sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

We shall overcome. Someday!...We are not afraid ...

Fonte da Praça do Giraldo, século XVI.

Para a "taça" desta fonte ser posta "in situ" foi necessário derrubar a Porta da Lagoa. Filipe II achou-a tão bonita que resolveu coroá-la.

Segunda-feira, às 18.30, espera-se que esta praça esteja cheia.
Dia 8 de Março em Lisboa também.
Lápide comemorativa das "Alterações de Évora" de 1637. Igreja de S. Antão, Praça do Giraldo, Évora.

Segue-se um texto de Manuel de Severim de Faria sobre os acontecimentos. Repare-se no movimento que ele consegue transmitir sobre a actuação dos "pícaros" e outros que levaram a uma sublevação que esteve na origem da Restauração da Independência de Portugal em 1640.
A revolta era contra os impostos e contra a prepotência. Tudo começou na Praça Grande (a Praça do Giraldo).

AS ALTERAÇÕES DE ÉVORA (1637)

Passou-se ordem para que pusessem em inventário todas as fazendas do Reino, e, sem, se declarar os intentos, se começou a executar meados de Agosto na Cidade de Lisboa pelos Corregedores do Crime da Corte, e nos mais lugares pelos Corregedores das Comarcas.
Surpreendeu e atemorizou S. Majestade de servir dos quintos das fazendas, contadas pelo que valiam. [...] Que se pusesse aos pescadores de Lisboa tributo e embargo que não passassem pela Torre de Belém para baixo sem passaporte da mesma Torre, deixando por ele certa quantia [...].
Sentiram os Pescadores grandemente [...] desistiram uniformemente de pescar [...]
As novas dos motins dos Pescadores chegaram à Cidade de Évora muito acrescentadas, e creram muitos que fora movimento formado do Povo contra a nova diligência de inventariar as fazendas, e como se começavam em Évora [...] os mesteres este ano do povo, [...] foram a casa do Corregedor [...] pedir-lhe parasse na execução [...]. Não lhe deferiu o Corregedor pelas muito apertadas ordens que tinha de S. A. [...]

Choveram no mesmo instante pedras nas janelas e casas do Corregedor, despedidas dos rapazes e pícaros da Praça, os quais, animados com a assistência do Povo, subiram acima e botaram na Praça, furiosa e confusamente, quanto acharam nas mesmas casas do Corregedor e, fazendo uma fogueira defronte delas, se pôs fogo a tudo.
Escondeu-se o Corregedor em uns entre-solhos. E, sendo pouco depois achado pelos rapazes, passou aos telhados por uma fresta [...] se recolheu desairoso às casas do Cónego [...], que estão paredes meias com as suas. [...]
Continuou a fúria do Povo amotinadamente pela Cidade e entrando em casa de Luís de Vila Lobos, logo na de Manuel de Macedo e de Agostinho de Moura, actuais vereadores, que já esta­vam escondidos, lançaram tudo o que havia nestas casas pelas janelas à rua, e grande parte se trouxe à fogueira que na Praça ardia. E ainda que estes vereadores não haviam entrado na nova diligência de inventariar as fazendas, tinham o ano passado dado consentimento a um novo tri­buto de um real por cada canada de vinho, e outro por cada arrátel de carne, que se vendessem pelo miúdo na Cidade, e porque logo então o Povo replicou, e não consentiu nestes novos reais, a que chamavam de água, executou agora nas casas dos ditos vereadores o ódio que desde aquele tempo havia concebido contra eles. E, querendo declarar mais como não consentira nunca aquele tributo do real de água, foi o mesmo Povo ao açougue e fez em rachas as balan­ças, porque as carnes se arrolavam para este tributo; e correndo às casas dos escrivães, trouxe a queimar na fogueira da Praça todos os livros e papéis que entendeu tocavam ao inventário das fazendas, ao tributo do real de água e também à quarta parte do Cabeção Geral, que o ano passado se havia imposto e em que o Povo do mesmo modo não consentia.
Notou-se que em todos estes acontecimentos não houve ânimo nenhum de se furtar cousa alguma; tudo o que se achou nestas casas ou veio à fogueira da Praça ou saiu em pedaços pelas janelas, e tanto assim que até umas panelas de doces, que estavam em casa do Corregedor, vie­ram à mesma fogueira, sem haver quem lhes tocasse para outro efeito.
Foi este dia de grandíssima confusão nesta Cidade, e quase do mesmo modo os três ou qua­tro que se lhe seguiram, porque esta parte vil do Povo, que foi só que se moveu, amotinada em vários troços, andava furiosa de dia e de noite, corria e apedrejava as casas daqueles que nas ocasiões dos tributos se haviam mostrado menos zelosos do bem comum, e, como as justiças não apareciam e os nobres recearam que, se resistissem a este ímpeto, o poderiam acrescentar, acu­mulando-se de novo nos pícaros e maganos, a outra parte melhor do Povo, que não estava declarada, era tudo horror tudo confusão: o Povo se apelidava o Povo se ouvia e, sem ordem nem concerto, o Povo dispunha e executava. [.1
Seguiu quase todo o Alentejo e o Reino do Algarve, e ainda alguns lugares da Beira, o exem­plo de Évora, e sucessivamente se foram levantando com os tributos do real de água e quarta parte do cabeção; e dos lugares maiores só Elvas, Moura e Estremoz ficaram quietos, e os demais foram os movimentos da mesma qualidade que em Evora, mais ou menos segundo a oca­sião do ímpeto, prudência das justiças e resistências dos nobres, que em toda a parte se opuse­ram a estes motins. Lugares houve em que vieram a fogueiras públicas os cartórios civis e cri­mes dos escrivães, em que não havia nada que pertencesse nem a tributos nem a inventários das fazendas.

Manuel Severim de Faria,«Relação do que sucedeu em Portugal, e nas mais províncias do Ocidente desde 1637 até Março de l638», in Alterações de Évora, int. e notas de Joel Serrão, Portugália, Lisboa, 1967, pp. 137-142.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

A Senhora Ministra tem razão. Em dois aspectos (apenas).

A Senhora Ministra tem razão quando disse: é preciso SIMPLIFICAR e DESBUROCRATIZAR.
Começo a ter receio das interpretações nas escolas, começo a saber que há escolas que estão a marcar entrevistas aos futuros avaliados, a produzir fichas complexas sem as testar, com o risco de os professores serem avaliados por baixo, a pedir "lay outs" (isso é português?) de planificações por aula, como se houvesse só um modelo de ensino ...
Tanta pressa para quê? Para depois os próprios demonstrarem que não eram suficientemente competentes?
É preciso não esquecer quais são as primeiras e fundamentais funções dos professores.
É preciso não esquecer que existe e temos que continuar a exigir a Liberdade de Ensino e a escolha dos métodos.
É preciso pensar antes de nos envolvermos em papeladas intermináveis que não melhoram a qualidade e podem, quase certamente, servir, para demonstrarmos que somos como alguns querem.

Dia 8 de Março há que sair à rua.

Escola Secundária de Severim de Faria


Cavalos na Escola Secundária de Severim de Faria. Fotografia de Carlos Borges Ferreira
Foi numa manhã de nevoeiro. Não apareceu D. Sebastião nem se iniciou o Quinto Império. Apenas cavalos a pastar.
E por que é que nesta escola não hão-de haver cursos ligados à agricultura e pecuária? Temos um Alentejo com espaço, um complexo de albufeiras para irrigar, cada vez mais gente a gostar de jardins e da natureza, mas sem saber nem tempo para lidar com ela. No ano passado esteve aberto um curso profissional de "Jardinagem e Espaços Verdes". Não houve inscrições suficientes.
Pode ser que comece este ano. Sem autorização, os animais perceberam e gostaram. Pelo menos, tomaram o pequeno almoço.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

A Senhora Ministra e as louras, o excitado Albino e o denunciado défice de papel higiénico no 1º ciclo, sobretudo para as raparigas.

O debate até não foi mau. É pena que venha um pouco tarde e depois de decisões tomadas com a pressa, apanágio deste governo.
Usou a senhora Ministra alguma demagogia do costume, aproveitando até algumas frases menos claras de um jovem professor de Matemática. Tentou inverter os argumentos, usando expressões do género de que os outros estavam a dizer que os professores titulares não eram competentes. Só que ninguém disse isso. Possivelmente esqueceu-se que estava a falar para pesoas que até lêem algumas coisas.
Enervou-se quando uma professora (loura) disse que deveria estar no Ministério da Educação alguém que fosse professor. Respondeu que não interessava que a ministra fosse loura. Até poderia ter alguma razão, mas não deveria dirigir-se directamente a uma loura usando esse argumento; não se podem fulanizar dessa maneira as questões.
Albino, eterno pai, representante certamente de alguns, continuou enervado e não se coibiu de mandar umas bocas (ápartes é mais na Assembleia da República, onde os deputados são eleitos, e por muitos cidadãos). Revolveu denunciar carências e relevar a falta de papel higiénico em escolas de 1º ciclo, sobretudo para as raparigas. Isso também é verdade em alguns casos.
Mas porquê para as raparigas de 1º ciclo? As crianças do sexo feminino, com 5,6, 7 anos ? O que é que se anda a passar com essas crianças que o senhor Albino conhece?
Ora, comece a argumentar e deixe-se dessas "sabedorias"!

