sábado, 28 de junho de 2008

Flor da Rosa

















Antiga sede da Ordem dos Hospitalários em Portugal, depois conhecida por Priorado do Crato ou Ordem de Malta. A fundação do edifício deve-se essencialmente a D. Álvaro Gonçalves Pereira, homem de religião e grande criador de filhos, entre os quais D. Nuno Álvares Pereira.
É ao mesmo tempo uma igreja, uma fortaleza e um convento de cavaleiros, com uma arquitectura gótica em que estas funções se fundem, tornando-o um edifício especial.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

A Taberna do Tiago

Naquele tempo, estamos a falar dos finais dos anos 60 e princípio dos 70, nestas vilas do Alentejo e arredores, não havia restaurantes, apenas tabernas e alguns cafés que, por vezes eram umas tabernas com uma máquina de café e uns senhoritos como clientes.
Nas tabernas vendia-se vinho a copo, tirado da pipa, da talha ou simplesmente do garrafão. Havia também alguns petiscos, coisas simples, dependendo da época do ano, em que o que se comia era mais para acompanhar a bebida e, por isso, comia-se devagar e molhando o pão. Conversava-se sobre quase tudo, sobre o que se sabia e sobre o que se podia falar, até porque poderia haver alguém a escutar demais e, pior ainda, a informar quem mandava ou queria mandar ainda mais.
O vinho, geralmente não era de grande qualidade e a cerveja era ainda cara.
Na minha adolescência em Sousel (diga-se que a própria palavra adolescência era novidade), os rapazes (e era do que se tratava) ou já andavam a trabalhar ou (no meu caso e de outros) andavam a estudar sem os métodos pedagógicos da década seguinte.
De manhã, das oito à uma, tínhamos aulas. Às vezes à tarde também, e aos sábados normalmente. À tarde dos dias normais era para estudar. Mas nem sempre.
Falemos de coisas pouco correctas actualmente. Nessa época até parecia mal um rapaz estar muito tempo em casa, mesmo que as descomposturas por não estudar fossem um pouco incoerentes. Dinheiro também não havia muito e as distracções eram também poucas. A televisão só começava ao fim da tarde e pouca gente tinha o tal aparelho.

Passávamos também pela taberna do Tiago. O Tiago estava sempre bem disposto. Falava tu cá tu lá com a rapaziada. Até nos sentíamos importantes. Conhecia uns truques com cordéis, outros com copos, falava de coisas da vida. Ainda por cima, às vezes oferecia um copo de vinho e um cigarro da marca "Três Vintes", daqueles sem filtro mas melhores que os tabacos de onça (por fazer) ou dos “Provisórios” ou “Definitivos”. Por vezes havia um petisco. Mas o lucro do Tiago era um prejuízo constante para ele. Por vezes, o pessoal passava por lá só para "cravar" um cigarro e ainda ouvia uma nova história ou um "truque" novo.

A taberna do Tiago era outra escola. Aí também aprendi muita coisa sobre a vida.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

O "restarantante"

Para quem saia do barco que vem de Ayamonte para Vila Real é o primeiro "restaurante" que encontra em Portugal.
Um cartão de visita?
Há meia dúzia de anos perguntei a um empregado porque tinham escrito restaurante assim. Respondeu-me que tinham mandado fazer a uma empresa e enganaram-se. Como já estava feito não valia a pena emendar.
E continua.

Vila Real de S. António e o charme da burguesia

Casa Folque e Hotel Guadiana
Casa Folque




Grande Hotel Guadiana





Edifícios das primeiras décadas do século XX quando Vila Real era um importante centro conserveiro. A casa Folque, antes Ramirez, li algures que era um projecto de Raul Lino. É de um estilo algo ecléctico, com variados elementos da arquitectura portuguesa e que joga com elementos pombalinos. O "Grande Hotel", do arquitecto Korrodi está também perto da alfândega e do porto e era o primeiro grande edifício visível para quem vinha de Espanha.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Exame de Português e "Os Lusíadas"

Hoje o primeiro texto a analisar era algumas estrofes do Canto IX dos Lusíadas. Não eram estas, mas seria que o autor do exame pressuporia que os alunos teriam estas em mente?

