domingo, 27 de julho de 2008

Vaca

Apenas uma vaca alentejana. A fugir de um intruso que lhe perturbou o sossego da pastagem.

Sobreiros


Sobreiros. Demoram quarenta anos até começarem a dar boa cortiça. Mas também os animais aproveitam a lande. E no montado também se fazem outras culturas.
Experiências de séculos. E que continuam a dar resultado.
É preciso planear a longo prazo.

Auto-estradas

Para fazer a autoestrada entre Lisboa e Elvas foi preciso muita brita.
Desta pedreira extrairam-se muitas toneladas. Onde se vê uma paisagem "lunar" havia há uns anos olivais. Nada se fez para rearranjar a paisagem. A população da freguesia (Cano) nada ganhou com isto.

Torre do Álamo, Cano.



A Torre do Álamo (Cano) é um pouco desconhecida ou insuficientemente estudada. Parece uma torre do século XV, à semelhança de outras perto de Évora. Esta está na freguesia do Cano, entre esta terra e Estremoz. Vêem-se restos de um aqueduto e de uma antiga barragem. Há uma estrada com uma ponte já muito derruida. Os campos são férteis e há muita água. É possível que tenha uma origem romana. A população associa-a a Camões. Bem perto, em Avis, existia essa família. Também entre Évora e Aguiar há uma torre semelhante chamada Camoeira. Também fica perto de uma estrada (entre Évora e Beja).

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Memória da repressão e da guerra civil de Espanha



Vale a pena consultar imagens e textos da Guerra Civil de Espanha
em
http://pares.mcu.es/ArchivoRojo/inicio.do

Texto de apresentação:

Este valioso conjunto fotográfico, fue creado por la Junta de Defensa de Madrid como Fondo propagandístico para denunciar los desastres de la Guerra Civil. Posteriormente, fue ocultado y utilizado por el otro bando como instrumento de represión de las ideas políticas. Hoy, sus imágenes, nos acercan más a los actos encaminados para el recuerdo y homenaje de las víctimas de los bandos en guerra y para que la sociedad actual reafirme los lazos de convivencia política y social recogidos en el espíritu de la Constitución de 1978.

Para que não se esqueça que houve uma República, com parlamento eleito que acabou com uma violenta guerra civil e um dos regimes mais repressivos da Europa Ocidental.

Ainda as boas ideias do Ministério da Educação

12 — A área curricular referida no número anterior deve ser planeada, desenvolvida e avaliada, com recurso a parcerias com entidades governamentais e não governamentais, externas à escola, que apoiem a realização dos projectos e facilitem o intercâmbio de experiências entre escolas através da realização de concursos, visitas de estudo, encontros nacionais, exposições e de outras iniciativas divulgadas e apoiadas pelo ME ou entidades locais.

Apenas alguns esquecimentos. A velha questão dos ovos e das omeletes.
O orçamento da Educação foi reduzido. Já há muito tempo que não há verbas para visitas de estudo. Na maior parte dos casos os alunos têm que pagar, o que põe problemas em relação à igualdade de oportunidades. Os professores que organizam, além do tempo de preparação, têm que acompanhar os alunos e responsabilizar-se por eles e ainda fazer planos para as aulas que teriam nesse dia ou fazer permutas para os dias seguintes. E, nos dias seguintes, há sempre uma nova reunião sobre tarefas prescritas por um novo despacho, assinado ou não, outro decreto ou despacho que contraria ou rectifica ou impõe novos prazos e novas tarefas e etc. etc.

E ainda por cima vem quase sempre uma "criticazinha", que os professores vão passear. Mas essa é velha neste país e com essa podemos passar adiante.

Para o ano há mais

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
Gabinete do Secretário de Estado da Educação
Despacho n.º 19308/2008


10 — Ao longo do ensino básico, em área de projecto e em formação cívica devem ser desenvolvidas competências nos seguintesdomínios:

a) Educação para a saúde e sexualidade de acordo com as orientações dos despachos n.os 25 995/2005, de 28 de Novembro, e 2506/2007, de 23 de Janeiro;

b) Educação ambiental;


c) Educação para o consumo;

d) Educação para a sustentabilidade;

e) Conhecimento do mundo do trabalho e das profissões e educação para o empreendedorismo;

f) Educação para os direitos humanos;

g) Educação para a igualdade de oportunidades;

h) Educação para a solidariedade;

i) Educação rodoviária;

j) Educação para os media;

k) Dimensão europeia da educação.

Comentários: Em princípio nenhum. Está à vista que os professores serão os únicos responsáveis pela Educação total.
Mas sempre gostaria de perceber melhor o que se entende por sustentabilidade e dimensão europeia da educação. Será que vamos ser obrigados a demonstrar aos alunos que há países onde se ganha melhor, onde, aquilo que agora chamam regalias (palavra medieval quase) lá chamam direitos, onde há mais respeito pelo ambiente, pelas pessoas etc. ?
O Ministério nem sempre tem más ideias. Certamente com tantos princípios e programas também irá rever o horário de trabalho.

Se tiver algum tempo e dinheiro ainda vou tirar a carta de pesados; e já agora a de marinheiro. É que convém ter mais alguma experiência para ensinar coisas.