Sociedade Harmonia Eborense

Vista a partir do terraço da Harmonia mesmo ao fim da tarde e com tempo de calma: Igreja de S. Francisco, com a maior abóbada existente em Portugal, Palácio de D. Manuel, telhados, jardim e horizonte.

Sociedade Harmonia Eborense

Terraço da Sociedade Harmonia Eborense.

Gosto de vir aqui, à tarde, quando o tempo está bom, e ler o jornal, num terraço do antigo palácio dos Estaus, com vista para S. Francisco e para estas paredes brancas, semeadas com algumas chaminés, janelas e varandas, cada uma de sua maneira.

Sociedade Harmonia Eborense

Sociedade Harmonia Eborense

Hoje fui pagar as cotas à Harmonia, as minhas e dos meus filhos. Sou sócio desta, da SOIR (Sociedade Operária Joaquim António de Aguiar), do "Pró-Évora"..., porque estas associações não podem cair.
A Harmonia tem mais de 150 anos. Actualmente está em perigo. O edifício é cobiçado, pode valer muito dinheiro no mercado. Há mesmo quem pense que a reabilitação urbana pode passar pelo realojamento noutro local.
Espero que não acabe nem mude de lugar. Aqui é que tem sentido. Faz parte deste Património material e imaterial desta cidade Património Mundial, que tem que ser vivo e não apenas objecto de fotografias interessantes. Sem vida, sem vivências, sem este amontoar de experiências, desde a primeira metade do século XVIII, a cidade perderia muito do que é ser uma cidade.
Era bom que os cidadãos se mexessem, que se tornassem sócios, que a frequentassem, que a vivessem.

Sobre os anónimos

Sobre os anónimos novamente.
Não sei o que é que dá a alguns portugueses usarem o anonimato. Qual é o problema de usar o nome? É possível que alguns assim escrevam sem outra intenção. E também não me cabe nem me interessa julgar intenções.
Recebi uma mensagem longa sobre a questão da Educação Religiosa Católica.
Quem o escreveu, escreveu, escreveu mas não dá a possibilidade de responder porque é anónimo. Escreveu, sem ter lido a mensagem que eu assinei, como sempre.
A questão é: tem o Estado o Direito de avaliar professores de qualquer confissão religiosa?
Outra: Tem o Estado o direito de se esquecer das outras confissões religiosas?
Não acredito em esquecimentos desta maneira.
E mais outra: Tem o Estado o direito de proclamar que uma Religião é uma Ciência Social?
Há muito que tenho a opinião que é necessário estudar e ensinar religiões, sobretudo para compreender a cultura onde vivemos. E depois que cada um opte pelo que quiser: que seja evangélico, budista, aquilo que lhe parecer melhor ou ainda agnóstico ou ateu. Cabem todos na sociedade que temos. Formação integral só pode existir se houver opção de escolher e não quando se é dirigido num único sentido religioso. Mas se um professor o é por confiança de um dirigente da hierararquia religiosa esse professor ensina condicionado por um ponto de vista. E mesmo que não seja prosélito (os judeus, por exemplo não o são) é parcial. Claramente, se é católico, ensina religião católica; se é muçulmano ensina religião muçulmana...

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Sobre a utilidade das parreiras

Rua de Rodes

A vinha pode ser cultivada de várias maneiras, baixa, em parreira, "vinha de enforcado"... É um dos símbolos do Mediterrâneo. Era vulgar no sul de Portugal, haver parreiras nos quintais, nos pátios ou até à porta. Além das uvas, a parreira tem outras vantagens, no Inverno parece morta, a partir da Primavera até ao Outono, dá sombra e refresca. E tem a vantagem de não desperdiçar água.
Em Rodes é usada também nas ruas, uma solução barata e inteligente, onde se mistura e se indiferencia o espaço público e privado.
Soluções simples para um clima ardente, como por aqui.

Jerez dos nossos antepassados


Alcazar de Jerez de la Frontera. Alcácer em português, castelo e palácio ao mesmo tempo.
Construído em taipa militar, isto é, em terra, como os castelos (alcáceres) de Alcácer do Sal, Silves, Loulé, Paderne. Um material ecológico e durável e que mantém a temperatura estável, como nas casas tradicionais do Sul de Portugal.
Este alcácer é de origem islâmica, em Jerez. "De la Frontera" porquê? Porque era a fronteira com o reino de Granada que acabou em 1492, como conquista de Isabel a Católica, agora "santa", depois de os portugueses terem cortado as comunicações, após a conquista de Ceuta, com o outro lado de lá, o Algarve (o Ocidente) de Além Mar, em África, título também apropriado pelos reis portugueses.

A Internacional. Hino oficial do Partido Socialista (actual e no governo).

A letra oficial do Hino oficial e actual do Partido Socialista Português é a seguinte:

A pé, ó vítimas da fome
Não mais, não mais a servidão

Que já não há força que dome
A força da nossa razão
Pedra a pedra, rua o passado
A pé, trabalhadores irmãos!
Que o mundo vai ser transformado
Por nossas mãos, por nossas mãos

Bem unidos façamos,
Nesta luta final,

Uma terra sem amos
A Internacional
Bem unidos façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional

Não mais, não mais o tempo imundo
Em que se é o que se tem

Não mais o rico todo o mundo
E o pobre menos que ninguém
Nunca mais o ser feito de haveres
Enquanto os seres são desfeitos
Não mais direitos sem deveres
Não mais deveres sem direitos

Já fomos Grécia e fomos Roma
Tudo fizemos, nada temos

Só a pobreza que é a soma
Dessa riqueza que fizemos
Nunca mais no campo de batalha
Irmãos se voltem contra irmãos
Não mais suor de quem trabalha
Floresça em fruto noutras mãos

Bem unidos façamos,
Nesta luta final,

Uma terra sem amos
A Internacional
Bem unidos façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional


O Partido Comunista tem uma versão diferente, mais antiga e, presumo, de origem anarquista.

De pé, ó vitimas da fome!
De pé, famélicos da terra!

Da ideia a chama já consome
A crosta bruta que a soterra.
Cortai o mal bem pelo fundo!
De pé, de pé, não mais senhores!
Se nada somos neste mundo,
Sejamos tudo, oh produtores!

Bem unidos façamos,
Nesta luta final,

Uma terra sem amos
A Internacional
Bem unidos façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional

Messias, deus, chefes supremos,
Nada esperamos de nenhum!

Sejamos nós quem conquistemos
A terra mãe livre e comum!
Para não ter protestos vãos,
Para sair desse antro estreito,
Façamos nós por nossas mãos
Tudo o que a nós diz respeito!

(refrão)

Bibliografia: http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Internacional

Há ainda outras versões. Teria que se perguntar a Durão Barroso (ex-MRPP) ou Pacheco Pereira (ex-ml) que a cantaram repetidamente e certamente a sabem de cor, depois de tanto uso.

Acho que devemos seguir o conselho do Partido Socialista:

Não mais direitos sem deveres
Não mais deveres sem direitos

Será que vai haver peixeirada?

Veremos. Espero que não. Pelo menos, em nome da decência e dos direitos já agora. O direito à Educação, à Liberdade de Ensinar, à Liberdade de Expressão, de manifestação, de participação ... essas coisas que constam da Constituição da República.
A ministra e os seus acólitos costumam achar que só eles sabem o que é bom para o país, o que são bons professores, como eles se devem comportar... Parecem jacobinos ao contrário, num governo do Partido Socialista que deveria, pelo menos, ter alguma herança das revoluções pela cidadania e não o bacoco embevecimento pela autoridade de per si.
Quando não concordam com ela começa a falar mais alto (em linguagem vulgar grita), às vezes vêem-se umas lágrimas entreabertas, sente-se incompreendida mas algum valor mais alto se alevanta e faz determinar que só ela tem razão. Já alguém a fez lembrar que quem são eleitos são os deputados e não os ministros.
Não percebeu que há quem tenha direito a não concordar, que a existência de sindicatos, o direito à manifestação..., foram lutas que demoraram muitas décadas, séculos até, que muita gente sofreu por isso, isto é, não se trata de privilégios mas de conquista de direitos. E direitos não são coisas para deitar abaixo por gente que se convenceu que só eles têm razão.

Dia 8 de Março iremos a Lisboa

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Separação entre Estado e Religiões e Avaliação de Professores

No despacho publicado recentemente sobre a delegação de competências aparecem os vários grupos de recrutamento em anexo, agrupados em departamentos. Um deles é Ciências Sociais e Humanas. Nele vêm os professores de História, Filosofia, Geografia, Economia e Sociologia, Educação Tecnológica (?) ... e Religião Religiosa e Moral Católica.
Ora o senhor secretário de Estado desconhece que o Estado e as religiões estão separadas constitucionalmente? Que desde 1910 há uma separação entre o Estado e Igreja, embora interrompida, não formalmente, no tempo de Salazar, mas clara desde a Constituição de 1976?
Que a Constituição e as leis não permitem que o Estado interfira nas actividades das confissões religiosas?
Que, apesar da Concordata, não existe apenas Educação Religiosa e Moral Católica mas também de outras religiões? Está a discriminar as outras? Num país, onde, por exemplo, há alunos de professores protestantes, estes professores são ou não avaliados?
Sabe o senhor Secretário de Estado que só é professor de Religião e Moral Católica quem tiver a confiança do bispo da diocese? E depois se este professor tiver uma avaliação de insatisfaz e o bispo o achar imprescindível, como é que fica?
É um professor avaliador, que pode ser de outra religião ou ateu, que vai avaliar um professor de Religião?
Sabia que não se pode dar o nome de Ciência a uma Religião e a um ensino de matéria confessional? Um professor de Religião e Moral Católica não é obrigado a respeitar os métodos das Ciências Sociais. Trata-se de crença, de Fé em uma religião particular que a ninguém obriga.

