quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Rimas várias para um jantar

Há uns anos (um pouco mais de dez), fiz estes versos por brincadeira. Uma pequena "vingança" pois tinha uma turma que acompanhei durante três anos, várias aulas por semana. No final eram dezasseis alunas, cada uma de sua maneira, normalmente bem dispostas, mas algumas um pouco complicadas, com humores variados. Houve um jantar no final do 12º ano. Não pude ir já não sei porquê. Mandei estes versos de que estava já quase esquecido. Mas lembro-me de quase toda a gente. Algumas quadras eram individualizadas, outras gerais. Alguém se lembrou delas sem já saber do contexto. Mas guardou-as.
Aqui seguem:

Rimas várias para um jantar

PRÓLOGO e INVOCAÇÃO

Entrem senhoras e senhores
Oiçam esta história de pasmar
A história das dezasseis mulheres
Que ao 12º haveriam de chegar

Até Cristo quando subiu aos Céus
Disse a todos os mortais
Aturem-nas agora vocês
Que eu já não as aturo mais

Também Sebastião, o das setas
Tremeu e levantou a mão
Ao ver tanta carta de condução
E o fazer das curvas rectas

E mesmo Maria Madalena
Com seus choros e alegrias
Quase se arrependeu, mas teve pena
De ver na turma tantas Marias

Mas ó Musa minha adorada
Inspira este teu fiel criado
Dá-lhe palavras e alguma pancada
Pois já devia estar deitado
e descansado

E vós ninfas do límpido Xarrama
Ajudai este pobre secretário
Que Neptuno e Vénus que outro ama
Soltem as mágoas do armário

Foram três anos de falatório
Centenas de horas de bichanar
Noventa vezes dois de Purgatório
Quinhentas horas a reclamar

Às duas por três estou mal disposta
Às três por quatro preciso de sair
Vinte faltas e a mesa posta
Três vezes trinta e três para cantar e rir.

Do décimo ao décimo segundo
Vieram atentas e esperançosas
Chegam com as incertezas do mundo
Partem crianças, chegam fermosas

(esta é para rir; também por causa das calorias e outras manias)

Alguém disse que isto era as Doroteias
Desengane-se quem isso ouviu
Já ninguém aqui cose meias
São artistas como nunca se viu

Vamos à história e às personagens
O estimado público espera para ver
Alguma atenção e breves paragens
Abençoado seja este prazer
                        São horas de comer!

ANDANTE (e allegro ma non troppo)


De presidiárias está cheio o mundo
Peregrinemos aqui e além
Seja Sartre o mais profundo
Oito a catorze. Amen!

A verdade acima de tudo,
Alegria, trabalho e amizade.
A protectora do sortudo
Sabe o que é a solidariedade

É uma força da natureza
Sai a ela, à mãe e ao pai
Canta a vida e não tem a certeza
Quer a mudança social ... e vai!

Ribomba o trovão no momento
Desfaz-se no mesmo segundo
E nisto surge um encantamento
Um desejo de mudar profundo.

E espanta-se quando se sente
E o sentir é forma de estar
E é isso que faz a gente
E é esse sorriso que a faz voar

Não é de Tróia mas da terra dura
Sabe o que quer e luta por isso
Segue em frente e fura fura
É ainda uma flor em viço

De profundis levanta a neve
Racional, interroga o mundo
Ajuda os outros, ergue-se breve
O seu discurso é profundo

Olha a criança que já passou
E as contradições que mostra à gente
Será que percebe que já mudou?
E que tem pés para ir em frente?

Não é de Pavia mas vai
Não canta mas segue caminho
Às vezes pensa que cai
Segue em frente, com carinho.

Querem Direito, mas ela não quer
Ela fura, e corre segura
Adora a polémica e o malmequer
Vai fermosa e bem madura

Simplicidade é um dom
Diz tanta coisa sem falar
Tem um jeito simples e bom
Uma forma calma no tratar

Atenta, trabalhadora e simpática
Calma, vai além do que faz
Desde a História à Matemática
Também sabe do que é capaz

Ai essa vontade de dizer mais
Ai esse querer e não saber
Pergunta para onde vais
O caminho é não temer

Sorriso discreto e bem bonito
Simplicidade na forma de estar
Intuição e sentimento límpido
Vontade de ir além e voltar

É uma flor que há-de seguir
Continuam as dúvidas para onde vai
Descobriu algo para onde ir
Ou ainda faz o que não quer ouvir?

Anda a História a nove e tal
Mais uma actriz de carreira
O que pretende afinal?
Devagar sobe a ladeira

EPÍLOGO sem Cântico Final (e com exames à espera)

E sem esquecer os demais
Que no caminho ficaram por ir
Mais do que choros e ais
O melhor é começar por rir!

Um comentário:

José Osório e Castro disse...

Boa tarde,

Não quero comentar própriamente esta prosa/poesia.
Gostava que me desse informação sobre o limoeiro doce, nomeadamente onde posso encontrar.
O meu mail é: gamacastro@gmail.com.
Mando o pedido por aqui pois não consegui saber o seu mail.
Obrigado
José Osório e Castro