Quando eu fiz o antigo 5º ano estas estrofes estavam censuradas, apesar de terem passado pela Inquisição no século XVI.

"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades"

«Ali, com mil refrescos e manjares,
Com vinhos odoríferos e rosas,
Em cristalinos paços singulares,
Fermosos leitos, e elas mais fermosas;
Enfim, com mil deleites não vulgares,
Os esperem as Ninfas amorosas,
D' amor feridas, pera lhe entregarem
Quanto delas os olhos cobiçarem.
[...]

Mil árvores estão ao céu subindo,
Com pomos odoríferos e belos;
A laranjeira tem no fruito lindo
A cor que tinha Dafne nos cabelos.
Encosta-se no chão, que está caindo,
A cidreira cos pesos amarelos;
Os fermosos limões ali cheirando,
Estão virgíneas tetas imitando.
[...]

Abre a romã, mostrando a rubicunda
Cor, com que tu, rubi, teu preço perdes;
Entre os braços do ulmeiro está a jocunda
Vide, cuns cachos roxos e outros verdes;
E vós, se na vossa árvore fecunda,
Peras piramidais, viver quiserdes,
Entregai-vos ao dano que cos bicos
Em vós fazem os pássaros inicos.
[...]

Nesta frescura tal desembarcavam
Já das naus os segundos Argonautas,
Onde pela floresta se deixavam
Andar as belas Deusas, como incautas.
Algũas, doces cítaras tocavam;
Algũas, harpas e sonoras frautas;
Outras, cos arcos de ouro, se fingiam
Seguir os animais, que não seguiam.
[...]

Outros, por outra parte, vão topar
Com as Deusas despidas, que se lavam;
Elas começam súbito a gritar,
Como que assalto tal não esperavam;
Ũas, fingindo menos estimar
A vergonha que a força, se lançavam
Nuas por entre o mato, aos olhos dando
O que às mãos cobiçosas vão negando;
[...]


Oh, que famintos beijos na floresta,
E que mimoso choro que soava!
Que afagos tão suaves! Que ira honesta,
Que em risinhos alegres se tornava!
O que mais passam na manhã e na sesta,
Que Vénus com prazeres inflamava,
Milhor é exprimentá-lo que julgá-lo;
Mas julgue-o quem não pode exprimentá-lo.


[...]

Visita a Évora do primeiro-ministro

Ontem, o Primeiro-Ministro veio a Évora verificar in loco como estava a decorrer o Plano Tecnológico. Visitou uma escola secundária.Veio acompanhado da Senhora Ministra da Educação, ministra que há tempos também visitou outra escola em Évora, já fora das horas de aulas e com algum atraso. Tal como queria, não encontrou alunos nem professores.
Felizmente desta vez não houve contratos nem "casting" para assistir a uma "aula". Aprenderam e só lhes fica bem mostrar que são sensíveis às novas oportunidades.
Só havia um pequeno problema. As aulas das escolas secundárias, já tinham acabado nas várias escolas secundárias. No 11º e 12º ano uma semana antes. Nas outras, com excepção desta, na sexta-feira anterior. E, no dia seguinte, que é hoje, já os alunos estão a fazer exames decisivos para a sua vida.
Ficaram a conhecer o impacto na escola? Duvido e certamente toda a gente e eles também.

Para quê o espectáculo agora? Tem algum sentido? Demonstra alguma eficácia?

Ps. Não sou dos que vão assobiar. Para já, assobio menos que medianamente. Depois estava mais habituado a assobiar para chamar o cão, quando o tinha (e não convém confundir a bicharada com o mesmo assobio); assobiava também algumas músicas mas demorei algum tempo a verificar que não tinha dotes de artista; em tempos, na minha adolescência, também fazia por vezes como outros alarves e assobiava às raparigas, mas já nem isso se usa; verifiquei depois que algumas não gostavam.

E depois ... há outras questões!