O tempo em que a Religião Católica era a religião dos portugueses já acabou há muito.
Não se trata de "lapsus linguae", o senhor e a senhora ministra afirmam sempre com segurança o que dizem.
Expliquem-se. Ou querem passar por cima das leis e por despacho retornar ao século XIX?

Azaruja. Nossa Senhora do Carmo. Milagres e ... a mula.

Os "milagres" parecem-nos muito ingénuos ou demasiado simples. Mas eram as coisas que contavam numa vida muito dura. Em 1754 (a fotografia tem reflexos mas dá para ver a inscrição).
Diz o ex-voto em linguagem popular:
Milaguer Q ~fes N.S Do Carmo; a Mel Fri~z Morna ilha Coutos da Villa de Arrayollos Q~ Estando Huma Noite No Campo com huma mulla saia; pastando Co ella O cometeo hum ladam, E lhe Deio. huma Facada na Barrigua; Q~ficou com as tripas na mão; e Foi a Srª SerVida. prndence o lladam com a mulla E le coubro. Sai de Por Feita E Ficou Livre da morte Anno de 1754.

Por outras palavras. Houve um milagre, porque um ladrão roubou uma mula que pastava, a Manuel (...) que estando uma noite no campos nas Ilhas, Couto de Arraiolos um ladrão lhe deu uma facada na barriga, tendo ficado o Manuel com as tripas na mão. E foi a Senhora do Carmo que fez prender o ladrão e lhe cobrou a dívida, isto é a mula e a saúde.

Há vários aspectos interessantes.
1. A importância que tinha uma mula para o dono e o ladrão. A mula" era uma "máquina" importantissima para os trabalhos rurais; Sem a mula, que fazia trabalhos essenciais como alqueivar, lavrar, puxar um carro, etc. estaria em causa a economia do lavrador;
2. A existência de ladrões. No Alentejo, dada a distribuição da propriedade e a hierarquia social, havia sempre gente que não tinha lugar nesta sociedade, nomeadamente os "malteses" que existiam até há pouco tempo;
3. A resolução dos conflitos. A facada como modo de resolução destes;
4. A Senhora do Carmo, centro de romarias de uma larga região. Neste caso, em relação às Ilhas de Arraiolos; o "alvo" do milagre veio à Senhora do Carmo e não a outro lugar. Poderia eventualmente ir à Senhora de Aires ou à Senhora das Brotas, por exemplo;
5. A referência às Ilhas de Arraiolos em 1754. São mais antigas do que normalmente se diz e há que provar se efectivamente foram povoadas por colonos dos Açores, visto que a maioria das colonizações foram posteriores;
6. Estas terras eram coutos da vila, isto é seriam arrendadas temporariamente a famílias de pequenos lavradores.
7. A linguagem popular. Nestes ex-votos escrevia-se como se falava e como se presumia que se devia escrever. Há diferenças em relação à escrita erudita. Por exemplo não se escrevia "por feita" mas perfeita, nem "ladam" mas ladram ou ladrão.

Azaruja. Nossa Senhora do Carmo.

A igreja de Nossa Senhora do Carmo é objecto de cultos muito antigos.
Quem a fez? O povo certamente, com os romeiros e peregrinos que vinham de vários lados do Alentejo. Na imagem vêem-se a capela e as antigas hospedarias das confrarias.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Aristides de Sousa Mendes

Vale a pena ver o Museu Virtual Aristides de Sousa Mendes
http://mvasm.sapo.pt/

Um homem conservador mas coerente com os seus princípios humanitários, salvou dezenas de milhares de pessoas durante a 2ª Guerra Mundial.
Foi despedido sumariamente por Salazar.
OFascismo existiu.

Mértola do antigo Al-Andaluz ou Hispania

Quem passa por estrada não vê quase nada. Mértola antiga só faz sentido a partir do Guadiana, a grande via que ligava o interior com o litoral, não apenas o Algarve mas também Lisboa, a Andaluzia ou o Norte de África.

Cheias do Guadiana. Horrível, tenebrosa e inolvidável noite


...a maior cheia conhecida foi a de 1876, que em Mértola inundou a praça, a mais de 25 m do nível médio do rio, onde subsiste uma lápide no actual tribunal (antigo edifício dos Paços do Concelho) e que reza assim: “Aqui mesmo chegou/ a enchente diluvial/ do Guadiana/ na terrível noite de/ sete de Dezembro de 1876.”Em Dezembro de 1907 o Mertolense, semanário progressista recorda ainda esta cheia:
O tempo estava bom, não obstante nos dias anteriores ter chovido alguma coisa, mas pouco.
(...)
Pelas 8 horas da noite o rio chegava apenas ao quartel que os soldados da guarda fiscal teem edificado ao pé do porto de desembarque (...) d’ahi a poucas horas havia galgado a grande muralha que cerca a villa, fazendo da rua D. Pedro V um canal e da praça Luiz de Camões um lago!
Na margem esquerda as casas cahiam pelos alicerces, e, ás vezes ― suprema força da natureza ― as paredes arrancadas inteiras redemoinhavam e afastavam-se boiando na corrente como se fossem simples bocados de cortiça (...)
Horrivel, tenebrosa, inolvidavel noite.
[1]
[1] O Mertolense, 15 Dez 1907
in SIMAS, João Francisco Baeta Rebocho. O Rio e os Homens: a comunidade ribeirinha de Mértola, Mértola, Câmara Municipal de Mértola, 2007, pág. 16

Mértola do antigo Al-Andaluz ou Hispania

Os Rios de Espanha Choram de Tristeza

Os rios de Espanha choram de tristeza em fluido pranto
pela sede de sangue que não foi saciada.

Chorou sua pena o Guadalaviar
com lágrimas correntes incessantes.

Guadalquivir seu irmão chorou por não poder saciar
a sede das sanguessugas que grasnaram .

O Jucar esteve a ponto de secar quando se encolerizou
pelo dano que os ruivos causavam por toda a parte.

Gemeu o Guadiana em seu Ocidente cheio o saco lacrimal
de copioso pranto.

Os dois rios da Fronteira Superior, o Tejo e o Ebro,
queixavam-se ambos e a própria fronteira se queixava de sede

encadeada de tristeza
embora tivesse a água dos rios entre a boca e as fauces .

ALCARTAJANI

Poeta islâmico da Península Ibérica ou Hispânica. Abú Aláçane Hazime ibne Mohamede Alcartajani. Nascido em Cartagena, pertence à geração dos exilados. Morre em Tunes em 23 de Novembro de 1285. Citado por António Borges Coelho (org. de), Portugal na Espanha Árabe, vol. IV, Lisboa, Seara Nova, 1975, p. 393

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

"Legado que aliás a burguesia hoje renega"

in http://www.ps.pt/historia/declaracao_principios_1973.pdf

Declaração de princípios do Partido Socialista em 1973

A Internacional

ESTATUTOS DO PARTIDO SOCIALISTA
ESTATUTOS APROVADOS NA COMISSÃO NACIONALDE 11 DE JANEIRO DE 2003


Artigo 2º(Da Sigla, Símbolo, Bandeira e Hino)
1. O Partido Socialista adopta a sigla “PS”.
2. O símbolo do PS consiste em dois círculos concêntricos, tendo o círculo interior, sobre fundo vermelho, ao centro, um punho esquerdo fechado, em amarelo-ouro, e o círculo exterior, escritas em maiúsculas vermelhas sobre amarelo-ouro, as palavras PARTIDO SOCIALISTA.
3. A bandeira do PS é formada por um rectângulo vermelho, tendo no canto superior esquerdo o símbolo do Partido.
4. O hino do PS é a “Internacional”, com letra em português e na versão aprovada pelo Partido.

Sublinhados nossos

A Natureza desperta.

A Sul de Mértola. A Primavera não tarda.
Haja alegria! Os deuses acordam.

8 de Março. Dia Internacional da Mulher

Lá estaremos. Em Lisboa. E acompanhados.
Acordados e em desacordo.

Autoridade

(...) pretende-se, através da instituição do cargo de director, criar as condições para o aparecimento de boas lideranças e de lideranças mais eficazes, com a autoridade necessária para desenvolver os projectos educativos e a quem possam ser assacadas as responsabilidades pela gestão dos recursos públicos, abandonando-se os órgãos colegiais de direcção existentes até agora. Ao director da escola cabe, assim, a gestão administrativa, financeira e pedagógica das escolas.

