quarta-feira, 7 de julho de 2010

As novas oportunidades


   Não vou dizer nada de novo mas estou farto de ouvir palavras matraqueadas sem um sentido racional, um chorrilho de preconceitos que não me agradam.
   Mas também expresso dúvidas, até porque não tenho dados credíveis. O exercício que aqui faço tem pouco fundamento, mas um pouco mais do que as mensagens que tenho recebido sobre o facilitismo, que também não fundamentam a opinião.
   Há um exercício que faço: o pôr em dúvida as opiniões, entre as quais a minha. Sou contra o relativismo, aquela ideia que no meio está a virtude, qualquer que seja a opinião. Nem todas as opiniões têm o mesmo valor: há umas que são fundamentadas e outras não, há algumas que merecem dúvidas, outras que carecem de prova, outras ainda são apenas qualquer coisa primária, apenas uma expressão de uma ideologia sem disfarces. As dicotomias são perigosas também, porque expressas de uma forma autoritária, em que não se apela à consciência mas a uma tomada de posição.
   Ao longo da História, em Portugal, mas não só, os diplomas têm tido várias funções, entre as quais destaco: a certificação de conhecimentos ou competências e a promoção social. Durante muito tempo a última foi decisiva e, em parte, ainda é.
   Nascia-se numa determinada família ou a família tinha uma estratégia que levava os jovens a estudar e, seguindo naturalmente o percurso ou furando todos os estigmas e recorrendo a todos os meios possíveis, económicos ou outros, conseguia-se estudar e, no final, uma promoção social. Nada fácil para muitos, num país que apenas tinha três universidades até ao 25 de Abril, fora a Universidade Católica e outros institutos que ainda contavam pouco. Os liceus ainda eram escassos, praticamente o único meio de se chegar à universidade. As escolas técnicas eram desvalorizadas.
   Não sou daqueles que pensam que antes era só rigor e conhecimentos. Não podemos esquecer o contexto de uma sociedade onde pouco se promovia o ensino e continuava a censura política, moral, científica … e uma hierarquia social ainda rígida. Nem sempre os melhores eram promovidos, o que não significa que os promovidos o fossem só por facilitismo ou por pertencerem a determinado grupo.
   Pertenço a uma geração que viu muitos ficarem pelo caminho, não por serem menos inteligentes ou menos esforçados, mas simplesmente porque não podiam continuar a estudar. Não quer dizer que, só por isso fossem melhores, mas nem o Estado nem a sociedade ou as famílias o permitiram.
   Tenho conhecido pessoas que ao longo da vida foram aprendendo, foram fazendo … Fala-se de Saramago; não foi isso que fez? Fala-se aqui (ou já se fala menos) de Túlio Espanca, que tantos estudos publicou, embora apenas tivesse o diploma da 4ª classe.
   Há tantas pessoas que merecem ser certificadas, tantas que têm o direito de aprender. O que precisam ,e muitos exigem, é ter uma certificação digna.
   Não se confunda hierarquia social, diplomas e facilidades ou dificuldades. Não se confundam preconceitos com saber e mérito.
Há também que haver melhores estudos para falarmos com deve ser.