Relembrando os monopólios e a especulação

Hoje há muitas queixas sobre os lucros fabulosos, que existem, dos bancos e das petrolíferas.
Durante anos achou-se que privatizar tudo era a panaceia para todos os males. CEE oblige, diziam outros. A família "social-democrata", isto é o PS e o PSD aplaudiu e fez.
Hoje estamos na mão sabe-se lá de quem. Ou será que alguém ainda acredita que a GALP, este ou aquele banco são portugueses? São dos accionistas, senhores, e todos os dias se vendem acções nas bolsas. Nos off-shores depositam-se os lucros, sejam destas companhias sejam do Bin Laden.

Em 1975 tratou-se do problema da fuga de capitais e da especulação desta forma:

Conselho da RevoluçãoDecreto-Lei n.º 132-A/75de 14 de Março

Considerando a necessidade de concretizar uma política económica antimonopolista que sirva as classes trabalhadoras e as camadas mais desfavorecidas da população portuguesa, no cumprimento do Programa do Movimento das Forças Armadas;

Considerando que o sistema bancário, na sua função privada, se tem caracterizado como um elemento ao serviço dos grandes grupos monopolistas, em detrimento da mobilização da poupança e da canalização do investimento em direcção à satisfação das reais necessidades da população portuguesa e ao apoio às pequenas e médias empresas;

Considerando que o sistema bancário constitui a alavanca fundamental de comando da economia, e que é por meio dela que se pode dinamizar a actividade económica, em especial a criação de novos postos de trabalho;

Considerando que os recentes acontecimentos de 11 de Março vieram pôr em evidência os perigos que para os superiores interesses da Revolução existem se não forem tomadas medidas imediatas no campo do contrôle efectivo do poder económico;

Considerando a necessidade de tais medidas terem em atenção a realidade nacional e a capacidade demonstrada pelos trabalhadores da banca na fiscalização e contrôle do respectivo sector de actividade;

Considerando, finalmente, a necessidade de salvaguardar os interesses legítimos dos depositantes;

Nestes termos:
Usando os poderes conferidos pelo artigo 6.º da Lei Constitucional n.º 5/75, de 14 de Março, o Conselho da Revolução decreta e eu promulgo, para valer como lei, o seguinte:

Artigo 1.º - 1. São nacionalizadas todas as instituições de crédito com sede no continente e ilhas adjacentes,

A riqueza das nações

Tem saído com o Público uma colecção sobre grandes pensadores.
Nos últimos dias tenho-me "entretido" a ler A riqueza das nações de Adam Smith. Como muitos pensadores tem sido maltratado, sobretudo porque geralmente é lido em teceira ou quarta mão e, sobretudo, referido quando não lido. Foi considerado por uns como apóstolo do liberalismo, anacronicamente do neo-liberalismo e por outros o "guru" do capitalismo, o que vai dar no mesmo. Marx leu-o com bastante atenção, assim como muitos teóricos defensores das virtudes do capitalismo também lêem Marx.
Lê-se bem e dá que pensar. Talvez o devesse ter integralmente lido na Faculdade, mas hoje tenho mais condições para o interpretar. Deveria, como muitos outros, ser de obrigatória leitura, em excertos pelo menos (mas que não se reduza tudo a excertos, fotocópias de capítulos quase anónimos ou ficheiros em pdf), em cursos como Economia, História ou Sociologia.
Embora soubesse das suas referências às relações entre Portugal e a Inglaterra (Tratado de Methuen), surpreendem-me as constantes referências a Portugal.
Surpreende ainda como, sendo ele escocês e, portanto, de um país atrasadíssimo e tribal ainda no início do século XVIII, conseguisse produzir uma obra destas.
Há países que conseguem dar a volta.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Mais lixo

Eu, que até acho que a Internet é uma das grandes mudanças destas últimas décadas começo a estar farto não só de receber lixo de anónimos mas também de amigos meus.
Porque será que muita gente repassa irreflectidamente barbaridades da extrema-direita, só porque lá no início da mensagem se fala de Sócrates, da ministra da Educação ou de qualquer um mais conhecido? Vejamos esta (sublinho apenas algumas e comento também apenas algumas:


-----Mensagem original-----
De: Sala dos Professores [mailto:admin@saladosprofessores.com]
Enviada: segunda-feira, 16 de Junho de 2008 16:19
Para:
Assunto: Novo anúncio: em que se transformou o País do Sócrates

PASSA ESTA MENSAGEM AO MAIOR NÚMERO DE PESSOAS QUE CONSIGAS ANEDOTA em que se transformou o País do Sócrates:

-Uma adolescente de 16 anos pode fazer livremente um aborto mas não pode pôr um piercing.