Comunicado do Conselho de Ministros de 21 de Fevereiro de 2008
2008-02-21

Sublinhados nossos
Cito novamente: "Ao director da escola cabe, assim, a gestão administrativa, financeira e pedagógica das escolas", isto é, todo o poder no dia a dia.

Serão os mesmos que falam em trabalho de equipa? São, também.
Serão os mesmos que falam em participação? São, também.
Será que os membros do Partido Socialista ainda sabem qual é o (seu) hino oficial?

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Democracia em Portugal no século XIX

Preâmbulo da Constituição de 1822, a primeira constituição liberal portuguesa.
Era demasiado democrática para a época. Durou pouco tempo. O texto é de Almeida Garret

A memória da luta pela democracia

Uma difícil luta pela recuperação da Memória Histórica em Espanha, onde um pacto social e político levou a que não se falasse da República nem das valas comuns do franquismo durante muito tempo.

Constituição de 1933

Esta constituição foi plebiscitada, contando as abstenções a favor. A maior parte da população não pôde votar, ora porque eram analfabetos, ora porque eram mulheres, ora porque lhes tinham sido retirados direitos políticos. Também não houve direito a críticas.
Formalmente até havia direitos, mas logo a seguir vinham as excepções. Além disso governava-se por decreto que especificava melhor "as perversões da opinião pública" e os "crimes contra a segurança do Estado". Além disso, a polícia política tinha amplos poderes para se isentar da Lei.
Assim se faziam leis que não eram para cumprir.



A pressa e a bandalhice

Em um aspecto concordo com a ministra, o tal treinador de futebol e "os gatos fedorentos", sobretudo com estes.

O que é preciso é manter a tranquilidade.

O processo de avaliação dos professores, a futura gestão das escolas e o estatuto do aluno envolvem processos impossíveis de realizar nos prazos e nos termos que o Ministério quer.
Falta sempre qualquer coisa e depois vêm esclarecimentos dúbios e outros não assinados, alguns que contrariam a legislação anterior.
Não se vislumbra clareza. E depois, como não bastasse até vemos escolas a trabalhar afanosamente em fichas e processos, sem nunca terem sido avaliadas, que ainda vão mais longe do que o Ministério quer.
Quer? Mas eles sabem o que querem?
Pressuponho que sejam inteligentes, medianamente pelo menos. E se o são, o que se espera é que se vá abandalhar o que ainda há de bom e, mantendo o pressuposto, suponho que o Ministério vai contentar-se com uma avaliação de faz de conta, numa gestão em que os intervenientes no Conselho Geral pensam que têm poderes mas não os têm, num estatuto do aluno que vai permitir tudo o que já permitia, aliás, tudo numa tradição de faz de conta já bem antiga no nosso país.
O que é que isto vai dar?

O Ministério conhece o país? Estudou e publicou as análises sobre a realidade em cada escola, relacionou a situação sócio-cultural das famílias com os resultados escolares, sabe o que são bons ou maus resultados em determinadas disciplinas ou áreas que nunca tiveram avaliação externa, por exemplo Área de Projecto, avaliou todas as escolas, avaliou alguém a gestão de todas as escolas ...?

Os avaliadores foram avaliados previamente? Os inspectores que vão avaliar os coordenadores foram avaliados, os directores foram avaliados?
E se se chegar à conclusão que alguns dos avaliadores poderão ter uma classificação negativa? Será que se vai por em causa a avaliação efectuada por esses?

Com tudo isto o que resta? Também as quotas.
E então poderemos assistir a situações destas: é melhor avaliar este por baixo porque senão pode passar-me à frente, ou avaliar melhor este porque quem me avaliou acha que este é mais de confiança ou então dar boa nota a fulano porque "coitadinho" deveria passar e o outro, apesar de melhor já não progride.

Por que é que em vez de ser só um avaliador para um aspecto (por exemplo, assistência a aulas) não se criou um jurí, até com alguém externo à escola.
E é preciso avaliar todos os anos todos os professores?

Outra resposta

João
concerteza que pode ser publicado
ainda bem que temos código genético em comum - muito mais poderemos fazer, e há muito que fazer
um abraço amigo

Francisco Louçã


De: João Simas [mailto:joaosimas@gmail.com] Enviada: terça-feira, 19 de Fevereiro de 2008 15:29Para: Francisco LouçaAssunto: RE: Situação dos professores

Caro deputado.
Peço autorização para publicar a resposta num blogue que comecei a fazer há pouco tempo
http://ruadealconxel.blogspot.com/

Um abraço
João Simas

Ps. Creio que somos da mesma geração. (...)

De: Francisco Louça [mailto:Francisco.Louca@be.parlamento.pt] Enviada: terça-feira, 19 de Fevereiro de 2008 12:42Para: joaosimas@gmail.comAssunto: FW: Situação dos professores

Caro amigo

Obrigado pelo seu texto tão esclarecedor.
Estou muito de acordo consigo quanto à prepotência que o governo tem manifestado contra os professores de todos os graus de ensino.
Como sabe, o Bloco tem enfrentado o primeiro-ministro e assim continuará a fazer, procurando soluções mais mobilizadoras para melhorar o ensino em Portugal e valorizar a função docente. Conte comigo para continuarmos – todos – essa luta tão importante.
Está aliás a criar-se um movimento abrangente de professores para apresentar propostas e combates pelo ensino de qualidade (
http://www.esuerda.net/).



Um abraço

Francisco Louçã

De: João Simas [mailto:] Enviada: segunda-feira, 11 de Fevereiro de 2008 20:06Para: Francisco LouçaAssunto: Situação dos professores

Exmo. senhor deputado
Junto envio um texto sobre a situação dos professores e as graves consequências que podem advir desta política do Ministério da Educação.

Com os melhores cumprimentos
João Simas

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Dia a dia. Ensino de História no 7º ano

Templo romano de Évora. Reservado talvez aos que em algum país podem estudar História e Património.


Diríamos que vivemos num país com uma História de mais de 800 anos. Diríamos que antes da independência passámos pelo mundo islâmico (500 anos), romano etc.

Digamos que fica bem falar dos Descobrimentos, do Brasil, de Timor, do antes e depos do 25 de Abril, da União Europeia e como chegámos aqui. Que da Grécia Clássica surgiu a matriz de uma certa cultura europeia.

Diríamos até que Évora era Cidade Museu, Património Mundial, e caso raro, até toda a cidade intra-muralhas, que já teve 23 conventos, dezenas de igrejas, dezenas de palácios, muralhas, casas pobres, casas judaicas, mourarias ...
E que até é engraçado contar umas historietas sobre alunos que confundem o primeiro rei de Portugal com algum jogador de futebol.


Quem manda achou que os alunos de 7º ano só deveriam ter nove aulas no segundo período, no ano da Graça de 2008. E dois testes e turmas de 28 alunos, e turmas com alguns alunos de 12, 13, 14, 15 e até mais e desenvolver competências sem conhecimentos (?!?!?). E com alunos que ficam à espera e dizem por palavras ou actos: "ensine-me mas quando eu quiser, motive-me e deixe-me fazer o que eu quiser... E que esse discurso é apoiado por alguns dirigentes (de meia dúzia) de Associações de Pais e de alguns jornalistas que se contentam com o diz que disse e de deputados carreiristas e sempre em apologia de ministros que ouviram dizer qualquer coisa e gostam de decidir depressa.

E depois vêm conselhos de turma. E planos de recuperação para os que não estão motivados, para os que a família é disfuncional e só a escola é que deve tratar porque mais ninguém tem ou quer ter a ver com o assunto, e depois tem que se explicar porque é que alguns tiveram negativas, e tem que se explicar aos pais que fazem ou não o favor de aparecer, e é melhor ficar tudo em acta e em relatório, principalmente no Conselho de Turma onde estão professores de mais doze ou treze disciplinas e Áreas Disciplinares, e explicar à Direcção da Escola e explicar à Direcção Regional e precaver a situação perante a avaliação e esperar pelo fim do ano para ver se não há queixas nem vício de forma. E ainda conselhos de outros colegas para deixarmos mais coisas em acta e mais grelhas e mais justificações. E ...

E além dessa turma de 28 alunos, com nove aulas no segundo período, e mais do mesmo, mais outras não sei quantas turmas, e aulas de substituição e mais reuniões e mais a formulação de objectivos individuais e ... ter qualquer dia aulas assistidas com planificações antecipadas e mais justificações numa turma que tem 9 aulas no segundo período. E predispor-se para acções de formação que se têm que cumprir, de acordo com os objectivos de alguém em qualquer lado.


Há algo que não funciona. Não sei se o surrealismo já passou, mas esse surrealismo que conheço era revolucionário e tinha a ver com sonhos e com a transformação da sociedade.

Isto não sei com o que é que tem a ver. O que sei é que, entre outras coisas, se está a impedir, com nove aulas no segundo período e com estas coisas todas, que um aluno normal e já não falo de outros melhores (porque qualquer dia teremos que justificar porque é que uns sabem mais que outros e encontrar estratégias que não se admitam essas surpresas), está-se a impedir repito, que os alunos percebam o que é o Património da Humanidade e que compreendam minimamente como é que o presente funciona.
Diríamos, por fim, que o que se está a fazer é aumentar o fosso entre os que podem e não podem e que a hierarquia social está a aumentar e, em termos mais "terra a terra", diríamos que os pobres continuam a ser tratados como "pobrezinhos", desprezados e relegados para um futuro papel de ignorantes e submissos.

