta situação parece justa e adequada e poderia trazer resultados benéficos para todos. Deve ser colocado um polícia ou alguém com autoridade no período das entradas e saídas das crianças para evitar estas situações, tal como acontece noutras cidades, inclusive para segurança das crianças e familiares ao atravessar a rua.

A criação de novos espaços comerciais na Rua dos Penedos, no prolongamento da Rua de São Cristóvão irá agravar a situação de trânsito nesta rua. É necessário resolver esse assunto, pois existem formas simples e eficazes, assim haja vontade política e disciplina dos técnicos para a execução das decisões. O acesso à rua deve ser de imediato restringido apenas aos moradores até que um plano geral de acessibilidade e trânsito para o centro histórico apresente soluções para a resolução global deste problema.

Feliciano de Mira, morador

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Acrópole XXI (Évora) e outras coisas fundamentais.

Vai estar em discussão pública, ou já começou, o projecto Acrópole XXI. O arquitecto que ganhou o concurso, de acordo com os parâmetros definidos, já o teve que redefinir várias vezes. O espaço a intervencionar é essencialmente o interior da antiga cerca romana. Um dos pomos da discórdia é o da construção de um parque de estacionamento por baixo do actual Jardim Diana. Salvaguardando a questão da preservação da muralha romana e a eventual descoberta de achados arqueológicos (estudo que já deveria estar feito há muito), embora se saiba que muito do que ali está é entulho do século XX, não tenho nada contra.

Porque uma das questões que se põe é a da circulação. Mais de dois terços da população, mais jovem até, vive fora do Centro Histórico. Uma percentagem pequena vive na antiga Cerca Romana. Portanto há que resolver o modo como é que as pessoas poderão ir até à Sé, assistir ou participar numa conferência na Biblioteca Pública, no museu agora renovado, um concerto na Fundação Eugénio de Almeida, um espectáculo de cinema ou teatro na Joaquim António de Aguiar, na rua, em espaços reencontrados, ir às compras, passear … viver.

Automóveis não cabem mais, nem isso é desejável. Ir a pé também não dá para todos, sobretudo a partir de certa distância. Pense-se em vir à noite a partir do Bairro do Bacelo: a pessoa ou é atropelada ou fica a mercê de outros em zonas escuras.

Qualquer cidade da Europa, da França para cima pelo menos, quatro ou cinco vezes maior que esta cidade, tem menos automóveis a circular. Veja-se a cidade do momento, onde se faz a Cimeira do Ambiente: 37% das pessoas empregadas vêm de bicicleta, segundo o "Público" de hoje. E em Copenhaga chove, há neve e temperaturas negativas. Mas existe uma rede de vias para ciclistas, com prioridade sobre os automóveis e meios de transporte colectivos.

Aqui há problemas e muitos para resolver. Não é só uma questão de voluntarismo de algumas pessoas. Se alguém vier de bicicleta por certas vias e rotundas corre o risco de ser atropelado, mesmo descontando os impropérios de certa gente. Se alguém quiser andar de transportes públicos arrisca-se a nunca chegar a horas ou ficar a pé a outras horas. E a noite, sobretudo, é para quem tem sorte, ou para os ricos ou para quem não se importa com os outros, com os automóveis em cima de qualquer coisa.

Se se quer que as pessoas vivam o Centro Histórico, se se quer que o usufruam há que haver alternativas e estas não podem passar por mais automóveis, ou então só andam automóveis engalfinhados uns nos outros contra os peões, que é o que já acontece. A não haver alternativas civilizadas, as pessoas fogem, que é o que vem acontecendo nas últimas décadas, o que tem já e vai ter cada vez mais custos: construir mais fora, com mais custos em infra-estruturas, de água, electricidade, cabos inúmeros, mais ruas, mais automóveis, mais tempo desperdiçado, um Centro Histórico a cair e a ser abandonado cada vez mais e com turistas também a abandoná-lo porque não há qualquer interesse em ver tudo fechado e a cair.

PS. Veja-se aqui perto Badajoz, para quem admira muito as proezas espanholas. Deixaram cair a cidade antiga, aliás em grande parte destruída pelo general Yague do exército de Franco em 1936, e construiram uma nova ao lado. Incaracterística "por supuesto".

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Direitos Humanos




No dia em que se comemoram mais uma vez os Direitos Humanos, um poema de Boris Vian, quando o governo francês ainda queria manter o Vietname sob domínio colonial

Le déserteur

Monsieur le Président
Je vous fais une lettre
Que vous lirez peut-être
Si vous avez le temps
Je viens de recevoir
Mes papiers militaires
Pour partir à la guerre
Avant mercredi soir
Monsieur le Président
Je ne veux pas la faire
Je ne suis pas sur terre
Pour tuer des pauvres gens
C'est pas pour vous fâcher
Il faut que je vous dise
Ma décision est prise
Je m'en vais déserter

Depuis que je suis né
J'ai vu mourir mon père
J'ai vu partir mes frères
Et pleurer mes enfants
Ma mère a tant souffert
Elle est dedans sa tombe
Et se moque des bombes
Et se moque des vers
Quand j'étais prisonnier
On m'a volé ma femme
On m'a volé mon âme
Et tout mon cher passé
Demain de bon matin
Je fermerai ma porte
Au nez des années mortes
J'irai sur les chemins

Je mendierai ma vie
Sur les routes de France
De Bretagne en Provence
Et je dirai aux gens:
Refusez d'obéir
Refusez de la faire
N'allez pas à la guerre
Refusez de partir
S'il faut donner son sang
Allez donner le vôtre
Vous êtes bon apôtre
Monsieur le Président
Si vous me poursuivez
Prévenez vos gendarmes
Que je n'aurai pas d'armes
Et qu'ils pourront tirer


terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Vila Nova da Baronia






Apesar de ser bastante antiga tem o nome de Vila Nova. Foi antigo concelho, extinto em 1836. Da baronia porque pertenceu aos domínios do 1º barão, depois conde-barão de Alvito. A igreja matriz, de finais do século XVI é enorme, provavelmente para demonstrar o poder do barão. Ainda se vêem outros edifícios como a antiga câmara municipal com uma torre sineira. Por dentro, as igrejas têm frescos e outras pinturas, mas como é habitual está quase tudo fechado.

António Tabucchi e a censura berlusconiana

O presidente doSenado italiano, Renato Schifani, exige a soma de 1.350.000 euros por causa de um artigo onde o escritor António Tabucchi pergunta pelo seu passado.

O que está em causa é a liberdade de expressão num país onde Berlusconi domina a quase totalidade dos media e não aceita as opiniões de gente que quer que este país continue em democracia.
A petição é esta:

http://www.mediapart.fr/club/blog/la-redaction-de-mediapart/181109/signez-lappel-international-pour-antonio-tabucchi

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A língua portuguesa

Escreveu Fernado Pessoa:

Não chóro por nada que a vida traga ou leve. Há porém paginas de prosa me teem feito chorar. Lembro-me, como do que estou vendo, da noute em que, ainda creança, li pela primeira vez numa selecta, o passo celebre de Vieira sobre o Rei Salomão, "Fabricou Salomão um palacio..." E fui lendo, até ao fim, tremulo, confuso; depois rompi em lagrimas felizes, como nenhuma felicidade real me fará chorar, como nenhuma tristeza da vida me fará imitar. Aquelle movimento hieratico da nossa clara lingua majestosa, aquelle exprimir das idéas nas palavras inevitaveis, correr de agua porque ha declive, aquelle assombro vocalico em que os sons são cores ideaes - tudo isso me toldou de instincto como uma grande emoção politica. E, disse, chorei; hoje, relembrando, ainda chóro. Não é - não - a saudade da infancia, de que não tenho saudades: é a saudade da emoção d'aquelle momento, a magua de não poder já ler pela primeira vez aquella grande certeza symphonica.
Não tenho sentimento nenhum politico ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriotico. Minha patria é a lingua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente, Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa própria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ípsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.

Sim, porque a orthographia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-m'a do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.

Ora Fernando neste texto não está a dizer, como muita gente pensa, que a pátria é onde se fala Português. O problema era o mau uso da língua. A ortografia nem sequer era o pior dos males, embora ele preferisse uma ortografia mais clássica.
Hoje há quem brade contra a nova ortografia. Mas a que defendem é a dos anos quarenta e não a que Fernando Pessoa usava.

Mas pior que a ortografia é este "portínglich" que está na moda. Não sou purista da língua mas penso que não há necessidade de tanto inglês misturado com português, que mais parece uma gíria que uma língua.
É a toda a hora as evidências, a realização (com significados em inglês, diferentes do português), o benchmarking, advocacy, the big picture, lay out, slideshow, bookcrossing, feed-back, e-mail, labs, links, spam etc. etc. e isto tudo misturado com siglas e acrónimos.