-Um cônjuge para se divorciar, basta pedir.

-Um empregador para despedir um trabalhador que o agrediu precisa de uma sentença judicial que demora 5 anos a sair.

-Na escola um professor é agredido por um aluno. O professor nada pode fazer, porque a sua progressão na carreira está dependente da nota que dá ao seu aluno.

-Um jovem de 18 anos recebe €200 do Estado para não trabalhar; um idoso recebe de reforma €236 depois de toda uma vida do trabalho.

-Um marido oferece um anel à sua mulher e tem de declarar a doação ao fisco.

-O mesmo fisco penhora indevidamente o salário de um trabalhador e demora 3 anos a corrigir o erro.

-O Estado que queria gastar 6 mil milhões de euros no novo Aeroporto da Ota recusa-se a baixar impostos porque não tem dinheiro.

-Nas zonas mais problemáticas das áreas urbanas existe 1 polícia para cada 2 000 habitantes; o Governo diz que não precisa de mais polícias.

-Numa empreitada pública, os trabalhadores são todos imigrantes ilegais, que recebem abaixo do salário mínimo e o Estado não fiscaliza.

-Num café, o proprietário vê o seu estabelecimento ser encerrado só porque não tinha uma placa a dizer que é proibido fumar.

-Um professor é sovado por um aluno e o Governo diz que a culpa á das causas sociais.

-O IVA de um preservativo é 5%. O IVA de uma cadeirinha de automóvel, obrigatória para quem tem filhos até aos 12 anos, é 21%.

-Numa entrevista à televisão, o Primeiro-Ministro define a Política como 'A Arte de aprender a viver com a decepção'.

- Um clube inscreve um jogador mal, são lhe retirados 6 pontos, um clube suborna um arbitro são lhe retirados 6 pontos.

- O governo incentiva as pessoas a procurarem energias alternativas ao petróleo e depois multa quem coloca óleo vegetal nos carros porque não paga ISP (Imposto sobre produtos petrolíferos).

- O ministério do ambiente incentiva o uso de meios alternativos ao combustível, no edifício do ministério do ambiente não há estacionamento para bicicletas, nem se sabe de nenhum ministro que utiliza a bicicleta.

- Nas prisões é distribuído gratuitamente seringas por causa do HIV, mas como entra droga nas prisões?

- No exame final de 12º ano és apanhado a copiar chumbas o ano, o primeiro-ministro fez o exame de inglês técnico em casa e mandou por faxe e é engenheiro.

- Um jovem de 14 mata um adulto, não tem idade para ir a tribunal, um jovem de 15 leva um chapada do pai, por ter roubado dinheiro para droga é violência doméstica.

- Uma família a quem uma casa ruiu e não tem dinheiro para comprar outra o estado não tem dinheiro para fazer uma nova, tem de viver conforme podem, 6 presos que mataram e violaram idosos numa sela de 4 e sem wc privado, não estão a viver condignamente e associação de direitos humanos faz queixa ao tribunal europeu.

- Militares que combateram em África a mando do governo da época não lhes é reconhecido nenhuma causa nem direito de guerra, o primeiro-ministro elogia as tropas que estão em defesa da pátria no KOSOVO, AFEGANISTÃO E IRAQUE.

- Começas a descontar em Janeiro o IRS e só vais receber o excesso em Agosto do ano que vem, não pagas as finanças a tempo e horas passado um dia já estas a pagar juros.

- Fechas a janela da tua varanda e estas a fazer uma obra ilegal, constrói-se um bairro de lata e ninguém vê.

FIM

Veja-o aqui

http://www.saladosprofessores.com/forum/index.php?topic=13571.0

Atenciosamente,
A Equipa do Sala dos Professores.