A procissão. Comenda, 14/07/2007

Os habitantes mais fiéis da igreja.

O "turista" e os homens da aldeia.

A Segurança. Necessária (?)

A preparação da festa.

A população. As mulheres vão substituindo os homens

O clero em renovação (?)

Procissão: o clero


Comenda, concelho do Gavião, distrito de Portalegre, diocese de Portalegre e Castelo Branco, antiga comenda da Ordem e Priorado do Crato, isto é comenda da ordem de S. João de Jerusalém, também conhecida por ordem de Rodes e de Malta.

A procissão espelha a sociedade e a cultura, as suas permanências e mudanças, a religiosidade da Igreja Institucional e a religiosidade popular, os conflitos e as (re)ligações, os que ficam e os que voltam em dias simbólicos.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Rodes e a Turquia aqui tão perto.



Rodes (Grécia) em primeiro plano. Montanhas da Turquia ao longe (?).

Aqui termina a União Europeia.

Na Grécia dos filósofos era tudo o mesmo mundo.

Sousel. Senhora da Orada

Senhora da Orada. Sousel.



A Senhora da Orada em Sousel, teria sido fundada por Nuno Álvares Pereira, filho do Prior do Crato ou seja da Ordem de S. João de Jerusalém, Hospitalários, conhecidos por cavaleiros de Rodes e depois por Ordem de Malta.

O largo em que se encontra chama-se Vencerei. Vencerei, porque Nuno Álvares acampou aqui com o seu exército de homens, sobretudo a pé, o que quer dizer essencialmente camponeses, tendo partido no dia seguinte para dar batalha ao exército castelhano em Atoleiros. Venceu a batalha, com os homens a pé, com a táctica do quadrado, técnica inglesa, usada pelo exército inglês em França, durante a Guerra dos Cem Anos.
Era também o exército castelhano composto de muitos portugueses e até irmãos de Nuno Álvares Pereira.

Note-se a inclinação do edifício, técnica de construção que o fez perdurar até hoje.

Rodes, Crato e os Hospitalários

Mosteiro de Flor da Rosa, Crato. Ordem dos Hospitalários.
Rodes, Hospital dos cavaleiros. Ordem dos Hospitalários.

O que significavam quilómetros na Idade Média? Nada. A palavra nem existia. No entanto estes cavaleiros deslocavam-se a cavalo e a pé também, de barco, entre o Ocidente e o Oriente.

O mosteiro de Flor da Rosa, foi fundado pelo pai de Nuno Álvares Pereira, um dos mais de trinta filhos do Prior do Crato que por dever teria feito voto de castidade. O convento era igreja e fortaleza ao mesmo tempo, tinha sacristia e celas e cavalariça e armas.

No Hospital de Rodes andaram também alguns cavaleiros portugueses, juntamente com outros espanhóis, franceses, ingleses etc., a combater os muçulmanos e a tratar os peregrinos. A ordem emprestava dinheiro a reis e outros que poderiam pagar. Por vezes, negociava com os muçulmanos. E os cavaleiros até gostavam dos prazeres do Oriente.

Contradições? Para eles não.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Entrevista e azedume

Há qualquer coisa que anda no ar e talvez aterre. Talvez!
O primeiro-ministro deu uma entrevista. Parecia à vontade mas um pouco excitado. Quando falou de Educação ficou mais nervoso, um pouco menos de demagogia do que com o Santana Lopes impreparado do costume mas já com ar de quem perde terreno. Repetia e gesticulava mais.
No Parlamento ouvem-se vozes contrárias a esta política. Mais alto do que era costume.
É necessário que a pressão aumente. Na altitude da maior parte do país a água ferve a 100º. Se não houver demasiada gente a entornar a chaleira por coisas de "lana caprina", mas falando de coisas concretas, de coisas que doem, que preocupam e põem em causa, de coisas que encostem à parede, sem dar argumentos aos demagogos, a panela pode rebentar.

E depois? Ou entorna e queima ou sai cozido à portuguesa!
Se for bem cozinhado aproveita-se.

Deixemo-nos de conversas sobre a Marilu. O que é preciso é picar onde dói, desmontar esse discurso "iluminado" da decisão rápida sem consequências, das reformas inovadoras só por si, da basbaquice e da pseudo-imitação de outros que afinal não conhecem, do discurso de que nós é que sabemos e vocês que obedeçam, dessa gente suburbana que quer mandar neste país.

Ps. Suburbano não tem a ver com as pessoas que vivem nos subúrbios, mas com aqueles que nem são já rurais nem aprenderam as coisas boas da civilização. Rejeitam as raízes e odeiam, proclamando o contrário, a cultura produzida durante séculos por homens e mulheres que produzem e conversam sobre coisas do dia a dia, literatura, ciências, artes e outras coisas que ajudaram a que os homens nem sempre sejam piores que outros seres que existem ou que inventaram.

Kosovo

Não tenho nenhuma imagem do Kosovo nem tenciono ir lá tão depressa mesmo que conseguisse aí ficar ou sair com a minha integridade física assegurada.

O Kosovo tem 10887 Km2, cerca de um terço do Alentejo(!), cerca de um nono de Portugal.

Em tempos a maioria da população era sérvia. Com a primeira guerra mundial milhares de sérvios fugiram perseguidos por albaneses, com a 2ª guerra mundial os italianos e depois os alemães ajudaram à limpeza étnica. Com a desagregação da Jugoslávia e o bombardeamento de Belgrado rebentou novamente a crise do Kosovo, território reconhecido internacionalmente como fazendo parte da República Sérvia. Interveio a NATO, depois de uma campanha sobre as valas comuns e seguiu-se nova fuga em massa. Da Albânia, que antes era o farol do comunismo mais maoísta que a própria China e que tanto espantou certos jovens e hoje mandantes da União Europeia, vieram milhares de pessoas, com as respectivas máfias que ocuparam as casas vagas.
A KFOR tem vigiado o mínimo. O Kosovo vive da ajuda internacional; a maior parte do dinheiro fica pelo caminho e os restos nas mãos das novas elites albanesas.
O Kosovo continua com o mesmo território, os sérvios continuam a fugir, os ciganos nem se fala, os turcos kosovares e as outras minorias não albanesas o mesmo, e até os albaneses que têm a mania do respeito pelas leis e pelos direitos também. A ajuda internacional continua igual ou pior, o desemprego e a desocupação semelhantes (mais de metade da população), estado quase não existe. Máfias sim, as da Âlbânia e do Kosovo que dominam grande parte do tráfico humano na Europa, além de outros negócios de cocaína e similares, só superados pela N'Dranghetta do Sul de Itália (que tem mais negócios destes que a Camorra Napolitana ou a Máfia Siciliana).

E torna-se independente!

O que se virá a seguir?
O País Basco. Por que não? É das zonas mais ricas de Espanha.
A Catalunha? Por que não? É um dos motores da economia espanhola e já quase ninguém aí fala castelhano.
A Irlanda do Norte? Há séculos que eles lutam contra os ingleses.
A Córsega?
A Flandres? Por que não? É a zona mais rica da Bélgica, já ninguém aí fala francês; a Bélgica há meses que não tem governo central.
O Norte de Itália?
República turca de Chipre ? Também já proclamou a independência há uns bons anos.

E se a Alemanha começar outra vez a exigir territórios da Polónia?

E se na Rússia começarem a exigir a independência de tantos territórios e repúblicas (Tchétchénia ...) ?
....
????

Rodes cosmopolita



Uma igreja bizantina, um minarete de uma mesquita, muralhas do tempo dos cavaleiros de S. João de Jerusalém, os Hospitalários.

Em tempos o Mediterrâneo era assim: cristãos de várias qualidades, muçulmanos diferentes entre si, judeus e outros.

Hoje tem que se ser grego, turco, albanês, sérvio, com exclusão de outros.

Rodes e a mistura

Rodes tem de tudo o que o Mediterrâneo tem. É Grécia mas quase parece uma cidade islâmica moderna, ou antes parece meio grega meio turca e além disso turística, que é ainda outra cultura. No entanto pergunte-se a um grego se há alguma influência turca e ele responderá quase ofendido, que não. E, no entanto, de um lado bebe-se um café turco e do outro um café grego com o mesmo sabor. E a música parece a mesma mas mas as línguas é que são diferentes. O geito para o comércio é igual. E faz-se negócio nas ruas como em tantos países do Mediterrâneo.
Rodes só se integrou na Grécia em 1947. Andaram e deixaram descendentes ou converteram-se sucessivamente, gregos das épocas arcaica e clássica, judeus helenizados e romanizados, cristãos primitivos, gregos bizantinos, cavaleiros cristãos latinos e de variadas partes da Europa, piratas alguns, banqueiros outros, turcos mamelucos e otomanos até italianos fizeram de Rodes uma extensão de um império romano de ilusões e intrusões.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

As leis são para se cumprir?

