sexta-feira, 23 de maio de 2014

Fazer contas à vida


Teremos eleições europeias dia 25 de maio. No mesmo dia há uma reunião do BCE em Lisboa. Recordemos que o Banco Central Europeu, juntamente com a Comissão Europeia e o FMI emprestaram dinheiro a Portugal com juros muito superiores ao que emprestaram a qualquer banco, que por sua vez emprestava ao Estado, ganhando uma comissão altíssima. A tal Troika, de que falamos, exigiu e continua, abaixamento de salários, diminuição e supressão de direitos que custaram muitos sacrifícios e prisões a conquistar, vendas ao desbarato de empresas estratégicas… Lembremo-nos que pela lei portuguesa, e acho bem, a véspera do dia das eleições é para reflexão e no próprio dia não pode haver qualquer propaganda eleitoral, ideológica que possa influenciar os cidadãos.
Lembremo-nos também que a crise começou por ser financeira, bancária, que foi exportada a partir dos EUA, apanhou a fragilidade dos bancos especuladores europeus, mais a expansão de outros bancos de mafiosos, como O BPN e os estados foram obrigados pelos que mandam e pelos seus eunucos a pagar, o que tem significado, e duramente, que são os cidadãos que têm pago.
Pois o BCE vem fazer uma reunião no dia 25 de maio em Lisboa. O que vem fazer? Por mais que digam outras coisas, vem simplesmente humilhar, enxovalhar, mostrar a prepotência, mostrar quem manda, espezinhar os que têm pago para enriquecer os bancos alemães, franceses e outros, para resolver os seus problemas, à custa dos pagamentos dos povos de Portugal, da Grécia, da Irlanda, de Itália …
Num dia de eleições, vêm esses burocratas que escondem os políticos, que não se responsabilizam ou se vendem, vêm contra a lei de um país independente, mostrar quem manda.
Não venham com essa treta do mercado. Há mercado, há mercados, há mais que uma economia, há economia política, parece que esquecida, há quem ganhe sem trabalho, há especulação e é de especulação que se tem tratado. O dinheiro não desapareceu, mudou de sítio, há quem lucre com os sacrifícios de outros.
Por cá, temos tido um governo de coligação do PSD e CDS. Antes das eleições queriam que viesse a Troika para resolver os problemas, queriam mais que a Troika, foram além da Troika, disseram que era disparate aumentar impostos, não só aumentaram impostos, como geraram desemprego, levaram empresas viáveis à falência, levaram centenas de milhares de pessoas à emigração e … não estão satisfeitos.
 Nem sequer quiseram aprovar projetos que punham limites à promiscuidade entre o mundo das empresas e os cargos políticos, como aqueles que foram apresentados recentemente pelo Bloco de Esquerda e o Partido Comunista. Votaram contra o PSD, o CDS e o PS. Porquê? Porque tiveram e têm compromissos e clientelas.E se não for isso, demonstrem-no com atitudes diferentes.
Também não me venham com a conversa que todos são iguais. Há políticos que não ganharam com o BPN, há políticos que não fizeram o programa económico do PSD e logo ficaram à frente da EDP vendida a um monopólio chinês, há gente que não pertence a essas sociedades que fazem o estado pagar (nós) pelos seus serviços, de que têm benefícios vários.
Há quem prefira a abstenção. Por mais desculpas que se inventem, abstenção é ficar em casa e nada fazer. Admito o voto em branco, como arma política, não é ficar em casa e depois dizer que os outros todos é que têm a culpa, quais crianças inocentes ainda a gatinhar.
Também me aborrecem os “enganados” e os “arrependidos”. Deveriam fazer umas pequenas contas sobre a sua vida e estar um pouco atentos. Poderiam pensar um pouco mais neles e nos outros. Desculpas há muitas, e por vezes, cai-se mesmo no ridículo.
Nestas eleições há que pensar no que tem acontecido em Portugal, um país que ainda tem mais de oito séculos de existência e que não é menos que os outros, dentro do princípio da subsidiariedade, que tem dois lados, a União Europeia, fruto de todos os estados que a integram, e os estados que também exigem.
Queremos ser uma colónia, com um ou dois estados imperiais? Queremos prescindir dos direitos civis, democráticos, sociais, culturais? Queremos uma Europa xenófoba, com uns mais importantes que outros, a mandarem nos que fornecem mão-de-obra barata?
Há que pensar nisto tudo e mais ainda; há que ver que também que isto tudo pode mudar, mesmo não havendo revoluções, mas mais um passo.
Eles também tremem. Treme este governo, tremem outros, treme a Comissão Europeia, treme o mundo financeiro.

Tremem mais se os fizermos tremer.