sábado, 31 de janeiro de 2009

Os peixes de Vieira, que já eram de S. António, e que por aí nadam às vezes.

Enfim, que havemos de pregar hoje aos peixes? Nunca pior auditório. Ao menos têm os peixes duas boas qualidades de ouvintes: ouvem e não falam. Uma só cousa pudera desconsolar ao pregador, que é serem gente os peixes que se não há-de converter. Mas esta dor é tão ordinária , que já pelo costume quase se não sente. Por esta causa não falarei hoje em Céu nem Inferno; e assim será menos triste este sermão, do que os meus parecem aos homens, pelos encaminhar sempre à lembrança destes dois fins.

Sermão de Santo António aos Peixes d0 Padre António Vieira

Vos estis sal terrae

Vos estis sal terræ

Vós, diz Cristo Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhe dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma cousa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal.

Sermão de Santo António aos Peixes do Padre António Vieira, pregado, a 13 de Junho de 1654, na cidade de S. Luís do Maranhão.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Não foi em vão




Em 8 de Novembro, em Lisboa



É para Urga
Que a gente vai
Para Urga caminho
Caminho para lá
Em Urga os bandidos
Não me hão-de apanhar

Eu hei-de vencer
Eu hei-de vencer
Entre mim e Urga
O Deserto que houver


Em Urga recebo
A maquia e então
Vou tirar proveito
Do meu ganha-pão

José Afonso

Pragmatismo

Pragmatismo

O movimento dos professores tem razão. Ou não tem? Ou tinha e não tinha ao mesmo tempo? Ou tem de vez em quando, e mais caras que o feijão?

Se tem razão, é de continuar.

E já que há outros que mandam, que não são ingénuos (mas incompetentes) também, por que não deixar de ser ingénuo?

Daqui a uns meses há eleições. Os debates vão aquecer. Houve deputados, mesmo do partido do governo, perdão, deputados eleitos com um programa que não é bem o do governo, que por sua vez é subsidiário da Assembleia da República; como íamos dizendo, houve deputados que votaram contra o programa intransigente da ministra. Más há outros movimentos menos visíveis. Há deputados que votaram pelo governo mas que tiveram e têm muitas dúvidas. É parvoíce hostilizá-los, mas é bom que sejam confrontados.

A vida política é dinâmica. Daqui a pouco tempo, e já começou, vai haver luta pelo voto. 120000, 140 000, podem influenciar muita gente, muitos hesitantes.

Aguentar um pouco, isto é, não submeter a este processo de avaliação (o que significa também contra o estatuto), pode custar alguns sustos agora. Todos os que resistem podem perder. Mas podem ganhar muito mais se resistirem um pouco. As coisas estão por um fio. Daqui a pouco tempo vai ser tudo discutido.

O que não vale a pena é começar com paternalismos e excepções. Dizer que a luta não é com os contratados pode comprometer. Os contratados não estão aqui só de passagem. Querem também seguir uma carreira. E se não se mexerem não vão ter nenhuma. Não esperem que sejam os outros só a lutar por eles.

Se começarmos a dividir tudo, que é o quem manda quer, dividimos os professores em contratados, em quadros de zona pedagógica, em professores que hão-de ficar também na precariedade, em titulares, em avaliadores titulares etc., e cada um com os seus problemas particulares de momento.

E vamos dividir-nos por muito tempo se acedermos a este jogo maquiavélico do poder, o que é muito mau para todos e para o país. Eu, se fosse governante não me contentaria com professores muito submissos; nem precisaria deles; até, em alternativa contrataria uns computadores eficientes que ficariam mais baratos. Quem quiser, e há sempre opções, ser um autómato não espere ser considerado mais que isso.

Há coisas muito simples com que temos que contar. Uma delas, vão ser as longas horas do dia a dia, por muitos anos. Mesmo sem retaliações, em si condenáveis. Mas não se espere que alguém que andou a incentivar os outros à luta, a assinar recusas, a participar em manifestações etc., possa virar de repente e seja considerado um grande amigo.

A coisa está por um fio, repito. As eleições e o verdadeiro debate vão começar amanhã.

Quem está no poder também tem medo.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Jesus tentado no deserto

Hidra, Casas Pintadas, Évora



Então, o Espírito conduziu Jesus ao deserto, a fim de ser tentado pelo diabo. Jejuou durante quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome.

