segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Os professores, as grelhas e a avaliação

Todos os dias recebo grelhas sobre a avaliação dos professores. Já estou um pouco farto! Para quê esta excitação? A ministra e o primeiro-ministro que manda nela já fizeram o essencial em relação aos professores: estabeleceram-se duas carreiras e impediu-se que a maior parte subissem de acordo com o estatuto que tinham e a expectativa de há muitos anos, o que, diga-se de passagem, continua a pôr em causa a boa fé do estado, aumentaram-se os horários, mandou-se gente para o desemprego, reduziram-se os custos.

Agora, o que interessa ao governo são os resultados escolares e a diminuição do abandono. E pouco mais. Ou antes, que as quotas sejam cumpridas, que administrativamente haja uns muito bons e uns raros excelentes, para que só possam progredir uns tantos. De resto, e agora que nos vamos aproximando de eleições, até convém que quase todos tenham a classificação de bom. Fica bem até num estado que gosta de se apresentar como paternalista. Nem conviria a ninguém que houvesse muitas classificações negativas. Portanto, cuidado com as grelhas, que não se arranje lenha para queimar inutilmente ou promover alguns esclarecidos de última hora.
Por isso, custa a perceber-se porque é que em algumas escolas se anda num tremendo afã em relação a objectivos e grelhas. Há mais que fazer, há que dar aulas, ler uns livros, fazer reuniões curtas e eficazes e deixar as burocracias para quem as inventou, baixar a velocidade em relação a tarefas inúteis e perguntar aos burocratas e aos seguidistas o porquê das coisas. Até porque no regime democrático quem manda é também obrigado a responder e a explicar.

E… já agora. Que não se vote nestes nem à direita. Há sempre alternativas.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Conceição de Tavira




Conceição de Tavira.
Um outro Algarve bem perto da praia. Portal manuelino.
A ordem de Santiago de Espada bem presente.

Curso de bibliotecas escolares

Este fim de semana comecei um curso sobre bibliotecas escolares na ESE de Beja, que vai durar dois semestres. Não me dá para subir na carreira pois não há degrau para subir, mas sempre se aprendem uma coisas.
O programa e o ambiente parecem-me interessantes. As sessões são presenciais e a maioria pela plataforma moodle.

Votar à esquerda ou à direita. Votar à direita porquê?

Tenho recebido constantemente umas mensagens em que se apela aos professores para não votarem no PS e votarem à direita ou à esquerda (as razões são um rol conhecido que só pode envergonhar quem tomou as medidas e que despreza e educação).

Como sempre, convém ver o significado das palavras, o contexto e a história destas. O PS, o PSD, o CDS, o PCP, o Bloco de Esquerda já não são o mesmo que há uns anos. O PS, o PSD, o CDS falavam em “socialismo democrático” (sim, o CDS também) em 1975. O PS quando foi fundado, até era um pouco revolucionário. O homem que “meteu o socialismo na gaveta”, Mário Soares, hoje está mais à esquerda do PS e até diz que a NATO não tem sentido. O PC também mudou e o Bloco de Esquerda acabou com a linguagem maoísta e/ou trotsquista, dedicando-se a causas concretas, sem pretensão de mudar o mundo de uma vez (já ninguém pensa nisso e o PC também não).

A direita está na prática do neo-liberalismo, envolvendo partidos social-democratas (internacionalmente social-democracia pode ter outro significado). Mas mesmo esta ideologia neo-liberal recua ou deixa de ser coerente com a ideia que o mercado e Deus (o que é o mesmo, “in God We Trust”, dizem as notas do dólar norte-americano) resolve tudo, e que os que perdem, a culpa é deles porque não foram eleitos para ganharem o Céu . Nos EUA nacionalizam-se bancos, mesmo que se critique e que se tentem golpes de estado na Venezuela e Bolívia.
Mas votar à direita porquê? A direita tradicional em Portugal (falo do regime até 1974 e dos seus saudosistas), conseguiu que Portugal fosse o país da Europa com mais analfabetos, com menos pessoas com o ensino secundário e por aí adiante. Os professores(as) do ensino primário estavam sujeitos a inspecções constantes e os do ensino secundário, a maioria nem ganhava as férias, estavam sempre à disposição da autoridade do reitor nomeado. Hoje estudam cerca de 20 vezes mais pessoas que em 1973.