Para se divorciar basta pedir? Onde foram arranjar esta?
Jovens de 18 anos recebem 200 euros. Bem me dava jeito. Tenho 3 filhos com pouco mais e apenas continuo a pagar.
Não podem pôr piercing e fazem abortos? É isso que acontece? Não há aqui uma raivazinha contra a lei aprovada?
O problema principal com a demora dos tribunais é o coitado do patrão vítima do empregado? Não costuma ser mais ao contrário: as multinacionais a fugirem para Leste e para a China e a deixarem o pessoal quase sem alternativas?
Não há também uma raivazinha contra os imigrantes? E a favor da "raça"?
Quando falam dos combatentes da guerra colonial querem o quê? Tratar das pessoas que ficaram inutilizadas e com stress de guerra ou elogiar o "Angola é nossa"?
Não querem seringas nas prisões. Querem o quê? Mais SIDA e mais hepatite?
O IVA dos preservativos é 5%. Queriam que fosse maior? Não gostam de preservativos?
Querem os pais a bater nos filhos a toda a hora?
Fazem-se mais bairros de lata que antes?
E depois, como em qualquer demagogia mistura-se tudo. Faz-se de um caso não identificado uma generalização. E, na onda, falam várias vezes dos professores a ver se pega, se há público ... e há!
E ainda por cima falam no aeroporto da Ota. Sinal que muita gente vai repassando e não repara que a mensagem já anda há meses atrasada. Faz-me lembrar uma pretensa mensagem do Gabriel Garcia Marquez a pedir perdão por não crer em Deus. Vários anos depois do desmentido ainda continuava a circular e as pessoas quase a chorar porque ele iria morrer de cancro dentro de dias.

O meu bisavô



O meu bisavô, José Diogo Duarte de Simas. Não o conheci. Nasceu em Seda, actual concelho de Alter do Chão, em 1862, e foi novo para Ervedal (actual concelho de Avis), onde faleceu em 1943.
Aparece registado como proprietário: era agricultor. Tinha oito filhos, um dos quais o meu avô.
Segundo uns apontamentos do meu pai gostava muito de ir à pesca à Ribeira do Ervedal.
Era um amador de teatro, tendo ensaiado algumas peças e tendo sido inclusive actor em algumas. "Tinha um ar folgazão e optimista, gozando, portanto, das gerais simpatias da terra".
Aqui aparece ele, já com alguma idade, mantendo a pose de patriarca, que, na época, tirar um retrato ainda envolvia alguma cerimónia.
A assinatura retirei-a de um registo de baptismo em que ele foi padrinho.

Os c e os p do Acordo Ortográfico e ... a falta de reflexão.

Recebo constantes mails sobre o acordo ortográfico, petições, falsas petições etc. Diga-se de passagem que ele foi aprovado há mais de dez anos, mas só agora, e no prazo de seis anos, é que vai passar à prática. Em meses, fizeram-se muito mais mudanças durante a República, em 1911.

Algumas mensagens já me irritam porque repetem coisas que lá não estão. E quem as reproduz também deveria pensar um pouco. A discussão é útil mas tem que ser séria, sem alarmismos ou pseudo-patriotismos.

Ontem recebi esta com o título "A minha pátria é a língua portuguesa":

De fato, este meu ato refere-se à não aceitação deste pato com vista a assassinar a Língua Portuguesa.Por isso ... por não aceitar este pato ... também não vou aceitar ir a esse almoço para comer um arroz de pato ...A esta ora está úmido lá fora ... por isso , de fato lá terei hoje de vestir um fato ..
Concordas com o modo de escrever acima exemplificado? Se não concordares, clica na imagem que se segue e assina:


O que diz o Acordo?
Cito:

BASE IV: DAS SEQUÊNCIAS CONSONÂNTICAS
1
[...]
Assim:
a) Conservam-se nos casos em que são invariavelmente proferidos nas pronúncias cultas da língua: compacto, convicção, convicto, ficção, friccionar, pacto, pictural; adepto, apto, díptico, erupção, eucalipto, inepto, núpcias, rapto;
b) Eliminam-se nos casos em que são invariavelmente mudos nas pronúncias cultas da língua: ação, acionar, afetivo, aflição, aflito, ato, coleção, coletivo, direção, diretor, exato, objeção; adoção, adotar, batizar, Egito, ótimo;
c) Conservam-se ou eliminam-se, facultativamente, quando se proferem numa pronúncia culta, quer geral, quer restritamente, ou então quando oscilam entre a prolação e o emudecimento: aspecto e aspeto, cacto e cato, caracteres e carateres, dicção e dição; facto e fato, sector e setor, ceptro e cetro, concepção e conceção, corrupto e corruto, recepção e receção;
[...]

