sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Que se exportem os lucros, que outros hão-de pagar o déficit.

A proposta do PCP para antecipar em 2010 a tributação de dividendos distribuídos por grandes empresas foi chumbada esta tarde, na Assembleia da República pelo PS, PSD e CDS-PP, obtendo o voto favorável de Defensor Moura e as abstenções de João Galamba e Miguel Vale de Almeida (PS).

Apenas Bloco de Esquerda, PCP e Verdes e o deputado socialista Defensor Moura estiveram a favor do projecto comunista, partido que anunciou que irá apresentará uma declaração de voto.
http://www.abola.pt/nnh/ver.aspx?id=235194

As empresas encontraram um "truque" descarado para não pagar ou pagar menos. Os lucros que deveriam ser distribuídos em Janeiro são distribuídos antecipadamente. Há dias o Expresso referia as enormes quantias que as empresas portuguesas depositam nas Ilhas Caimão, na Irlanda, etc. Os bancos, também os portugueses, pedem emprestado ao BCE a cerca de 1% e emprestam ao Estado, comprando dívida, a 7%. As parcerias público-privadas levam a que Estado pague as despesas e os privados fiquem com os lucros. O Estado afundou-se, e continua, com o BPN e outros e tem que pedir mais dinheiro emprestado.

Vamos pagar mas não todos. Estas empresas só são "patriotas", estes empresários só fazem manifestos quando querem que o Estado lhes dê subsídios ou facilidades.
De resto o descaramento aumenta exponencialmente. Os pobres e a classe média que paguem a crise e a recessão continuada.

A promiscuidade entre os partidos que têm estado no poder (e eles têm nome: PS, PSD e PP) aumenta também descaradamente. Sai-se do governo e vai-se para a Mota Engil; sai-se do governo e vai-se para o BPN; sai-se do governo e vai-se para a IBERDROLA ... Ainda no governo e é negócios com sucateiros, contrapartidas privadas com empresas que vendem submarinos ...Nomeiam-se os que não foram eleitos para as empresas públicas ou municipais apenas porque pertencem ao partido. Fazem-se fortunas e aumenta a disparidade entre os mais ricos e os mais pobres.

E depois querem que sejam os outros a pagar e a sossegar os mercados. Qual mercado? O que manda e é protegido pelos seus agentes, o que não quer saber da economia mas da especulação financeira? Vale a pena sossegar estes "mercados"? Quanto mais medidas restritivas se tomarem mais eles atacam. Pouco lhes importa que um país desenvolva a indústria, que aumente as exportações, que invista para produzir mais e melhor. Apenas interessa onde se vai ganhar mais e mais rapidamente. Isto nem sequer obedece à antiga ética capitalista.

E estes senhores que votam excepções, que têm pena destes "capitalistas" portugueses ou outros ,que afinal vão pôr esses lucros nos paraísos fiscais?
Lágrimas de crocodilo desses deputados que não são capazes de deixar de obedecer à voz do chefe e desprestigiam a Assembleia da República, porque eles (todos e cada um) é que foram eleitos pelos votos do povo e não os ministros ou chefes partidários. Para quê fazerem miseráveis declarações de voto, quando votaram a favor destas empresas que se eximem a pagar impostos que os outros têm que pagar?

Até o Miguel Vale de Almeida que se absteve, a posição mais fácil de descomprometimento! O que é feito desse radicalismo de ainda há pouco tempo?

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Orçamento e extorsão

Supunha-se que o Estado era uma pessoa de bem!

Sabemos que a economia mundial está sujeita ao capital financeiro que tem tratado tudo isto como um jogo em que ganha mais quem melhor especula. Nem sequer isto é propriamente capitalismo!
Os jogadores protegidos ganharam, levaram à falência os outros e ainda foram novamente protegidos pelos estados e por instituições internacionais, entre as quais a União Europeia e o seu Banco Europeu, que serve sobretudo para financiar bancos que emprestam especulativamente aos estados depredados como a Grécia, Portugal, Espanha ...  Agora pagam os estados, uns mais que outros, e como os estados são suportados pelos cidadãos pagantes, são estes que pagam mais ainda.

Exigem-nos sacrifícios para pagar o deficit, continuam a exigir aos mesmos do costume e sobretudo àqueles que já estão indiciados e aos que não têm hipótese de fugir.
Mas pergunta-se novamente. Se é para diminuir as despesas do Estado, por que é que só uns é que vão ser alvo de cortes nos vencimentos?

As despesas do Estado incidem sobre muita coisa, como a Educação, a Saúde, a Defesa, a Segurança etc..
Pergunta-se: estas despesas só têm a ver com os funcionários do Estado? Os outros, em condições económicas e sociais idênticas não usufruem da Educação, Saúde etc.? O deficit vem de onde? O que se gastou só vai ser pago por alguns, ou por alguns mais do que outros só por servirem o Estado e todos os cidadãos?

O deficit provocado por governos que, mal ou bem, levaram este país a esta situação, foi responsabilidade apenas dos funcionários do Estado?

Mas que privilégio é este, num estado democrático em que, por definição, não deveria haver privilégios, no caso, discriminação negativa?

Évora Património Mundial?


Évora é Património Mundial porquê?

A resposta é necessariamente múltipla, mas é consensual que o é porque houve gerações que ao longo de séculos e séculos usaram, transformaram, modificaram e conseguiram, com coerências e incoerências, um património único, um conjunto com que as comunidades eborense, nacional e internacional se identificam ou identificam como excepcional. Mas não é nem pode ser, sob o risco de degradação, uma coisa só para a fotografia, parada no tempo, até porque o tempo corrói.
Évora é Património Mundial também porque houve um poder autárquico que propôs a classificação reconhecida pelo Estado e por instâncias internacionais. Não foi fácil o processo, e os compromissos para manter esse reconhecimento implicaram medidas e continuam a implicar, não apenas no quotidiano, como medidas excepcionais. Não interessa apenas o título, que se pode perder, mas a vivência e a preservação numa cidade que se quer viva.
A imagem é apenas o contrário do que deveria ser. Uma calçada que foi levantada porque as canalizações de água estavam literalmente podres (por baixo estão os esgotos ainda piores) e que foi deixada … à espera, já lá vão dois meses, com a chuva e a lama que suja os prédios e as pessoas, as sarjetas entupidas ... Os moradores ou proprietários que tentam preservar os prédios, além de pagarem taxas mais altas do que se morassem noutros lados, e sujeitos a maiores burocracias, ainda têm que aguentar estas esperas. É que já não se trata sequer de incentivar ou apoiar a preservação do Património, que é de todos. É a desresponsabilização de uma autarquia (e do Estado também) que não só não apoia, como dificulta e ainda por cima prejudica -  quem preserva, quem passa, os que com menores capacidades tentam atravessar as ruas … todos.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Direito de indignação numa sociedade democrática, disseram os juízes.