A outra direita (sem rumo ou travestida) já esteve, e continuamente, no poder. Também nos deixou o deficit e as despesas, sabe-se lá aonde, também fugiu para as festas e para Bruxelas.
E, é bom que a memória não seja curta, também congelou os salários e bate palmas em relação a muitas medidas que levam a que o investimento na Educação seja menor, mesmo com todas as reduções salariais (os congelamentos forçados) e o aumento do horário de trabalho dos professores (até ao absurdo das tarefas burocraticamente exigidas).

Portanto, votar à direita não. Até porque nem sabemos o que é que eles querem.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Constituição. Em vigor

Constituição da República Portuguesa
PARTE I - Direitos e deveres fundamentais
TÍTULO II - Direitos, liberdades e garantias
CAPÍTULO IIIDireitos, liberdades e garantias dos trabalhadores

Artigo 53.º(Segurança no emprego)
É garantida aos trabalhadores a segurança no emprego, sendo proibidos os despedimentos sem justa causa ou por motivos políticos ou ideológicos.

Código de Trabalho

Amanhã vai ser votado o Código de Trabalho que afecta simplesmente a maioria da população portuguesa.
Vamos ver quem são os responsáveis pela liberalização dos despedimentos e precariedade.
Abster, como parece que vai também fazer o PSD, é o mesmo que votar a favor.
Pode haver surpresas, mesmo no partido do governo. Perdoem-me a expressão, mas o que está na Constituição é o contrário: o governo só existe porque há deputados e cada deputado é responsável individualmente; foi eleito pelos eleitores e não pelo partido. O governo é que é fiscalizado pela Assembleia da República e não o contrário.
Vamos ver quem é que tomou posição e quem foi o seguidista. Porque os efeitos vão sentir-se no dia a dia e por muito tempo.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Mistificações e "jornalismo".

Fui alertado pelo meu amigo Fernando Évora em relação a a alguns dados divulgados na Visão no suplemento intitulado “O Estado da Educação”, publicado como parte integrante da edição n.º 707 dessa revista, em 21 de Setembro de 2006.

Cita-se:
« número de horas exigido aos professores, nas escolas [portuguesas], é substancialmente inferior ao de outros países.
A um professor, em Portugal, no secundário, é exigido que passe cerca de 590 horas
por ano na escola, enquanto a um seu colega sueco se exige um total anual de 1360
horas. Aberrante?».

A informação ter-se-à baseado nas estatísticas da OCDE, Education at a Glance 2006
A publicação actual, Education at a Glance 2008, já aqui referida, indica como horas de trabalho na escola, 1360 para a Suécia e 1260 para Portugal, sendo que, em Portugal, no 1º ciclo corresponde a 860 horas lectivas (média da OCDE 812) e no ensino secundário 664 (média da OCDE 664). Para a Suécia não há actualmente este indicador mas, no mesmo quadro, é referido que, em ano anterior, é de 624, no 1º ciclo e 528 no ensino secundário; menos que em Portugal).

Portanto, há aqui uma mistificação deliberada: Os professores portugueses não passaram em dois anos de 590 horas para 1260. E, na Suécia, os dados dizem que não aumentaram as horas de trabalho, sendo que têm menos horas lectivas.

Essa mistificação passou, ao comparar coisas que até não são comparáveis. E não foi desmentida por uma revista que acha que é credível. E essa revista poderia ter simplesmente consultado a legislação portuguesa e informar-se junto das escolas. Mas é mais fácil propagandear preconceitos e mandar os métodos de investigação e a deontologia dar uma volta.