Escola em França. Nada de especial em termos de edifício. Mas qualquer escola tem inscrita a divisa: LIBERTE, EGALITE, FRATERNITE

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
Decreto-Lei n.o 200/2007 de 22 de Maio
Artigo 4.o
Fixação de vagas


4—A estruturação em departamentos dos grupos de recrutamento constante do anexo I tem efeitos apenas para o concurso a que se refere o presente decreto-lei, não prejudicando a actual organização dos agrupamentos de escolas ou escolas não agrupadas.

Constituição da República Portuguesa (em vigor).

Como não encontrei rua ou monumento em Portugal com este nome resolvi reproduzir esta imagem, nome de rua em Toulouse, em francês e occitano.

É bom não nos esquecermos que existem leis. Sublinhei alguns artigos.

Constituição da República Portuguesa
Artigo 9.º(Tarefas fundamentais do Estado)
São tarefas fundamentais do Estado:

b) Garantir os direitos e liberdades fundamentais e o respeito pelos princípios do Estado de direito democrático;
c) Defender a democracia política, assegurar e incentivar a participação democrática dos cidadãos na resolução dos problemas nacionais;

...
Artigo 37.º(Liberdade de expressão e informação)
1. Todos têm o direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio, bem como o direito de informar, de se informar e de ser informados, sem impedimentos nem discriminações.
2. O exercício destes direitos não pode ser impedido ou limitado por qualquer tipo ou forma de censura.
...
CAPÍTULO II
Artigo 48.º(Participação na vida pública)
1. Todos os cidadãos têm o direito de tomar parte na vida política e na direcção dos assuntos públicos do país, directamente ou por intermédio de representantes livremente eleitos.
...

Artigo 42.º(Liberdade de criação cultural)
1. É livre a criação intelectual, artística e científica.
2. Esta liberdade compreende o direito à invenção, produção e divulgação da obra científica, literária ou artística, incluindo a protecção legal dos direitos de autor.
Artigo 43.º(Liberdade de aprender e ensinar)
1. É garantida a liberdade de aprender e ensinar.
2. O Estado não pode programar a educação e a cultura segundo quaisquer directrizes filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas ou religiosas.

3. O ensino público não será confessional.


Artigo 59.º(Direitos dos trabalhadores)
1. Todos os trabalhadores, sem distinção de idade, sexo, raça, cidadania, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, têm direito:
a) À retribuição do trabalho, segundo a quantidade, natureza e qualidade, observando-se o princípio de que para trabalho igual salário igual, de forma a garantir uma existência condigna;
b) A organização do trabalho em condições socialmente dignificantes, de forma a facultar a realização pessoal e a permitir a conciliação da actividade profissional com a vida familiar;
c) A prestação do trabalho em condições de higiene, segurança e saúde;
d) Ao repouso e aos lazeres, a um limite máximo da jornada de trabalho, ao descanso semanal e a férias periódicas pagas;
CAPÍTULO III

Direitos e deveres culturaisArtigo 73.º(Educação, cultura e ciência)
1. Todos têm direito à educação e à cultura.
2. O Estado promove a democratização da educação e as demais condições para que a educação, realizada através da escola e de outros meios formativos, contribua para a igualdade de oportunidades, a superação das desigualdades económicas, sociais e culturais, o desenvolvimento da personalidade e do espírito de tolerância, de compreensão mútua, de solidariedade e de responsabilidade, para o progresso social e para a participação democrática na vida colectiva.
Artigo 77.º(Participação democrática no ensino)
1. Os professores e alunos têm o direito de participar na gestão democrática das escolas, nos termos da lei

Lembremo-nos

Antes de começar lembro-me da história da rã e da panela.
Um "experto", experimentou a lançar uma rã para dentro de uma panela com água quente. Como é óbvio a rã saltou. Ninguém, nem mesmo um ser menos racional gosta de um escaldão sem mais nem menos. O experto tentou de outra maneira: mandou a rã para a água fria, isto é para uma água mais ou menos pantanosa mas com uma temperatura próximo do razoável. Para a rã, convenhamos.
Digamos que a experiência não foi feita por um professor de Biologia de Castelo Branco, esperto, alguma coisa em Biologia e vereador em certos intervalos em Penamacor. A experiência é mais antiga, é do tempo em que os escritores traduziam fábulas de tempos antigos.
Ora a rã deixou-se ficar na tal água mais ou menos mal cheirosa. Mas o experto, que tinha aprendido e agora ensinava uns cursos sobre avaliação, acendeu um bico de Buzen por baixo da panela que continuava com a tal água mais ou menos mal cheirosa, com um pouco mais de metano, que o tempo estava a passar.
A chama meio luminosa começou a fazer o seu trabalho planificado. E a água mal cheirosa começou a aquecer, lentamente. E a rã mergulhava e nem sentia o metano, nem nada, nem queria saber do sapo que era um grande malandrão. Além disso, o sapo nem tinha andado nos laboratórios da Faculdade de Ciências de Lisboa nem sequer ensinava em cursos sobre como se devia nadar, segundo os parâmetros pseudo-europeus de segunda classe nem tinha feito doutoramentos sobre engenheiros. E a água foi aquecendo e parecia menos fétida, ou mais ou menos, a rã esbracejava antes do tempo, esbracejava mas dava-lhe sono, esbracejava e tinha calores, já não esbracejava e falava do tempo e de qualquer coisa vaga que a incomodava e depois já não esbracejava nem falava do tempo que aquecia e depois já nem falava nem se mexia. Nem teve tempo para aprender inglês técnico nem fazer projectos com marquises.
E morreu cozida!
Agora uma parte do rol.
Lembremo-nos do que custou aos professores terem um estatuto, um Estatuto da Carreira Docente. Foram muitos anos de luta que começou antes do 25 de Abril. Veio este governo e perverteu-o de alto a baixo.
Lembram-se das aulas de 50 minutos? Por que é que não havemos de repensar estes tempos? Quando numa disciplina, por exemplo História no 7º ano, só há 90 minutos por semana, será que os professores podem cumprir algum programa e conseguir que os alunos tenham todas essas competências?
Alguém se lembra de quando não havia aulas supervenientes?
E de quando não se estava em parada, a ver passar o tempo, sem aulas de substituição?
E quando se pressupunha que por cada hora lectiva deveria haver uma para preparar (só por isso é que os professores tinham 22 horas, no tempo em que o horário normal de trabalho era de 44 horas)?
E de quando faziam uma visita de estudo que tinham que preparar não sei quanto tempo antes e estar com os alunos não sei quanto tempo durante e depois, mas não tinham que andar a fazer permutas?
E de quando tinham reduções a partir de certa idade, depois de muitos anos à espera, num Estado em quem confiavam e não confundiam com um canalha qualquer?
E de quando os professores pensavam que podiam ir até ao 10º escalão?
....
E de quando havia algum bom senso?
E ... ?

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Azaruja. Fala-se e escuta-se.

A minha vizinha

A minha vizinha está sempre bem disposta e disposta a ajudar. Faz parte da rua viva, conversa com quem passa, aconselha e é aconselhada, escuta e é escutada, sempre com um sorriso, mete-se com as crianças, chama-lhes bonecas e bonecos, sabe o que se passa na rua sem ser cuscovilheira.
Não tem pressa não dá opiniões definitivas nem pretende mostrar o que não é.
Ainda há gente assim.

Avaliação de professores




Projecto de José Sócrates. Fotografia do Público

Para quê os professores andarem tão preocupados com esta avaliação do governo?

O processo está tão atabalhoado, as confusões são tantas ...

Geralmente o exemplo vem de cima. Se um projecto destes passou, isto é, foi avaliado positivamente e continua no mesmo sítio, qualquer um que faça qualquer coisa também será avaliado positivamente. E, se for preciso mais acções de formação pode também fazer um examezinho à maneira do projectista!

Definam-se parâmetros tendo em conta projectos desta qualidade.

E depois todos seremos bons, já que o número de excelentes está definidos nas quotas.

Para ser mau é preciso ser demasiado descuidado!

Não sejamos mais papistas que o Papa! Andar a fazer fichas como se estivéssemos no início da carreira? Arranjarmos lenha para nos queimarmos? Mais papéis com mais cruzinhas? Mais justificações?

Ainda há quem acredite que se está a exigir qualidade?!

Salazar e Carlos de Bragança, o prazer e o sacrifício, os espectadores e os actores.