O processo é simples, mas conseguiram transformá-lo num processo kafkiano. Os arguidos eram estudantes, com vinte anos ou pouco mais ou até menos. Foram expulsos da Assembleia da República, por ordem de Jaime Gama, estiveram três anos como arguidos, com termo de identidade e residência, com deslocações constantes para prestarem declarações à polícia,ao juiz de instrução criminal, por vezes em alturas de avaliações. Chegou a marcar-se um julgamento em que o juiz se declarou incompetente e, por fim, o julgamento foi efectuado na 2ª Vara Criminal de Lisboa. Valeu, no final, o bom senso dos três juízes e do Ministério Público, que mais parecia o advogado destes estudantes.
Nem todos foram pronunciados. Dos mais de trinta que foram arrolados, pelo menos uns vinte pagaram cem euros a uma instituição e, por isso, livraram-se deste processo. Houve quem fosse à Assembleia da República, exercendo apenas o seu direito de cidadão, sem qualquer manifestação; por estar um minuto neste lugar esteve três anos metido nesta confusão que, Jaime Gama, como presidente, achou por bem dar como exemplo.
No mesmo dia, de seguida, na mesma vara do tribunal,estando presentes os arguidos dos dois processos, foi lido também o acórdão do "gang do multibanco", os quais também devem ter achado este processo surrealista.
Assim se perde o tempo, dos estudantes, dos polícias, dos juízes, das famílias. Assim se deu o pior exemplo do que é a perversão do Estado Democrático, que há-de continuar, apesar disto, ou destas pessoas que já deveriam procurar outro lugar em vez de empatar os cidadãos.

Extractos do acórdão (sublinhados nossos.

2. ª Vara Criminal de Lisboa
Acordam os Juízes que constituem o Tribunal Colectivo da 2a Vara Criminal de Lisboa.
Foi proferido despacho de pronúncia contra os arguidos:
1- […], natural de Setúbal,
2-[…], solteiro, estudante, residente […] Évora;
3-[…] solteiro, estudante, residente […], Queluz;
4-[…] solteira, desempregada, […]Lisboa;
5- […], solteiro, bolseiro de investigação, residente […] Lisboa;
6-[…] solteiro, assistente de comunicação, residente na […]Amadora;
7-[…]solteira, estudante, residente […]Setúbal;
8-[…] solteira, estudante, residente na […]Amadora;
9-[…] solteiro, estudante, residente […]Rio Tinto .
Imputando-lhes a prática, em autoria material, de um crime de perturbação do funcionamento de órgão constitucional p e p, à data dos factos, pelo art. 334° al. a), do CP, em conjugação com o art. 333° n° 1, do mesmo diploma e actualmente p e p pelo art. 33° nº 1 do CP
2. Fundamentação
2.1. Matéria de facto provada
1- No dia 28 de Junho de 2007, pelas 18h00, decorria uma sessão plenária da Assembleia da República onde se discutia o regime jurídico das instituições de ensino superior;
2- Os arguidos, na qualidade de cidadãos, assistiram à sessão na Galeria VI da assembleia.
3- Para além dos arguidos, na mesma galeria, encontravam-se mais 22 pessoas;
4- No final da votação, algumas pessoas da Galeria VI, insurgiram-se contra o resultado da votação, pondo-se de pé e gritando: «privatização não»; «não à privatização do ensino»; «Não»; «não»; «não à privatização», ao mesmo tempo que gesticulavam;
5- Em consequência disso, os trabalhos parlamentares foram interrompidos por breves instantes, tendo o Presidente da Assembleia da República ordenado aos agentes da PSP que procedessem à retida imediata das pessoas que se encontravam na galeria;
6- A intervenção dos agentes da PSP demorou cerca de 1 minuto após o que o parlamento retomou os seus trabalhos;
7- Os arguidos não têm antecedentes criminais.
2.2. Factos não provados
1- Os arguidos faziam parte do mesmo grupo juntamente com as restantes pessoas da galeria VI;
2- Os arguidos, no final da votação, insurgiram-se contra o resultado da mesma, pondo-se de pé e gritando […] ao mesmo tempo que gesticulavam;
3- Os arguidos sabiam e quiseram perturbar, como perturbaram, o funcionamento da Assembleia da República […];
4- Agiram de forma livre, deliberada e conscientemente, bem sabendo que as suas condutas eram proibidas e punidas por lei.

2.3 Motivação da Decisão de Facto

[…] No que diz respeito aos factos não provados a decisão do tribunal resultou do facto dos arguidos […] que negaram terem proferido palavras de ordem ou gritado, bem como no facto das testemunhas acima referidas, não terem conseguido identificar nenhum dos arguidos como sendo uma das pessoas que gritaram.

Enquadramento jurídico-penal

Dispõe o artigo 334° nº 1 do CP que «quem, com tumultos, desordens ou vozearias, perturbar ilegitimamente:
a) O funcionamento de órgão referido no nº 1 ou no nº 2 do artigo anterior, não sendo seu membro, e punido, respectivamente, com pena de prisão até 3 anos, ou com pena de prisão até um ano.
[…]
Tendo em conta os factos provados facilmente se conclui que os elementos do crime não se mostram demonstrados. Na verdade, não ficou provado que os arguidos tivessem praticado alguma conduta susceptível de ser enquadrada coma tumulto, desordens ou vozearias o que afasta, desde logo, o elemento objectivo do crime.
Porém, mesmo que tivesse ficado demonstrado que os arguidos tivessem proferido as palavras dadas como assentes nas condições descritas na acusação ainda assim, a conduta não era susceptível de integrar o tipo legal de crime, na medida em que estaríamos perante o exercício legítimo do direito à indignação perfeitamente concebível numa cultura democrática.
Dispositivo
Tudo visto e ponderado, acordam os membros deste Tribunal Colectivo em julgar a pronúncia improcedente e, em consequência, absolver os arguidos […]

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Campo Maior e as santinhas.



   E se eu gosto de Campo Maior! Qualquer dia conto outras histórias, mas hoje vai esta muito simples.
   Fui ontem ao convento de Campo Maior, onde tenho uma sobrinha e afilhada, a única afilhada, que tenho outras sobrinhas que têm prazer em viver a vida, como ela também, mas de maneira diferente. Gosto delas de maneiras diferentes e também elas me demonstram um carinho especial.
   Fui ao convento no dia de Santa Beatriz da Silva, nascida em Campo Maior. Sou sempre bem recebido, embora as freiras saibam que não sou religioso, mas penso que preservam as ligações familiares e compreendem princípios éticos que respeitam, tal como eu as respeito.
   São mulheres como outras. Vivem em reclusão, mas falam de coisas da vida. Até falámos dos tempos difíceis e do contrabando que se fazia em Campo Maior e de que algumas conhecem muitas histórias.
   Entretanto houve a procissão. Pouca gente e alguns procedimentos menos habituais, como o andor da santa ser posto numa carrinha. De sublinhar o coro com as vozes límpidas das professas.
   Depois de dar uma volta, regressei ao convento com a minha mulher. Vinham umas ciganitas, três, dos seus oito, nove anos que nos fizeram inúmeras perguntas, seguidas de grandes admirações. Vinham bem vestidas e uma delas com um ramo de flores artificiais. Disse-lhes que tinha havido a procissão, mas reparei que não perceberam bem. Perguntei-lhes para que era o ramo de flores e uma delas respondeu que era para a santinha e a seguir pediu uma moedinha. Não lhes tirei uma fotografia, embora a cena merecesse, porque evito tirar fotografias à miséria e às crianças pobres, porque já basta a condição em que estão.
   Entrei novamente no convento. Na conversa percebi que estas crianças de vez em quando iam lá e tratavam as freiras por santinhas. Percebi então a “manhosice” delas e, melhor ainda, quando vi o ramo de flores no chão da rua. Percebi também que elas e outras querem falar mas há poucos canais de comunicação e o estigma começa muito cedo. Antes, quando estava a ver a procissão, um guarda republicano perguntou-me se era turista (talvez por me ver com máquina fotográfica) e avisou-me que havia ali ciganos. Vi também que vivem numas barracas miseráveis que o estado português não deveria admitir. Parece que alguns se dedicam a certos tráficos, mas estas crianças têm poucas possibilidades de escolher, apesar de terem a mesma nacionalidade que outros cidadãos portugueses e cidadãos da União Europeia.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Mercado de escravos em Lagos