Mas põe-se ainda outra questão muito séria. Porque é que a OCDE tem, alegadamente, esta disparidade de dados, de 2006 para 2008? É certo que aparece um aumento de 1,2 (no que respeita ao ensino secundário, mas em relação às horas lectivas). Mas passar de 590 horas para 1260?

Só há uma explicação. Quem fornece os dados à OCDE é o governo português. Em 2006 incompetente ou deliberadamente misturou as horas lectivas com o trabalho total (que nem sequer é esse que agora se apresenta).
E com isto se fez política. Não! Propaganda com os "suspeitos do costume".

Haja Visão!!
Certamente pagaremos a factura.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Salários dos professores. Por hora lectiva com 15 anos de serviço.

Clicar na imagem. A tabela foi ordenada por ordem descendente no ensino secundário. Há países que não apresentam dados, como a Inglaterra, a Suíça ou o Japão.
Fonte: Table D3.1. (continued) Teachers' salaries (2006), Education at a Glance, OECD, 2008


Remuneração por hora lectiva com 15 anos de serviço.
A comparação mais legítima, parece-me que é a dos professores com 15 anos de serviço. Por um lado, porque quase não há professores no início de carreira (e aí os salários portugueses são muito baixos) e, por outro, com a divisão da carreira entre professores e professores titulares, a maioria não pode chegar ao último escalão da carreira, embora seja esse dado que o governo gosta de apresentar.
Os professores portugueses estão muito abaixo da média da União Europeia e da OCDE.

Comentário: há muitos jornalistas e comentadores que precisam de consultar estes dados.

sábado, 13 de setembro de 2008

O trabalho dos professores. Dados da OCDE




Clicar para aumentar as imagens.
Os professores portugueses leccionam mais horas que a média dos professores da União Europeia. De 1996 para 2006 aumentou o número de horas entre 10% (1º ciclo) e 20%, ao contrário de outros países.
Num ranking de 31 países os professores portugueses estão em 11º lugar.
Evidentemente não se contam aqui as inúmeras reuniões e burocracias que têm aumentado exponencialmente em Portugal nos últimos anos.

Educação. Dados da OCDE




Portugal (clicar para aumentar as imagens) é o país que tem menos adultos com o ensino secundário, a par da Turquia.
O investimento por estudante coloca-nos num "ranking" de 33 países em 22º.
Para recuperar o tempo perdido teria que se investir muito mais.
Há também factores que raramente são tidos em conta, como o preço dos equipamentos e construções. Não está provado (frequentemente é até o contrário) que o custo dos edifícios, computadores ou livros seja mais barato em Portugal que noutros países.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

As invasões francesas e a opressão local

Há uns anos estava a fazer um estudo sobre o poder local em Arraiolos e deparei com umas actas de 1807 e 1808, com umas requisições e obrigações, escritas em português, emanadas de um general e nobre português, mas em nome de "Sua Magestade Imperial e Rey de Italia". Tratava-se simplesmente de Napoleão e de tropas portuguesas às suas ordens, aliás com a anuência da regência (de D. João), que já vivia no Rio de Janeiro. Essas tropas portuguesas (uma parte do exército foi dissolvido), combateram, como Legião Portuguesa, em toda a Europa e até na campanha da Rússia. Alguns quando voltaram a Portugal eram sistematicamente suspeitos ( e quantos não foram enforcados), apesar de quase toda a gente ter sido obrigada, até pela coroa portuguesa, a obedecer aos franceses.
Para a época, o exército francês era o mais bem organizado e o mais rápido nas suas movimentações. Mas esta rapidez fazia-se à custa das populações locais que ficavam sem nada. Foi essa força que os russos transformaram em fraqueza ao incendiarem os seus campos agrícolas e até a sua capital, deixando os franceses à fome e frio.
Segue parte do texto; em itálico extractos de actas da Câmara de Arraiolos, com grafia actualizada:

As autoridades portuguesas começam por colaborar com os invasores em 1807, aliás por ordem do príncipe regente, mas estes, apesar de se assumirem como protectores, em breve começam a fazer requisições, aquartelamentos de tropas (francesas e também espanholas), impostos extraordinários...