[...]
Em seguida, o diabo conduziu-o a um monte muito alto e, mostrando-lhe todos os reinos do mundo com a sua glória, disse-lhe: «Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares.» Respondeu-lhe Jesus: «Vai-te, Satanás, pois está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele prestarás culto.» Então, o diabo deixou-o e chegaram os anjos e serviram-no.
(Mt 4,1-11)

in http://www.capuchinhos.org/porciuncula/biblia_responde/jesus_tentado.htm

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Sermão da Montanha

Vós sois o sal da terra! Ora, se o sal se corromper, com que se há-de salgar? Não serve para mais nada, senão para ser lançado fora e ser pisado pelos homens.
[...]

Não jures pela tua cabeça, porque não te é dado transformar um só dos teus cabelos em branco ou preto. Seja este o vosso modo de falar: Sim, sim; não, não; tudo o que for além disto procede do espírito do mal.
[...]
Ninguém pode servira dois senhores, porque, ou há-de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro

Evangelho de S. Mateus

"O boato é a Arma da Reacção"


Lembrei-me destes cartazes e panfletos usados pelo MFA em 1974. Aparentemente havia alguma ingenuidade no “slogan”. Circulavam inúmeros boatos sobre possíveis golpes de estado, conspirações à esquerda e à direita. Spínola faz um discurso sobre “a maioria silenciosa” e houve uma tentativa de golpe à direita em 28 de Setembro em que uns estavam envolvidos intencionalmente, outros foram atrás. Pior ainda foi em 11 de Março de 1975, em que os pára-quedistas saíram da base convencidos que tinham ordens do MFA para ocupar o RALIS e afinal era mais uma tentativa de golpe de estado de extrema-direita.

1974/1975 já foi há uns bons tempos mas o boato funciona como antes. O boato tem a característica de ser anónimo, embora possa ter autores vários, que vão acrescentando ao sabor dos interesses e crenças. E pode ser terrível quando se descobre que não tem fundamento, ou antes, baseia-se naquelas “meias-verdades” que são as mentiras bem conseguidas. Há boatos que rotulam as pessoas por muito tempo.

E até há boatos que dão jeito. Se estou com receio de determinada situação, por que não acreditar que fulano tal vai fazer isto? Ora se ele faz, o outro também é capaz de fazer e, portanto se eles fazem eu também posso fazer e fico desculpado por isso. E fico desculpado perante mim mesmo. Daqui a uns tempos poderei descobrir que afinal fui enganado e que a culpa foi dos outros em geral.

Mas o boato pode funcionar. Quando se hesita muito e se anda à espera que outros ditem as respostas à nossa consciência e surge uma situação em que temos que decidir, a emoção pode ser facilmente contaminada pelo boato e fazer-nos actuar contra aquilo que pensávamos.
Entretanto, como há sempre muito que fazer, esquecemo-nos e esperamos que todos se esqueçam, porque a culpa é sempre dos outros.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Vemos, ouvimos e lemos

Vemos, ouvimos e lemos, é o tema de uma poesia de Sofia e cantada pelo Fanhais.

Vem isto a propósito de dúvidas e atitudes menos reflectidas de alguns professores. Como, por exemplo, numa determinada escola, em que um grupo se lembrou de entregar os objectivos individuais para “entupir” o processo. Depois recuaram.

Para já não entopem. Um grupo não é uma acção de massas concertada, sobretudo neste contexto, com manifestações, abaixo-assinados e greves colectivas. Depois sujeitam-se a esta avaliação e deveriam ter a consciência de que estão a “furar” (é esta a palavra) uma luta em que se comprometeram e a obter umas migalhas individuais face ao que poderiam conseguir e em detrimento dos outros que continuam.

O relativismo não é um valor igual a qualquer outro, o que tornaria tudo relativo como se coerência, impulsos individuais, “salve-se quem puder” fosse tudo o mesmo. Há que ver o principal e o acessório, há que distinguir objectivos de migalhas passageiras, compromissos de atitudes individuais e momentâneas.´

Eu, por mim, depois de receber tantos e-mails de algumas pessoas, tenho dificuldade em compreender como é que depois disso e de tantos apelos, ainda relativizam o que apelavam no dia anterior.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

O Diabo

S. Miguel Arcanjo vence o Diabo (o outro Deus). Desta vez não é um dragão, muito menos tem pés de chibo.
É uma mulher.
Pintura luso-flamenga num retábulo em S. Francisco.