 Antigo mercado dos escravos

Escrevia assim Zurara sobre a chegada dos escravos a Lagos:

CAPITULO XXV
Como o autor aqui razoa um pouco sobre a piedade que ba daquelas gentes, e como foi feita a partilha
[...]
Eu te rogo que as minhas lagrimas nem sejam dano da minha consciencia, que nem por sua lei daquestes, mas a sua humanidade constrange a minha que chore c piedosamente o seu padecimento. E se as brutas animalias, com seu bestial sentir, por um natural instinto conhecem os danos de suas semelhantes, que queres que faça esta minha humanal natureza, vendo assim ante os meus olhos aquesta miseravel companha, lembrando-me de que são da geração dos filhos de Adão!
No outro dia, que eram VIII dias do mês de agosto, muito cedo pela manhã por razão da calma, começaram os mareantes de correger seus bateis e tirar aqueles cativos, para os levarem segundo lhes fora mandado; os quaes, postos juntamente naquele campo, era uma maravilhosa cousa de ver, que entre eles havia alguns de razoada brancura, fremosos e apostos; outros menos brancos, que queriam semelhar pardos; outros tão negros como etiopes, tão desafeiçoados assim nas caras como nos corpos, que quasi parecia, aos homens que os esguardavam, que viam as imagens do hemisfério mais baixo.
Mas qual seria o coração, por duro que ser podesse, ti que não fosse pungido de piedoso sentimento, vendo assim aquela companha? Que uns tinham as caras baixas e os rostros lavados com lagrimas, olhando uns contra os outros; outros estavam gemendo mui dolorosamente, esguardando a altura dos ceus, firmando os olhos em eles, bradando altamente, como se pedissem acorro ao Padre da natureza; outros feriam seu rostro com suas palmas, lançando-se tendidos no meio do chão; outros faziam suas lamentações em maneira de canto, segundo o costume de sua terra, nas quaes, posto que as palavras da linguagem dos nossos não podesse ser entendida, bem correspondia ao grau de sua tristeza.
Mas para seu dó ser mais acrecentado, sobrevieram aqueles que tinham cargo de partilha e começaram de os apartarem uns dos outros, a fim de poerem seus quinhões em igualeza; onde convinha de necessidade de se apartarem os filhos dos padres, e as mulheres dos maridos e os dos irmãos dos outros. A amigos nem a parentes não se guardava nenhuma lei, somente cada um caía onde o a sorte levava!
Ó poderosa fortuna, que andas e desandas com tuas rodas, compassando as cousas do mundo como te praz! E sequer põe ante os olhos daquesta gente miserável algum conhecimento das cousas postumeiras, por que possam receber alguma consolação em meio de sua grande tristeza! E vos outros, que vos trabalhaes desta partilha, esguardae com piedade sobre tanta miseria, e vede como se apertam uns com os outros, que apenas os podeis desligar!
Quem poderia acabar aquela partição sem mui grande trabalho? Que tanto que os tinham postos em uma parte, os filhos, que viam os padres na outra, alevantavam-se rijamente e iam-se para eles; as madres apertavam os outros filhos nos braços e lançavam-se com eles de bruços, recebendo feridas, com pouca piedade de suas carnes, por lhe não serem tirados! E assim trabalhosamente os acabaram de partir, porque alem do trabalho que tinham com os cativos, o campo era todo cheio de gente, assim do lugar como das aldeias e comarcas de arredor, os quaes leixavam em aquele dia folgar suas mãos, em que estava a força do seu ganho, somente por ver aquela novidade.
E com estas cousas que viam, uns chorando, outros departindo, faziam tamanho alvoroço, que poinham em turvação os governadores daquela partilha.

O Infante era ali em cima de um poderoso cavalo, acompanhado de suas gentes, repartindo suas mercês, como homem que de sua parte queria fazer pequeno tesouro, que de RVI 3 almas suas aconteceram no seu quinto, mui breve fez delas sua partilha, que toda a sua principal riqueza estava em sua vontade, considerando com grande prazer na salvação daquelas almas, que antes eram perdidas, E certamente que seu pensamento não era vão, que, como ja dissemos, tanto que estes haviam conhecimento da linguagem, com pequeno movimento se tornavam Cristãos; e eu que esta história ajuntei em este volume, vi na vila de Lagos moços e moças, filhos e netos daquestes, nados em esta terra, tão bons e tão verdadeiros Cristãos como se descenderam de começo da lei de Cristo, por geração, daqueles que primeiro foram bautizados.
in  http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/zurara2.htm
sublinhados nossos

Notas:  Os escravos foram trazidos da costa ocidental africana, sendo uns brancos, outros "pardos" e ainda negros; etíope significa que é da África subsariana; Zurara comove-se mas não contesta (nem pode) a "missão evangelizadora e a "salvação das almas e justifica a posição do Infante; o Infante D. Henrique, governador da Ordem de Cristo assiste, de cima do seu cavalo, aparentemente sem se comover com as separações das famílias.

Mercado em Lagos

Publicidade ao tempo

Antiga relojoaria em Portimão.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Viva Sevilha. Também o Alfredo e o Hermínio