Outra questão é a do esquecimento dos clássicos.


domingo, 6 de dezembro de 2009

Galileu no Império da China através do Padroado Português


Vai ter lugar no próximo dia 9 de Dezembro na Biblioteca Pública de Évora, pelas 21.00 horas, a Conferência:
Galileu no Império da China através do Padroado Português

O Padroado Português do Oriente concedia ao Estado Português privilégios especiais na jurisdição da Igreja Católica no Oriente (Índia, Japão, China, África Oriental, Malaca, Timor …), nomeadamente na escolha dos bispos e sacerdotes. Os padres da Companhia de Jesus participavam nessa estratégia política e religiosa.

A companhia de Jesus era a principal responsável pela evangelização dos territórios, mercê da sua organização e por ter padres com grande formação intelectual em diversas áreas, tendo penetrado em áreas tão diferentes como a Índia, os Himalaias, a China, Japão e outras, além do Brasil e outros territórios da América, e exercendo uma forte influência na Europa através das universidades, próprias como Évora, como Coimbra, Lovaina (actual Bélgica), entre muitas.
Os jesuítas adaptavam os métodos de evangelização aos povos e às culturas. Assim, no Brasil construiram "aldeias comunitárias" com os índios, as reduções, onde pregavam em língua geral, uma língua franca, baseada nas línguas tupi e guarani, que chegou a ser a língua mais utilizada no Brasil, mesmo pelos portugueses; na Índia alteraram os ritos, os chamados ritos malabares, assim como em territórios chineses usaram os ritos malabares. Fizeram também dicionários de várias línguas.
Uma das formas de exercer influência junto do imperador chinês era através de conhecimentos de Astronomia.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Suíça lava mais branco

Os eleitores suíços decidiram num referendo proibir a construção de minaretes.

Como se não tratassem já os portugueses como gente de 2ª classe e os muçulmanos com gente de terceira ou quarta, agora estão a caminho de proibir os muçulmanos de rezar.

Não querem minaretes, só querem gente para lhes limpar o lixo e estar caladinhos, prontos para serem expulsos.

Não os querem mas dá-lhes jeito para fazerem os trabalhos que eles não querem.

É já tradição suíça. O único compromisso é com o dinheiro.

Na segunda guerra mundial recebiam o ouro que os nazis roubavam por todo o lado. Aceitavam os depósitos dos judeus e depois expulsavam-nos para a Alemanha, que os levava directamente para os campos de concentração.

Têm recebido o dinheiro de todos os ditadores que despudoradamente roubam os respectivos povos, dos mafiosos, dos traficantes de armas, de drogas, de pessoas. As contas são numeradas para garantirem o anonimato.

E dizem-se civilizados!

Desta vez dou razão a Cohn-Bendit, deputado europeu, antigo radical do maio de 68, depois mais manso: os árabes ricos deveriam deixar de depositar dinheiro na Suíça. Só assim aprenderiam, porque o que lhes dói é a falta de dinheiro e não os direitos.

E a ONU, com as suas declarações dos Direitos Humanos vai continuar na Suíça?

Bin Laden e outros, afinal têm aliados. São todos tão puritanos!
Os suíços esforçaram-se por construir mais ghettos.

E nós vamos deixar que eles proibam minaretes, religiões que não sejam a calvinista, luterana ou católica (há que conservar os guardas do Vaticano), qualquer dia pretos, depois latinos e mais coisas que os suíços se hão-de lembrar ?

Nem todos os suíços votaram assim, mas foram mais de metade.

Deveria começar-se a mexer nas benesses do dinheiro da confederação Helvética

sábado, 28 de novembro de 2009

As meias tintas

Governo e oposição.


É normal as pessoas em democracia votarem onde querem. Os partidos propõem ideias e sujeitam-se ao escrutínio. O que não podem é pensar que só há a verdade absoluta de um partido.

Faz parte do pacto político: quando se tem a maioria absoluta pode-se cumprir a maior parte daquilo que se propôs, respeitando a Lei e os direitos das minorias, dentro de uma determinada conjuntura; quando a maioria é relativa tem que se ter também em conta as ideias dos outros que foram eleitos. Ou então não se aceita ir para o poder.

Da parte das oposições há também que respeitar a vontade dos eleitores. Se a posição for só sim ou não, então também não se deve aceitar o lugar.

Na maior parte dos regimes parlamentares não há maiorias absolutas. E, no entanto, governam-se e há estratégias. Por que é que em Portugal não pode ser assim?

O pior são as meias tintas e a navegação à vista.

O PS se está no governo tem que conversar a sério e definir uma estratégia e dialogar a sério com os outros para obter apoios. Não pode andar a fazer-se de vítima a toda a hora.

Se não queria governar assim por que é que aceitou? Ou será que quer mudar de regime?

Os cidadãos precisam de saber o que é que se quer fazer nos próximos tempos.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Professores primários em Portugal em 1835



Decreto do Ministro e Secretario d’ Estado dos Negocios do Reino
7 de Setembro de 1835

Repare-se no tempo de serviço necessário para obter a reforma (jubilação): 25 anos

sábado, 21 de novembro de 2009

Propostas precisam-se

As línguas são uma grande ilusão. Pensam as pessoas que estão a falar de uma coisa e há outros que não percebem ou não estão para perceber.
Num país como Portugal, que até tem uma língua já usada oficialmente há muitos séculos (quando no reinado de D. Dinis o Português se tornou língua oficial, ainda os ingleses da corte usavam um francês normando), falam-se muitos discursos que só alguns grupos entendem. O que é que significa para a maior parte das pessoas, num país com elevada iliteracia, usar expressões como avaliação formativa, objectivos individuais, competências, pedagogia, didáctica, construtivismo etc. etc. ? E quando começam com siglas, PE, DE, PCE e outras, ainda muito menos

Não estou aqui armado em arrogante, mas há ainda muitos que não lêem um artigo de um jornal, têm dificuldade em preencher um requerimento simples e quando vêem uma notícia na televisão, ligam mais à imagem e à emoção transmitida do que às informações dadas. Outros sabem, ou julgam saber e depois desligam, porque pensam que há outros assuntos que merecem atenção. Outros ainda presumem que só o que eles e o grupo fazem é que é importante, dividindo em escalas hierárquicas em que uns são superiores e outros inferiores, e mais importantes se pensam quando acham que subiram muito.

Falemos agora da avaliação de professores. Não basta ter razão na contestação. É preciso que o discurso passe. Os professores (quais?) até conseguiram, mas isso pode ser uma ilusão temporária. Ainda têm um capital de prestígio, fruto de as pessoas terem quase todas passado pela escola ou concluído que esta era importante ou porque ainda há muitos professores na sociedade, nas autarquias, em associações e assembleias (até da República), capazes de influenciar.

Mas quando se contesta, não basta apenas reagir. É preciso ter propostas razoáveis e, sobretudo enquanto a opinião pública ainda está desperta.

Não ter propostas claras, pode levar a impasses e ao cansaço, dos próprios que reagem e dos que poderiam apoiar. E se passa demasiado tempo, alguém decide.

O país não vai passar anos a discutir questões dos professores e do ensino. O tempo urge e as pessoas cansam-se.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O cheque em branco do PSD e a pouca credibilidade perdida.


Bordalo Pinheiro

Afinal o PSD e o PS são bons amigos. Já se sabia: tomaram conta do aparelho de estado há muito, rodam nos lugares de nomeação política, das empresas públicas, sucedem-se nos escândalos da apropriação deste capitalismo português, em que raramente se percebe ou distingue se é o Estado que manda nas empresas ou se são as empresas que mandam no Estado.

O PSD na última legislatura votou pela suspensão do processo de avaliação dos professores. Sucessivamente questionado durante a campanha eleitoral sempre declarou que iria apresentar uma proposta de suspensão ou votaria nas propostas de outros partidos que propusessem a suspensão.

Agora limitou-se a trair as próprias palavras juradas e votou com o partido do governo, dando-lhe um prazo de um mês. Votou na farsa desacreditada da avaliação e passou um cheque em branco, como se o PS desse garantias de cumprir.

Afinal voltou ao que era. Quando o estatuto dos professores foi publicado não dizia nada, quando foi publicada a avaliação também não; eram os tempos em que Manuela Ferreira Leite não falava.
Quando começou a ver grandes manifestações, então acordou e vá de prometer.

Agora que já tem os votos volta àquilo que  foi e que no fundo queria: fazer a mesma política que o PS.

Quando não há ideologia, quando não há princípios, é assim!
Tristes figuras!

Respostas3

De um deputado do PSD:

Muito obrigado pela sua pertinente reflexão, quer no que diz respeito ao disgnóstico do modelo que ainda vigora, quer quanto às propostas que apresenta.

Cumprimentos

Respostas2

De deputados do PS:

Caro Professor João Simas

Tem razão quando diz que o momento é de debate de propostas que possam equacionar um modelo exequível e equilibrado de avaliação. O ministério, como é público e diariamente acompanhado por todos, está em reuniões de trabalho com os representantes dos professores. As notícias e declarações dos intervenientes deste processo levam a crer que estarão a ser resolvidas todas as questões que fragilizavam o anterior modelo. Creio que, e resumindo a uma generalidade, cada escola tem meios suficientes para fazer a avaliação dos seus docentes, entre avaliadores e órgãos de gestão e pedagógicos. A ideia das aulas assistidas apenas em determinados momentos da carreira, nomeadamente na mudança de escalão, parece-me bem – para mim, até deveria ser menos, em dois ou três momentos-chave…
Devemos esperar as conclusões que julgamos deverão ser do agrado de ambas as partes.
Cumprimentos
..................................