Por ordem do Marquês de Alorna, futuro comandante da Legião Portuguesa, a Câmara de Arraiolos executa as suas determinações :

[...] em cumprimento das Ordens de Exmº Snr. Marquês de Alorna, Tenente General, que Governa as Armas desta Província; ... se nomeassem doze Cabos, a cada um dos quais fosse encarregado apresentar uma carreta com dois bois que pudesse carregar vinte e cinco arrobas ... E do mesmo modo se nomeará três homens para apresentar as três bestas maiores que se pudesse, devendo-se estas avaliar no dia vinte e cinco, porque no dia vinte e oito pela manhã se devem entregar na Vila de Estremoz.

Seguir-se-ão outras requisições ainda mais pesadas. Em 2 de Dezembro de 1807 a Vereação de Arraiolos vê-se obrigada a apoiar o exército invasor: “E logo se determinou que dêm todas as providencias para o bom agasalho das tropas do Imperador dos Franceses, e Rei de Itália e do Rei de Espanha que por esta terra transitem ...”

Além das requisições o exército francês impõe contribuições extraordinárias:

Nesta elegeram para comissários para Colectarem uma Contribuição extraordinária de guerra deitada [?] por ordem Imperial à Comarca da Cidade de Évora de Vinte e oito Contos de Réis para se destribuirem pelas terras agregadas à dita Comarca"

Chumbo Tecnológico

Recebi do meu primo Zé este texto que demostra a falta de respeito pelos cidadãos ao abrigo de pretextos tecnológicos, com exclusão de regras elementares de cidadania e até de bom senso

REGRESSO ÀS AULAS
(carta pública com conhecimento às entidades implicadas)
Fala-se por todo o lado do regresso às aulas e da diminuição do número de “chumbos” nos exames de Matemática, no ano lectivo anterior.
Eu, este ano, não vou regressar às aulas; “chumbei” no concurso para a contratação de professores para o ano lectivo de 2008/09.
Não! Não foi por motivo de avaliação; essa afinal não interveio na classificação dos professores contratados.
Tenho andado a contactar colegas de anos anteriores, a saber se e onde foram colocadas(os). Simultaneamente tenho vindo a ser contactado por outros(as) colegas e amigas(os) que não sabiam do meu caso e que ficaram boquiabertos com o sucedido.
Efectivamente, fui excluído, logo no início do concurso, em Abril, por regras protectoras de um programa informático medíocre e indiciadoras de desprezo e intolerância face ao erro, ainda que acidental.
Qualquer programa informático de comunicação de dados ou de preenchimento de formulários, tal como as declarações de impostos do Ministério das Finanças, (supostamente mais “frio” e insensível que o Ministério da Educação), alerta para incompatibilidades quer de valores, quer de dados (somas, percentagens mal calculadas, códigos postais ou números de identificação fiscal errados) e não aceita a submissão dos dados sem que se proceda à correcção da incoerência em causa. Se porventura algum erro subsistir, que não advenha da incompatibilidade dos dados introduzidos, é ainda possível de ser corrigido junto de uma Repartição de Finanças, ou obter resposta a uma exposição escrita.
Ao preencher o formulário de candidatura à contratação de professores e ao fazer uma releitura para verificação dos dados, o mecanismo de rotação do rato terá desviado (sem que me tenha apercebido) o código do grupo de docência a que me candidatava e que já tinha seleccionado, para um outro, para o qual não tenho habilitação profissional.
O programa não detectou a incompatibilidade entre os códigos (430 da habilitação – Economia – com o 400 – História - do grupo de docência a que, por erro acidental, estava a candidatar-me). Este tipo de erro ou engano, entre alguns outros, exclui do concurso os candidatos “infractores”, sem qualquer hipótese de recurso, para comodidade ou comodismo da instituição (Direcção Geral de Recursos Humanos de Educação).
Já um erro ou a hipótese de um engano, voluntário ou não, na introdução do tempo de serviço, a favor do candidato, por exemplo, se for detectado (porque pode não sê-lo), é passível de correcção na fase seguinte do concurso. Caso o engano, por qualquer motivo, não seja detectado no processo de validação, o candidato passará à frente de outros colegas mais graduados.
Nos exames nacionais ou de escola, dos alunos, se na resposta a uma questão o resultado final for incoerente com o raciocínio exposto, a resposta não é anulada. Também uma classificação inferior à esperada tem direito a recurso e a resposta.
Acontece que até à data não recebi resposta à exposição/requerimento enviada ao Director Geral dos Recursos Humanos de Educação, em carta registada com aviso de recepção, logo que fui informado da minha exclusão, pelo estabelecimento de ensino em que prestava serviço, em finais de Abril do corrente ano.
Poderiam argumentar que o Aviso de Abertura do Concurso explicitava os erros que implicavam a exclusão do candidato. Mas é isso mesmo que está mal; não é admissível, com tanta tecnologia disponível, permitir que tal debilidade do programa facilite o comodismo da instituição em prejuízo dos utentes.