Tinha há pouco pensado escrever texto sobre vivências de Sevilha. Lembra-me agora o célebre dito “ver Sevilla y morir”, o último desejo antes do Paraíso, aquele Éden onde existe o “verde que te quiero verde”, a água límpida dos rios que todos os que vivem nestas terras quentes sonham. Porque Sevilha é uma cidade fantástica, que combina um calor intenso com a frescura das águas do Guadalquivir, dos jardins do Alcazar, esse palácio múltiplo de simbioses de arquitecturas cristã e islâmica, onde se sente e se usufruem os prazeres dos sentidos. Sevilha de ruas estreitas, produto de várias civilizações, da mistura da antiga Hispania com outros ventos mediterrâneos, mouriscos, árabes, judaicos, das Caraíbas e outras Américas.
A primeira vez que fui a Sevilha tinha 18 anos, em 1975. Tinha conseguido um passaporte e uma licença militar (era assim que se podia sair legalmente de Portugal, antes do 25 de Abril seria quase impossível com esta idade). Ainda a ditadura não tinha acabado em Espanha e já os ventos revolucionários de Portugal sopravam para Leste.
Estava acampado em Monte Gordo e quis aproveitar o passaporte para conhecer o outro lado, pelo menos Ayamonte. Fui com outro amigo meu, passámos as alfândegas, o barco, trocámos escudos por pesetas e resolvemos ir até Huelva, de camioneta, por uma estrada estreita, que também a Espanha ainda era uma sombra do desenvolvimento. Em Huelva resolvemos seguir para Sevilha, já agora! Em Sevilha um calor intenso, aliviado apenas pelo ar condicionado do Corte Inglés, onde não fomos fazer compras. Depois, já era tarde e tínhamos que comer. Perguntámos a alguém onde se comia barato. Indicaram-nos o Zoco (a mesma palavra que souk, mercado em árabe), onde se comia pescado frito (eles dizem pecao). Depois do peixe frito com pão, incautos, dormimos nas margens do Guadalquivir, do lado de Triana, apenas com a roupa de Verão que tínhamos, na relva ou grama da margem. Fomos acordados aí pelas cinco da manhã, por uma matilha de cães vadios, coisa comum nesses tempos, em qualquer povoação do Sul.
 Passeámos por Sevilha, comemos uns churros pagos com umas pesetas que encontrámos no chão e regressámos.
Fui a Sevilha novamente, numa visita de estudo da Faculdade com o professor Luís de Matos, num seminário de Arqueologia Árabe Medieval: grandes descobertas- Mérida, Itálica, Alcazar e mesquita/catedral de Sevilha, Córdova, Mesquita, Alcazar, Sinagoga e espanto dos espantos o Alhambra de Granada. Em Sevilha nem dormimos, juntámo-nos a uns espanhóis e argentinos e sei que aí pelas seis da manhã estava a discutir pintura com um pintor daltónico, numa casa com um pátio e corredores labirínticos.
No ano seguinte, 1979, fui novamente em visita de estudo desse seminário. E, se antes não tinha quase dinheiro, desta fui quase sem nenhum. Na primeira noite mal dormi num sofá de uma pensão onde ficaram os outros colegas. Juntámo-nos um grupo, onde o mais velho e meio anarquista era o Alfredo Tinoco, sempre bem-disposto e alinhando em tudo. O Hermínio Monteiro (mais tarde na Assírio e Alvim) só falava do Garcia Lorca, das poesias e dos sonhos andaluzes, da nostalgia islâmica, de um mundo entre o passado e a Utopia. O Hermínio estava tão falido como eu e o que nos valeu foi uma conferência entre o Cláudio Torres e Luís de Matos que convenceu o gerente da pensão a arranjar-nos um quarto no sótão, onde ficámos eu, o Hermínio e outra colega, a Beatriz. Depois foi a vivência e o encanto da Andaluzia.
Encontrámo-nos outras vezes. Falámos de coisa sérias, de sonhos e outras sem importância.
O Hermínio já se foi há alguns anos. Soube há pouco que o Alfredo também. Ainda nem percebi  Espero que haja mais gente como eles!
Viva Sevilla.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

O dia 24 de Agosto de 1820

Assim escrevia o jovem revolucionário, João Baptista da Silva Leitão, mais conhecido por Almeida Garrett, sobre a 1ª revolução liberal em 1820.

Lua Cheia

Vila Real de S. António com  Ayamonte ao fundo, Guadiana e farol, em noite de lua cheia, pelas 2.30 do dia 24 de Agosto, com um vento norte que hoje chegou fresquinho.

Limpezas de Verão

Limpar o pó com pincel e aspirador, panos e esfregona, caiar desarrumando e rearrumando, num equilíbrio possível.

Esculturas sem rotundas em Alcoutim

Aqui, em Alcoutim, homenagearam-se figuras da terra ligadas ao rio, como o contrabandista, o pescador e o guarda fiscal.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Cursos médios, bacharéis, licenciados, mestres, doutores


   Já aqui referi que pouco me interessa a relação entre um título académico e a ascensão social, a não ser do ponto de vista de uma análise da sociedade. Um dos problemas do nosso desenvolvimento tem sido até esse. Durante demasiado tempo entregavam-se grandes e pequenos poderes a indivíduos licenciados em Direito, apenas porque o eram e não porque tivessem formação em gestão ou áreas específicas; assim como engenheiros dirigiam empresas em vez de se dedicarem a funções técnicas e por aí adiante. Ainda hoje há quem pense que por alguém ter um determinado título académico pode dar opinião sobre tudo, como se houvesse especialistas em geral.
   Surge este artigo a propósito de uma petição sobre a equiparação dos antigos licenciados a mestres. Há aqui algumas confusões e algumas omissões, omissões essas de que geralmente não se fala, com receio de ofender o vizinho, guardando-se os ressentimentos para pequenos círculos ou as desconfianças e os mal-estares também.
   Não se trata aqui de prosápia nem de piadas sobre quais os melhores cursos e os defeitos dos outros. Mas vejamos exemplos:
   - Antigamente havia os chamados cursos médios: regentes agrícolas, professores primários, enfermeiros. Geralmente ingressava-se nestes com o antigo 5º ano do liceu e faziam-se mais dois anos. Muitos dos que se formaram assim foram promovidos administrativamente a bacharéis. Ora o conceito de bacharel era diferente, implicava uma formação na universidade.
   - Normalmente os cursos superiores (das universidades) tinham dois graus: o bacharelato (três anos) e a licenciatura (mais dois), com a excepção de Medicina (mais um ano) e em tempos arquitectura. Uma licenciatura eram cinco anos e antes do 25 de Abril fazia-se uma tese.
   - Quem quisesse integrar-se no ensino como profissional fazia um estágio de mais dois anos (cinco de licenciatura mais dois de estágio e cadeiras pedagógicas ou ciências de educação).
   - Entretanto começaram a surgir cursos via ensino, primeiro nas faculdades de ciências e depois em novas universidades (curso de cinco anos, com estágio integrado).
   - Com a reforma do Cardia a maior parte das licenciaturas passaram para 4 anos. Os que não estavam nos cursos via ensino faziam o estágio à parte.
   - Vai-se dando uma autêntica explosão do ensino superior com a proliferação de universidades públicas, e sobretudo universidades privadas e a diversidade torna-se cada vez maior.
- Os institutos politécnicos, que inicialmente tinham outros fins, foram conferindo primeiro o grau de bacharel e depois licenciado. As ESEs, que no início formavam professores de 1º ciclo entraram em concorrência directa com as universidades. Foram ainda criados outros cursos, mais ou menos rápidos, que conferiam o grau de licenciatura a quem tinha bacharelato ou equivalente.
   - Os mestrados, quando surgiram, implicavam teses inovadoras e trabalhosas que levavam a que as pessoas geralmente ultrapassassem os quatro anos. Depois houve alguma redução mas o rigor continuava, de tal maneira que a maior parte desistiam sem fazer a dissertação. Doutoramentos eram para poucos.
   Hoje, com o processo de Bolonha uma licenciatura geralmente é de três anos e com mais dois anos obtém-se o grau de mestre, com ou sem dissertação, conforme os cursos.
   A confusão e a trapalhada instalaram-se, mas não foi só agora. Resolver o problema como? Também não sei, como também não percebo bem porque é que não se quis continuar a chamar bacharelato a cursos de três anos. Ou antes, no entender de alguns, bacharelato seria uma designação menor, com menos prestígio. Deve ser esse o motivo já que se foi fazendo o possível para “gastar” o termo. Como se faz agora com as licenciaturas. Basta ver que, segundo o “espírito de Bolonha”, o estudante com uma licenciatura deveria estar preparado para ingressar no mundo do trabalho. Em Portugal na maior parte dos casos não é assim: transformou-se a licenciatura numa etapa.
   Promover administrativamente todos os licenciados a mestres, quando já as licenciaturas não eram iguais? E depois, os que já eram mestres passam a doutorados e os antigos doutorados passam a quê? Inventamos outra designação? E depois quem reconhece o quê?
   Já não vivemos neste Portugal autocrático e pequenino em que uma minoria estudava e tinha lugar certo. Quem tira um curso deveria poder estar preparado para o mercado de trabalho, pelo menos europeu. É também esse o “espírito de Bolonha”. Se nos preocuparmos apenas com títulos académicos, sucessivamente desvalorizados, qualquer dia ninguém lhes liga.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Um outro Algarve