Sociedade Harmonia

Extracto do programa da lista candidata, numa sociedade com 160 anos.

PROGRAMA

No próximo dia 4 de Fevereiro, a Sociedade Harmonia Eborense vai a votos. Vai a votos num contexto particularmente adverso, desde logo porque se deixaram de observar as condições necessárias para que os actuais órgãos sociais pudessem concluir o mandato. Às condições regulamentares juntaram-se as condições funcionais, facto que foi confirmado por larga maioria na Assembleia Geral ocorrida em Dezembro. Mas a adversidade do contexto resulta igualmente de factores conjunturais – o período delicado que atravessamos – e estruturais – as dificuldades relacionadas com o espaço físico da sede e que se vêm arrastando há demasiado tempo.
Perante esta grave situação que ameaça a existência da própria colectividade e, perante a necessidade urgente de intervir no sentido de lhe dar um novo e sustentável fôlego, decidimos reunir uma equipa de pessoas concentrada em garantir o futuro e unir os alicerces da Harmonia, de modo a podermos entregá-la, sólida, às gerações vindouras.
Pretendemos revitalizar a Harmonia sem esquecer o trabalho positivo que até aqui foi feito. Mas pretendemos, antes de mais, ser fiéis aos nossos estatutos e ser um motivo de orgulho para os sócios e para a comunidade em geral. É esse o nosso dever.

[...]

Igreja de S. Francisco em Évora


Continuo ainda a ter alguma dificuldade em compreender por que é que algumas das igrejas e conventos franciscanos eram dos maiores e mais ricos. É certo que existem as ordens primeira, segunda e terceira, com muitas subdivisões, desde os que continuam mendicantes, aos leigos ou até freiras em reclusão.
Mas S. Francisco despiu-se literalmente de tudo o que poderia herdar e coerente com as suas ideias, na época quase heréticas, vivia na pobreza.

Assinaturas

Houve tempos em que a palavra bastava e era mais importante que a escrita. Mas ainda hoje continua a ser importante. Não foi por acaso que o presidente Obama, para o ser, teve que repetir o juramento, sem qualquer hesitação.

Na nossa civilização a assinatura aumentou o poder da palavra, talvez por causa do excesso de palavras, também para constituir uma prova.
Ninguém (há sempre excepções que podem ser adjectivadas) assina um cheque de qualquer maneira, ninguém assina um contrato sem o ler, ninguém assina um contrato de casamento sem pensar. Cada um, quando assina, pensa certamente nas consequências da sua assinatura e na coerência de atitudes que se compromete a ter. E, desde os filósofos gregos que a Lógica adoptou o princípio: “O Ser É, O Não Ser Não É".

Em situações em que há compromissos inequívocos não há lugar para depois se dizer que afinal não era bem assim.

Quem assinou o pedido de suspensão deste malfadado decreto de avaliação dos professores não pode vir agora simplesmente e sem dar qualquer explicação dizer que não leu bem ou que não sabia das consequências. Trata-se de professores que, por o serem, sabem ler e pensar . As consequências são apenas aquelas que já estão na legislação e não podem ser retroactivas, porque estamos num Estado de Direito. Não se podem imaginar outras ao sabor de opiniões que prevêem um determinado futuro e que apenas são palpites.
E uma decisão livremente assumida, sem que as circunstâncias tenham mudado (o decreto, mesmo com a regulamentação “simplex”, continua em vigor) não pode ser simplesmente alterada com base em palpites.

Para lá dos princípios, e esta é uma profissão em que há que ter princípios, há que ter a consciência de que quem primeiro recusou e agora volta atrás, vai passar à frente dos outros que confiaram na sua palavra e na sua assinatura, nesta luta que só tem tido sentido como luta colectiva. Nem imagino que alguém possa pensar que havendo uns que se recusam a esta avaliação, sejam menos uns concorrentes para as quotas assim mais disponíveis. Mas o facto vai ser esse. É altura de mostrar que a coerência e a possibilidade de ganhar a luta vale mais do que o "salve-se quem poder" e as justificações individuais que o justificam.
Uma luta que já juntou em várias manifestações e greves quase todos os professores não pode ter sido em vão. E não o será certamente!