Caro Amigo João Simas

Obrigado pelo teu contributo. Agora, como no passado, estamos empenhados em garantir, aos cidadãos, um serviço público de educação que garanta a máxima qualidade e confiança. Para garantir essa finalidade, entendemos que é necessária a existência de um paradigma e de uma prática de avaliação rigorosa, objectiva, transparente, justa e exequível. É nisso que todos, os que defendem estes princípios, estamos a trabalhar.
Espero continuar a receber os teus contributos e envio-te votos de bom trabalho.
Um abraço
..........................................

Caro Senhor

Agradeço a amabilidade que teve ao enviar-me a sua opinião. Como sabe, foi definido o calendário e a metodologia a seguir nas negociações entre o Ministério da Educação e os representantes dos sindicatos representativos dos docentes, que decorrerão até final deste ano. Os temas que refere estão no centro dessa negociação. Todos esperamos que elas conduzam a bons resultados.
Cordiais saudações

Respostas1

Entretanto recebi respostas.
Do Grupo Parlamentar do PCP:

Foram hoje debatidas as várias iniciativas parlamentares relativas ao estatuto da Carreira Docente e à avaliação dos professores, entre as quais se conta o Projecto de lei n.º 2/XI apresentado pelo Grupo Parlamentar do PCP.
Do debate resultou, no essencial, a insistência por parte do PS na manutenção em vigor do actual modelo de avaliação enquanto se procede à sua revisão. Mas resultou igualmente uma posição preocupante por parte do PSD.
Depois de, na anterior Legislatura, ter apresentado um Projecto de Lei e dois Projectos de Resolução propondo a suspensão da avaliação e de ter votado favoravelmente todas as iniciativas apresentadas no mesmo sentido, o PSD prepara-se agora para inviabilizar a aprovação dos Projectos de Lei e de Resolução apresentados pelos vários Grupos Parlamentares.
Esta lamentável atitude do PSD, violando inclusivamente os compromissos assumidos no programa eleitoral que apresentou em Setembro, poderá comprometer os objectivos centrais visados pela luta dos professores: impedir que o actual modelo de avaliação produza mais prejuízos e reparar aqueles que entretanto foram causados.
O PCP manter-se-á firme e coerente nas posições que tem assumido, em solidariedade com os professores e a sua luta na defesa de uma escola pública de qualidade.
Se os restantes partidos da oposição adoptarem a mesma posição, certamente amanhã sairá da Assembleia da República uma Lei que suspenda o actual modelo de avaliação e reponha alguma tranquilidade nas escolas portuguesas.
Se o mesmo não ocorrer, os professores portugueses continuarão a ter no PCP uma força política que não poupará esforços na intervenção política para que esta questão seja resolvida, na Assembleia da República e fora dela.
Junto anexamos a Intervenção do Deputado Miguel Tiago na abertura do debate e os vídeos das intervenções decorrentes do mesmo.


Intervenção do Deputado Miguel Tiago
http://www.pcp.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=34670&Itemid=196
Intervenção do Deputado João Oliveira
http://80.251.167.42/videos-gppcp/2009-11-19Prof3.wmv
Intervenção do Deputado António Filipe
http://80.251.167.42/videos-gppcp/2009-11-19Prof4.wmv
Intervenção do Deputado Bernardino Soares
http://80.251.167.42/videos-gppcp/2009-11-19Prof5.wmv

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Onde está a Ministra da Educação?

A Assembleia da República está a discutir a avaliação dos professores.
Por que é que a Ministra da Educação não apareceu na principal casa da democracia?
Há respostas urgentes a dar.

A farsa do 1º ciclo de avaliação dos professores.

O primeiro ciclo de avaliação correspondia aos anos lectivos de 2007/2008 e 2008/2009. O decreto de avaliação saiu a meio do ano lectivo de 2007/2008, já o ano lectivo ia por aí adiante. Só teria sentido se fosse publicado antes, porque os objectivos só têm sentido se forem propostos no início de um ciclo. Ora apresentar a meio de um ano lectivo já pressupunha efeitos retroactivos.

Mas a coisa piorou. Em 2009 foi publicado o decreto “simplex” que contrariava e anulava os objectivos propostos, já que a legislação tinha mudado,  já o processo ia a mais de meio.

Depois deu para tudo. Quem apresentou objectivos, estivessem ou não de acordo com o Projecto de cada escola, apresentou quando quis ou segundo a “boa vontade das escolas”, uma forma de desacreditar o processo ainda mais e prejudicar os que se mantiveram coerentes: uns em Fevereiro, Março… até em Junho, depois do final das aulas.

É ou não uma farsa classificar professores que propuseram meses e até anos (repare-se nas datas) depois de iniciado o ciclo? Que sentido tem dar Muito Bom ou Excelente a quem no fim do processo (alguns dos quais até tinham assinado documentos contra) apresentou objectivos e teve aulas assistidas? Com efeitos retroactivos, com prejuízo dos outros?

Desrespeito para com os que no final se lembraram de ser avaliados?

Alguém formulou objectivos no início do ciclo? Agora que no final formularam objectivos têm que ser premiados em desfavor dos outros?


Todos os partidos da oposição votaram a favor da suspensão do processo na última legislatura. Todos os partidos da oposição durante a campanha eleitoral prometeram a suspensão da avaliação.
A suspensão é necessária e os partidos têm obrigação de serem coerentes e respeitar os resultados das eleições.

Parece, pelo que vejo agora na Assembleia da República, o PSD está a “roer a corda”.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Assembleia da República. O nosso poder legislativo

Hoje enviei uma mensagem (semelhante ao texto que aqui escrevi ontem) a vários deputados.
É altura de os professores escreverem novamente aos deputados sobre a situação no ensino.
Nem todos vão ler, mas há muitos que vão pensar sobre as informações que cada um der.
Uma mensagem pode levar à mudança de atitude de um deputado hesitante.
Amanhã há discussão na Assembleia da República.

O e-mail dos deputados está em:
http://www.parlamento.pt/DeputadoGP/Paginas/Deputados.aspx

Poetas perdidos? Bernardim Ribeiro e o Alentejo


Monte do Álamo, Cano

Hesitei em (re,re) publicar esta poesia, porque deveria ser muito mais conhecida.
Mas tenho chegado à conclusão que os alunos do ensino básico e secundário já não têm oportunidade de usufruir destas coisas.
Os programas mandam-lhes fazer relatórios, analisar textos de natureza diversa: contratos, requerimentos, regulamentos, artigos científicos e técnicos (será que ...?), reclamações (será que se habituam?), ... e também textos literários que sejam argumentativos, líricos... Estudam-se autores "a propósito de". Por exemplo, o Padre António Vieira, porque fez textos argumentativos.
A literatura medieval e o seu contexto quase desapareceram, não fosse uma disciplina optativa escolhida por uma minoria: Literatura Portuguesa.
Muitos autores teriam desaparecido, não fosse o bom senso de alguns professores.
Recordo aqui um que vai entrando no rol do esquecimento. Um alentejano, provavelmente do Torrão, entre os séculos XV e XVI. Também refere o abandono, problema actual:

ÉCLOGA II

Dizem que havia um pastor
antre Tejo e Odiana,
que era perdido de amor
per da moça Joana.
Joana patas guardava
pela ribeira do Tejo,
seu pai acerca morava
e o pastor de Alentejo
era, e Jano se chamava.


Quando as fomes grandes foram
que Alentejo foi perdido,
da aldeia que chamam o Torrão
foi este pastor fugido.
Levava um pouco de gado,
que lhe ficou doutro muito
que lhe morreu de cansado;
que Alentejo era enxuito
de água e mui seco de prado.


Toda a terra foi perdida;
no campo do Tejo só
achava o gado guarida:
Ver Alentejo era um dó!
E Jano, pera salvar
o gado que lhe ficou,
foi esta terra buscar;
e, se um cuidado levou,
outro foi ele lá achar.
[…]
Bernardim Ribeiro

terça-feira, 17 de novembro de 2009

O problema continua por resolver: a avaliação dos professores.

   Agora que na Assembleia da República há vontade de discutir os assuntos e não apenas votar batendo palmas ao governo e com as oposições a falarem sozinhas, mercê do voto popular que não quis que fosse só um a mandar, é altura de contribuirmos também para a discussão, não permitindo, na medida da nossa possibilidade de influenciar, que se façam acordos de bastidores, renegando o que se prometeu em campanha eleitoral.

  É necessária uma avaliação dos professores? É.

   Já muito foi dito sobre o modelo “coqueluche” do PS. A avaliação em vigor era burocrática até ao limite, inquisidora, permitindo até que pequenos ditadores em potência impusessem a sua verdade sobre como se devem dar aulas, o preenchimento de inúmeras e continuamente reinventadas grelhas, e penalizadora e culpabilizadora dos avaliados.

