terça-feira, 29 de abril de 2008

O 25 de Abril para gerações recentes

Ontem, numa aula de 12º ano, a "matéria" era o 25 de Abril e o processo revolucionário.
Antes, noutra aula, já tinha passado parte de um filme, "Outro País", do meu amigo Sérgio Trèfaut (tão português como os outros, pois que é filho de Miguel Urbano Rodrigues).
Uns gostaram, outros nem sei (e é isso que me custa, a falta de qualquer reacção).

Ontem, dizia, referia-se também o tema da Reforma Agrária. Reacção: quase nenhuma. Fiquei com a sensação de que falar da Reforma Agrária que aconteceu neste Alentejo, onde os pais e avós deles participaram, a favor ou contra, sem neutralidades, era quase o mesmo que falar em bananas.
A diferença é que as bananas não saem para o teste. Por isso, a Reforma Agrária suscita um pouco mais de atenção.

Não é que sejam menos inteligentes que os outros. Nem sequer desprezam o 25 de Abril. Até acham bem que se fizessem estas lutas e não desejam voltar ao antigamente. Estão habituados ao regime (mais ou menos) democrático, nasceram nele.

Um dos problemas é a "fartura". Estão habituados a serem levados aos hipermercados aos fins de semana. Estão habituados à televisão no quarto, ao computador, ao MP3, aos jogos.
Quando estudam, têm simultaneamente ligados o televisor, um qualquer (ou mais) aparelho de música, o computador ligado à Internet, fazem "downloads", têm e usam o MSN, recebem filmes do "YouTube", fotografias, têm o telemóvel ao lado, que também recebe voz e imagem. Não precisam de luz exterior, não precisam de distinguir as estações do ano, comem pizzas e hamburgueres a qualquer hora, saem para a discoteca a partir das tantas.

Com tudo isso ao mesmo tempo, será possível lerem? Lêem também, mas no meio disto tudo.
Já não se comovem com imagens. Textos, imagens, sons, já pouco provocam.Recebem-nos a toda a hora; uma música é mais um conjunto de sons. O "espanto" é passageiro, a efemeridade é a norma.

O problema já não é a televisão. É a pletora, é o tudo ao mesmo tempo com um cérebro que é igual aos homens do Paleolítico. O nosso, diga-se de passagem.

Manifesto pela língua

Se isto não é português, então na Suíça e na Bélgica também não se fala francês nem na Áustria alemão.


Manifestaçom dia 18 de Maio em Compostela
A NOSSA LÍNGUA É INTERNACIONAL

A Associaçom Galega da Língua (AGAL), com motivo da celebraçom do Dia das Letras, convoca todos os galegos e galegas a manifestarem-se o próximo 18 de Maio às 12 horas na Alameda de Compostela, em defesa da Língua da Galiza, que identifica o nosso Povo, e convida a fazê-lo de modo firme e cívico polos nossos direitos lingüísticos individuais e colectivos de acordo com as seguintes considerações:

1.- Denunciar as políticas de substituiçom lingüística que levamos sofrendo durante os últimos 25 anos, disfarçadas de falsa normalizaçom lingüística.

2.- Exigir o reconhecimento da condiçom internacional da nossa Língua que, com a variedade própria das línguas internacionais, é falada por centos de milhões de pessoas no mundo, quer como língua nativa, como é o caso dos galegos, quer como língua oficial de oito Estados, ou como língua cada vez mais estudada em todo o mundo polas vantagens das línguas internacionais.

3.- Denunciar as autoridades e administrações públicas que, em vez de garantirem os direitos lingüísticos e democráticos do Povo galego, discriminam e perseguem aqueles que nom aceitam a deriva de substituiçom lingüística e dialectizaçom castelhanizadora do Galego que o torna desnecessário no seu próprio país.

4.- Apoiar a iniciativa aprovada no Parlamento por unanimidade reclamando a recepçom das rádios e televisões portuguesas na Galiza, que pedimos que se efective desde já e que nom fique numha simples declaraçom sem vontade real de a levar a cabo.