A diferença de opinião e a mudança devem ser respeitadas. Mas quando uma mudança de opinião prejudica os que confiaram nos outros, os que continuam têm direito a uma explicação.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Alarifes

Galilé de S. Francisco. Arcos do tempo em que havia alarifes em Évora. Estes eram mouriscos que trabalhavam para cristãos ou os cristãos ainda seguiam modas islâmicas.
Granada ainda influenciava a arquitectura.
Depois os alarifes passaram a chamar-se arquitectos e os alvanéis pedreiros.
Mas a palavra alvanel, dita também alvanéu, ainda resiste, pelo menos em algumas terras do Alentejo.

O IMI em Évora


Só soube disto há pouco tempo. Pedi a isenção em Dezembro. Andava a pagar mais de 300 euros e nem a Câmara de Évora nem as Finanças diziam nada, apesar de lá ir várias vezes.
Trata-se de má fé. Ainda não perceberam que é necessário que os cidadãos tenham confiança nas instituições e que sem transparência os cidadãos não as reconhecem como suas.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009




Abóbada da igreja de S. Francisco, em Évora



Igreja ou capela real de S. Francisco. A maior abóbada do final do gótico contruída em Portugal.
No Sul de França e Catalunha há umas parecidas. Mas nesta igreja há também uns elementos mouriscos nacionais.

Umas já ditas, outras que se vão dizendo


Sobre os problemas que afectam os professores já quase foi tudo dito e repetido. É evidente que a greve de ontem foi massiva e já nem vale a pena mostrar que o ministério mente sobre os números. O Ministério está em descrédito e em breve teremos eleições.

O plano israelita em Gaza foi metódico: o exército israelita parou no último dia do consulado de Bush. Mas a propaganda tem sido forte. Os bombardeamentos de edifícios civis “justificam-se” por haver alguns indivíduos do Hamas lá dentro. Vindo da parte de um governo em que os seus cidadãos de primeira (os árabes israelitas não fazem serviço militar) andam armados em qualquer lado, o argumento é estranho.

A notícia de hoje é a tomada de posse de Obama. Pelo menos, vale pela esperança de muitas imensas minorias. Obama sabe falar, é inteligente e parece convicto. Mas os interesses dos EUA (aquela coisa indefinida que dá jeito às grandes empresas) estarão em primeiro lugar.
A propósito, custa a perceber por que é que dizem que é negro. Em Portugal não o seria. Mas também em Portugal, como noutros países europeus, ainda não foi eleito nenhum presidente com antecedentes não europeus, o que dá que pensar, sobretudo em países com passados coloniais e com muitos imigrantes.

A questão do TGV e o PSD também já cansa. Então há pouco tempo aprovavam e agora já não? É um problema nacional? E então os acordos com a Espanha e outros países? Vamos também deixar que outros países gastem os subsídios destinados ao projecto da alta velocidade em Portugal?
Era bom que a discussão ultrapassasse o nível de há 150 anos, no tempo da Regeneração, com o ministro Fontes Pereira de Melo. Na época discutiam-se os benefícios ou malefícios do comboio, se andar de carroça não seria suficiente e que dinheiro não havia (o que também era verdade).
Gostaria de perceber melhor o orçamento para este projecto. Mas que faz falta para ligação à Europa não tenho grandes dúvidas.

domingo, 18 de janeiro de 2009

18 de Janeiro de 1934

Faz anos que se fez a insurreição e tentativa de greve geral de 1934. Houve movimentos na Marinha Grande, Silves, Barreiro ... noutros lugares.
O regime estava em pleno processo de fascização.
Muitos dos que resistiram foram presos. Alguns foram parar ao Tarrafal.

Há que não deixar que se apague a memória.
http://naoapaguemamemoria2.blogspot.com/2007/01/o-18-de-janeiro-de-1934-como-defesa-do.html

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Gaza e a necessidade de pôr fim a isto

Isto, é aquela coisa que tem tantos nomes e adjectivos que não se pode resumir: são refugiados permanentes numa terra-prisão, escolas bombardeadas, crianças, velhos e todos em sufoco, a vida por um fio, a desesperança, o sentir o esquecimento, a sensação que somos coisas de um filme realizado por outros, o não ter quase nada nem sequer o momento, muito menos o futuro.

Aparentemente os israelitas conseguem mostrar pela propaganda e publicidade que têm razão. Todos os dias recebemos imagens deles, declarações deles, treinos deles e de outros deles que estão fora mas investem na “terra prometida” do “povo eleito”. Não tenho qualquer simpatia pelo HAMAS mas não os tenho visto a falar na televisão portuguesa. Presumia-se que fosse uma regra do jornalismo, o chamado contraditório.