Ruas

Rua, em Avis
Se fosse hoje, as ruas não poderiam ser tortas e teriam que ter a mesma largura, os muros teriam que ser da mesma altura, as cérceas também, as janelas normalizadas, as chaminés também, a construção em terra e pedra levaria anos a aprovar ou não, de acordo com os cálculos dos engenheiros que trabalham em betão ...A calçada ainda escaparia se houvesse financiamento da União Europeia, se não seria em alcatrão...

É tempo de caianças.

Avis
Quintal, Cano
É tempo de caianças ou, como se diz em português mais oficial, caiações.
É também nos pormenores que se percebem as culturas. Mesmo num telhado velho há pequenos requintes.

O melro



Finalmente apanhei este pequeno ladrão (com a máquina fotográfica claro).
Pensava que eram só os pardais que me comiam as uvas. E as rolas turcas, essas chatas que vieram para ficar.
Hoje pude observar a técnica: não se limitam a bicar, levam logo uma uva inteira.
Como percebo pouco de aves, perguntei a uma senhora se um pássaro preto e de bico amarelo era um melro. Acho que ela não percebeu bem a palavra mas respondeu-me:
- Preto e de bico amarelo é um "merlo".
Tem alguma razão. Em latim dizia-se "merulum".

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Mário Soares, Chávez e Lula -1

Não gosto particularmente da política de Mário Soares, sobretudo em 1975 e enquanto foi primeiro-ministro. Isso não significa que não o escute (afinal trata-se de uma personalidade relevante da política do século XX em Portugal, como Afonso Costa, Salazar e Álvaro Cunhal).
E, claro, distingo-o de muitos outros. Como pessoa, não tenho nada contra, é afável, sabe captar simpatias e mostra-se como um homem comum, de tal maneira que ninguém já o critica por dormir as suas sestas em qualquer lado, incluindo reuniões internacionais ou congressos. Luta por princípios democráticos e tem algumas preocupações sociais. Tem feito algumas entrevistas históricas que a RTP não tem programado bem nem divulgado suficientemente. Vi parcialmente duas: com Chávez, presidente da Venezuela e Lula, presidente do Brasil.

São países a que os portugueses devem dar uma atenção especial. O Brasil, pelas suas relações históricas com Portugal, pela língua e cultura, pelos investimentos das empresas, pelos emigrantes e imigrantes, pelo facto de ser uma potência emergente no quadro da América do Sul e a nível mundial. Convém não esquecer, por exemplo, que o Brasil tem universidades entre as cem melhores do mundo (Portugal não tem nenhuma) ou que São Paulo é a “cidade-locomotiva” da economia e das artes e cultura da América do Sul.
A Venezuela é um grande exportador de petróleo e tem uma comunidade de portugueses significativa.

Se nos lembrarmos do que se passava ainda há poucos anos na América do Sul, nos anos setenta, tínhamos algumas das ditaduras mais repressivas do mundo (Chile de Pinochet, Brasil do general Geisel e outros, Argentina com Videla … Uruguai, Paraguai, etc.). Outros, poucos, formalmente tinham uma democracia, como a Venezuela, mas a corrupção e o elitismo no poder eram a característica mais evidente. Usaram a receita neo-liberal, mesmo depois das ditaduras, uma enorme dependência externa, forte endividamento, ao FMI e Banco Mundial, inflação galopante, diferenciação social gritante, pobreza extrema (em países como a Venezuela, Peru ... com grandes discriminações em relação à população de origem indígena), pobreza extrema, analfabetismo etc.
Nestes países, a classe dominante na política era tradicionalmente pró-americana e pró-europeia, encantando-se facilmente com a dependência face aos EUA, que aliás dominavam grande parte da sua economia, através das empresas multinacionais e, politica e militarmente, através da CIA, das alianças, da formação de oficiais em academias militares e mesmo da intervenção directa.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Estremoz e a Restauração

Estremoz foi sempre um importante centro militar. Aliás, e sem ter provas fidedignas, creio que o próprio nome da cidade relaciona-se com uma fronteira que já existiu na Idade Média, tal como a Estremadura portuguesa ou a Extremadura espanhola (leonesa) ou até como a vila de Fronteira, relativamente perto. A história dos tremoços que até aparecem no brasão não me convence.
Durante a Restauração foi um importante centro militar e assim continuou até ao século XIX e ainda hoje possui um regimento de cavalaria, os Dragões de Olivença (para o Alentejo e Algarve já só existem os regimentos de Estremoz, Vendas Novas e Beja).

Perto de Estremoz deram-se algumas das grandes batalhas da quase interminável guerra da Restauração, após 1640: Ameixial, Montes Claros (muito próximas) e Linhas de Elvas.
A par de Elvas, Almeida, Valença e muitas outras (Olivença, Évora, Campo Maior etc.) as fortificações do século XVII marcam tempos difíceis para o Alentejo e outras zonas raianas.

Se somos independentes, o que hoje não sei se é um valor importante, devemos pensar em todo o esforço militar, popular e até aristocrático e também da comunidade judaica portuguesa de Amesterdão e de outras partes, que permitiu uma longa guerra pela independência de 1640 a 1668 e mais as que se seguiram. E as fomes e despovoamentos das guerras.