   Esta avaliação punha (põe) até as escolas “de pernas para o ar”, como se a principal missão de uma escola não fosse ensinar e educar, mas avaliar quotidianamente, as palavras, os gestos, as atitudes, o modo de ser de cada professor, o decalque ou o afastamento em relação à ideologia tecnicista e quase totalitária do “pensamento único”.

   Levada a sério, segundo os propósitos do ministério e demais ideólogos e "expertos" do regime e seus clientes, seria um preenchimento constante de fichas e relatórios e de práticas à defesa, com mais relatórios e fichas, dado que a concorrência poderia ir até a um plano em que avaliadores e avaliados lutariam por lugares. Os avaliadores passariam também o tempo com a avaliação, nalguns casos a ter que aprender matérias dos avaliados, por serem de grupos diferentes e as suas aulas passariam para segundo ou terceiro plano. Porque, ou o tempo esticava ou os professores iriam colectivamente tratar-se ou teriam que se arranjar outros horários, o que também ficaria caro, já que se avaliados e avaliadores passassem a maior parte do tempo a “trabalhar” para a avaliação, teria que se contratar mais professores para leccionar.

   As consequências deste processo foram, umas imediatas, outras que vão perdurar. Inquinou-se o ambiente nas escolas e só não se foi mais além porque os professores colectivamente reagiram e a sociedade compreendeu. Os resultados viram-se logo nas eleições europeias e depois na perda da maioria absoluta (não só por esta razão, mas esta teve peso). Milhares de professores com experiência, muitos dos quais participaram entusiasticamente em projectos ao longo de uma vida, pediram a reforma antecipada, outros ficaram com uma sensação de vazio perante a desvalorização demagógica do trabalho feito, com a utilização intensiva dos media, onde durante algum tempo imperaram os “idiotas de serviço”.

   A demagogia continuou. O ministério recuou e publicou um decreto com uma avaliação “self-service”, em que o que interessava era obedecer sem perguntas. Quem quisesse, poderia ter aulas assistidas, quem não quisesse não teria; até deu para em certas escolas entregarem os objectivos, que quase ninguém leu, depois das aulas terem acabado !!!

   Como se dizia numa língua quase exterminada no ensino secundário, o Latim: mons parturiens, a montanha pariu um rato.

   Agora falemos em propostas. Os professores devem ser avaliados nas actividades lectivas e não lectivas, em projectos que tenham a ver com a escola e no contexto da escola, com o grande objectivo de melhorar as suas actividades e formação e a escola. Por isso é também importante avaliar as aulas. Mas não é preciso que vá alguém assistir a várias aulas por ano: basta que isso seja feito no ano em quando se muda de escalão, por exemplo. E condição necessária, que se seja avaliado por alguém da sua área e que tenha mais experiência ou curriculum e que não seja um avaliador apenas, mas um júri, preferencialmente com pessoas de dentro e de fora da escola, para garantir alguma independência.

   Continuaremos. Vamos ver o que a Assembleia da República delibera e o que é que a senhora ministra pretende.

Penha de Águia




Pequena povoação construída por pescadores do Guadiana.

Poetas esquecidos. Jerónimo Corte-Real

Nada resiste ao tempo, tudo vence,
Tudo desfaz, consume e tudo gasta,
Grandes males e perdas, grandes danos,
Grandes desgostos dá ao esquecimento.
Leva-nos da memória em pouco espaço
Aquilo que antes era espanto à gente,
E o que nos assombrou ontem, já hoje
Leve o faz parecer, brando e tratável.
Não há tristeza grande que não cure,
Não há dor que co'ele seja grave.
Todo o mal e rigor, toda aspereza
Este velho cruel nos torna fácil.

Corte-Real, J. (1598). Naufrágio e Perdição de Sepúlveda e Leonor.

Suspensão da avaliação de professores. De novo.

Na última legislatura houve votações no sentido de suspender a avaliação dos professores. Houve propostas que tiveram votos de todos os partidos da oposição e de mais quatro deputados do PS, entretanto saneados.
Na campanha eleitoral CDS, PSD, CDU e Bloco de Esquerda prometeram votar favoravelmente a suspensão.
Vamos ver se mantêm todos a mesma posição ou se algum partido "rói a corda".

terça-feira, 10 de novembro de 2009

O muro de Israel

Dados da ONU indicam que, até o momento, Israel construiu 413 km dos 709 km planejados para o muro.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/11/091109_cisjordania_rc.shtml

Nota: o muro de Berlim tinha 61,5 Km, um exagero.
Mas foi derrubado!
Este continua a ser construído, contra as leis internacionais.

Os muros


Muro na Cisjordânia/ Muro de Berlim

Nos vinte anos da queda do muro de Berlim houve festa, aliás compreensível. Acabou também um estado policial. Houve ênfase com a ida de muitos presidentes e representantes de muitos estados.
A televisão e o pensamento dominante não falam de contextos. Em 1961, quando foi feito o muro (indefensável do ponto de vista dos direitos inalienáveis e imprescritíveis), estava-se em plena Guerra Fria. Em Berlim Oriental havia tropas soviéticas e polícia, em Berlim Ocidental havia tropas americanas e a CIA. Ambas as partes, a cidade dividida, eram bastiões de propaganda e de muitas perversões para demonstrar que o outro lado estava errado. Na RDA eram proibidos os partidos ou organizações chamadas capitalistas, na RFA era proibida a propaganda comunista. As Alemanhas estavam pejadas de exércitos estrangeiros. A desnazificação, iniciada em 1945, foi logo atalhada, o tribunal de Nuremberga mal teve tempo de condenar alguns criminosos e outros foram aproveitados, seja para fins científicos, seja para manter poderes. Do lado da RDA "não havia "ex-nazis, do lado da RFA foram "esquecidos".

O muro era a fronteira entre duas grandes ideologias, a fronteira política.

O mundo de lá desmoronou-se. Gorbatchev e outros tiveram aí um grande papel. O muro caíu sem sangue, de podre. A RFA anexou a RDA e, ainda hoje continuam os problemas. A RDA estava entre as dez maiores potências industriais. Perdeu mercados a Leste, desindustrializou-se, acabou-se o pleno emprego, ensino e saúde gratuitos, e ainda hoje põem-se problemas de identidade e de discriminação dos “ossies”. Convém aqui lembrar que a Alemanha, ou o império alemão, só existe a partir de 1871 e com grandes mudanças de fronteiras e transferências de populações em massa ao longo do século XX.

Em tempos Kennedy teve uma célebre frase:
“Ich Bin ein berliner”

“I have a dream”. Gostaria que, em vez de se festejar só, com tanto presidente a queda do muro de há vinte anos, se festejassem também as quedas de muros ainda mais electrificados, betonizados e armados que existem aí, como o muro que separa, contra a lei internacional e as decisões das Nações Unidas, o território ocupado da Palestina. É que esse muro não é só político, é racista, confina famílias separadas a territórios, até que desapareçam.

Não espero que venha um presidente americano a dizer em árabe: eu sou palestiniano; nem espero que venha tanto presidente em regozijo e festa.
Mas seria importante considerar que há mais seres humanos com direitos.

Veja-se também o que a insuspeita BBC mostra em relação a muros existentes:

http://news.bbc.co.uk/2/hi/in_depth/world/2009/walls_around_the_world/default.stm

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Lévi-Strauss


Nambinkwara, in Tristes Trópicos

Morreu Claude Lévi-Strauss aos 100 anos.

Lévi-Strauss é ainda uma referência na Antropologia Cultural.
Os seus trabalhos de investigação começam no Brasil, nos anos 30, para onde foi com a“missão francesa" para a Universidade de S. Paulo, tendo percorrido em várias expedições o Mato Grosso, Amazónia e outras terras, por locais onde raramente tinha penetrado o “homem civilizado”. Por lá, andando a pé ou no dorso de mulas, em locais sem caminhos, na densa floresta, onde se altera a noção de espaço, na sombra colectiva de árvores enormes e outra vegetação entremeada, onde mal se vê o Sol e se pode cair numa ravina imensa inesperada, no meio de bicharada estranha, ruídos e silêncios, encontrou tribos que conviviam com a Natureza, com uma sabedoria, um conhecimento dos sons e dos cheiros e outros sentidos já perdidos pelos homens ocidentais.

Um dos muitos livros publicados, “Tristes Trópicos”, relata essas viagens, onde se sente a nostalgia das culturas que se vão perdendo. Um livro de Etnologia, um romance de aventuras, uma viagem por outros mundos que confrontam visões preconcebidas.

E essa viagem começou quase por um acaso e por uma visão europocentrista, que afinal, por acaso, deu resultado com o homem certo, numa França ainda com pretensões coloniais e civilizadoras e num Brasil que se queria desenvolver e conhecer.