Miratejo, 11 de Setembro de 2008
José Baeta Oliveira
Professor Profissionalizado

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Tavira. Telhados de tesouro


Telhados de tesouro (de quatro águas) em Tavira. Segundo Orlando Ribeiro são de influência indiana (goesa). Estas gentes noutros tempos circulavam por todo o lado. Tinham negócios no Norte de África ( e tal como os de lá também pirateavam), na Índia, no Brasil, andavam na pesca do bacalhau ... Os Corte Real que teriam descoberto a costa do Canadá eram de Tavira.
O rio (?) aqui chama-se Gilão. Mais a montante chamam-lhe Asseca. Numa placa na ponte da via do Infante aparece o nome rio Séqua. Quem ler esse nome pode pensar que é de origem latina. Simplesmente quem pôs a placa não ligou à população, presumindo talvez que fossem uns ignorantes analfabetos. Ora as pessoas têm razão: asseca, acéquia, é uma palavra de origem árabe que significa curso de água.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

A extinção da Química e de outras disciplinas

A Química desapareceu no décimo segundo ano no distrito de Évora. A Física também está quase.
Os alunos que querem tirar cursos de Medicina, Farmácia, algumas engenharias optam por Psicologia ou outras disciplinas, porque o que interessa a curto prazo é a média.
A burocracia impede as opções. Se em cada escola houver apenas alguns alunos a optar por essas disciplinas, não havendo um número mínimo nenhuma escola poderá ter essa opção.

As universidades ou escondem a cabeça na areia ou optam pela facilidade de ter mais alunos (e financiamentos per capita).
É mais fácil dizer que os alunos não aprenderam certos conhecimentos no ensino secundário e "chumbá-los" no primeiro ano, do que exigir, em exames à entrada ou entrevistas estruturadas, que eles tenham certos conhecimentos e competências. E ainda por cima com licenciaturas de 3 anos! Querem competir com Cambridge ou até com certas universidades brasileiras? Esperem sentados!

O Grego desapareceu em quase todo o país, o Latim segue o caminho (qualquer dia temos que ir para a Finlândia para aprender a base das línguas latinas), a Filosofia está a entrar pelas ruas da amargura, "ninguém" quer saber da língua que mais gente fala na Europa comunitária (o alemão); a Literatura Portuguesa reduziu-se às funcionalidades da língua (cantigas de amigo para quê?).
O utilitarismo de curto prazo está na moda.
Salve-se o Plano Tecnológico que vai chegaando e ... a futura geração de dactilógrafos modernos!