Salazar. D. Carlos I
Duas imagens de homens que dirigiram o país. Em ditadura.
Salazar sempre sonhou com um país rural, respeitou e impôs a autoridade, estudou no seminário, foi quase padre, monárquico na juventude, só saíu do país, a custo, para visitar o general Franco, só se ria, às vezes, na intimidade, detestava discussões, detestava a República, o liberalismo, a democracia, o socialismo, o comunismo, o anarquismo, ... promovia e fazia-se à imagem dos santos e heróis e missionários que espalharam a Fé e o Império pelos continentes. Quis sempre manter a imagem de homem de respeito e sacrificado pela Nação, de Salvador da Pátria, sem perguntar se todos queriam ser salvos. Era pragmático e manhoso, conhecia bem a retórica e a arte de convencer analfabetos, só arredou do poder já velho, porque caíu de uma cadeira. Morreu solteiro e quis mostrar que era casto.
No Palácio de S. Bento aquecia-se com mantas.
D. Carlos era rei, neto do rei de Itália que a unificou e a quem o Papa não perdoava pela conquista dos seus territórios, bisneto do rei e imperador que esteve à frente da independência do Brasil e da segunda revolução liberal em Portugal.
Gostava de comer e beber, mulheres muitas, fumava charutos, caçava, viajou por vários países, dava festas frequentemente, gostava de música, pintava com alguma qualidade e coleccionava espécies marítimas nas suas deambulações no iate Amélia. Era liberal mas menos democrata, quis reformar um país que estava dividido entre a pasmaceira e a revolução. Fanfarrão, apresentou-se no Terreiro do Paço, de peito descoberto, alvo perfeito para tiros de carbonários.
Dois modelos diferentes, que ainda hoje perduram, talvez mais o do político sacrificado no Altar da Pátria que gosta de mostrar que prescinde da vida pessoal, que decide e raramente se engana.
Felizmente não precisamos de escolher entre um e outro modelo. Podemos até começar por escolher as nossas ideias e lutar por elas e até ironizar com as historietas de sacrificados e fanfarrões que, afinal, sempre tiveram pés de barro como os outros.
Como alguém dizia: "de imprescindíveis estão os cemitérios cheios"

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Trovadores de um país desaparecido e mulheres famosas e formosas.

Lápide em memória dos trovadores e da viscondessa Ermengarda em Narbonne.

Foi uma cultura florescente na Idade Média, no Sul da actual França. Trovadores cantavam às suas amadas, as suas amadas faziam também poesias. As cruzadas contra os cátaros destruiram esta maneira diferente de estar na Idade Média. Analfabetos guerreiros e fundamentalistas aniquilaram condados onde se fazia poesia e se discutiam ideias, entre o Norte, de "bárbaros" recém-cristianizados e a Hispania (Península Ibérica) das Três Culturas (cristã, judaica e muçulmana).

A placa homenageia em occitano os "Filhs glorios", os filhos gloriosos de "Narbona La Onrada".

Lembremos um poeta português, o rei D. Dinis que no século XIII prestava homenagem a esta literatura trovadoresca (prouençal/provençal) do Sul de França e às mulheres formosas, cultas e bem dispostas.

Nota: em português arcaico senhora escreve-se senhor.


Quer' eu en maneira de prouençal

fazer agora um cantar de amor

e querrey muit' i loar mha senhor,

a que prez nem formosura non fal,

ne bondade, e mais vos direi en:

tanto a fez Deus comprida de ben

que mais que todalas do mundo ual.


Ca mha senhor quis Deus fazer tal

quando a fez, que a fez sabedor

de todo o b~e e de mui grã valor;

E cõ tod' esto é mui comunal,

ali hu deve; er deu-lhe bõ sen

e des y nõ lhi fez pouco de ben,

quando nõ quis que lh' outra foss' igual.


Ca en mha senhor n~uca Deus pos mal,

mays pos hi prez e beldad' e looor

e falar mui b~e e rijr melhor

que outra mulher; des i é leal

muyt' e por esto nõ sei hoi' eu qu~e

possa compridam~ete no seu b~e

falar, ca nõ á, trá lo seu ben, al.


D. Dinis

Há cem anos, a Imprensa portuguesa e o Regicídio

O Mundo, 23 de Junho de 2007, em plena ditadura de João Franco e D. Carlos.

Escreveu Rocha Martins, jornalista na época.

Escrevera-se que “a monarquia em Portugal havia regressado ao regime dos quadrilheiros, fugidos por cobardia das estradas”. João Franco era “o bandido que anunciou os adiantamentos ilegais, feitos em benefício da realeza (…) e aparece agora armado - cínico e ladrão – em saque aos cofres públicos, em benefício das damas do Paço e do Chefe de Estado”(…) e chamava-se ao ditador” doido protegido por um bandido e servo desse bandido”. Assim se alcunhava o Rei.

Martins, Rocha, O Regicídio, Lisboa, Gradiva, 2007


Estava-se em plena ditadura. O jornal O Mundo tinha sido suspenso por 30 dias. Mesmo assim conseguiu fazer sair à rua esta edição.
Chamavam doido ao primeiro-ministro (presidente do Conselho); o rei era apelidado de bandido.

Apesar de tudo, não houve grandes consequências em relação aos jornalistas. Mas ditadura no século XIX nada tinha a ver com as que surgiram no século XX.
Quem é que se atreveria a chamar doido e bandido a Salazar na imprensa vendida na rua?

Não subscreveria esses impropérios, mas acho estranho haver tanta falta de críticas nos dias actuais.

De facto, o Estado Novo interrompeu a evolução deste país!

Pavia. A cultura permanece.



Anta em Pavia. Capela de S. Dinis.

As antas ou dolmens têm milhares de anos (4000... 6000 ...), foram feitas por sociedades agro-pastoris. A orientação é Leste-Oeste, de acordo com o ciclo solar, orientação que as igrejas cristãs também tomaram.

Era também, até há décadas, uma sociedade agro-pastoril que dominava no Alentejo. Certamente mais civilizada, isto é com técnicas mais eficientes, inserida num mundo industrial que quase não chegava aqui e também mais hierarquizada. Fernando Namora, enquanto médico por estas bandas, descreveu-a em romances que vale a pena ler.

De dólmen passou a capela, manteve-se o culto; alterou-se a superfície, ficou o essencial.

Até hoje!?

Aulas de substituição

Em Outubro de 2006 envieei para o jornal "O Público" um texto sobre as aulas de substituição.
Mantenho o que disse e verifico que, nas escolas onde se continuam a fazer "piquetes" para as eventuais aulas de substituição, em que os professores são chamados na hora para "apagar o fogo" numa turma que não conhecem, numa sala qualquer para onde são chamados no momento, só tem contribuído para o fomento da indisciplina e a falta de respeito pelos professores que, por enquanto, a sociedade ainda vai considerando.
Por outro lado continuo a lembrar-me que na Constituição e mesmo no actual Estatuto está consagrada a liberdade de ensinar e, portanto, a escolha de métodos que nunca se poderão resumir a uma escolha feita por outrem.

O texto era este.

Aulas de substituição


O problema das aulas de substituição tem sido frequentemente tratado de ânimo leve, inclusivamente pelo próprio Ministério de Educação, centralista e uniformizador em quase tudo, descentralizador quando não quer resolver problemas, deixando a sua resolução para as escolas, desde que não envolvam meios financeiros, mas sempre obrigadas a dar conta de tudo à Inspecção e Direcções Regionais e sempre sujeitas a ulteriores críticas e sanções. Ninguém contesta que os alunos devem estar ocupados durante o seu horário lectivo e em contexto escolar, de aprendizagem.
Mas o que significa substituir um professor que deixou um plano de aula, por outro que terá que executar esse plano? Será que se considera que os professores são peças intercambiáveis numa máquina pré-programada? Considera-se que os alunos são também peças, tábuas rasas, vasos que se enchem de forma pré-determinada em que se espera que o produto final esteja de acordo com o desejado por alguém?

Parece que se esquece tanta coisa que a Humanidade levou séculos e milénios a conquistar! Em primeiro lugar a relação pedagógica. Há uma relação dialéctica entre quem ensina e aprende. Sabe-se isso, pelo menos, desde Sócrates. Quantas vezes, um bom professor experimenta com um aluno formas diferentes de o abordar, de o interrogar, de o pôr a trabalhar, até que um dia esse aluno sente o que Arquimedes gritou: Eureka.
Esquece-se que uma aula não é apenas uma aula, faz parte de um processo.
Em segundo lugar, o tempo de preparação de uma aula. Há aulas que podem demorar pouco tempo a preparar, fruto dos conhecimentos e da experiência; há outras que implicam novas leituras, novas investigações, discussões com outros, preparação de estratégias. Pode executar-se qualquer aula para o dia seguinte?

Por último, onde fica a liberdade de ensinar quando se executa um plano de alguém que não foi sequer discutido por aquele que foi administrativamente chamado? O professor que executa não tem o direito de acrescentar nada? O que pensarão os alunos no dia seguinte? Tiveram um mestre ou um programa?

João Simas
Évora

Sobre os anónimos

Já tenho recebido comentários anónimos. Em princípio não os publico, porque toda a gente tem nome e é preciso respeitar os nomes das pessoas e as suas ideias. E, embora não se trate do caso, lembro-me sempre dos que deram a cara e sofreram por terem ideias em situações difíceis. Além disso, o anónimo não dá direito de resposta e, se alguém se expõe deve ter direito a responder de igual modo.

Cano. Antigos Paços do Concelho


Igreja da Misericórdia. Cano


terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Pavia. Igreja Matriz

Igreja cristã mas com influências mouriscas, manuelino-mudéjares.
Apesar da guerra de religiões aproveitavam-se os alarifes ou alvanéis (pedreiros) para fazer boa arquitectura.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Sobre a situação dos professores

Aqui vai um texto longo para variar. Enviei-o para alguns deputados da Assembleia da República. O presidente da Comissão de Educação já me respondeu.