O próprio Lévi-Strauss começa pela Filosofia e conta em Tristes Trópicos , "não tanto por uma verdadeira vocação como por uma repugnância suscitada com outros estudos".Mas "a Filosofia não era ancilla scientiarum, a serva e auxiliar da investigação científica, mas sim uma espécie de contemplação estética por si própria".(...) Deste ponto de vista o ensino filosófico exercitava a inteligência ao mesmo tempo que secava o espírito"

No Outono de 1934 recebe um convite do director da Escola Normal de Paris para apresentar a sua candidatura para ser professor de Sociologia na Universidade de S. Paulo no Brasil. " Os arredores estão cheios de índios, poderá dedicar-lhes os seus fins-de-semana " . Pode parecer ridículo, já que S. Paulo era uma metrópole densamente habitada, mas era assim que se pensava em Paris.
 Foi o começo das longas e penosas viagens de exploração e estudo e mais tarde os E.U.A., onde contacta com a antropologia americana, obrigado a fugir da invasão alemã e Governo de Vichy, especialistas na purga de cérebros, sobretudo se fossem de origem judaica (como era o caso).
E do Brasil, França e EUA partiu para muitos outros mundos.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

A República


Assembleia da República.

Governo de diálogo?

Neste país há muita gente com tendência a subverter as palavras.
Há uns anos António Guterres usou a palavra diálogo e logo se banalizou na opinião publicada. Apesar das minhas divergências, estou convencido que era sincero e tentou fazê-lo. Também é preciso ver o contexto: tínhamos saído de governos de Cavaco Silva que dizia que nunca se enganava. Retirou-se Guterres do governo antes de tempo e logo vieram alguns gozar ainda mais com a palavra diálogo. E quando gozam querem dizer que o diálogo é uma fraqueza, algo que não interessa a quem detém o poder. Triste conceito de democracia, falta de humildade perante as votações dos eleitores!
Agora o primeiro-ministro, depois de uma constante atitude de sobranceria e apoio repetido aos ministros e secretários de estado arrogantes volta a falar de diálogo.
Durante o último governo preocuparam-me mais as atitudes intransigentes da ministra da Educação e a atitude continuada de provocação do secretário de estado Valter Lemos, do que as gaffes de Manuel Pinho ou os dislates de Mário Lino.
A ministra da Educação foi-se embora, porque era impossível manter-se pelos estragos que fez. Mesmo alguns próceres do PS já começavam a duvidar de tanta iluminação, tanta reforma inovadora (ou reaccionária), contra quase todos.
Mas este governo manteve muitos e catapultou outros, cujo currículo foi a militância de começar por colar cartazes e continuar a dizer sim. Pelo meio, aparecem outras caras mais simpáticas e com obras noutros lados.
Não são as pessoas em si que me interessam, mas como governantes e as políticas que anunciam e executam.
Um sinal muito mau deste governo, que contraria totalmente a ideia de diálogo (forçado porque o governo não tem maioria e é obrigado a dialogar) é o lugar de secretário de estado de Valter Lemos no Ministério do Trabalho.

Esperemos! Esperar em tempo útil é necessário. Vamos ver o programa, o orçamento, as linhas de actuação e os factos.

Mas pôr alguém que nunca soube dialogar, que fez uma guerrilha constante, usando a demagogia no quotidiano, diabolizando os inimigos que criou, e uma apetência pelo poder já sem rebuços, é mesmo um sinal muito mau, é mesmo uma provocação, como dizia Carvalho da Silva há dias. Aliás, para um primeiro-ministro que se apresenta tão esperto, é uma falha mais na anunciada apaziguação. Mas tem companhia, o homem que gosta de "malhar", embora na sua juventude fosse contra os "capitalistas e generais", frase repetida pelos trotsquistas portugueses de há uns anos. Mas isso foi aquilo que alguns consideram "dislates" da juventude, embora alguns companheiros de antanho pensem que se trata de falta de coerência.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Ainda as Bíblias e os escritores

Falo em bíblias porque, no essencial, o Alcorão (agora há quem diga Corão, mas em português a palavra usada ainda leva o al, como quase todas as outras de origem árabe) é uma outra versão da Bíblia, adaptada a outros crentes, mais recentes historicamente, pois que Maomé viveu muitos séculos depois dos textos estarem fixados (ou não, mas isso é ainda outro problema). E aqui há também que não confundir com o ponto de vista cristão que juntou e dividiu em duas, o Antigo e o Novo Testamento (não é este que está em causa).
Se falamos de Bíblia, em sentido estrito e mais universal, é aquela escrita antes de Jesus (aliás Cristo não escreveu nada e quem escreveu foi muito tempo depois e com escolhas, para que os textos fossem mais coerentes entre si, o que nem sempre se conseguiu).

Só para realçar um pouco a ideia, tanto na Bíblia como no Alcorão os profetas são os mesmos e os anjos também. Aliás, Maomé, que era analfabeto no início, recebeu as mensagens através do anjo Gabriel, o mesmo que anuncia outras coisas e que fala com Maria, também venerada pelos muçulmanos, tal como Jesus para eles é um dos grandes profetas.

Ora o Deus que aparece na Bíblia, nas várias versões antigas, é frequentemente arbitrário e exclusivista, protegendo uns, arrasando outros. Costuma-se dizer que os desígnios de Deus são insondáveis. Trata-se de Fé e contra a Fé, por natureza, não há argumentos racionais, porque não se trata de Lógica mas de Crença.

Escandalizam-se alguns, mas também são parciais. José Rodrigues dos Santos publicou agora um livro explícito no seu título:  Fúria divina. Vende-se mas não dá escândalo. Porquê? Afirma mais ou menos o mesmo que Saramago e vai até mais longe ao referir o Alcorão. Se fosse vendido no Afeganistão ou na Arábia Saudita (clandestinamente claro) certamente teria grandes problemas. Aqui não, felizmente. Nem os muçulmanos portugueses reagiram como alguns católicos em relação a Saramago.

Mas se houver alguém que publique um livro do mesmo género em que se baseie só na Bíblia que os judeus usam seria acusado de anti-semitismo.

Mas afinal não é mais ou menos o mesmo? O Deus dos Exércitos, o Deus arbitrário e vingativo está nestas Bíblias.
Alguns dos que acharam graça às caricaturas de Maomé saídas num jornal dinamarquês e que acharam indmissíveis as reacções de alguns muçulmanos, agora indignam-se com Saramago.
Será que ainda pensam que são o Povo Eleito (bíblico), com exclusão dos outros e que a indentidade portuguesa ou europeia obriga a que sejam castigados os blasfemos e que os restantes façam profissão de fé?

Há quase cem anos (faz este ano) foi proclamada a República com a separação do Estado e das Igrejas. Já antes noutros países também. Na Turquia desde a década de vinte.

Já era tempo de alguns perceberem isso.

sábado, 24 de outubro de 2009

A nova ministra da Educação

Isabel Alçada foi indigitada para Ministra da Educação.
É uma pessoa respeitada, que tem escrito livros para adolescentes e fez um trabalho interessante com o Plano Nacional de Leitura.
Mas apoiou totalmente a política da ex-ministra da Educação.
Vi pessoas entusiasmadas com a nova ministra.
Mas, para lá das simpatias ou antipatias pessoais, não será melhor pensar qual é a política que vai ser seguida, conhecer o programa do governo?
Afinal Maria de Lourdes Rodrigues só lá esteve os quatro anos porque tinha a confiança reiterada do primeiro-ministro.
O primeiro-ministro é o mesmo e não mudou de ideias.

O que vale, não é a nova cara de ministra, o importante é que a Assembleia da República mudou e os partidos da oposição comprometeram-se a mudar a política da Educação. Até aqui o PS era irredutível. Agora vai ter que respeitar a vontade dos eleitores que recusaram a maioria absoluta e as "verdades" incontestáveis e o achincalhamento de quem não estava alinhado.

Vamos ver se os compromissos vão ser assumidos.Só depois de saber o programa do governo, as primeiras medidas em relação aos temas da polémica e a reacção de cada deputado é que poderemos formar opinião.

Até aqui está tudo como dantes. A legislação contestada está em vigor. Se nada mudar logo nas primeiras decisões, então teremos que estar mais atentos e mostrar que os cidadãos estão vivos. Neste governo de continuidade não pode haver dilatação de tempos de espera. Cada dia de espera é o agravar do que já foi feito.

Temos urgência em ver o que vai mudar.
É preciso mais que um sorriso.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Exercícios

Um tema, uma questão leva a outra e assim sucessivamente.
Vem isto a propósito de certa falta de assuntos que têm vindo à imprensa e à blogosfera.

Para mim, o caso Maitê Proença seria irrelevante, não fosse esta mania de muitos portugueses de passarem o tempo a dizer mal do país e escandalizarem-se quando alguém “de fora” (será que Maitê é mesmo de fora?) faz o mesmo ou diz o mesmo. Quase de admirar é também o “portuguesismo” de muitos brasileiros, que vivem entre a anedota do “Manuel” e a secreta admiração pela Europa, onde afinal Portugal também está, e algum orgulho na ascendência portuguesa.