Aos catalães também a devemos. Revoltaram-se também em 1640, a revolta de "Els Segadors", os ceifeiros que a partir de Barcelona começaram os motins contra a monarquia dos Habsburgos (filipina) e pela recuperação do antigo reino "federal" de Aragão (e da Catalunha, Valência, Baleares, Sicília, ilhas gregas ...) e que permitiram que os portugueses se organizassem enquanto o multinacional exército espanhol lutava em várias frentes. D. Francisco Manoel de Mello, melhor que ninguém na época, relata essa situação.

Em cima, dominante, a torre dionisina, em mármore, eleva-se na paisagem, contra os mouros que poderiam regressar, contra leoneses e castelhanos que estavam interessados em mandar nestas terras.

Estremoz. Paços de D. Dinis


Um bom exemplo de arquitectura civil gótica.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

14 de Julho. Não apenas o dia nacional da França

Em 14 de Julho comemora-se a tomada da Bastilha, a libertação dos presos políticos e a Revolução Francesa. Não apenas um dia célebre para a França mas também para o mundo.
A Marselhesa tornou-se o hino. Há quem a critique por ser demasiado agressiva. O nosso, que nele também se inspira, também.
Mas os símbolos não se podem mudar ao sabor das circunstâncias.
A cidadania, a nação dos cidadãos, a Res Publica, a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade comemoram-se.
Tanto o hino, como a revolução continuam a dar polémica, mesmo passados mais de duzentos anos.
Como se dizia há uns anos: as liberdades conquistam-se; não se dão.

Num país como o nosso, com trezentos anos de Inquisição e 48 de ditadura há que não esquecer que se vivemos num regime mais ou menos democrático, devemo-lo também a muita gente e somos responsáveis por não voltar atrás. É que há sempre por aí alguém à espreita, que gosta de intimidar os outros... nem que seja por interesses mesquinhos!

Ainda hoje me emociono quando vejo o filme "Casa Blanca" na cena em que cantam a Marselhesa.

REFRAIN

Aux armes, citoyens !
Formez vos bataillons !
Marchons, marchons !
Qu'un sang impur...
Abreuve nos sillons !


COUPLETS

I
Allons ! Enfants de la Patrie !
Le jour de gloire est arrivé !
Contre nous de la tyrannie,
L'étendard sanglant est levé ! (Bis)
Entendez-vous dans les campagnes
Mugir ces féroces soldats ?
Ils viennent jusque dans vos bras
Égorger vos fils, vos compagnes.
Aux armes, citoyens ! Etc.

[...]
VI
Amour sacré de la Patrie
Conduis, soutiens nos bras vengeurs !
Liberté ! Liberté chérie,
Combats avec tes défenseurs ! (Bis)
Sous nos drapeaux que la Victoire
Accoure à tes mâles accents !
Que tes ennemis expirants
Voient ton triomphe et notre gloire !
Aux armes, citoyens ! Etc.

[...]
VIII
Nous avons de la tyrannie
Repoussé les derniers efforts ;
De nos climats, elle est bannie ;
Chez les Français les rois sont morts. (Bis)
Vive à jamais la République !
Anathème à la royauté !
Que ce refrain, partout porté,
Brave des rois la politique.
Aux armes, citoyens ! Etc.
[...]


O rancho do Cano











O rancho do Cano, que já foi dos mais célebres do Alentejo, estava parado há doze anos.
Ontem renasceu para o público da terra.
Foi uma emoção colectiva. Faz parte da identidade da vila.
Cantaram-se e dançaram-se as "saias", mazurcas e o "jogo do pau".
É de referir, a persistência e a vontade de tanta gente que participa no rancho e, em especial, o senhor João Leão, que continua com 75 anos de idade, a manter uma voz jovial, um entusiasmo pela terra e pela música e uma emoção, trabalho e abnegação que hão-de trazer frutos.
Apesar do pessimismo, o Alentejo não morreu.

Avis


























Avis foi também a sede de outra ordem militar. Tinha jurisdição sobre muitas vilas do Alto Alentejo e até do Baixo Alentejo (Noudar/Barrancos).
Ainda hoje surpreende a monumentalidade do antigo convento de São Bento de Avis, situado na cidadela e que ainda alberga vários serviços, como a Câmara Municipal. Um conjunto enorme, parcialmente em ruínas, em que parte também tem servido de habitação popular.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Ainda a gestão das escolas ... e o Conselho Geral

Decreto-Lei n.º 75/2008 de 22 de Abril

Finalmente, o presente decreto -lei corresponde a um terceiro objectivo: o reforço da autonomia das escolas.
A necessidade de reforçar a autonomia das escolas tem sido reclamada por todos os sectores de opinião. A esta retórica, porém, não têm correspondido propostas substantivas,
nomeadamente no que se refere à identificação das competências da administração educativa que devem ser transferidas para as escolas.
Convém considerar que a autonomia constitui não um princípio abstracto ou um valor absoluto, mas um valor instrumental, o que significa que do reforço da autonomia das escolas tem de resultar uma melhoria do serviço público de educação. É necessário, por conseguinte, criar as condições para que isso se possa verificar, conferindo maior capacidade de intervenção ao órgão de gestão e administração, o director, e instituindo um regime de avaliação e de prestação de contas. A maior autonomia tem de corresponder maior responsabilidade
.
A prestação de contas organiza -se, por um lado, de forma mais imediata, pela participação determinante dos interessados e da comunidade no órgão de direcção estratégica e na escolha do director e, por outro lado, pelo desenvolvimento de um sistema de auto -avaliação e avaliação externa. Só com estas duas condições preenchidas é possível avançar de forma sustentada para o reforço da autonomia das escolas. Essa autonomia exprime -se, em primeiro lugar, na faculdade de auto -organização da escola.