Aparentemente o estado de Israel está a defender-se dos rockets e a responder a agressões. O disparo de rockets é condenável. Mas a desproporção é enorme e o número de civis mortos e feridos e tudo o mais não tem comparação.

E depois esquece-se o fundo do problema. O povo palestiniano tem o direito a existir, a ter uma vida sã, a ter educação, electricidade, água, casas, terra, todas as coisas mínimas e os direitos que a Declaração Universal dos Direitos do Homem que agora se comemoraram por tantos lados.
Esquece-se também que Israel é uma potência ocupante e, por isso, tem que respeitar convenções internacionais que aceitou e em que uma das mais importantes é zelar pela segurança das populações civis.
E por que é que a comunidade internacional interferiu na ex-Jugoslávia e não intervém aqui?

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Premiar o mérito?

Passou o mês de Dezembro e, contrariamente ao que tinha prometido para Dezembro, o Ministério da Educação não criou outro escalão, conforme o memorando que assinou.
Não se esqueceu certamente, mas também não tem havido muita gente a exigir a lembrança.

Do que não se esqueceu foi de publicar um novo decreto regulamentar sobre a avaliação, sinal inequívoco de que reconhece que o outro publicado há meses não prestava.
Num jeito de quem aparentemente pede desculpa pela sua incompetência, e digamos que é pelo menos incompetência andar a brincar aos decretos, alterando-os quase de seis em seis meses, diz o novo, que honra os professores com o primeiro do ano (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Decreto Regulamentar n.º 1-A/2009 de 5 de Janeiro):

Essa auscultação permitiu identificar três problemas principais: a existência de avaliadores de áreas disciplinares diferentes dos avaliados, a burocracia dos procedimentos previstos e a sobrecarga de trabalho inerente ao processo de avaliação.

Enfim, parece que depois de tanto, o ministério finalmente ouviu o que tanta gente dizia e que a ministra, os seus secretários e os comentadores de serviço sempre negaram.

Mas eis que o ministério afinal também descobriu aquilo que qualquer político manhoso gosta de fazer: dividir para reinar. E novamente me admiro porque é que ainda não tinha descoberto esta táctica velhíssima.

Agora a avaliação é self service. Entendia-se, como ponto de honra, que a avaliação iria melhorar as escolas e que era essencial assistir às aulas. Agora só tem aulas observadas quem quiser, desde que se contente com a avaliação que dá para “ir andando”.

A ideia, conjugada com as quotas, é no mínimo perversa. Se numa escola só dois ou três forem avaliados desta maneira, podem preencher logo as quotas e esgotar os Muito Bom e Excelente e passar à frente dos outros, independentemente da qualidade das aulas.

Mas os coordenadores de departamento não precisam de terem aulas observadas. Podem opinar sobre as aulas dos outros mas ninguém fica a saber o que fazem na sala. E podem também ter Muito Bom e Excelente.

Assim há uns que não precisam que ninguém lhes assista às aulas e podem ter classificações mais altas, outros se não tiverem aulas assistidas ficam na mesma e aqueles, que por outros motivos nunca quereriam ser avaliados, ficam com classificação igual.

Será isto premiar o mérito? Será isto contribuir para a qualidade? Onde está a coerência?
Pelo menos espera-se que os que assinaram tenham alguma coerência em não embarcar nas meias tintas, porque a questão não é de ser ou não avaliado com aulas assistidas; é ser ou não avaliado por estas normas. Quem for avaliado só pela Direcção da Escola é avaliado e, se assinou a recusa desta avaliação, então está a contrariar aquilo que assumiu publicamente, deixando os outros numa situação ingrata.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Cisjordânia, Gaza, Líbano, Jordânia ...

Parece que o mundo quase se habituou.
Só neste últimos dias houve centenas de mortos e milhares de feridos em Gaza, a maior parte civis.
Estamos a falar de um território com 360 Km2 (cerca de um quarto do concelho de Évora), onde se amontoam cerca de um milhão e meio de pessoas, centenas de milhares refugiadas das sucessivas guerras e perseguições desde 1945, se não antes, de pessoas com dificuldade em encontrar comida e medicamentos, com um embargo permanente, com bombardeamentos permanentes e com quase tudo o que são infraestruturas (electricidade, estradas, redes de esgotos, mercados etc.) destruídos.