Outro escândalo foi o de Saramago sobre a Bíblia, que leva até um deputado Europeu do PSD a pedir que ele renunciasse à nacionalidade portuguesa. Deveria pelo menos saber que desde 1910 que não há nenhuma religião oficial em Portugal. Mas Saramago também se lembra (e nós) que houve um secretário de estado da Cultura, num governo de Cavaco Silva que o pôs no “Índex” por ter falado dos Evangelhos, como se vivêssemos no tempo da Inquisição, o que o levou a fartar-se disto e a ir para Espanha, aliás numa tradição bem portuguesa, em que os “castiços” acham sempre que os outros devem ser “malhados” ou, pelo menos, exilados. Já assim era no tempo de D. João III ou de d. Miguel.

A opinião de Saramago é apenas uma opinião sem grande reflexão, uma pequena provocação, que não mereceria grandes conversas. E qual é o mal de haver pequenas provocações? Vivemos em algum estado teocrático? Disse Saramago o mesmo que poderia ter dito qualquer anticlerical no tempo da República e até antes ou depois. O prémio Nobel e o facto de ser um bom escritor não lhe dá competências de teólogo ou exegeta. É o mesmo (no caso pior) quando um conhecido professor de direito da Universidade de Coimbra fala sobre o ensino, sem perceber do que se trata ou quando um cirurgião dá opinião sobre o TGV, só porque calhou em conversa.

E não sendo eu exegeta nem teólogo resolvi dar mais uma espreitadela pela Bíblia. Diria antes Bíblias, porque há tantas traduções, tantas interpretações, livros canónicos para uns, desprezados ou ignorados por outros. Depois há leituras alegóricas e outras literais. Há o Velho Testamento, que não é bem igual ao dos judeus e até o Alcorão, que no fundo é uma Bíblia baseada nas outras.

E, nestes exercícios, consultei uma tradução do livro que mais edições teve em português ao longo dos séculos, ultrapassando qualquer grupo de escritores reunidos: a Bíblia d’Almeida.

João Ferreira d’Almeida, português do século XVII, fugiu para os Países Baixos protestantes (conhecidos vulgarmente por Holanda), foi, como tantos portugueses exilados, para as colónias das companhias holandesas e, a partir de Batávia (actual Indonésia), fez uma tradução da Bíblia, várias vezes modificada por outros nas inúmeras edições.

Não conheço a edição princeps, parece-me até que nem é conhecida, apenas encontrei uma, acessível inteira no Google, editada em Nova Iorque em 1848.

Ressalvando as modificações a linguagem é interessantíssima, pois está num português clássico mas já com algum sabor arcaico, embora certas palavras tenham ainda o mesmo significado no português do Brasil.

Questionei-me sobre a qualidade da tradução, questão nada fácil, porque as traduções em línguas vulgares, foram a diversas fontes, a traduções do Latim, do Grego, do Hebraico, de acordo também com a tradição aprovada por cada Igreja. Os próprios Evangelhos foram escolhidos entre muitos, escritos também alguns muito tempo após a morte de Jesus. E, no caso da Igreja Católica, a  tradição é extremamente importante. Por isso, durante séculos, sobretudo a partir do concílio de Trento (século XVI), para se ler a Bíblia só com autorização da Igreja e em Latim. Ao contrário dos protestantes que a liam nas línguas nacionais e, por isso, só um protestante a poderia ter traduzido para Português.

Se estas questões são quase irresolúveis, a quem haveria de perguntar?

Pensei em alguém que conhecesse Teologia e que não fosse um prosélito ou um propagandista dogmático.Mas os teólogos também estão comprometidos. Lembrei-me então de um livro de Régis Debray, filósofo, que em tempos escreveu sobre Che Guevara e hoje se dedica a estudos sobre religiões, em que diz que alguns dos intelectuais mais honestos nestas matérias são teólogos, entre os quais os da Companhia de Jesus. Além disso, dentro da Igreja Católica os Jesuítas são, em geral, as pessoas com maior formação intelectual, muitos deles com mais que uma licenciatura e doutoramento.

Procurei um “site” da Companhia em Portugal e fiz perguntas. Recebi resposta, com alguma humildade perante a complexidade (o que só demonstra conhecimento) e com referências sobre onde poderia encontrar melhor resposta.

E vi uma referência importante, que um dia talvez leia, de Frei Herculano Alves, que fez um doutoramento agora publicado, sobre a Bíblia de João Ferreira d’Almeida.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O sexo e as religiões



Museu em Rodes


Nem sempre o sexo não abençoado foi uma proibição.

É nas religiões do Livro, isto é, no Judaísmo, Cristianismo e Islamismo que elas são mais rigorosas.
Mesmo assim há diferenças dentro delas. Há, apesar de tudo, uma diferença enorme entre o wahabismo da Arábia Saudita ou as práticas de países como Marrocos ou a Síria. Nas "Mil e uma Noites", do tempo do califa Harun Al Rashid, em Bagdad o ambiente é relativamente liberal. O cristianismo ortodoxo grego parece-me mais conservador que o católico. E quanto a judaísmo há também de tudo.

É também preciso ter em conta que os textos podem ser levados mais a sério numas épocas do que noutras. Por exemplo, na Idade Média, mesmo em Portugal, as proibições eram vistas mais como um ideal. Basta ver que raro era o rei, nobre, bispo que não tinha filhos fora do casamento. D. João I não era filho ilegítimo e o seu principal apoiante, Nuno Álvares Pereira era um dos muitos filhos do Prior do Crato. Basta ler as cantigas de escárnio, cantadas na corte, que ainda fazem corar muita gente hoje, ou as histórias do Decameron, extremamente explícitas.
Mesmo na Idade Média islâmica andaluza (também nossa) os poetas continuavam a celebrizar o corpo (e os prazeres do vinho também).
Roma no século XVI era a cidade da Europa que tinha mais prostitutas que pagavam imposto ao Papa e se Alexandre VI (Bórgia) e seus filhos ficaram conhecidos pelos escândalos, não eram os únicos.
Mais intransigentes era os calvinistas nas suas diversas formas. Os puritanos de Cromwell proibiram até o teatro na Inglaterra e quase tudo o que não fosse trabalho e oração. E não foi só a Inquisição que matou bruxas (esta especializava-se mais em judeus), uma atitude que revela um fundo misógino. Por quase toda a Europa protestante e América se fizeram fogueiras com elas.
Diferentes eram as religiões da Antiguidade Clássica. Afrodite (Vénus) "traía" Vulcano com Ares (Marte) e não tinha medo de esconder a sua beleza; alguns como Zeus gostavam de mulheres terrenas.
Os gregos clássicos celebrizavam o corpo humano, sobretudo o masculino e não tinham medo do nu.
Mas no final do Império Romano, quando o cristianismo se torna religião oficial tentou destruir-se tudo o que simbolizava paganismo e o corpo passou a ser pecado.
A seguir veio Maomé que aprendeu com judeus e cristãos.

Maus Costumes?

Não sei se foi esta Bíblia que Saramago leu, mas esta aconselha a não ter "maus costumes":

Já em tempos mostrei
http://ruadealconxel.blogspot.com/2008/02/tradues-da-bblia-na-idade-mdia.html
uns extractos de uma Bíblia traduzida na Idade Média, em Portugal.
Vou repetir:


«Nam sera puta das filhas de Isrraael nem putanheiro dos filhos de Israel nem offereçeras merçe de puta nem preço de cam em a cassa do senhor Deos teu porque abominaçam e çugidade he açerqua do senhor Deos teu.» (Deut. 23, 18-19)
Nota: cam (cão) é um prostituto.

No Tratado da Confissom, a condenação também não é mansa em relação aos que se masturbam (sua natura na maano e faz lixo), homossexualidade masculina (meter sua natura ãtre suas pernasou doutro homẽ e fezer lixo ), sexo com animais (faz fornizio com besta ), sodomia, dependendo se é com mulher ou com homem, passivo ou activo, lesbianismo (da molher que iouuer cõ outra molher) ...
Um verdadeiro catálogo!
A maior parte dos castigos são jejuns (iaiũar), mas alguns prolongados.
Item todo homẽ que tomar sua natura na maano e faz lixo esto he pecado comtra natura. E por quantas uezes o fezer iaiũe .xv. sestas feiras a pã e agua por cada hũa uez. Itẽ todo homẽ que meter sua natura ãtre suas pernas ou doutro homẽ e fezer lixo este outrosi he pecado muy maao e desapraz com el muyto a Deus e deue por cada uez iaiũar quinze sestas feyras a pam e agua
[...]. Item todo homẽ que faz fornizio com besta deue ieiũar duas coresmas a pam e agoa e a primeyra deue ieiunar a porta da ygreia se poder. E se esto fezer com muytas bestas deue dauer moor peemdemça e deue de ieiũar as sestas feyras por sete anos. [...]