BASE II: DO H INICIAL E FINAL
1
O h inicial emprega-se:
a) Por força da etimologia
: haver, hélice, hera, hoje, hora, homem, humor;
b) Em virtude da adoção convencional: hã?, hem?, hum!
2
O h inicial suprime-se:
a) Quando, apesar da etimologia, a sua supressão está inteiramente consagrada pelo uso: erva, em vez de herva; e, portanto, ervaçal, ervanário, ervoso (em contraste com herbáceo, herbanário, herboso, formas de origem erudita);
b) Quando, por via de composição, passa a interior e o elemento em que figura se aglutina ao precedente: biebdomadário, desarmonia, desumano, exaurir, inábil, lobisomem, reabilitar, reaver.
3
O h inicial mantém-se, no entanto, quando, numa palavra composta, pertence a um elemento que está ligado ao anterior por meio de hífen: anti-higiénico/ anti-higiênico, contra-haste, pré-história, sobre-humano.
4
O h final emprega-se em interjeições: ah! oh!

in http://www.portaldalinguaportuguesa.org/index.php?action=acordo&version=1991

Sublinhados nossos

Portanto, o que existe aqui nestas mensagens é ou irreflexão ou um pouco de má fé. Ninguém em Portugal irá ser obrigado a escrever fato em vez de facto, pato em vez de pacto. O h inicial também se mantém na maioria dos casos. Claro que erva já há muito que se escreve sem h e hora continua com H.
Grandes nacionalistas!

Quem é o pato?

quinta-feira, 12 de junho de 2008

A minha escola primária



Lembrei-me de publicar algumas imagens da minha família. Não por esta ou aquela ascendência (nada de especial como as demais) mas porque os retratos revelam também uma sociedade, em que as coisas pequenas são também importantes.
Comecei por mim.
Há uns anos uma amiga minha, Sara Marques Pereira, estava a compilar entrevistas sobre as experiências de escola primária. Um pouco por brincadeira enviei-lhe este texto, feito entre a uma e as duas da manhã, e ela publicou-o num livro com o título Memórias da Escola Primária, Edições Horizonte, em 2002. O texto apareceu misturado com outros de figuras conhecidas. A fotografia foi tirada, andava eu aí pela terceira classe.