Comentário: vamos a ver.

Continuando:


Conselho geral
Artigo 11.º
Conselho geral
1 — O conselho geral é o órgão de direcção estratégica responsável pela definição das linhas orientadoras da actividade da escola, assegurando a participação e representação da comunidade educativa, nos termos e para os efeitos do n.º 4 do artigo 48.º da Lei de Bases do Sistema Educativo.
[...]
Artigo 13.º
Competências
1 — Sem prejuízo das competências que lhe sejam cometidas
por lei ou regulamento interno, ao conselho geral compete:
a) Eleger o respectivo presidente, de entre os seus membros, à excepção dos representantes dos alunos;
b) Eleger o director, nos termos dos artigos 21.º a 23.º do presente decreto -lei;
c) Aprovar o projecto educativo e acompanhar e avaliar a sua execução;
d) Aprovar o regulamento interno do agrupamento de escolas ou escola não agrupada;
e) Aprovar os planos anual e plurianual de actividades;
f) Apreciar os relatórios periódicos e aprovar o relatório final de execução do plano anual de actividades;
g) Aprovar as propostas de contratos de autonomia;
h) Definir as linhas orientadoras para a elaboração do orçamento;
i) Definir as linhas orientadoras do planeamento e execução, pelo director, das actividades no domínio da acção social escolar;
j) Aprovar o relatório de contas de gerência;
l) Apreciar os resultados do processo de auto-avaliação;
m) Pronunciar -se sobre os critérios de organização dos horários;
n) Acompanhar a acção dos demais órgãos de administração e gestão;
o) Promover o relacionamento com a comunidade educativa;


Comentário2: vamos a ver o que é que isto dá.
Comentário 3 ou pergunta retórica: será que os poderes são tão pequenos que não valerá a pena discutir projectos?

Sublinhados nossos

Alcáçovas. Outra igreja salão



Estremoz. Igreja de Santa Maria












Estremoz é uma cidade de grandes espaços e monumentalidade. A cidade pertencia ao rei e nela viveu Isabel de Aragão, depois Rainha Santa, e foi sempre um importante centro militar, sobretudo nas guerras da Restauração.
A Igreja de Santa Maria é da segunda metade do século XVI, é uma igreja salão, com as abóbadas ao mesmo nível e tem uma planta quadrada, caso raro em Portugal. As colunas são monumentais. Inclui-se num grupo de igrejas como a de S. Antão, em Évora ou a matriz das Alcáçovas. O culto de S. Isabel, com o milagre das rosas estão também aqui presentes.

domingo, 6 de julho de 2008

As palavras ... e o Conselho Geral das escolas.

As palavras têm significado. Não podem estar a dizer uma coisa e o seu contrário.
Vem isto a propósito de um artigo neste blogue sobre o Conselho Geral. Recebi comentários irritadíssimos. Porquê? Não o sei ao certo mas já entendi qualquer coisa. Escrevi sobre o Conselho Geral e em geral. Em geral, porque há milhares de escolas neste país que estão envolvidas neste processo.

Mas logo houve quem pensasse que estava a falar da escola x e da pessoa x ou das pessoas y, ou que estaria a “enviar piadas” para alguém, como se eu adivinhasse o que se passa na cabeça de cada um. Não tenho “poderes” para isso nem faço processos de intenção.
Há uma estranha mania em Portugal, de andar a tentar ler nas entrelinhas. Parece que não se quer ler o que lá está escrito mas as intenções de quem escreve, como se se partisse do pressuposto que é necessário atacar alguém ou que quem escreve anda a tentar dizer que é o maior. É triste mas há quem pense assim.

Também sei que escrever é um risco, o melhor é estar calado e esperar pela mudança dos ventos e acertar o passo então. Sempre me disseram isto mas eu também tenho as minhas manias. Heranças dos anos setenta, para mim felizmente! Talvez fosse melhor escrever sobre futebol ou dizer mal do Chavez, que sobre assuntos desses ninguém se importaria. Ou então mandar umas piadas sobre este ou aquele ministro e os políticos em geral. Seria certamente mais acertado e ninguém diria que ando a mostrar-me mais do que devia.

Mas falemos ainda sobre o Conselho Geral. E para descansar as consciências repito que não vou falar de Évora.

É ou não importante que se saiba e em tempo adequado o que é que os diferentes elementos que se propõem para o Conselho Geral digam o que querem fazer?
É ou não importante que uma câmara municipal diga que meios dispõe e o que pretende do ensino no seu concelho?
É ou não importante que uma Associação de Pais diga o que pretende e o que se propõe fazer em prol dos seus filhos e dos outros?
É que há países com os quais nos queremos comparar em que estas coisas se debatem, em que as pessoas e as instituições exigem mas colaboram e apresentam publicamente propostas.