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Sobre a política e religiões nas escolas

Hoje, embora não seja ainda obrigatório, é quase consensual que a escolaridade de um jovem seja o 12º ano, nos cursos científico-humanísticos (que têm em vista o prosseguimento de estudos no ensino superior) ou nos cursos tecnológicos (em extinção) ou ainda nos profissionais.

Um estudante de 12º ano tem 17 ou 18 anos, atinge a maioridade legal no final deste ciclo de estudos ou está prestes a atingi-la. Pode votar e fazer outras coisas. Deve conhecer minimamente a sociedade onde vai poder participar de uma forma ou de outra. E, portanto, deve ter a possibilidade de escolher, mesmo que a sua escolha seja a recusa. O que não deveria acontecer é a situação de não ter conhecimentos nem instrumentos que não lhe dêem a oportunidade de ser cidadão de pleno direito. O Estado tem aí um papel essencial, através do sistema de ensino, não pela inculcação de valores (já passou a moda dos totalitarismos !?), mas pelo permitir e incentivar as pessoas a participar conscientemente.

Por isso, penso que é essencial os jovens conhecerem as ideologias e práticas políticas, actuais e também a sua história, a administração nacional, regional e local, os órgãos de soberania etc.
Já existe uma disciplina de Ciência Política no 12º ano. Mas é opção, tal como Psicologia, Direito, Física ou Química, o que torna difícil optar.

Não creio que fosse muito difícil incluir uma disciplina de Ciência Política ou Introdução à Política ou Educação Cívica, obrigatória no Ensino Secundário. Bastaria uma aula por semana.

O mesmo em relação às religiões. Quer se seja ateu, agnóstico, praticante ou não, não se pode ignorar o fenómeno religioso nem a sua importância na cultura. Também não se pode só deixar as religiões entregues à ignorância ou ao proselitismo. Um jovem deveria ter a possibilidade de conhecer os princípios e práticas religiosas das várias religiões e não apenas de uma única, para que possa compreender este mundo globalizado.

São escolhas possíveis. Com a ignorância apenas ganham a alienação, a indiferença e os fanatismos.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Mértola e a memória islâmica



Após a reconquista, Mértola ficou sob o domínio da Ordem de Santiago, constituindo-se numa comenda. Os cavaleiros espatários impuseram o cristianismo romano e esforçaram-se por banir tudo o que fosse diferente da sua religião, nomeadamente da cultura e civilização islâmica.

No entanto, ainda no século XV encontramos em Mértola uma situação quase “escandalosa”, do ponto de vista da Ordem, em relação a práticas religiosas. Na visitação efectuada pela Ordem de Santiago em 1482, constata-se o estado em que se encontrava a Igreja Matriz que, para além da degradação ou ausência de alfaias litúrgicas, estava em parte sem cobertura. Mas, mais interessante, é o facto de os moradores ainda continuarem a rezar voltados para Meca, isto é, o altar mor estava no lugar do mirhab, a que o autor chama alcaram, situação com que o visitador não contemporiza.


12. Item achamos que os altares que aguora estam na dicta igreja, scilicet ho altar moor e onde está ho Sacramento nom estam em boom logar, pollo qual mandamos em virtude d'obidiencia ao comendador moor que mude o dicto altar moor onde estava ho alcaram que hé no meyo das naves da igrreja e hé pera onde nace o ssoll onde per dereito (Fl. 6r) deve d'estar. E o sacrario se porá dentro no oco da torre em cima do altar moor e huum retavolo em cima delle


Parece também que muitos moradores ou não assistiam ao ofício divino ou simplesmente ficavam em "palratórios" do lado de fora da Igreja.