Um Algarve sem Scuts, com nomes muito concretos (Eira) ou que provavelmente vêm de outras línguas que já não se falam por aqui.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

As novas oportunidades


   Não vou dizer nada de novo mas estou farto de ouvir palavras matraqueadas sem um sentido racional, um chorrilho de preconceitos que não me agradam.
   Mas também expresso dúvidas, até porque não tenho dados credíveis. O exercício que aqui faço tem pouco fundamento, mas um pouco mais do que as mensagens que tenho recebido sobre o facilitismo, que também não fundamentam a opinião.
   Há um exercício que faço: o pôr em dúvida as opiniões, entre as quais a minha. Sou contra o relativismo, aquela ideia que no meio está a virtude, qualquer que seja a opinião. Nem todas as opiniões têm o mesmo valor: há umas que são fundamentadas e outras não, há algumas que merecem dúvidas, outras que carecem de prova, outras ainda são apenas qualquer coisa primária, apenas uma expressão de uma ideologia sem disfarces. As dicotomias são perigosas também, porque expressas de uma forma autoritária, em que não se apela à consciência mas a uma tomada de posição.
   Ao longo da História, em Portugal, mas não só, os diplomas têm tido várias funções, entre as quais destaco: a certificação de conhecimentos ou competências e a promoção social. Durante muito tempo a última foi decisiva e, em parte, ainda é.
   Nascia-se numa determinada família ou a família tinha uma estratégia que levava os jovens a estudar e, seguindo naturalmente o percurso ou furando todos os estigmas e recorrendo a todos os meios possíveis, económicos ou outros, conseguia-se estudar e, no final, uma promoção social. Nada fácil para muitos, num país que apenas tinha três universidades até ao 25 de Abril, fora a Universidade Católica e outros institutos que ainda contavam pouco. Os liceus ainda eram escassos, praticamente o único meio de se chegar à universidade. As escolas técnicas eram desvalorizadas.
   Não sou daqueles que pensam que antes era só rigor e conhecimentos. Não podemos esquecer o contexto de uma sociedade onde pouco se promovia o ensino e continuava a censura política, moral, científica … e uma hierarquia social ainda rígida. Nem sempre os melhores eram promovidos, o que não significa que os promovidos o fossem só por facilitismo ou por pertencerem a determinado grupo.
   Pertenço a uma geração que viu muitos ficarem pelo caminho, não por serem menos inteligentes ou menos esforçados, mas simplesmente porque não podiam continuar a estudar. Não quer dizer que, só por isso fossem melhores, mas nem o Estado nem a sociedade ou as famílias o permitiram.
   Tenho conhecido pessoas que ao longo da vida foram aprendendo, foram fazendo … Fala-se de Saramago; não foi isso que fez? Fala-se aqui (ou já se fala menos) de Túlio Espanca, que tantos estudos publicou, embora apenas tivesse o diploma da 4ª classe.
   Há tantas pessoas que merecem ser certificadas, tantas que têm o direito de aprender. O que precisam ,e muitos exigem, é ter uma certificação digna.
   Não se confunda hierarquia social, diplomas e facilidades ou dificuldades. Não se confundam preconceitos com saber e mérito.
Há também que haver melhores estudos para falarmos com deve ser.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Quadras

Estive, até há pouco tempo, num Curso de Formação Especializada em Bibliotecas Escolares. Houve um dia, ou uma noite, que depois de uma sessão contínua (Março de 2009), cheguei a casa e fiz estas quadras, já que não conseguia dormir, depois de ter mal dormido.

Quadras sem escárnio, com um pouco de mal dizer.

Oiçam senhoras e senhores
Esta estória de pasmar:
Todos são professores
E não se fartam a trabalhar.

Já lá vem a bela infanta
E o D. Quixote no Rucinante.
Um computa, outra canta,
O caminho é pra diante.

Já os pássaros fazem ninhos,
Anda o capuchinho de cinzento.
Vão por todos os caminhos,
À espera do grande momento!

É a wiki para aqui,
É o fórum para acolá,
É da biblioteca para ali,
É da ESE para lá.

Já em Viseu não cai a neve,
Nem nas Caldas vive a rainha.
Quem pensou que isto era leve,
Já nem juízo tinha!

De Évora, Beja e arredores
Há projectos mil e um.
Ninguém liga a pormenores,
Anda tudo num trinta e um.

(Epílogo)
Até fazer :
Pim!
Pam!
Pum!