É que há tantas questões a tratar e que podem ter soluções muito diversificadas. Por exemplo:
- Vale a pena ou não haver cursos profissionais? Quais? Quais são os que têm interesse para o concelho e não apenas para esta ou outra escola?
- Vale a pena ter os mesmos cursos em todas as escolas ou pensar realmente em termos de rede?
- O que se faz com os alunos que reprovam? Há alternativas? Quais? Outros cursos diferentes?
- A escola deve ter um centro de novas oportunidades ou não?
- Que formas de apoio podem usufruir os alunos? É legítimo os alunos com dificuldades não aproveitarem os apoios e os pais recusarem-nos? Até que ponto?
- A Câmara Municipal deve apoiar visitas de estudo, fornecer equipamentos ou não, ou o faz como se fosse um favor?
- A escola deve participar em projectos com outras escolas da União Europeia ou isso não tem interesse?
- Deve apostar-se no rigor ou “navegar à vista”?
- Investe-se em bibliotecas, laboratórios, ginásios? Quais são as prioridades?
- Em que medida a Área de Projecto deve trazer um contributo para a comunidade?
- O que se pode fazer para preservar, divulgar e usufruir o Património Cultural, incluindo o construído, e o Património Cultural?
- Havendo a possibilidade de aumentar ou diminuir os tempos lectivos em determinadas disciplinas, quais são as prioridades?
- Que disciplinas de opção pode oferecer a escola?
….
Há tantas questões a tratar que se não forem debatidas corre-se o risco de nunca mais haver autonomia real nas escolas.

sábado, 5 de julho de 2008

Cano. Vista sobre o pátio


Exames de Matemática- média dos alunos internos: catorze

Os alunos internos, isto é, os que fizeram o percurso normal, obtiveram uma média de catorze. Nos anos anteriores era uma desgraça, agora são quase todos bons.
Ou há problemas de validade nos exames ou há também uma intromissão exagerada do poder político para mostrar que tudo está bem.
Ou então estão a amesquinhar o trabalho dos professores ao longo dos últimos anos e a gozar com os alunos dos anos anteriores que não puderam entrar na universidade com o rótulo de medíocre em Matemática.
Onde está a credibilidade do sistema?
Há alguma possibilidade mínima de comparar com os anos anteriores?
Precisamos de explicações. E os alunos vão deixar de precisar das outras explicações.

Sobre o ranking das escolas e algumas propostas em 2004

Há uns anos (em 2004) senti-me na obrigação de propor debates e procurar soluções. O governo era outro e a despreocupação também. Reproduzo aqui um texto que apresentei numa reunião geral. Como foi público também o posso reapresentar publicamente. Havia questões polémicas que muitos professores também não queriam debater. O texto é longo e, por isso, é natural que muitos façam o mesmo que na época ... isto é, passemos adiante.

A Escola Secundária Severim de Faria perante o ranking das Escolas
Algumas interrogações e sobretudo uma procura de soluções.


Uma questão prévia que se pode pôr é se é ou não legítima a informação sobre os resultados dos exames a nível nacional do 12º ano e a comparação entre os resultados das diferentes escolas. Creio que a resposta lógica é positiva, dado que os pais e encarregados de educação, os professores, o Ministério da Educação, os contribuintes e a população em geral têm direito às informações sobre os resultados do sistema de ensino, num país que se encontra situado no conjunto dos países desenvolvidos e com os quais se pretende comparar. Quanto à comparação desses resultados com a avaliação interna das escolas a situação esta já me parece mais problemática, porque cada escola insere-se numa realidade diferente das outras, tem alunos diferentes, tem professores diferentes, tem pais diferentes, edifícios e condições também diferentes, inclusivamente inserem-se em meios sociais mais ou menos estimulantes, com diferenciados desenvolvimentos económicos e até autarquias ou outras instituições que promovem ou não a tão propalada prioridade da educação e ensino. As perspectivas dos estudantes também não são as mesmas, colocando-se aqui várias alternativas de que citarei duas: a obtenção do diploma para o prosseguimento de estudos (e quais, aqueles em que se entra com médias superiores ou inferiores a 17?) ou uma via profissionalizante?
Comparar coisas não comparáveis não nos permite chegar a qualquer conclusão credível. Contentar-nos com atribuir culpas ainda menos.
Num país em que já temos uma boa percentagem de uma nova geração de diplomados com o ensino superior, mas em que cerca de metade não conclui o ensino secundário, em que a muitos dos pais têm a antiga quarta classe e muitos avós são analfabetos, em que grande parte dos jornalistas e comentadores, quase nada conhece do sistema de ensino actual, qual é a informação que passa, que ideias feitas se consolidam? A conclusão rápida de muitos é a de que há escolas piores e escolas melhores. Alguns pais pensarão que é melhor pôr os filhos na melhor escola ou retirá-los da pior. São imagens do senso comum que se projectam na consciência colectiva.
Não poderemos ser indiferente a essas imagens, mesmo sabendo que elas são fugazes e que, na sociedade actual rapidamente essas imagens se gastam; mas temos que ter consciência, humildade e acção consequente para ultrapassar situações que se nos apresentam como adversas. Infelizmente para alguns, felizmente diria, não podemos esperar pelas soluções milagrosas da máquina burocrática e rotineira do Estado. O problema também é nosso! Diria que somos obrigados a ter a liberdade de pensar e actuar