Outrosy o macho que este pecado fezer ẽ na molher outra tal peẽdẽça faça tirãdo das sete coresmas iaiũe as duas a pã e agoa pois logar ha departido para aquelo fazer, em outro logar o faz moor pecado faz. Outrosy todo homẽ que faz aquela poluçõ cõ sua maão ou cõ outro mẽbro, iaiũe sete coreesmas [...]. Se macho fezer luxuria cõ besta pello logar de besta, iaiũe sete coresmas. [...] Se uarõ se poser com molher, cõ aquele stormento que soõe a fazer as molheres para comprir sua maldade tal pena sofra como aquel que fez pecado sodomitico, e a molher que pecado sodomitico sofrer.
A molher que se soposer a besta, iaiũe .xiiii. coresmas a pã e agoa tirãdo os domĩgos nẽ uista panos de linho nẽ este ẽ egreia. [...] E da molher que iouuer cõ outra molher cõ aquel estormẽto que fazẽ as molheres, iaiũe sete coresmas a primeira a pã e agoa.

in José Barbosa Machado, O léxico obsceno na prosa medieval portuguesa Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

A Maitê das nossas indignações.

Filme: A Selva
Este vale a pena ver (a Selva). E ler a obra de Ferreira de Castro (o túmulo dele está na Serra de Sintra)

Maitê Proença na Playboy. Provavelmente não está a ler a Bíblia dos Jerónimos (essa contém iluminuras), nem a Bíblia de Saramago. A magreza evidenciada foi certamente antes de comer pastéis de Belém.


Maitê fez telenovelas, até filmes em co-produção com empresas portuguesas. Aí quase todos gostam dela, até porque tem uma presença agradável e voz doce.

Ora Maitê deve ter resolvido dar uma volta por Sintra e Lisboa, comeu e bebeu umas coisas e fez-se filmar com uma câmara de bolso, talvez um telemóvel, visto que a qualidade das imagens é mais que medíocre e ela própria costuma ter uma presença melhor face às câmaras e, presumo, já deve ter dito coisas com humor. Comeu, cuspiu, riu-se de coisas a que ela achou graça e mostrou-se numa televisão a fazer gracinhas. Nesse aspecto Maitê e esse canal de televisão merecem-se. Também ninguém parte do princípio que as televisões actuais, por aqui e por ali, são os melhores veículos de transmissão de cultura ou de manuais de boas maneiras ou de divulgação do Património mundial. Por aqui nada de críticas, nada de escândalos. Temos também por aí tanta gente sem qualidade nenhuma a fazer trabalhos para encher o tempo da televisão com sensacionalismos efémeros.

O que me preocupa em Maitê é a imagem das loiras. Conheço tantas loiras inteligentes, como morenas e outras também. Há tanta anedota parva sobre loiras, que já se boceja.
Não havia necessidade de aparecer mais uma a justificar as anedotas de loiras burras.
É isso que me indignou por uns momentos, porque coisas para fazer ou pensar tenho muitas em lista de espera.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Valter Lemos ou o rosto oficial do Ministério.

Há já uns bons anos, em 1997, Filomena Mónica publicou, depois de vários artigos na imprensa, um livro com o título Os Filhos de Rousseau: Ensaios sobre os Exames.

Chega a conclusões como:
A cultura dominante é a inculcada nos cursos de Ciências de Educação. Trata-se, em resumo, da mistura entre o legado de Rousseau e algumas ideias, mal digeridas, da Sociologia da Educação, com ênfase para as que contestam a autoridade do professor, a validade dos conteúdos curriculares e a disciplina nas salas de aula. Evidentemente que ninguém conseguirá – nem o julgo desejável – reconstituir a autoridade como ela existiu no passado. Mas a ideia de que é possível aprender sem esforço, a subalternização do professor, a ambiguidade perante a avaliação, degradaram as escolas para além do tolerável (Mónica, 1997, pp. 48,49).
A autora, ao criticar os programas de Português vai mais longe:


Ora este senhor tem sido nos últimos anos Secretário de Estado da Educação. Se já sabíamos alguns coisas sobre as suas reacções tempestuosas e virulentas, agora verificámos que há muito que já o fazia, ao pôr-se em bicos de pés em qualquer lado.
Mas o pior não é isso. É que ele representa a política oficial, das ideias à estratégia, do Ministério da Educação.
Enfim, um cursozinho de boas maneiras, a que vulgarmente se chama educação, não lhe ficava mal.

Olhemos agora a disciplina de Português. Mais do que a História, esta cadeira tem sido vítima de modas, do estruturalismo ao pós-modernismo, da psicanálise ao marxismo, do desconstrucionismo ao feminismo […] Foi este tipo de brincadeiras que liquidou a Língua materna. Ao contrário do que dizem alguns linguistas, a subalternização das regras gramaticais afecta de forma particular os alunos dos estratos mais desfavorecidos, os quais não têm, em casa, quem lhes explique como se fala correctamente, como se pensa logicamente, como se escreve rigorosamente. Ao valorizar a linguagem popular, sem reconhecer os limites do seu vocabulário, os pedagogos de esquerda estão a enclausurar os filhos dos pobres no mundo esquálido onde nasceram (Mónica, 1997, pp. 59,60) .
Ora, Filomena Mónica é socióloga e tem feito muitos estudos, nomeadamente sobre os parlamentares no século XIX, Eça de Queirós, Cesário Verde etc. Ao contrário de outros, prova as afirmações, embora discutíveis e certamente a necessitar de mais elementos.
O que achei interessante também foi a reacção de uma determinada pessoa, na época quase desconhecida. Estamos em 1997!
Diz ela:
A crítica mais insólita apareceu num jornal regional, A Gazeta do Interior. Identificando-me com os “hippies” dos anos 60, o articulista, Valter Lemos, declarava que não só fora forçado a aturar as sandálias, vestidos indianos e histeria sociologista da minha geração (devo dizer, para a posteridade, que nunca usei sandálias ou vestidos indianos e que ninguém se pode gabar de ter assistido a qualquer acto de histeria da minha parte provocado por teses sociológicas, como tinha agora de ouvir as minhas ideias “pimbas”. Era ainda acusada de albergar no meu seio um “conceito facilitista de selecção dos mais fortes e exclusão dos mais fracos e de “branquear” o regime salazarista. Sobre a relação que ele postulava, entre estes pecados e Marco Paulo, o autor não era claro (Mónica, 1997, p. 9).

sábado, 10 de outubro de 2009

Dia de Reflexão

Mais um dia de reflexão! Espera-se que os cidadãos reflictam. Ainda bem que não é como noutros países, em que mesmo nas horas de votar as pessoas são bombardeadas com sondagens, publicidade paga por lobbies que exigem o pagamento em actos, com Ética ou sem ela.
No dia da reflexão, saio da minha casa, no chamado Centro Histórico (não gosto deste nome porque leva a pensar em relíquias para exposição ou fotografia para mostrar aos amigos), digamos que saio da minha casa situada numa parte da cidade mais antiga, mas que faz parte da cidade como outros bairros, e pretendo beber um café.
A pastelaria A está fechada, porque a clientela que tem é composta de pessoas que trabalham aqui mas moram noutras áreas, a pastelaria B o mesmo, o restaurante C, tal e qual, o bar D só abre à noite, mas ao sábado menos. O comércio está fechado (os centros comerciais fora não), muitas casas de habitação estão também fechadas e emparedadas até, vê-se uma ou outra pessoa de mais idade, alguns turistas … Lá encontrei um cafezinho ao pé das muralhas!
Hoje até há um ou outro espaço para estacionamento para os moradores que pagam um selo caríssimo, que nos outros dias não há lugares, até porque reservaram a maior parte para tribunais, feitos onde antes eram armazéns de mobílias, pensões e hotéis e ninguém fiscaliza à noite e aos fins-de-semana. Como há menos movimento de automóveis alguns aceleram, táxis incluídos, respondendo arrogantemente se alguém lhes disser que o limite de velocidade intra-muralhas é de 30 km à hora (as placas existem!).
Passo ao pé de uns contentores do lixo já cheios. Não há separação. Mesmo sabendo-se que existem aqui muitos cafés e restaurantes, há talvez alguns que enterram a cabeça na areia e presumem que todas essas garrafas de vidro, papelões e outros vão ser levados para contentores próprios a centenas de metros ou mais. Não vão, apenas alguns particulares com mais pruridos se lembram de ir amontoando em casa esse lixo, até pegarem no automóvel para o levar para locais adequados.
Vão circulando automóveis, que os transportes públicos quase não circulam ao fim de semana e mesmo nos outros dias não chegam como alternativa. Andar de bicicleta, como o fazem normalmente holandeses, dinamarqueses e outros que têm neve e chuva, aqui pode ser perigoso, sobretudo nas rotundas, mas não só; Imagine-se apenas vir do Bairro do Bacelo até aqui e arriscar-se a levar com um automóvel nas traseiras, na dianteira ou nos lados. Ciclovias são mais para lazer que para o dia a dia. Por isso, nos dias da semana, uma cidade desta (pequena) dimensão parece ter mais automóveis que Amesterdão.
Como hoje é sábado, não poderei tratar de nenhum problema relacionado com o Centro Histórico. Se não, lá teria que pegar num automóvel para ir à Zona Industrial.
Felizmente também hoje, uma breve interrupção, não há aquelas procissões medievais com caloiros e outros que de vítimas passaram a algozes e que durante parte do ano passam por estas ruas e travessas, à noite já com a barriga cheia de álcool bebido à pressa, largando impropérios e sons não musicais, como se dentro das casas não houvesse já ninguém. Diga-se que não são só estudantes, são também gentes de outras qualidades e idades, que por vezes aplicaram alguns rendimentos numa ou noutra casa com umas senhoras que servem umas bebidas e outras coisas de lazer.
Hoje, não vi nenhuma ratazana. Mas os indícios de representantes das famílias que tenho visto, lá estão naqueles buracos que vão aparecendo, nos abatimentos das calçadas, fruto desses habitantes da obscuridade que vivem numas canalizações de pedras soltas e galerias adjacentes que foram construindo, roendo também as da água que vai chegando lamacenta às habitações, depois de muitas perdas.
Enfim, volto para casa. Não encontrei sítios onde as crianças possam brincar, nem quase nada que mexa, a não ser os automóveis que podem acelerar mais, porque há menos trânsito.
Ainda assim, nestes passos perdidos, vinha a pensar numa possível explicação para o facto de ter sido proibida a entrada de alguns candidatos, até membros eleitos desta municipalidade, nos Paços do Concelho desta Câmara. Como é possível nos dias actuais em que pessoas de diferentes partidos se cruzam e se cumprimentam, como ontem na Praça do Giraldo? Proibir a entrada de Abílio Fernandes nos Paços do Concelho (vide filme acessível no "Mais Évora), que foi presidente da câmara durante 25 anos, não é só desespero e intolerância: é falta de educação.
E como já reflecti o suficiente nestes últimos anos, vou tratar de outras coisas que também merecem ser tratadas.
Amanhã voto como sempre, até porque me lembro de algumas coisas do passado, vivo este presente e gostaria que os problemas da cidade fossem resolvidos, no interesse de todos, mesmo que isso leve algum tempo e algumas polémicas.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A campanha da água