Tudo ao molho e a tempo inteiro


Num país onde para resolver problemas simples em tribunais se demoram anos e anos, onde está inscrito na Constituição há 35 anos a regionalização e outras coisas de que se fala de vez em quando, onde se discute de vez em quando a reabilitação de centros urbanos a cair há décadas, onde ciclicamente se promete uma reforma eleitoral que aproxime eleitos dos eleitores … tomam-se rapidamente medidas sobre Educação que podem afectar a vida de centenas de milhares de pessoas.
Poderá isto parecer um pouco de demagogia, porque só se deve comparar o que é comparável. Mas o erro é habitual. Sem uma avaliação suficiente, sem conhecer a realidade do país, tomam-se, por vezes medidas drásticas, neste caso no ensino.
A resolução do Conselho de Ministros nº 44/2010:
Assim, determina -se que as escolas do 1.º ciclo do ensino básico devem funcionar com, pelo menos, 21 alunos. Esta orientação permitirá encerrar, até ao final do ano lectivo de 2010 -2011, aquelas escolas cuja dimensão prejudica o sucesso escolar dos seus alunos
Num país envelhecido isto significa que aldeias com perto de mil habitantes ficam sem escola; significa que milhares de aldeias vão ficar sem escola, que vão crianças de 5, 6 … anos andar todos os dias dezenas de quilómetros, esperando uns pelos outros, levantando-se às seis, sete da manhã e regressando ao fim da tarde. Isto, num país onde as câmaras municipais estão quase na falência ou pelo menos descapitalizadas, sem dinheiro para arranjar mais transportes nem proceder à manutenção de estradas.
Se tivémos um êxodo rural desde os anos 50, este governo continua a provocar a continuação deste êxodo, com as populações a ficar sem serviços de saúde, de educação, policiamento … nada, a não ser umas paisagens humanizadas com alguns velhos que por ali perduram, no meio de umas ruas desertas, umas capelas a cair, um silêncio e ar puro, quase ideal para quem gosta de Arqueologia, recordar memórias antigas ou simplesmente tirar umas fotografias exóticas e apreciar o turismo rural, a panaceia do desenvolvimento. Um fim-de-semana para turistas, uma fuga e um adeus para os que lá vivem, um sonho que acabou para os que pensaram ainda em regressar.
No entanto, repare-se: será que Portugal tem um interior com um destino de decadência inelutável? Será que o nosso interior é mais periférico que as aldeias da Finlândia, onde se vive?
Cite-se ainda, a grande preocupação do legislador:
“Todos os alunos devem frequentar espaços dotados de refeitório, de biblioteca e de sala de informática, espaços adequados para o ensino do inglês, da música e da prática desportiva. Pretende -se, com esta resolução, garantir que todos os alunos frequentem espaços que permitam a concretização da escola a tempo inteiro e que promovam uma efectiva igualdade de oportunidades.”
As grandes preocupações são a informática, o inglês (nada sobre outras áreas de conhecimento), refeitórios, as bibliotecas. Será que estas últimas passarão a ser um centro de entretenimento permanente, pejadas de computadores, mas quase sem livros, visto que, exceptuando a Gulbenkian, quase ninguém tem interesse em disponibilizar verbas para mais aquisições. Exceptue-se também o Plano Nacional de Leitura, para os alunos mais novos, onde é aconselhado a todos na mesma turma a ler o mesmo, à mesma hora.
Mas a resolução vai mais longe ainda, como se não bastasse:
pretende –se adequar os projectos educativos ao objectivo de uma escolaridade de 12 anos para todos. Torna -se necessário promover condições para a criação e consolidação de unidades de gestão que integrem todos os níveis de ensino e que permitam a um aluno completar a escolaridade obrigatória no mesmo agrupamento de escolas.
Nesse sentido, esta resolução estabelece critérios que promovem a existência de agrupamentos verticais, que devem incluir, quando possível, todos os níveis de ensino e que possibilitam a concretização de projectos educativos para um percurso formativo que se inicia na educação pré- escolar e se estende até ao ensino secundário.
Agrupamento enormes, um único agrupamento em concelhos com mais de 1000 km² de extensão, como no Alentejo e noutras regiões, várias escolas, de vários ciclos, juntas.
Há anos que se fala e se escreve sobre autonomia das escolas. De uma penada destrói-se o que se foi fazendo, acaba-se com práticas de escolas que foram criando a sua própria cultura, projectos em curso, experiências de gestão que não chegam ao fim. Escolas secundárias que foram alvo de profundas obras de reestruturação vêem agora entrar meninos do 1º ciclo, o que vai obrigar a novas alterações dos espaços e da gestão dos mesmos.
Será útil misturar crianças de 5, 6 anos com alunos jovens de 17, 18?
Vai-se ainda infantilizar mais os jovens?
Não creio que os objectivos sejam só economicistas. Parece que há uma vontade de controlar tudo, não deixar tempo para os alunos pensarem, lerem com tempo um livro, discutirem entre si, desenvolverem projectos sem ter um adulto em cima, algum sossego para consolidar conhecimentos, sem o ruído constante de múltiplos cartazes, contos da carochinha censurados e infantilizados, computadores com muita cor, movimento e som, como panaceia para a falta de ideias e disfarce de plágios.
Parece a consagração oficial da imagem da “mãe-galinha”, que não deixa o menino autonomizar-se e crescer sabendo, trocando o medo da possível nova experiência do rebento, pelo controle através da brincadeira constante.
No fundo, uma violência! Uma fábrica de pensamento unidimensional, apresentada como a mais moderna, mais divertida e mais integradora.
 

terça-feira, 22 de junho de 2010

A propósito de Saramago

   A primeira vez que vi José Saramago foi no Anfiteatro 1 da Faculdade de Letras de Lisboa, pouco tempo depois do 25 de Novembro de 1975, talvez em Dezembro ou já Janeiro de 1976. Eram vários jornalistas e escritores, que também escreviam para os jornais. Tinham sido despedidos em massa no próprio dia 25 de Novembro, sem direito a qualquer indemnização nem explicação. Se alguns, como Urbano Tavares Rodrigues, tinham outra profissão, no caso professor na Faculdade de Letras, outros como Saramago, estavam quase na miséria, mas a renascer das cinzas. O Diário de Notícias voltou a ser o que era, um órgão do regime, O Século acabaria pouco tempo depois.

   Nesse tempo, havia na Faculdade, inúmeras conferências e colóquios, organizados por estudantes e professores. “Anti-académicos, como José Gomes Ferreira, ou mais frequentadores de outras tertúlias, como Manuel da Fonseca, contavam histórias de encantar, um com o seu irreal quotidiano, outro com o seu quotidiano mais concreto, do heróico ao picaresco, relatando com humor coisas do Alentejo, Lisboa e outras desvairadas partes. Nestas sessões e noutras, onde se discutia o futuro e os projectos da Faculdade e a sua intervenção no país, iam também professores e escritores, como os seus cachimbos, como Manuel Ferreira e David Mourão-Ferreira. Investigadores como Jacinto do Prado Coelho e, sobretudo, Lindley Cintra, cuja intervenção cívica, antes e depois do 25 de Abril, seja pela literatura, pela sua postura face ao autoritarismo anterior ou pela alfabetização, não é de somenos recordar. António José Saraiva passeava-se por onde lhe apetecia, parando quando e onde calhava, porque tinha uma nova ideia ou revisto as ideias dos dias anteriores. Nas aulas, a que assisti, faltando a outras, visto que não era seu aluno, falava de temas do início ou do fim do programa ou até fora dele, mais frequentemente e desligava o aparelho auditivo quando não estava para aturar cópias de trabalhos pouco interessantes. Depois recebíamos ainda outras e outras visitas, cantores, músicos, nacionais, estrangeiros, espanhóis ainda em tempo de ditadura e até Álvaro Cunhal lá foi falar de arte e literatura, perante uma plateia onde havia tantos de extrema-esquerda, que o respeitaram, coisa menos habitual. Refiro-me apenas a acontecimentos relacionados com a Literatura, pois noutras áreas ia sucedendo o mesmo.

   Nesse ano, organizou-se um grupo de jovens, o Movimento Alfa que, no Verão, partiu (éramos centenas) para a alfabetização no interior do país, sobretudo no Alentejo.
Experiências marcantes, que levaram muitos a apreciarem pequenas grandes coisas desta vida!

   A impressão que tive de Saramago, na época ainda pouco conhecido, é que era um homem de convicções, que não desistia de lutar, com método. Mais tarde vi-o, já célebre e polémico ou polemizado, naquele confronto antigo entre os “castiços” que sabem tudo e desprezam os outros com a mesma intensidade e os outros, apelidados de “estrangeirados”, mas que apenas querem agitar um pouco as águas, com algumas “pedradas no charco”.