A minha Escola Primária

Comecei a escola primária em Alter do Chão, Alto Alentejo. Na época havia um colégio que começava na classe infantil, onde estudavam os filhos da classe média local, e a escola oficial. Como “reprovei” na classe infantil, por me interessar mais pelos baloiços do que pela repetição das letras, fui para a escola oficial, onde estavam rapazes de quase todas as classes.
Nos primeiros dias comecei a perceber melhor a diferença entre rapaz e menino. Quando disse a um colega que no dia seguinte trazia um carrinho, ele respondeu-me logo que na escola não havia nada disso, as brincadeiras eram outras. Jogávamos à bola no recreio, num terreno mal alinhado, onde uma vez tive pena de um “inimigo” meu ter dado um pontapé numa pedra em vez de o fazer na bola. Como ele havia muitos que iam para a escola descalços também, alguns também com piolhos e uma pulga ou outra, o que provocava uma epidemia de vez em quando. No recreio brincávamos também aos “cobóis” e às escondidas, perto da cantina, onde havia um grande matagal. No Carnaval é que era bom, porque arranjávamos bisnagas ou garrafas com água que serviam de pistolas. Também havia uma zona com barro onde fazíamos bolinhas e um jogo em que se espetavam paus. De tudo isso eu gostava, mas ainda me escandalizava com os rapazes que iam aos ninhos ou que se juntavam à noite para ir aos gatos, isto é atirar pedradas aos gatos, embora gostasse de fisgas, ou aqueles que, ao sair da escola, urinavam em arco no meio de um Largo, longe das vistas do professor, como que a marcar território, num gesto de rebeldia fugaz. No caminho para a escola, sempre a pé, sozinho ou com amigos meus, gostava de parar ao pé do castelo, apanhar joaninhas, pendurar-me na traseira das carroças que passavam e ainda ouvir um papagaio que dizia asneiras, e cumprimentar as pessoas que passavam.
Na primeira classe tive três professores: uma professora nova, com ar simpático, mas que abandonou a escola para se casar, um professor novo, também simpático, que foi chamado para o exército, e o professor Calado Mendes que sabia aliar a disciplina e o saber à simpatia. Continuou a ser meu professor na segunda e terceira classe. Lembro-me de fazer muitos aaa e ooo e desenhar castelos e aviões. Começaram depois as primeiras frases, cópias e ditados e a tabuada e, de vez em quando, uma canada na cabeça. Também havia catequese, mas essa era dada na igreja. Aprendi correctamente as orações, algumas duas vezes, porque houve mudança de ritual e as missas passaram a ser em português, com sacerdote voltado para os fiéis. Mesmo assim, ainda uma vez apanhei uma descompostura em plena missa, porque mordi, sem querer, a hóstia.
A meio da terceira classe fui morar para Sousel. No início, os meus colegas provocavam-me chamando-me lisboeta, eu que nem conhecia Lisboa e talvez porque usasse bata branca, a “farda” da outra escola, enquanto eles usavam bata aos quadrados.
A minha professora era a D. Emília, uma senhora já de cabelos brancos, zelosa em todas as actividades, também simpática e disciplinadora. Era bom aluno na época, dava mais erros nas cópias (poucos), do que nos ditados e redacções. Aprendia os verbos e os adjectivos, os pr0nomes, as preposições, tudo bem decorado, a História, desde o Viriato a Salazar, passando pela Deuladeu Martins e padeira de Aljubarrota, mas o meu herói preferido era D. Nuno Álvares Pereira. Também gostava de Geografia e conhecia os nomes dos rios e das serras, desde o Monte Ramelau, em Timor, à Serra da Estrela, os rios Zambeze e Tejo, mas o que me fazia alguma confusão eram alguns afluentes do Douro e os ramais do caminho-de-ferro, mais ramificados que os de Angola. Outra coisa que me confundia também, era aquela eterna imagem de Salazar na parede, ainda novo, quando a outra imagem que eu tinha dele era de alguém com uma voz fraca, de quem não se podia falar muito. Interrogações solitárias!
Na sala havia três filas: duas de rapazes e uma de raparigas, que vieram para esta classe, porque a escola feminina estava cheia. Os rapazes da fila ao pé da janela eram maiores, repetentes e apanhavam reguadas todos os dias. Eu também apanhei duas vezes: uma porque me enganei no pretérito mais que perfeito, a outra por causa das reduções. A primeira foi uma das grandes revoltas da minha infância, senti-me injustiçado e quando cheguei a casa chorei sozinho no meu quarto.
Na quarta classe havia também a preparação para o exame de admissão ao liceu. Éramos poucos e ficávamos na escola até quase às 20.00 horas, com a professora a dar-nos explicações adicionais gratuitas. Eram umas horas com um ambiente mais agradável, talvez por sermos menos e de mais confiança.
Os intervalos eram também uma alegria: corríamos, jogávamos “à inteira”, às escondidas, às touradas, ao pião e ao berlinde, enquanto as raparigas, no outro recreio, cantavam, faziam rodas e outras coisas “estranhas” a que nós não dávamos importância. Também contávamos histórias e outras coisas. No recreio , eu gostava de contar contos e recitar algumas poesias que sabia de cor; um amigo meu sabia muitas anedotas, das que não se podiam dizer em público, que lhe ensinava um tio que era pastor. Era uma troca de ideias e visões do mundo, uma aprendizagem semi-clandestina e alegre em que íamos crescendo. Aprendi uma linguagem nova e o prazer da subversão.
Foram tempos que perduraram: de aprendizagem e perda de inocência
.

