quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Dos políticos, da demagogia, do humor e falta dele.

De há uns dias para cá tem havido inúmeras respostas às declarações de Cavaco Silva sobre os seus rendimentos. Até há quem, secretamente escandalizado, mas sem se atrever a criticar a quem apoiou contra outros, ponha como contraponto, como se fosse argumento, o facto de a deputada Ana Drago ter ido ao Porto num automóvel da Assembleia da República e, escândalo, guiada por um motorista, para ir a uma escola falar com alunos participantes no programa “Parlamento dos Jovens”. Como se ela e os outros todos, não fossem deputados nacionais e impedidos de ir a qualquer lado do território português, e, falar com jovens, fosse um desperdício, num país em que a chamada sociedade civil ainda é tão passiva..

Ora, qualquer um, qualquer cidadão, numa sociedade democrática tem o dever de “aguentar” o humor e a crítica dos outros. E responder também. De censura, seja aqui, antes ou agora (parece que escrever sobre Angola é difícil), seja na China inspiradora de tantos maoístas reciclados e alguns neófitos da economia neoliberal, Coreia do Norte ou Coreia do Sul (ocupada por um exército estrangeiro), na Síria, na Arábia Saudita (tão boa para os negócios, muito menos para as mulheres, estrangeiros, não fundamentalistas etc.), … de censura, repito, estamos fartos. De subserviências também. Ainda me lembro, e não quero que nunca mais se repita, as orações pelos “nossos governantes”, ou seja Salazar, Marcelo Caetano e outros, incluindo pides e censores, moralistas e carrascos do regime.

Os políticos que nos representam têm que ter garantidas condições para exercer os cargos para que foram eleitos, sejam deputados, vereadores, presidentes de câmaras ou juntas de freguesia ou presidente da República. Mal seria sermos dirigidos por alguém que, com medo da censura dos lugares comuns, tivesse medo de exercer o cargo, como na história do velho, do rapaz e do burro.
Mas enquanto se acusam os deputados em geral e os políticos em geral (esquecendo os que prevaricam e que deveriam ser isolados e entregues a uma justiça eficaz), esquecem-se (e muitas vezes propositadamente) os que, à conta do Estado, e sem que se saiba porquê, ganham dezenas de milhares por mês e muito mais benesses do que sonhamos. O grande problema é esses que nos fazem pagar as contas. Quem é que acredita que alguém que, quando fala na televisão só diz asneiras, pode ter sido escolhido pelo seu mérito, pelo governo, ainda reclamado de revolucionário, da República Popular da China? Será que pensam que os portugueses não pensam e que os chineses são parvos e não têm uma estratégia a longo prazo que inclui como tática usar peões fantoches? Ou outros, que também não se percebe porquê, nem que qualidades de gestão têm, que dirigem o maior projeto de irrigação de Portugal? Ou, pior ainda, tantos, que entram para o governo e saem para dirigir empresas e voltam despudoradamente, arrecadando sempre mais. O caso do BPN, o mais gritante, já deveria ter servido de lição, já que estamos a pagar e bem. Mas continua-se, apesar das promessas moralistas de quando se estava na oposição a nomear gente do partido do poder ou outros que sempre se fizeram a ele, mudando de camisola quando necessário.

Que Cavaco ganhe 1300 euros de reforma como professor, acredito ainda na sua palavra, acho pouco e deveria explicar porquê, já que falou do assunto. O mal é que se armou em vítima, esquecendo todos os outros rendimentos, como a reforma do Banco de Portugal, reformas dessa, algumas, que são muito mais escandalosas do que o vencimento de um Presidente da República ou um deputado. O que também está mal é que nunca quis explicar por que é que teve lucros excessivos com ações do BPN e ainda se ofendeu. O que está mal é porque nunca quis explicar que alguns dos ministros e secretários de estado do seu governo e partido tenham enriquecido tão subitamente, e continuem, mesmo que as contas com a Justiça, alguns. Não só não respondeu, como na noite em que ganhou as eleições, ao contrário de todos os anteriores presidentes da república eleitos, mostrou-se zangado, não disse que era presidente de todos os portugueses e mostrou desejos de ajustar contas com adversários. Falta de humor, calado quando deveria ter falado, prolixo em frases quase de mexerico, quando deveria ter mais respeito pelos que estão a sofrer a recessão e perda de direitos que tantos sacrifícios custaram ao longo de gerações!
Quer respeito? Dê-se ao respeito e ria-se de vez em quando.
Mas ... passemos há frente da discussão sobre os rendimentos de Cavaco, que há outros problemas muito maiores, de que também ele deveria falar.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Da maçonaria e dos suspeitos do costume e em geral.



Longa é a história da maçonaria, mas há princípios que foram essenciais na construção de sociedades mais pluralistas e justas. Longa tem sido a história da luta contra a intolerância, o reacionarismo, o desrespeito pelos direitos cívicos e pela afirmação dos ideais da liberdade, igualdade e fraternidade dos povos e dos indivíduos, a procura da verdade e a explicação das coisas e não a simples crença e obediência à autoridade.
Longa tem sido também, em Portugal e noutros países a atitude persecutória em relação à diferença, à liberdade individual. De vez em quando ainda vem ao de cima esta mania, não só de suspeitar das pessoas, como exigir que todos se comportem da mesma forma perante o grande Leviatã e os seus eunucos que pedem mais e que confessem tudo o que se suspeita e se acrescente à acusação aquilo que não se sabia ainda, como fazia a Inquisição ou a modernizada DGS.
Não existem organizações impuras, e até os santos, pelo menos antes de o serem, foram quase sempre pecadores, como S. Paulo até ao caminho para Damasco.
Agora andar a exigir que as pessoas digam tudo o que pensam, tudo o que fazem, registarem tudo para que não sejam suspeitos à partida e à chegada e a cada hora é cavar a sepultura de uma democracia ainda em construção.
Que se responsabilize quem prevarica, que se julgue quem comete crimes, mas deixe-se as pessoas participarem onde quiserem e pensarem aquilo que lhes apetecer, desde que não prejudiquem os direitos dos outros.

Constituição da República Portuguesa
Artigo 35.º
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