5.- Denunciar também os grupos extremistas que, protegidos por certos sectores políticos, atacam o direito e a liberdade de vivermos na Galiza em galego.

6.- Finalmente, apelamos a toda a sociedade para exigir umha mudança das políticas que tornam a Língua desnecessária e dialectal, como forma de impor o uso do castelhano, por políticas que garantam os nossos direitos lingüísticos individuais e colectivos, assegurando que o Galego continue a ser a língua própria dos galegos e galegas, e umha língua extensa e útil.

Decreto sobre a Gestão das Escolas

Admira-me a pouca preocupação sobre o Decreto-Lei n.º 75/2008, de 22 de Abril. Será que novamente muitos professores (e autarquias) só vão dar por isso quando estiver em execução?

Não estou propriamente contra a quantidade de elementos representantes dos pais e da autarquia no Conselho Geral, mas
- será que vão ter (tantos) representantes?
- vão mesmo participar?
Será que a maioria das autarquias vai passar a gastar tanto com a Educação como gasta com o futebol e as festas "populares"?
E, se o Conselho Pedagógico é um órgão técnico, o que é que vão lá fazer os que não são técnicos de educação? Porque é que têm que ser nomeados os coordenadores de departamento? Não funcionaria melhor o Conselho Pedagógico com elementos mais independentes?

domingo, 27 de abril de 2008

A ponte-barca em Mértola

Bilhetes da ponte-barca no Guadiana
Viagem na ponte-barca. À esquerda, Pedro Simão que a conduzia.

Postal antigo.

Antes de ser construída a ponte em Mértola, no início dos anos sessenta, todo o tráfego era feito atravessando o Guadiana, de barco ou na chamada ponte-barca. No Inverno, durante as cheias, a margem esquerda ficava isolada.
Havia bilhetes para vários tipos de transporte: para camionetas, automóveis, carros de mulas ...
Era o trigo e outros cereais, o gado, mas também todo o movimento de pessoas e mercadorias de quem vinha do lado de Serpa ou da movimentada Mina de S. Domingos e dos muitos "montes" da Margem Esquerda.
Foi ao fundo com uma camioneta. Por lá ainda deve estar, que o rio é fundo neste local.

Outro (?) 25 de Abril. Em Mértola.



Imagens de um casamento (neste caso o meu), em 25 de Abril de 1981.

Mértola. Novas descobertas-








Nestas terras quando se mexe no subsolo aparece sempre qualquer coisa. Era bastante provável encontrar novas sepulturas. Não arrisco datá-las, mas sabe-se que há uma necrópole, ou um conjunto de necrópoles, que vai da Senhora do Carmo (hoje, e desde a República, Escola Primária e actualmente Museu Paleocristão) até à Igreja de Santo António dos Pescadores (desde a República, Teatro, actual cine-teatro). Nas sepulturas antes encontradas, ao pé da Senhora do Carmo, umas eram paleo-cristãs, outras já muçulmanas, tendo passado por rituais diferentes, mesmo dentro da mesma religião, sempre de influência oriental. Umas tinham lápides em latim, outras em grego, outras ainda em árabe.
Com as actuais escavações e estudos complementares, dentro de algum tempo saberemos mais.


quinta-feira, 24 de abril de 2008

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Decreto sobre a Gestão das Escolas. Publicado hoje

Decreto-Lei n.º 75/2008, de 22 de Abril
[...]
A estruturação da carreira, com a criação da categoria de professor titular, à qual são reservadas as actividades de coordenação e supervisão, constituiu um importante contributo para a capacidade de organização das escolas em função da missão de serviço público que lhes está confiada.
[...]

Ao director é confiada a gestão administrativa, financeira e pedagógica, assumindo, para o efeito, a presidência do conselho pedagógico. Exercendo também competências no domínio da gestão pedagógica, sem as quais estaria sempre diminuído nas suas funções, entende -se que o director deve ser recrutado de entre docentes do ensino público ou particular e cooperativo qualificados para o exercício das funções, seja pela formação ou pela experiência na administração e gestão escolar.
No sentido de reforçar a liderança da escola e de conferir maior eficácia, mas também mais responsabilidade ao director, é -lhe conferido o poder de designar os responsáveis
pelos departamentos curriculares
, principais estruturas de coordenação e supervisão pedagógica.
[...]