João Simas

Um dia meio perdido.

Hoje fui a uma reunião na Direcção Regional sobre o Plano Nacional de Leitura. Não seria eu que deveria ter ido, mas isso é outra questão.
Gostei de ouvir a Isabel Alçada. Acho que percebe do assunto, não só em geral, mas no terreno. Também gostei de ouvir a Teresa Calçada.
E, em particular, gostei mesmo de ver o meu amigo Semião, colega de liceu, da Faculdade e do mesmo quarto, que já não via há mais de dez anos.
O resto do dia foi outra coisa. Cheguei a casa e despertei com as notícias do início de pânico. Já não pude ir almoçar com o meu amigo. Tive que ir à procura de gasolina.
Como a maior parte das bombas já não tinham combustível fui ao ex- Intermarché. Havia uma bicha (eu ainda não digo fila, embora também seja português). Estavam vários carros vazios, encontrei uma colega que aí ia ficar até às 15.00 horas.
Achei que era muito. Ficar na sacrossanta hora de almoço ao sol à espera que abrissem a bomba! Mas tinha compromissos. Não podia voltar a casa “descalço”. Lembrei-me de, em vez de dar múltiplas voltas a Évora, ir até à Igrejinha. Tinha o razoável de combustível para ir lá. Se não desse não dava. Mas deu. Deu, apesar de estar uma hora à espera. Não almocei à hora esperada mas ainda consegui comer uma sanduíche de presunto e uma cerveja fresquinha num bar onde se pode fumar, na bendita Igrejinha. No bar do senhor Prates, que é primo de outro grande amigo meu.
Depois de jantar fui ao gás. Levei uma “pluma” e outra “mastronço”. Não havia “plumas”; tive que trazer a pesadona.
Subi a Rua do Raimundo. Ao alto, um bêbado excitado, não saía do meio da rua. Fiz sinais de luzes, apitei e fui avançando devagarinho.
Levei um murro de raspão! Vinham outros a seguir. Limitei-me a tocar a buzina até que aparecesse alguém. Felizmente os outros bêbados estavam a meu favor e manifestaram a sua solidariedade comigo perante a polícia. O agressor, armado em vítima, ameaçava-me incessantemente. Dizia que era engenheiro. Teria vinte e poucos anos. Fomos todos identificados.
Resolvi não apresentar queixa. Quando me vinha embora reparei que tinha um objecto estranho no carro. Depreendi que era a arma de agressão.
Levei a “arma” à polícia. Afinal era um maço de tabaco SG Ventil. O agente perguntou-me: Você fuma? Disse que sim. Então fique com ele!

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Queima das fitas


Desfile
Se fosse só um dia, com algumas irreverências pelo meio, talvez não houvesse grande problema.
Mas é uma semana, mais a preparação dessa semana. Mais as festas e os tristes desfiles com os caloiros em Setembro e Outubro e mais ainda com outros que entram no segundo semestre. E ...
Alguns julgam que é tradição. Bem recente, por acaso.

Isla Canela


Isla Canela, Ayamonte, em frente a Vila Real de S. António.

Constrói-se até em cima do sapal. Só lá fui uma vez. Tem aquele ambiente algo triste de cidades sem alma. Fugi depressa por causa dos mosquitos. Têm razão, é o ambiente deles.

domingo, 1 de junho de 2008

Sé de Évora.

Vista a partir da Estrada das Alcáçovas.


A Sé impõe-se na paisagem. Não por acaso. Recuemos à Idade Média: era necessário mostrar a mouros e judeus quem mandava agora. Para que não se esquecessem!
Até meados do século XVIII os limites da arquidiocese de Évora iam "grosso modo" do Tejo ao Algarve. A diocese de Beja só foi criada no tempo do Marquês de Pombal que impôs para bispo um iluminista da sua confiança: Frei Manuel do Cenáculo, depois arcebispo de Évora e um dos homens responsáveis pela reforma do ensino.