Muitas escolas privadas podem escolher os alunos que lhes são apresentados e devolver os alunos mais fracos, sabe-se lá para onde, talvez para algumas escolas públicas ou, no secular preconceito em relação ao trabalho manual, empurrá-los para escolas profissionais. Há também escolas estatais que o fazem, embora menos explicitamente. É fácil começar com 50 alunos no décimo ano e obter médias razoáveis apenas com 5 no 12º; é fácil só levar a exame metade dos alunos. E os outros, para onde vão? Certamente serão a mão de obra impreparada e de baixos salários que tem caracterizado um modelo de desenvolvimento (?) que hoje não se compadece com a concorrência internacional. Será que queremos assumir este modelo com futuros cidadãos (?) que nem sequer teriam consciência dos seus direitos nem iniciativa para participar na sociedade? Também seria fácil acabar com cursos tecnológicos só para subir no ranking. Mas não precisamos destes futuros profissionais?
Há que assumir o que é uma escola pública. A escola pública deve exigir rigor (só com conhecimentos e competências se pode atingir o desenvolvimento e a cidadania) mas tem que se preocupar com o percurso de todos os seus alunos e prestar contas ao país sobre o que faz com eles.
Há que ver para onde nos dirigimos. Será que a única preocupação é a entrada na universidade de certos alunos segundo o actual modelo de exames e o actual sistema de ingresso? Ora o actual modelo de acesso à universidade tem sido posto em causa e, também, devido ao urgente processo de Bolonha que prevê a mobilidade dos alunos na Europa, todo o sistema de ensino superior está a ser remodelado, o que vai certamente implicar uma escolha diferente dos futuros alunos. As universidades queixam-se da falta de conhecimentos dos alunos do secundário em algumas áreas, mas sobretudo (as melhores), das dificuldades na resolução de problemas, na capacidade de investigação e até de comunicação. Ora, os exames actuais não avaliam muitos desses requisitos. Novamente pergunta-se: basta trabalhar para o curto prazo? Certamente poucos estarão interessados em que os alunos apenas obtenham um diploma. A sociedade mudou!

Creio que podemos actuar essencialmente a dois níveis. Um, ao nível do sistema, pensar e agir a médio e longo prazo, exigir que as escolas tenham uma autonomia real, que possam desenvolver projectos próprios, actuando junto da Direcção Regional de Educação para que nos permita desenvolver cursos e disciplinas para as quais estamos capacitados ou poderemos vir a estar, com avaliação externa e interna, concurso nacionais ou concursos a nível de escola ... Outro, sem descurar, o longo prazo, mas contando essencialmente com os recursos e a conjuntura que temos.

A este nível poderemos fazer algumas coisas. Aparentemente pequenas ou poucas mas consistentes. Algumas interrogações:

- Pensar que os alunos do 3º ciclo poderão ser os alunos do ensino secundário (alguns vão para outras escolas). Que professores têm agora? Professores do quadro da escola ou professores contratados, muitos bons profissionais mas que mudam todos os anos?
- Novas áreas curriculares. Em que medida dão apoio a alunos, exercitam competências, estimulam também os bons alunos, preparam alunos para o ensino secundário e para o futuro, para a investigação e resolução de problemas?
- Equipas pedagógicas. Um conjunto de professores a leccionar o mesmo ano lectivo, permitindo projectos inter-turmas e inter-disciplinares, facilitando a marcação de reuniões e discussão de problemas em relação ao mesmo ano lectivo?
- Coordenadores de directores de turma por ano (ou sub-coordenadores)?
- Horários que permitissem aos professores da mesma turma encontrarem-se uma vez por mês durante 90 minutos para tratarem de problemas da turma e para consecução de projectos?
- Conselhos de turma intercalares? Do 7º ao 12º ano? E quando, além dos problemas actuais, for necessário pensar em projectos em todos os ciclos?
- Aulas supervenientes. Utilizá-las de acordo com as propostas dos professores ou de acordo com as disciplinas com resultados mais fracos nos exames ou em que os alunos tenham mais dificuldades?
- Aulas supervenientes. Apenas para o 11º e 12º ano ou para todos os anos conforme as necessidades? Apenas alguns professores ou todos, de acordo com o número de horas da fórmula? Por que não aplicar essas horas em aulas de apoio ou para as faltas de professores?
- Distribuição de tempos lectivos no 3º ciclo. Em que disciplinas? Nesta cidade e neste país, quais as prioridades? Nas ciências experimentais há tempo para exercitar o raciocínio científico? Há tempo para compreender e actuar sobre o património cultural?
- Horas de redução para cargos. Onde são mais úteis? Nos departamentos e em quais, e porquê estes; nas direcções de turma ...?
- Relação da escola com os pais. Poderão os professores fazer melhor? Poderão os pais participar mais e fazer melhor?
- Outras instituições (Câmara Municipal ...) Que relações?
- .............
O Presidente do Conselho Pedagógico

O Conselho Geral; e as ideias onde estão?

Vão agora, ou antes para quem tem pressa de aplicar as directivas, proceder-se às eleições, em vários corpos, dos elementos do Conselho Geral Transitório.
O Conselho Geral vai ter funções importantíssimas em cada escola ou agrupamento, entre as quais eleger o Director Executivo (o que não é para já), elaborar o Regulamento Interno, aprovar planos, orçamentos, projectos, acompanhar tudo isso, fazer recomendações etc.
Os professores elegem sete membros, os funcionários dois, os estudantes do ensino secundário um, a Associação de Pais quatro ou cinco, a Câmara Municipal três; depois cooptam-se mais três.
Elege-se o quê?
Pessoas?
À partida todos são boas pessoas. Mas é isso que interessa?