Artigo 20.º
Competências
...
6 — O director exerce ainda as competências que lhe forem delegadas pela administração educativa e pela câmara municipal.
[...]

Artigo 21.º
Recrutamento
...
3 — Podem ser opositores ao procedimento concursal referido no número anterior docentes dos quadros de nomeação definitiva do ensino público ou professores profissionalizados com contrato por tempo indeterminado do ensino particular e cooperativo, em ambos os casos com, pelo menos, cinco anos de serviço e qualificação para o exercício de funções de administração e gestão escolar, [...]

Apenas uma constatação: aos professores titulares são reservadas funções de coordenação e supervisão mas o director não precisa de ser professor titular, isto é, considera-se que o cargo de professor titular é mais importante na hierarquia dos professores, mas o cargo mais importante da hierarquia da escola pode não ser exercido por um titular, pode até ser um professor que venha do ensino particular sem conhecer a escola.

Casa alentejana. Graça do Divor


Harmonia. Aniversário dos 159 anos na Praça do Giraldo

23 de Abril 2008 :: Concerto :: 22H :: Praça do Giraldo

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Château de Kérouzéré. Bretanha

Château de Kérouzéré, século XV

Castelo fundado ainda a Bretanha não tinha sido integrada em França, mas feudal na mesma. Embora num local relativamente plano, dominava os campos agrícolas e o litoral. Não apenas protegia dos inimigos estrangeiros mas protegia sobretudo o senhor que aí vivia e que vivia dos rendimentos dos camponeses, pescadores e marinheiros.
Por isso, durante a Revolução Francesa foi atacado e pilhado, apesar da Bretanha ser das zonas mais conservadoras e mais religiosas de França.
Onde nós nos impressionamos com a fortaleza, os miseráveis do terceiro estado impressionavam-se com a força dos senhores quase omnipotentes. Hoje sonhamos com as cenas cortesãs que aí se passavam; os camponeses nem sequer conseguiam sonhar com a libertação, habituados a uma opressão que vinha desde longe, mesmo sabendo que não era do castelo que vinha a protecção.
Como este château, há muitos em França. A Revolução Francesa acabou com estes poderes e servidões e os múltiplos impostos a que o povo estava sujeito. Os "mal-fadados" jacobinos ainda fizeram mais: dividiram as terras e distribuíram-nas. A França tornou-se por muito tempo um país de camponeses que criaram riqueza que permitiu o desenvolvimento.

domingo, 20 de abril de 2008

D. Quixote e a ortografia

Para mim o D. Quixote sempre foi uma das grandes obras da literatura universal. Tenho várias edições. ´Há uns anos, aquando das comemorações do 4º centenário quis comprar uma edição fidedigna, isto é, que respeitasse a grafia da época. Comprei uma edição da Real Academia Española. Fiquei frustrado quando vi que a ortografia tinha sido modernizada. É que na época, tanto a ortografia como o vocabulário estavam mais próximos do português da época ou do actual.
Comprei esta edição em Badajoz. Comprei também outra que ofereci ao convento de Campo Maior onde tenho uma sobrinha. Verifiquei mais tarde que as freiras, portuguesas e espanholas gostaram muito, sobretudo dos ditos e provérbios do Sancho Pança. São mulheres como as outras!
Fiquei admirado (ou não) com a quantidade de edições do D. Quixote. Hugo Chavez, na Venezuela mandou distribuir também um milhão de exemplares gratuitos.

Vem isto a propósito da ortografia. Em Portugal há quem mande uns palpites que só no português é que tem havido mudanças, que os outros não mudam, logo não deveríamos mudar nada.
Repare-se que Quixote se escrevia com X e não com J, como hoje em castelhano e que se usava o ç e não z actual (Benalcaçar e não Benalcazar). Também não usavam acentos nas proparoxítonas.