   Parecia um pouco duro na expressão do rosto, mas era a dureza da vida de quem não nasceu em berço de ouro nem de família. Afinal, era um homem simples, afável sem salamaleques “académicos”, sem dívidas para com as elites, que falava, escrevia e intervinha, perseguindo uma Utopia, mas com os pés na terra, mesmo na terra vulcânica, mesmo com saudades das terras do Ribatejo, Alentejo, Lisboa e outras gentes, a que regressava sempre que necessário.
E que continue a regressar, com a sua obra e o seu exemplo!

Morreu Saramago; Viva Saramago!

domingo, 13 de junho de 2010

Camões, dia de Portugal e o Ultramar.


   Este já chegou a ser o dia da Raça, coisa mal explicada, porque o Estado Novo sempre falava numa Pátria pluricontinental, onde caberiam todos os que fossem patriotas à maneira oficial, apesar do Estatuto Colonial que definia claramente que havia portugueses (e alguns de segunda), assimilados e indígenas, estes considerados como uma espécie de crianças que haveriam de ser evangelizados, mas que serviam claramente para trabalhar. Eram anti-patriotas e, portanto, não portugueses, os que se opunham. Era assim a lei e mais ainda a prática consolidada de décadas, em que já era difícil acreditar que Portugal pudesse ter algumas coisas que os outros já tinham há muito . Já a escravatura tinha acabado a contragosto no século XIX, mas continuavam nas colónias os “contratados”, isto é aqueles que eram apanhados sem um cartão de trabalho e se viam obrigados a trabalhar por um salário qualquer nas roças. Os que iam trabalhar para os cafezais do Norte de Angola ou para S. Tomé, geralmente ficavam a dever dinheiro ao patrão que tinha um empregado ou sócio na cantina que lhes vendia comida ou vinho à colher pelo preço que lhe convinha, e tinham que prolongar o contrato, além de levar umas pauladas.
Quando oiço falar de Ultramar lembro-me também de uma senhora que fazia limpezas e era analfabeta, como tantos neste Alentejo e em todo o país, mais ainda em Timor que no Minho e que tinha um filho em Angola na tropa, coisa generalizada que demorava aí uns quatro anos. Dizia ela ao ouvir um fado na telefonia, talvez do António Mourão, num programa chamado Música no Trabalho: “Ai senhora, até a música no “Tramar” é triste!
   Neste país “vivia-se como habitualmente”. Nos anos sessenta e até mais tarde, nas tardes de Junho, nas vilas do Alentejo, não se ouvia nem se via quase nada, a não ser uma ou outra carroça puxada por mulas, a chiar, passando pelas covas das calçadas ou dos terreiros, que raras eram as alcatroadas ou calçadas, em algumas corriam ainda esgotos, via-se um ou outro rapaz, às vezes em grupos, daqueles que não estavam a trabalhar, porque a maior parte da população estava no campo, onde já havia máquinas, mas muitos ainda ceifavam com foice, outros estariam nas eiras, separando o trigo e levantando a palha e a poeira e limpando o suor com o lenço. Os divertimentos dos rapazes eram os da imaginação: jogar ao pião, aos cowboys, andar à pedrada aos gatos ou aos ninhos, fumar uns mata-ratos às escondidas … Os mancebos (assim apareciam nos editais), com 20 anos iam para a tropa, alguns voluntários até mais cedo, para Angola, Moçambique, Guiné, os mais sortudos para Cabo Verde ou S. Tomé ou ainda para Timor, onde a população ainda gostava dos portugueses porque os deixavam viver como no século XVI, ao contrário dos japoneses que lá estiveram na 2ª guerra mundial, que matavam qualquer um só por pisar a sombra deles.
   O dez de Junho era também feriado. Alguns homens iam a cafés ou tabernas, onde, em poucos, se ouviam os discursos patrióticos no único canal de televisão, em que se impunham medalhas a mortos, recebidos pelas viúvas dos militares. Bebia-se vinho de pouca qualidade ou “a martelo”, de marcas como Camilo Alves, até porque o proteccionismo estatal não deixava cultivar vinhas na maior parte do Alentejo (Borba, Vidigueira, Redondo … eram excepções).
O entusiasmo pelos discursos era pequeno, a não ser um ou outro que pensava subir na vida, tecendo elogios a pequenos senhores. Também havia alguns convencidos mas o entusiasmo de “Angola é Nossa já estava fora de moda. A reacção também não era muita, até porque o vizinho do lado poderia ser informador da PIDE. Silêncio e copos, ou conversas mais entusiasmadas sobre o futebol ouvido nos relatos da rádio ou então sobre os feitos dos forcados e cavaleiros nas touradas.
   Do calor e das moscas varejeiras, que Fialho tão bem descreveu, dos salários e trabalhos medievais, da ordem e da vida controlada, do espírito ao corpo, aos passos e espaços, o controlo social, do regime, dos senhores, dos padres, dos moralistas, das vizinhas e vizinhos, muitos já tinham fugido em desespero. Alguns para França, como na maior parte do país, mas estes, por aqui, mais para a Margem Sul de Lisboa: Barreiro, Fogueteiro, Samouco …, que dinheiro para ir mais longe não havia e, se o houvesse, ainda era preciso ir a salto, porque ter um passaporte era coisa para muito poucos, que o regime não gostava de grandes andanças.
   Era um pouco assim este país onde alguns se orgulhavam do Ultramar, onde gerações de jovens (mais de 800000) perderam alguma inocência, pernas, braços e até a vida, outros que ainda hoje sonham obsessivamente com o que lá se passou, outros (e não foram poucos) que por motivos políticos ou em desespero tomaram os caminhos de França e do resto do mundo. Um país, onde a segunda cidade mais habitada por portugueses eram os “bidonvilles” de Paris, um país que perdeu mais de um milhão de pessoas que emigraram, um país onde nos manuais escolares se falava das grandes obras do Estado Novo, como a única auto-estrada de Lisboa a Vila Franca, mas em que na maior parte das aldeias ainda não havia electricidade, esgotos e água canalizada, habitado por camponeses em fuga. 
Quase por ironia, festejava-se o dia em que Camões morreu, mas não se dava o direito  de o ler à maioria, num país de 40% de analfabetos ainda no início dos anos 70.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Lobos, javardos e cornudos

   
   Há uma frase antiga, homo lupus homini, o homem é o lobo do homem. Tomara que fosse! Neste país onde tantos pequenos e grandes poderes crescem, lembrando hábitos antigos que não foram erradicados, pequenos e grandes poderes sobrepostos e desorientados que exigem “evidências”, que ordenam e desordenam, fazem leis próprias para serem interpretadas subjectiva e contraditoriamente, verborreiam, exibem o seu poder pelo poder, confundem teimosia ignorante com persistência e fazem dos outros súbditos, de quem se espera que fiquem encantados com as “iluminações” do momento, que há-de ser contraditório com o que se afirmou ontem e se nega amanhã. Amanhã, a começar por hoje, pode ser que, com pessimismo também, se vão juntando alguns para correr com a mediocridade e alcançar alguma Utopia, não numa ilha distante, mas por aqui.