Exmo. senhor deputado

João Francisco Baeta Rebocho Simas, professor do ensino secundário, residente na Rua de Serpa Pinto, em Évora, vem expor situações que considera preocupantes em relação à forma como são, têm sido e irão ser tratados os professores, a continuar esta política ministerial, com graves implicações no futuro da Educação e Ensino.
Parto de situações concretas, das que conheço pela minha experiência pessoal e de outras que se podem multiplicar por muitas ao longo deste país. Sou licenciado em História, pela Faculdade de Letras de Lisboa, mestre em Culturas Regionais Portuguesas, pela FCSH da Universidade Nova de Lisboa, professor do quadro e titular da Escola Secundária de Severim de Faria, em Évora, tenho 27 anos de serviço, fui assistente convidado pela Universidade de Évora durante cinco anos e tenho ocupado cargos variados nas escolas, nomeadamente Coordenador da Biblioteca e Presidente do Conselho Pedagógico, o que me permite alguma visão do sistema e da sua evolução.
Não sou dos mais prejudicados nesta carreira mas a minha vida profissional tem-se degradado à semelhança dos demais professores. Não preciso de referir a quebra de rendimento que se tem vindo a acentuar desde o governo de Durão Barroso. Têm sido também a perda de direitos que estavam consignados no anterior estatuto e que não pude adquirir, apenas por meses e por um novo estatuto imposto contra os professores. Cito, por exemplo, as reduções de horário: aos cinquenta anos, que fiz em Maio de 2007, corresponderia uma redução de duas horas, aos vinte e sete anos de serviço, que fiz em Outubro, corresponderia a redução máxima. Como, “tive o azar” de fazer anos escassos meses depois de Janeiro, já só terei uma redução de duas horas aos sessenta anos. Bastava ter tirado um curso de três ou quatro anos e não de cinco ou fazer um estágio em um ano e não em dois para ter obtido esses direitos retirados sem grande aviso prévio. Mas aos próximos (?) professores, ser-lhes-á apenas exigido, no caso de História e Geografia, um curso de três anos, mais dois de disciplinas pedagógicas e estágio que conferem mestrado, isto é uma ano e pouco de aprendizagem de História no ensino superior, para ensinar História. Assim também se vê o que o Estado pensa sobre as habilitações e a qualidade pretendida.
Em vez disso o Ministério aumenta o horário. Como cada aula diminuiu cinco minutos, “inventaram-se” as aulas supervenientes para compensar, isto é, mais duas aulas semanais. Antes, os professores do ensino secundário tinham duas horas de redução, agora essas também acabaram, como se fosse o mesmo preparar aulas e avaliação de alunos, sujeitos a exame de 12º ano ou 11º ano, sujeitos, os professores a todas as críticas (algumas legítimas) da imprensa e da sociedade em geral e das universidades, sobre os “rankings” e a preparação dos alunos. Restam-nos, para preparar aulas, sete horas semanais em casa. Só quem não percebe nada de ensino ou que acha que os professores têm que trabalhar muito mais que em qualquer profissão toma uma medida destas. Sete horas semanais é o mínimo que eu gasto para elaborar um teste de 12º ano e avaliar as respostas de uma turma de vinte e tal alunos de História.
Exige-se também aos professores acções de formação creditadas e com uma maior percentagem na área da disciplina, mas fora do horário lectivo. Como se toda a gente vivesse perto de centros de formação ou instituições de ensino superior ou que estas disponibilizassem cursos sempre adequados ou interessantes. Parece que não vale a pena pensar e produzir mas apenas respeitar percentagens.
No 3º ciclo reduziram-se as aulas de História, a 90 minutos semanais no 7º ano, a 90 ou 90+45, conforme as escolas, no 8º e no 9º ano, para um programa feito para 3 aulas de cinquenta minutos. Basta haver um feriado para o professor estar quinze dias sem ver os alunos. Em algumas escolas a redução implicou uma perda de cem aulas num ciclo. Nas ciências (Biologia e Física) a situação é semelhante. Isso tem como consequência imediata que um professor tenha inúmeras turmas de 28 alunos, com múltiplos problemas diferentes, obrigado a inúmeros planos de recuperação, a inúmeras reuniões e preenchimento de inúmeras fichas e justificações e cada vez mais, porque vai ter que provar à exaustão que determinado insucesso se pode dever a causas exteriores a si. E depois há quem se queixe que os nossos alunos não têm uma memória histórica, que não tenham quase noções, por exemplo, do que foi a República (há programas sobre História Contemporânea que nem sequer a referem), o Estado Novo ou o 25 de Abril. Eles não sabem porque não têm aulas suficientes para aprender, no meio de uma confusão de disciplinas e áreas disciplinares e com professores envolvidos em tarefas burocráticas, cada vez mais carregados com outras funções, até de resolver problemas que outras instâncias hipocritamente lançam para as escolas e constantemente pressionados para trabalharem para as estatísticas e ao mesmo tempo confrontados com estudos internacionais que demonstram não haver melhorias na aquisição de conhecimentos e competências.
O infantilismo permitido e estimulado, o puerocentrismo desresponsabilizador, o sociologismo fácil, o constante ataque aos professores, sem estudos abalizados que permitam distinguir entre boas e más práticas, têm permitido que toda a gente dê palpites e que se transformem problemas, que deveriam ser resolvidos, em simples culpabilização de professores, que deveriam, nessa óptica, ser motivadores permanentes sem exigir qualquer trabalho aos estudantes. E o remédio tem sido, mais planos, mais papéis … e invenção de mais problemas e tarefas. A acrescer, generalizaram-se situações de professores em piquete para aulas de substituição que vão passar algum tempo com alunos que não conhecem e com os quais é impossível manter uma relação pedagógica, o que tem provocado ainda mais a humilhação daqueles e a indisciplina, ao efectuar-se um trabalho considerado inútil pelos alunos e pelos próprios. Por exemplo, custa a perceber porque é que alunos dos últimos anos do secundário, com 16,17,18 anos, têm que ter obrigatoriamente aulas de substituição que os fazem perder tempo, enquanto eles precisam de estudar e preparar-se para entrar no ensino superior. Ainda por cima são os que não faltam é que têm que substituir os outros.
Agora vem uma avaliação precipitada sobre cada um dos professores. Precipitada porque começa já vai longe o ano lectivo, sem que as escolas tenham definido projectos educativos consistentes, sem diagnósticos sobre os alunos à entrada ou durante o processo, sem objectivos mensuráveis que agora se pretendem de repente, sem horários compatíveis de avaliadores e avaliados, sem a legislação ainda completa e coerente…
A DGRE decidiu que haveria quatro avaliadores por escola, sem ter em conta a diferente organização das escolas em departamentos. Os avaliadores têm que ser escolhidos entre os coordenadores já eleitos, que por sua vez só o poderiam ter sido se fossem professores titulares (uma minoria). Como no concurso do ano anterior só puderam ascender a professores titulares, entre várias condições, professores que nos últimos sete anos (porquê?) tivessem exercido determinados cargos, foram preteridos muitos professores, que têm “aguentado”as escolas nos exames e nos mal explicados e seleccionadores “rankings”, ao contrário de outros, que por quase não terem horário lhes eram dados cargos como directores de turma. Por exemplo, na minha escola ficou como avaliador para os professores de Matemática, Física, Biologia e Educação Tecnológica, um professor de Educação Tecnológica, das antigas Técnicas Agrárias. Noutra escola de Évora, de 2º e 3º ciclo ficou como avaliadora para os professores das mesmas disciplinas uma professora de Sociologia.
Que fique bem explícito que eu, como muitos, queremos também a avaliação de professores a sério, até porque durante dezenas de anos fui ficando para trás de outros, apenas pelo facto de ter menos alguns meses de serviço (e continuo) e não pelo melhor ou pior trabalho.
Se, como tudo indica pela intransigência do Ministério, for aprovado o decreto sobre a gestão, então poderemos contar em muitas escolas com o autoritarismo dos directores e com jogos locais de tomada do poder. O director vai nomear os professores do Conselho Pedagógico bem como todos os outros cargos, as Câmaras Municipais vão ter vários representantes no Conselho Geral, sem que sejam obrigadas a contrapartidas, os pais também vão ter vários representantes sem que se sintam obrigados a tomar responsabilidades, os professores têm que ficar em minoria e são considerados incapazes para presidir. Dado que na maioria das escolas, nas actuais assembleias de escola, o representante da autarquia, ou não aparece ou é um funcionário sem poderes, os pais demitem-se frequentemente, duvido muito que este sistema não se revele num aumento de poder discricionário de um órgão unipessoal.
Enfim, perante este recrudescer do autoritarismo e aventureirismo e da campanha permanente contra os professores em geral, visível e com efeitos no bloqueamento da carreira da maioria, no inferno em que começa a ser o ambiente em muitas escolas, revelado até no modo em que tantos, que antes participavam em projectos e que agora só falam em reforma, creio mesmo que se está à beira de uma ruptura que terá efeitos negativos durante largos anos.
E mais, estimula-se o medo, a humilhação, o carreirismo e a adulação, até a delação, coisas muito perigosas no Ensino, num país que teve ainda recentemente 48 anos de ditadura e miserabilismo, o que poderá não ser um fado ou um destino se assim o quiserem os representantes do povo português.
Évora, 11 de Fevereiro de 2008
João Simas

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Quintal, Cano

Passo aqui muitos dias, como Sísifo, sem nunca chegar ao fim. Ainda não consegui uma natureza domesticada nem um quintal civilizado.