Fougères. Bretanha


Acordo ortográfico 3. Discussões antigas

Refere o Padre Rafael Bluteau, na obra citada, pág. 18

Na sexta Conferencia em 18 de Março (1696):
XIX. Se a Ortographia ha de seguir as origens ou a pronuncia, como Philosofia com P e H, ou com F. Pareceo a alguns Academicos, que sempre se havia seguir a pronuncia. Fundavaõ-se em que esta era a mayor excellencia da lingua Portugueza, escrever como pronunciava, em que as letras dobradas, donde se naõ exprimem, eraõ inuteis, em que isto era dar huma regra geral para todos escreverem certo, e em que desta opiniaõ eraõ Duarte Nunes de Leaõ, Joaõ de Barros nas suas Ortographias, e os outros Autores, que escreveraõ da Lingua; e que o Ph dos gregos se pronuncia suave, e asperamente o F dos latinos; e que seguindo a nossa Lingua o F, com a pronuncia de Ph se escutava este. Assentousse, que nem sempre se escrevesse como se pronunciava, porque aquelles nomes, que conhecidamente encerravaõ as origens sem corrupçaõ, se escrevessem na sua etymologia, quando as letras naõ fossem como a pronuncia, e assim Coro, e naõ Choro; Monarquia, e naõ Monarchia; e que os ZZ se evitassem muitas vezes, suprindo-se com hum S.

Mais comentários: a discussão continua actual; dois séculos depois, até 1911, continuava-se a escrever Monarchia. O Ph também só foi abolido em 1911. A questão do Z e do S só foi "resolvida" em 1945.

Acordo ortográfico 2. E o cagalume desusado!

Os livros têm história. E cada volume pode ter uma história, particular, familiar.
Sempre me fascinou um livro que tenho em casa. O título é “Prosas Portuguesas” do Padre D. Rafael Bluteau, datado de 1729. É a última data do livro, de um papel de excelente qualidade comparado com os actuais, embora um pouco bichado. São as várias licenças da Inquisição e do Ordinário, a multiplicidade de temas académicos ou não, do tempo de D. Pedro II e D. João V, muitas novidades para a época discutidas em academias como a promovida pelo Conde da Ericeira.
Este livro foi oferecido à minha mãe por uma madrinha, também prima. A madrinha era filha do visconde de Lagoa mas o pai nunca tinha casado com a mãe, uma camponesa filha de um hortelão, prima direita da minha avó em Silves. Um romance de século XIX! A madrinha foi criada no campo, e apesar de “mulher de armas” nunca ligou às literaturas. Por isso, perante o espanto da minha mãe em relação à biblioteca ela disse-lhe: leva um livro se quiseres. E foi este!
D. Rafael Bluteau era um frade teatino, de origem francesa, cultíssimo e pré-iluminista.
Discute ortografia e certas palavras mais ou menos correctas na época (respeito a ortografia, embora o s impresso seja mais parecido com um f):

Vocabulos portuguezes, cujo genuino significado ficou assentado em varias conferencias.
Na segunda Conferencia do dito anno de 1696. Aos 19 de Fevereiro se assentaraõ as palavras seguintes.
(…)
Na terceira Conferencia em 26. De Fevereiro.
VII. Ao insecto luzente, a que os Latinos chamaõ Cicindela, e Noctiluca; os Gregos Lamparis, e Pirilampis; os italianos Lûciola, os Francezes Ver luisant; e os Castelhanos Luciernega, chamaõ os Portugueses Cagalume; he nome que naõ póde usarse em papeis serios, e deve dar-selhe outro (…) Assentouse dar o nome ao insecto; propozse Pirilampo; achouse affectado; Fuzillete; e Vago lume se naõ admittiraõ; só pareceraõ bem os de Nouteluz; e Bicho luzente, e determinaraõ, que ambos podiaõ usarse.