22. Item mandamos ao dito priol ou cura que amoeste todos seus freguesses que aos domingos e festas principaees estêm a todo oficio devino dentro na igreja e nom fora em palrratorios, sô pena d'escomunhom
18. Item lhe mandamos que em cad'huum anno faça confessar e comungar todos seus frreguesses amoestando-os em suas estaçõees e os que comtumazes forem os denuncie e nom dires missa com elles e mandá-los-es em Rol a Dom Priol em cad'huum anno até Pinticoste pera averem correiçom e vos amandar a maneira que nelo tenhaes que seja a serviço de Deus e bem das suas almas .

in João Simas, O Rio e os Homens ... pág. 95

Jesus em Alcoutim











Igreja Matriz de Alcoutim.
Geralmente encontramos Cristo na cruz. Nesta igreja vemos Jesus em várias idades e como Salvador do Mundo.
A igreja é essencialmente de meados do século XVI e tem um número assinalável de imagens e colunas com capitéis variados.
A ordem de Santiago também mandou por aqui.





quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Almeida














Almeida foi uma importantissima praça militar. Fica na raia, num planalto de fácil entrada para quem vem de Espanha (Vilar Formoso, neste concelho, ainda é a principal fronteira). É terra antiga mas as impressionantes construções militares são sobretudo do tempo da Restauração e do século XVIII.
Aguentou as invasões francesas há duzentos anos. Só foi tomada pelo exército francês comandado por Massena porque explodiu o paiol.
Não fossem estas praças militares (como Elvas, Estremoz, Valença e outras) e a tenacidade dos exércitos e povos Portugal teria sido uma província de Espanha ou de França.
Poderão alguns pensar que talvez fosse melhor sermos espanhóis (e somos, no sentido etimológico do termo, não fosse a usurpação da palavra pelos nossos vizinhos). Mas o "Reino de Espanha" (e está por provar se a maioria são monárquicos), é um verdadeiro "saco de gatos", com nacionalistas espanhóis, catalães, bascos, galegos. . .
Não me parece que qualque governo espanhol poderia estar interessado em, ainda por cima, ter portugueses, que já deram sobejas provas ao longo da História, sobre o que poderia ser o pandemónio de uma Península Ibérica unificada.

Dos degredos e degradados




Ordenações Filipinas
Livro V
Titulo CXL

Mandamos que os delinquentes, que por suas culpas houverem de ser degradados para lugares certos, em que hajão de cumprir seus degredos, se degradem para o Brazil, ou para os lugares de Africa, ou para o Couto de Castro Marim, ou para as partes da India [...]


Notas: As Ordenações Filipinas (de Filipe I) foram publicadas nos finais do século XVI e estiveram em vigor até ao início do regime liberal em Portugal, no século XIX. No Brasil continuaram parcialmente em vigor até 1916.

Castro Marim, rodeada de sapais e, portanto, de mosquitos, comunicava com outras povoações pelo rio Guadiana ou, muito dificilmente, por caminhos da serra algarvia infestada de ladrões e outros perigos. Em frente estava Ayamonte e o "perigo espanhol".

Como havia falta de gentes, era couto de homiziados, isto é, davam-se privilégios a condenados noutras terras para aqui habitarem.

Barcos antigos


Barcos antigos em Vila Real de S. António.
Não seria de começar a pensar em fazer um museu das pescas, antes que os barcos apodreçam, que os edifícios das fábricas sejam demolidos, que as máquinas enferrugem ..., que a memória desapareça?

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

O desporto sem fronteiras


Travessia a nado entre Ayamonte e Vila Real de Santo António, no rio Guadiana, durante a maior maré cheia do ano.
Desportistas de várias idades, sexos e nacionalidades.
Sem televisões nem foguetes nem discussões sobre o sexo dos anjos e desculpas sobre qualquer coisa.
Vê-se também o Peninsular, um dos barcos que ligava as duas margens e que hoje faz viagens de Alcoutim a Tavira com excursões animadas (com sardinhas, febras e música "pimba"). E por que não!?