A mim, e suponho que é isso que deveria interessar, o que é importante são as ideias, os projectos, os protocolos, aquilo que se pode fazer a curto ou médio prazo.
Qual o interesse de dar um “cheque em branco” a alguém que não diz o que quer e o que pretende fazer?
E uma Associação de Pais com vinte sócios numa escola de setecentos alunos não diz também o que pretende e o que está disposta a fazer?
E a Câmara Municipal não deveria dizer qual é a sua política de ensino e que orçamento tem disponível para as coisas que acha que são importantes?

Acho estranho não haver obrigatoriedade de apresentar programas. E mesmo não sendo obrigatório, seria o mínimo exigível para esclarecimento e respeito pelos cidadãos.

É que não há direitos sem deveres. E não há cidadania sem participação com ideias e actos.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

A avaliação externa (exames) e a iniquidade na avaliação dos professores.

Agora, ou para as escolas apressadas, há meses, estão a construir-se indicadores para a avaliação dos professores.
Há uma tentação muito perigosa: a de querer avaliar os professores pelos resultados dos exames e, ao mesmo tempo, penalizá-los pelo desvio da classificação interna em relação à classificação de exame.
Em primeiro lugar convém dizer que a maior parte dos professores não tem alunos a fazer exame. Por aí começa a iniquidade. Há uns que podem ser penalizados e outros não. Há uns que não podem ter justificações para não cumprir totalmente o programa, porque ninguém desculpa se sair alguma questão sobre matéria não leccionada. É a imprensa à procura das “melhores” e das “piores”, é uma parte da opinião pública que apressadamente (não) interpreta os “rankings”.

Mas a iniquidade vê-se também através dos resultados e nos desvios no ensino secundário (11º e 12º ano).
Em 2007 (dados do Ministério da Educação), apenas duas disciplinas em trinta e seis tiveram (médias nacionais) classificação superior na classificação interna em relação à do exame e nem sequer são significativas, tendo em conta o número de alunos: foram a prova 239 de Português com 41 alunos e a prova 547 de Espanhol, com 246 alunos.

Nas restantes (apenas alguns exemplos), o desvio entre a classificação interna e o exame é o seguinte:
Português (prova 639) - 67594 alunos: Desvio -1,7. Média de exame: 11,3.
História (prova 623) - 12649 alunos: Desvio -3,6. Média de exame: 9,4 . No ano anterior o desvio tinha sido de 4,6 e a média de exame 8,4.
Biologia e Geologia (prova 702) - 45149 alunos): Desvio -4,9. Média de exame: 9,1.
Matemática (prova 635) - 52163 alunos: Desvio -2,4. Média de exame: 10,6. No ano anterior o desvio foi de 4,9 e a média 8,1.
Física e Química (prova 715) - 45574 alunos: Desvio -5,6. Média de exame: 7,4. No ano anterior o desvio foi de 6,4 e a média 6,4.
Para além destes resultados porem em causa a validade dos exames há que analisar cada nota no seu contexto. Por exemplo, um dez a História ou um oito a Física são classificações melhores que um onze a Português, se compararmos com a média de exame em cada disciplina.

E mais! Os exames não avaliam o mesmo. Isso é evidente nas línguas onde um teste escrito não avalia a oralidade ou nas ciências em que a prática laboratorial ou os trabalhos de campo também não. E, nas outras disciplinas, há muitas outras competências prescritas que também não são avaliadas desta forma.

Além disso há disciplinas anuais, bienais e trienais. Nas trienais, por exemplo, pode acontecer um aluno ter belíssimas notas no décimo ano e ir com doze valores a exame, tendo oito no 12º. O que se compara é a nota (média) de frequência dos três anos com a de exame o que dá uma distorção evidente. Além disso, se a classificação nessa disciplina não for fundamental para a entrada na universidade, pode contentar-se com uma negativa no exame (aí conta 30%), investindo noutras que lhe interessam mais para o acesso. Pode, por exemplo ficar com um seis no exame, sem afectar muito a média.

Por isto tudo, é preciso ter em conta os efeitos perversos. Pode acontecer daqui a algum tempo os professores começarem a recusar disciplinas que têm exame, já que correm o risco de serem, pelo menos, duplamente penalizados.

terça-feira, 1 de julho de 2008

É tempo de praia

Do meu primo Zé uma crónica saborosa sobre outros tempos de praia, publicada no jornal "Terra Ruiva".