"Oratorio Requerimento de Palavras Portuguezas, Aggravadas, Desconfiadas, Pertendentes, Presentado no Tribunal das Letras (...)", pág. 17, in D. Raphael Bluteau, Prosas Portuguezas, 1729


Ora os portugueses esqueceram o Cagalume (há quem use) mas também não tiveram paciência para usar o nouteluz nem o bicho luzente. Ficaram com o erudito pirilampo, mais de acordo com “os papéis sérios” mas "afectado" na opinião dos académicos.


Mas o interessante para a discussão actual é que nesta época não se usavam os acentos nas esdrúxulas, o plural da terceira pessoa não terminava em m mas em aõ, por exemplo (mais ou menos com se pronuncia), havia consoantes duplas, o ph com valor de f, as regras do hífen eram diferentes, tal como as maiúsculas e minúsculas...
E isto não significa que este português fosse arcaico, antes pelo contrário, se compararmos com outras línguas. Nesta época, por exemplo, ainda o castelhano usava o ç, substituído pelo z.

Acordo ortográfico 1

Continua-se a discutir o acordo ortográfico. Há quase 20 anos, depois de dezenas de anos. Confunde-se ortografia com ortofonia. Felizmente os falantes de português não falam sempre da mesma maneira. Felizmente não temos uma ASAE da língua portuguesa. Felizmente não estamos numa situação colonial. As pronúncias variam e, para mim, dá-me um certo gozo ouvir pronúncias divergentes, como a(s) pronúncia(as)alentejana(as),algarvia(as) beirã(as), açoriana, (as) angolana(as), brasileira(as), moçambicana(as) e … galega(as).
É a unidade na diversidade. E entendemo-nos, sobretudo quando queremos, falamos e escrevemos.
Deixemo-nos de tretas. Qualquer português percebe que um brasileiro fala e escreve em português, qualquer brasileiro percebe que um português ou um angolano falam na mesma língua.
A ortografia variou ao longo dos tempos. Até ao século XX não havia normas legais mas convenções mais ou menos assumidas. E digo, mais ou menos, porque até é possível encontrar divergência no texto de um mesmo autor.
Em 1911 a República Portuguesa decidiu novas normas sem perguntar nada aos brasileiros. Pensava-se que, por decreto, se modernizava o país, mudando a moeda, a bandeira, o hino e tudo o que simbolizava um passado retrógrado. Em nome do progresso e com boas intenções.
Fizeram-se posteriormente acordos, aprovados e não ratificados, no Brasil em 1945. Depois outras pequenas mudanças.
Começa a ser hora de decidir.
A questão que se põe é: como nos entendemos? Ou como nos provincianizamos ou nos universalizamos?

sábado, 19 de abril de 2008

Painéis da Virgem em Évora

Decorreu na quinta-feira passada um congresso no Museu Nacional de Arte Antiga sobre os painéis da Virgem de Évora.
O retábulo restaurado é composto de 13 painéis da antiga capela mor da Sé de Évora (anterior às obras de Ludovice, do tempo de D. João V) a que se juntam outros seis da Paixão de Cristo.
É uma das mais extensas obras da arte flamenga em Portugal, de cerca de 1500, efectuada em Bruges e encomendada pelo bispo D. Afonso de Portugal.
O restauro demorou vários anos a ser efectuado e descobriram-se repinturas e outras modificações, algumas na origem outras ao longo de séculos.
A obra foi efectuada por múltiplos artistas e é de uma riqueza iconográfica espantosa, com narrativas bíblicas, baseadas não só nos evangelhos oficiais como em muitos outros relatos, com inúmeros motivos florais, objectos de uso quotidiano, cada pormenor tendo um significado preciso.
Só pelos painéis, o que não é pouco, vale a pena vir ao Museu de Évora daqui a uns tempos.