Já lá vão uns anos, Évora aparecia nas televisões por maus motivos: morriam doentes no hospital por causa da água de Évora. O culpado foi logo condenado na praça pública: a Câmara de Évora, presidida por Abílio Fernandes. Depois apareciam análises sobre o alumínio na água, às quais se foram até acrescentando uns zeros, por pessoas que esqueceram a ciência e embarcaram no coro. O estardalhaço foi subindo de tom e o PS aproveitou a boleia, até pela voz de um médico e ex-presidente da Assembleia Municipal, que tinha obrigação de falar verdade com conhecimento.
As coisas, em relação aos doentes falecidos por fazerem hemodiálise, foram esfriando, ficou esclarecido (mas não com o mesmo impacto) o óbvio: que a água para a hemodiálise nunca, nem em lugar nenhum isso se faz, pode ser a mesma da rede pública. O hospital deveria tratar a água para estes doentes,
Mas a campanha não abrandou. Foi mesmo o maior argumento para a mudança em Évora. O actual presidente brandia canos velhos na mão, como armas em riste, com a prova provada de que a CDU não se preocupava com as pessoas.
Aproveitaram-se todas as técnicas de propaganda e publicidade, recorrendo a todos os meios, inclusivamente com chamadas gravadas em massa para os telefones privados. O dinheiro para isto tudo não faltava.
Esta agressividade, este martelar constante, até fez esquecer obras que estavam à frente dos olhos, como a mudança total das canalizações, agora incluindo outros cabos, como o da televisão, com arranjos de pavimentos, passeios etc. no Centro Histórico (que se fizeram na rua da Lagoa, Praça do Giraldo, Largo 1º de Maio etc., etc.,).
O PS ganhou as eleições, pararam as obras, as televisões e a imprensa local calaram-se com o problema da água, e a água das canalizações continua lamacenta, mais cara, sem qualidade … uma porcaria. Já poucos se atrevem a beber água canalizada, ou melhor dizendo, bebem os que não têm dinheiro para comprar garrafas.
Sabe-se que estas coisas não se resolvem facilmente. Mas entre demorar um tempo razoável e não fazer nada, há grandes diferenças.
Quem garantia que ia resolver o problema da água teve dois mandatos, oito anos e nada fez.
Por isso, o que é que lá estão a fazer ainda? Manter o poder pelo poder?
O que é que fizeram com tanta promessa fácil?

A Madrugada

25 DE ABRIL

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

Sophia de Mello Breyner Andresen

As palavras de Sophia ecoam, são o afloramento de muitas emoções, de muita gente que pensou nunca alcançar a dignidade de cidadão, de ter projectos individuais e colectivos, sonhar e construir um mundo melhor.
Volto a Arraiolos que conheci bem nesse tempo, andava eu no final do liceu, quando despertou o 25 de Abril e a minha consciência deu um sobressalto longo, ao ver e participar numa realidade em convulsão.
Estávamos em crise económica profunda, o tal primeiro choque petrolífero de 73, um país a sair de uma ditadura profunda, com três frentes de guerras coloniais, uma debandada generalizada para França e outros países, uma nação que se envergonhava em surdina da pobreza extrema neste canto da Europa.
Não havia dinheiro, e o que havia dos patriotas do dia anterior, escapava-se para a Suíça ou Brasil. As câmaras municipais nem um automóvel tinham, e quando era preciso ir a Lisboa falar com alguém do governo provisório, onde se entrava sem empresas de segurança, lá se ia de táxi, num país que ainda só tinha uma auto-estrada de Lisboa a Vila Franca. O presidente da câmara, da comissão administrativa, não tinha qualquer vencimento. No caso de Arraiolos tinha sido escolhido o Dr. Gil Batata Neto, que foi também o primeiro presidente da câmara eleito, mas que teve depois que optar, por ser magistrado.
Retiremos um pouco a emoção das vivências e atentemos novamente em extractos das actas da câmara a seguir ao 25 de Abril, onde abundam os exemplos de participação:




[...] o senhor presidente expôs, a seu ver, qual a melhor forma de actuação tendo a Comissão deliberado, por unanimidade, adoptar o procedimento tipo colegial , baseado em trabalho de grupo, através do qual as deliberações, decisões e responsabilidades a todos pertençam, igualmente, e resolveram ainda que para esse trabalho de grupo que se pretende aberto, livre, isento e responsável, é necessário a colaboração e apoio de todos os organismos e pessoas do concelho, cujas sugestões e críticas se procurarão, inclusivamente, através de reuniões num programa a estabelecer nas várias freguesias.[1]

[...] o senhor presidente referiu que no passado sábado dia dois de Agosto se deslocara a Lisboa juntamente com o chefe da secretaria para fazer a entrega das propostas abertas em sessão de 31 de Junho último e verificar o estado em que se encontram as diligências e apreciação do processo de construção da escola do ciclo preparatório.[2]

Referiu ainda o senhor Presidente a necessidade urgente da criação das mesmas comissões de moradores em todas as freguesias do concelho, e que as mesmas devem existir não em nome tão simplesmente, mas constituírem núcleos verdadeiramente assistidos de espírito de criatividade, actividade ininterrupta e capazes de lutar pelas necessidades e anseios das suas populações e que só assim as poderá conceber integradas no processo democrático revolucionário em que estamos incluídos. Sobre o assunto alegou ainda o Sr. Presidente que quanto mais válidos forem os elementos das mesmas comissões eleitas pelas populações, melhor estarão resolucionadas as suas aspirações, quer resolvendo sós os seus problemas quer recorrendo à Junta de Freguesia e Câmara Municipal quando a natureza dos mesmos o justifica.[3]

[... ] deu ainda conhecimento de que o povo de Santana do Campo correspondendo ao apelo do primeiro ministro Brigadeiro Vasco Gonçalves trabalhou na sua totalidade no passado Domingo, dia seis, tendo procedido na sua totalidade à limpeza de todas as ruas da povoação, caiaram a escola, a fonte, o lavadouro público e a Igreja locais quotizando-se entre os seus elementos para a compra dos materiais necessários para estes serviços, como cal, tinta, pincéis etc., e, por outro lado, todos os que trabalharam em ocupações remuneradas têm estado a entregar o produto desse trabalho ao Governo da Nação para a reconstrução nacional [... ] [4]

«[...] reparação de ruas em Santana do Campo para o que a população contribuirá graciosamente com os terrenos e até árvores que seja necessário derrubar, prescindindo de quaisquer indemnizações devidas por esta obra, solicitando apenas que a Câmara Municipal forneça os materiais necessários [através da Comissão de Moradores] »[5].

[1]Livro de Actas da Câmara Municipal de Arraiolos, Acta de 22-07-1974.
[2] Livro de Actas da Câmara Municipal de Arraiolos, Acta de 05-08-1975
[3]Livro de Actas da Câmara Municipal de Arraiolos, Acta de 03-06-1975
[4] Livro de Actas da Câmara Municipal de Arraiolos, Acta de 15-10-1974
[5] Livro de Actas da CMA, 09/03/1978