É TEMPO DE PRAIA
Por: José Baeta Oliveira
(Zé Baeta)

Pela parte que me toca, a minha praia é a de Armação de Pera. É mesmo raro ir à praia, no sentido de estacionar na areia ir dar uns mergulhos e umas braçadas, regressar à areia e estender-me ao sol e/ou à sombra, sem ser em Armação de Pera.
O mesmo se passará, penso eu, com muita malta de Silves, cuja temporada de praia se compõe, agora, de umas idas e vindas a Armação de Pera ou então, permanência em casa própria ou alugada.
Dantes, há muitos antes, não era exactamente assim; a temporada de praia da malta de Silves era composta de duas fases.
Uma primeira fase consistia na ida, aos domingos, à Praia da Rocha, pois para ir a Armação, o trajecto de camioneta era muito grande e caro, com uma mudança em Lagoa e outra em Alcantarilha... e muito pouca gente tinha transporte próprio.
Digo aos domingos, porque ao sábado era dia de trabalho ou de escola, pelo menos de manhã, (esta parte não é de saudade), mas importa registar que já há gente a trabalhar, de novo, ao sábado e muitas horas durante a semana, enquanto muitos outros não têm trabalho. Dos que não têm trabalho, só uma pequena parte é porque não quer! Os que dizem que não é assim, que vão trabalhar pelo preço e condições que querem pagar a quem procura trabalho (porque emprego, já nem se pensa nisso)!
As carreiras regulares e directas para Armação só começavam a 15 de Julho. Então a opção, nesta primeira fase, era ir à Praia da Rocha, fazendo um trajecto não menos complicado mas economicamente mais em conta. Eram “ranchos” de gente, em grupos, familiares ou outros, a subir a Ladeira da Estação para apanhar o “Chora” cujo horário seria às 8H20 mas que nunca abalava a essa hora. Muitas vezes, a essa hora, ainda não tinha chegado à Estação.
O “Chora” era o combóio de mercadorias que arrastava na cauda uma carruagem de passageiros com bancos de “suma-pau”. No horário do Domingo de manhã, até começar a carreira directa de camioneta para Armação, ia de lotação mais que esgotada. Ao aproximar-se de Estômbar, num troço de linha ligeiramente inclinado, diminuía a lotação pois muita malta descia do comboio em andamento lento, ia apanhar figos e regressava mais adiante ou voltava a apanhá-lo em Estômbar, onde tinha nova paragem prolongada. Seguia-se a estação de Ferragudo, no Parchal/Aldeia dos Cucos, onde desciam algumas famílias para fazerem o resto do trajecto, a pé, até à Praia de Ferragudo. A maioria continuava até Portimão, caminhando depois, também a pé, pelo menos até ao largo das camionetas, onde a carreira da “Castelo & Caçorino” aguardava até esgotar a lotação; só então abalava para a Praia da Rocha. Quem tivesse dinheiro e disposição para esperar pela segunda volta, ali ficava a ver os cartazes do cinema ou apanhava uma “carrinha” puxada a cavalo, como a do Jaime Loulé que também fazia, aqui em Silves, o transporte para a e da Estação.
Grande parte da malta, ou porque não estava na disposição de esperar ou porque não dispunha de dinheiro, continuava o caminho até à Praia da Rocha, umas vezes a pé, outras vezes andando. Uma vez lá chegados, davam-se os primeiros mergulhos e, caso a maré estivesse vazia, pois com a maré cheia não haveria espaço para tal, ocorriam as jogatanas de futebol. Quando a fome batia horas no estômago lá ia a sandes, ou a peça de fruta, ou a solidariedade de alguma família armada de farnel.
Da parte da tarde, uma soneca, uma passeata ou umas carícias com namorada oficial ou não (ou com namorado, as moças) e mais umas banhadas.
Acabadas as banhadas da tarde, era tempo de retomar a caminhada para a estação de Portimão, a fim de embarcar, desta vez na automotora, em direcção a Silves. Depois, a descida da Ladeira da Estação.
Antes de acabar o curto fim de semana, ainda haveria a oportunidade, para quem tivesse essa oportunidade, de ir ao cinema, ao “barracão do Mariani” ou, mais tarde, ao velho “Cinema Novo”.
A segunda fase começava no primeiro domingo a seguir ao 15 de Julho, agora sim, em direcção a Armação de Pera; viagem menos conturbada, directa e com lugar sentado. O decorrer da jornada de praia, propriamente dita, era semelhante. Só que em Armação, com maré cheia ou maré vazia, havia sempre lugar a jogos de futebol. O mais importante era sem dúvida alguma, junto à Praia dos Barcos, em terreno inclinado, entre Silves e Armação de Pera, muitas vezes com jogadores do “Silves Futebol Clube” a alinhar em ambas as equipas.
No regresso, era muitas vezes demorada a chegada do “desdobramento”. Mesmo tendo uma estimativa da quantidade de gente que tinha abalado de manhã em direcção a Armação, nem sempre a “EVA” previa a necessidade de ter às horas de regresso, camionetas em quantidade suficiente para transportar, de regresso, os clientes mais que certos. Até parece, relativamente a estas e outras coisas, que tanto tempo não passou por cima destes factos...
Quantas vezes não terá feito o trajecto de Armação a Silves, em “desdobramento”, a camioneta do Félix, o “chofer maluco” de Armação, apenas treinada para fazer o circuito Pera-Alcantarilha-Armação. E quantas vezes não terá parado no caminho...Ainda há dias fui, de carro, a Armação. Então não é que, mesmo com um carro relativamente bem comportado, ia ficando pelo caminho de regresso a Silves... É que tinha querido abastecer-me de combustível e não havia nas bombas ... arrisquei a viagem e lembrei-me da camioneta cujo “chofer” era o Sr. Félix, de Armação de Pera.

Crato. A omnipresença da Ordem