Sobre os sindicatos e a negociação

Foi assinado esta semana um “memorando de entendimento” entre a plataforma sindical e o Ministério de Educação. A questão foi discutida na maioria das escolas do país, tendo sido aprovada uma moção na maior parte. Houve muitas reticências e críticas e alguma contestação.
É difícil decidir. E mais difícil ainda quando a intransigência é grande e escudada por uma maioria absoluta que, apesar de não ter apresentado este programa para a Educação, arroga-se da legitimidade da mesma maioria absoluta, como se a democracia se resumisse apenas a um voto quase em branco de quatro em quatro anos.
Mais fácil é não decidir e remeter a culpa para os outros todos.
É difícil decidir quando se sabe que, como quase sempre, uma decisão ou uma não decisão tem efeitos a curto ou médio prazo.
Este memorando de entendimento apenas chegou a um pequeno limite do bom senso. Não havia o mínimo de condições para avaliar milhares de professores no final do ano lectivo. Era demasiado irrealista, demagógico, perverso e atentatório da igualdade de direitos tentar este processo sem condições.
E, no entanto, há escolas que se diziam preparadas!
Os sindicatos ganharam alguma coisa? Quase nada. Sobretudo a esperança de alguma revisão, mas não dos pontos essenciais. O essencial está na mesma.
Também já se percebeu que esta equipa ministerial está quase de saída. Mas também que vai continuar a mesma política, mesmo que com outras caras depois das eleições. Digo, depois das eleições, porque com um PC em que ninguém acredita que alguma vez seja poder, com um PSD de opereta, em que foi adoptado o pior discurso que há no mundo do futebol, com tanta gente que contesta e que fica admirada (?) mas que continua a dar cheques em branco e a votar e até militantemente neste PS, para depois chorar “arrependido”, este PS “decidido” e anti-socialista há-de continuar no poder.
Se está no poder com esta ministra é porque votaram em Sócrates e companhia, é porque a sociedade portuguesa por militância ou por omissão o quis e o quer, com todo esse aparelho de “cargos políticos” espalhados por este país.
Foi muito interessante do ponto de vista sociológico a manifestação dos 100000 professores. Um fenómeno quase impossível em Portugal, na Europa ou a nível mundial. Mereceria um estudo atento como facto social. Mereceria muitas interrogações sobre o papel e estatuto dos professores, sobre a importância do ensino neste país. O que vai sair daqui não se sabe, mas há-de ter consequências.
No entanto, esconde-se também um problema e desculpe quem me lê, não vou ser simpático.
O problema é o papel dos sindicatos e as reivindicações (ou não) dos professores.
Os sindicatos “espelham” ou “refractam”, os professores e o país que temos.
Quis-se, contemporizou-se com uma proliferação de sindicatos, muitos que não representavam quase nada. Para os poderes, isso sabia bem, assinava-se um acordo com sindicatos que todos sabiam que, apesar das benesses desse mesmo poder, não valiam nada. Mas apresentava-se o acordo.
Recuo a umas dezenas de anos no pós-25 de Abril. O PS e outros fizeram da liberalização sindical uma bandeira de luta, com irritações e manifestações, mais preocupados com a centralização dos sindicatos do que com tantas coisas que por aí se passavam, esquecendo dezenas e até centenas de anos de lutas pelo papel dos sindicatos nas reivindicações. Esquecendo até, que nos países com tradição social democrata havia sindicatos únicos e em que era socialmente reprovável não ser sindicalizado.
Ficaram o esfrangalhamento, as lutas fratricidas, a desmobilização e o discurso anti-sindical. Há quem aproveite!
Aborrece-me o discurso anti-sindical, aliás repetido por muitos que se dizem de esquerda. Diz-se: “Eles fizeram isto, eles não fizeram aquilo, eles é que têm a culpa”. Como se “eles” fossem alguma coisa fora do contexto.
E pergunta-se. Porque é que há tantos professores (como noutras profissões) que não são sindicalizados. Por que é que não participam nas reuniões, por que é que não elegem outros, por que é que não se candidatam, por que é que dão crédito a quem não representa nada, por que é que ficam em casa?
Vi e estive na manifestação dos 100000; também estive na dos 25 mil, também na dos 3000. E vi também muita gente acomodada que tem mais a perder do que eu.
E sei, até nova invenção, que sem organização e gente suficiente disposta a lutar, vence quem usa a falta de uso do poder dos outros.
E agora, se quisermos uma luta mais radical, quem acompanha?
É que não dá para mexer só de vez em quando. Porque se não houver gente suficiente com vontade de se mexer ficamos na mesma ou pior, e então diremos que "eles" assinaram tudo.
E não voltamos ao mesmo porque ficaremos pior.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Reflexão e acção