   Começamos muitos a estar demasiados fartos destes autoritarismos dispersos e de pensamentos únicos.

   Entretanto falemos de animais e de gente que dá pouco nas vistas, que não anda na febre das “evidências” imediatas, para tentar ofuscar outros com “power points” e outros estardalhaços que aumentam a vaidade e ruído na comunicação.

   Falemos de lobos e javardos e de alguns cornudos também. Dos verdadeiros, que só são selvagens, porque vivem in silvis e quanto mais estão fora desses espaços mais “humanizados” se tornam, adquirindo maiores perversões, dependendo, claro, dos humanos que os controlam ou submetem.

   As imagens que se seguem são da Tapada de Mafra, onde se tem preservado e recuperado a flora, os javalis, os veados, gamos …, bufos (genuínos), outras aves de rapina e o Centro de Recuperação do Lobo Ibérico. Aqui se vêem javalis um pouco gulosos, mais à procura de qualquer coisa de comer do que a investir contra alguém, um lobo mais velho a apanhar sol, uma loba jovem curiosa, um irmão desta mais tímido …

   Dentro das possibilidades, com muita persistência, muito tempo de estudo, medidas sem “evidências” imediatas, fazem-se aqui trabalhos fundamentais. Há gente neste país que faz coisas boas! Desfazem-se preconceitos e contribui-se para o conhecimento!

Ver:
www.tapadademafra.pt

http://lobo.fc.ul.pt

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Hino de Riego. Hino da revolução liberal e da República Espanhola

Agora que em Espanha a extrema-direita, a começar pela Falange (porque é que ainda existe?), pretende silenciar o juiz Baltazar Garzon e, sobretudo a memória das centenas de milhares de pessoas fuziladas, bombardeadas, torturadas, durante e após a guerra civil (1936-39), recordemos que a Espanha já teve outro Hino Nacional, oficial após a revolução liberal de 1820 (no mesmo ano que a portuguesa) e durante a 2ª República (1931-39):
O Hino de Riego

Encontrei também, por acaso, uma busto de homenagem ao general liberal Riego, em Oviedo.

sábado, 17 de abril de 2010

D. Pedro, Um herói romântico.


Agora que se comemora a República, que se fez contra a monarquia, mas também pela Regeneração de Portugal e pelos ideais de cidadania, lembremos que algumas dessas ideias já existiam antes, com formas e práticas, obviamente diferentes.
D. Pedro foi uma figura singular e contraditória. Não sei porque é que em Portugal ou no Brasil não se fez um filme a sério sobre esta figura. Talvez tenha faltado aqui um Visconti para retratar toda esta comédia e tragédia. Os ingredientes dessa história pessoal, familiar e nacional (ais) poderiam dar imensas ou inúmeras obras, onde não falta o drama, a intriga e o clímax.
Neto de uma rainha que ensandeceu e que chegou ao Brasil com uma corte com senhoras carecas, devido à praga de piolhos, situação que em S. Salvador da Bahia de Todos os Santos (grandes nomes, um pouco como o da Cidade do Santo Nome de Deus de Macau), levou a que as senhoras da elite pensassem que era moda na Europa, até porque nenhum rei ou corte tinha entretanto chegado às Américas. Seu pai, algo compulsivo na arte de comer frangos e de algum aparente desprezo pela política, coisa que muitos portugueses ainda se sentem herdeiros, soube fazer o que os seus parentes espanhóis não conseguiram: preservar o trono. Aqueles, ao contrário deixaram-se prender por Napoleão, que os substituiu por um seu irmão. Entretanto a única da família Bourbon que escapou tornou-se rainha de Portugal, D. Carlota Joaquina, mãe de D. Pedro e D. Miguel, havendo até quem a quisesse para rainha de Espanha ou até para rainha para os lados do rio da Prata. Só que ela não gostava de liberais argentinos, nem da América em geral, nem do marido, que em troca lhe chamava megera. D. João VI ou os seus ministros, entretanto aproveitaram para alargar o Brasil, conquistando terras aos espanhóis ou ao que restava deles, a província Cisplatina, hoje chamada Uruguai e investindo também na Guiana Francesa, alargando a Amazónia. Por cá deixou os portugueses entregues aos franceses e também aos espanhóis, que primeiro aproveitaram e depois se tornaram amigos, se bem que tivessem ficado com Olivença, libertada e depois entregue a Espanha pelos ingleses que ficaram aqui a mandar neste protectorado.
D. Pedro lá foi crescendo no Brasil com o seu irmão D. Miguel, que as más-línguas diziam que era apenas meio-irmão, e talvez pelos calores, talvez por uma tradição herdada de outros seus ascendentes, como D. João V, que gostava de freiras, mas não de uma qualquer, ou de D. José que se interessava pelas Távoras, tendo ainda apanhado um tiro, no coche pelo menos, dizíamos, D. Pedro foi-se interessando pelas senhoras mais jovens, que dado o interesse, também lhe cresciam as respectivas barrigas, em particular a Marquesa de Santos. Não foi tradição que tivesse acabado, pois um seu descendente D. Carlos, também não se esquecia de quase nenhuma, senhora ou criada. O seu irmão, nem tanto, preferia touradas e tradição. Um castiço.
Com a revolução liberal, em 1820, Portugal incendeia-se em entusiasmos liberais e no Brasil também, pelo menos alguns que podiam e não eram escravos.
D. Pedro, educado para ser absolutista, desconfiado dos liberais radicais, mas liberal conservador, proclama a independência, depois de dizer Fico, perante o ultimatum das cortes em Lisboa.
Proclama a independência do Brasil, do alto de um cavalo, em Ipiranga, hoje um bairro de S. Paulo e escreve uma Carta Constitucional para o Brasil. Após a morte do pai, torna-se rei de Portugal, o que não agrada aos portugueses do Brasil, agora brasileiros. Dá o trono a sua filha, D. Maria, visto que o filho mais velho lhe sucederia no Brasil, filha esta que casaria com D. Miguel, depois de jurada a Carta Constitucional, o que este fez, para logo a seguir proclamar o absolutismo.
Depois das perseguições habituais nestas circunstâncias, com o “malhados” (liberais) a serem malhados constantemente, prisões e enforcamentos incluídos, outros a fugiram do país, quando podiam, D. Pedro regressa à frente de voluntários e mercenários, outros que a pouco e pouco vêem que os ventos estão a mudar, e implanta definitivamente o liberalismo, nacionalizando conventos e outros bens, com reformas que mudaram a face do país, se bem que com alguns aproveitamentos particulares e outras guerras e guerrilhas que se seguiriam até meados do século.
D. Pedro foi herói libertador do Brasil, imperador liberal, acusado depois de ditador, abdicou do Império, abdicou do título de rei de Portugal também, fez uma Carta constitucional para o Brasil, fez uma Carta Constitucional para Portugal, como músico que era (à semelhança de D. João IV), fez um hino para o Brasil, outro para Portugal. Morreu novo, como duque de Bragança.
Os hinos das monarquias liberais do Brasil e de Portugal falam também da Liberdade e da Constituição, coisa que os monárquicos miguelistas sempre abominaram.