Amanhã é dia de reflexão e acção.
Nas escolas.
A questão que se põe é se vamos ou não usar o momento ou inventarmos desculpas para ficarmos satisfeitos com a má consciência.

domingo, 13 de abril de 2008

Alterações na avaliação dos professores

Afinal o Ministério cedeu um pouco.
Mas qual a utilidade desta confusão? Sou membro de um conselho Pedagógico e há meses que tenho reuniões todas as semanas. Fora isso, mais reuniões e mais novas preocupações. Mudam-se as regras a toda a hora.
Não teria sido mais útil começar de boa fé e ter bom senso?

Conheci um velhote cigano que vendia sapatos na rua e nos cafés. Dizia ele que se contassem os ciganos de Évora eram uns milhares. Mas ele é que era o cigano! E continuava a vender sapatos na rua. Os outros não.

Aqui parece conversa de ciganos, com excepção dos ciganos.
Ou será incompetência, apesar de tantos elogios dos que agora acordaram para a Educação, como ontem para o Kosovo, anteontem para o Iraque e para os palpites todos?

Locronan, Bretanha. E o turismo





Locronan é uma pequena cidade (em Portugal seria vila) bem preservada. Felizmente não é daquelas onde se explora o turismo até ao ínfimo pormenor, como acontece muitas vezes em França.
No entanto, sabem estabelecer regras (os automóveis só entram em determinadas horas e a preservação dos edifícios é o que se vê) e sabem ganhar com o turismo. Veja-se a loja, a arrumação e, sobretudo, a exposição de produtos da região, em particular as cervejas e as sidras.
Não se pode comparar o que não é comparável, como as culturas e as cidades ou aldeias até porque o que marca é a diferença. Nós temos Monsaraz, Marvão e tantas outras desta dimensão mas não encontramos quem venda os produtos com qualidade.
Desde logo (e digo infelizmente porque sou alentejano) a atenção em relação ao cliente. Diz-se "bonjour" natural e automaticamente, como se diz "au revoir" mesmo que se saiba que nunca mais se volta a ver tal pessoa. Mas sabem que outros virão, provavelmente influenciados pelos primeiros. Por aqui, ainda é frequente encontrar gente "a fazer fretes", à espera da hora de saída, só faltando dizer que se trabalha muito e que os clientes são uns malandros porque estão de férias.
Fala-se tanto por aqui em turismo mas depois não há coisas simples. Por exemplo guias turísticos (livros, por exemplo) em várias línguas. Nas línguas daqueles que nos visitam. Aqui pelo Alentejo, a maior parte dos turistas são espanhóis, franceses, alemães ... Com os espanhóis parte-se do princípio que se eles não percebem é porque não querem e depois todos os portugueses acham que sabem falar espanhol (só que alguns espanhóis perceberiam melhor se se dispensasse a algaraviada), com os franceses diz-se que já não vale a pena, com os alemães nem se pensa nisso e ... inglês ... eles que aprendam ou então nós desenrascamo-nos com duas ou três palavrinhas.
Depois o turista quer visitar igrejas. Estão quase todas fechadas. E nas que estão abertas não se pode tirar fotografias (qual é o problema de tirar sem flash?; os outros já perceberam isso). E se abrem, é nas horas em que faz 40 graus no Verão e às cinco da tarde já estão fechadas. E o turista se quiser dar uma volta breve, tenta fazer o que faz noutros lugares, aluga um táxi, esperando que o taxista saiba dizer duas ou três palavras e conheça os principais lugares. Aqui o taxista olha para o estrangeiro como se fosse maluco e depois queixa-se que a vida não dá.
Enfim ...Não nos podemos queixar só do Estado.

sábado, 12 de abril de 2008

De Portugal para a Galiza. Da Galiza para Portugal

Recebi esta mensagem de um grupo galego: galiza@yahoogrupos.com.br
Neste grupo usa-se o galego com ortografia portuguesa. O texto aprovado segue a norma da Xunta.

Televisões portuguesas mais perto da livre emissão em Galiza

Para o Movimento Defesa da Língua é mais um motivo de grande alegria a aprovação no Parlamento da Galiza do requerimento ao Governo espanhol da livre recepção das televisões portuguesas na Galiza. Mais ainda nesta semana em que também houve uma importe representação galega na Assembleia da República portuguesa esta Segunda-feira 7 Abril. Por um lado queremos parabenizar a todas as pessoas que trabalharam para que hoje se possa noticiar esta aprovação unánime de todos os partidos políticos noParlamento da Galiza da recepção livre das televisões portuguesas na Galiza. O texto aprovado foi o seguinte:

O Parlamento de Galicia insta ao Goberno galego a adoptar as medidas precisas perante o Goberno español co a finalidade de: Posibilitar a recepción en Galicia das emisións das radios e televisións portuguesas, en cumprimento da Carta Europea de Linguas Rexionais e minoritarias, utilizando as posibilidades técnicas precisas para este fin no prazo temporal máis inmediato posible. Trasladar ao Goberno portugués o interese manifestado polo Parlamento galego de que facilite a recepción en Portugal do sinal das radios e televisións galegas.

Podem obter mais informação através da seguinte ligação: http://mdlgaliza.org/content/view/361/
Por outro lado queremos oferecer através do nosso sítio web um novo serviço que para as pessoas galegas pode ser de grande utilidade: Talvez o maior directóriode Rádios e TVs portuguesas online. Este tímido gesto da nossa organização permite oferecer um melhor acesso às rádios e TVs portuguesas dada a nossa situação actual. Tarefa quase impossível se não fosse desenvolvido em software de código aberto, produto de muitas semanas de trabalho. Disponibilizamos o que talvez seja o maior directório de rádios e televisõeson-line na Internet, com mais de 300 emissões portuguesas. O nosso fim é suprir uma carência provocada pelo Governo espanhol, ao negar-se a cumprir a Carta Europeia das Línguas Regionais ou Minoritárias. O nosso princípio é a livre transmissão dos mass-media portugueses na Galiza. Podeis aceder através do menu da esquerda, clicando em Rádios e TVs portuguesas.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Comunicado do PCP

Apesar das alterações introduzidas e que, nomeadamente, restringem o objecto social da empresa, inicialmente, à recuperação do Salão Central e da construção do Parque Desportivo, a aprovação da proposta apresentada pelo PS, constitui um rude golpe na visão de Évora como cidade de identidade cultural única e que deve ser preservada de lógicas homogeneizadoras de entendimento da cultura como mero “entretenimento”, sujeito à lógica do que não dá lucro não pode existir.
O Partido Comunista Português reafirma as posições assumidas no seu comunicado, tornado público a 9 de Abril, afirmando-se frontalmente contra os objectivos que estão na base da criação da empresa municipal e consubstanciados no seu estudo de viabilidade económica e financeira.
É entendimento do PCP que a aprovação dos estatutos da empresa municipal, com as alterações negociadas entre todos os vereadores, é de duvidosa legalidade por não estarem previstas no estudo de viabilidade a que a lei obriga.
O PCP lamenta profundamente que a totalidade dos vereadores eleitos na Câmara Municipal de Évora não tenham sido capazes de perceber o alcance e justeza das propostas assumidas por um vastíssimo número de cidadãos, através de petição pública, defraudando as expectativas dos subscritores quanto à necessidade de debater profundamente a cultura com quem a faz, exigindo um amplo debate público antes de qualquer decisão sobre o instrumento de gestão mais adequado para estratégia cultural no concelho.
A proposta do PCP para a solução do problema, como é do conhecimento público, é iniciar o necessário diálogo com todos os agentes culturais e artistas, resultando daí uma proposta de estratégia cultural para cidade e qual ou quais os instrumentos para a realizar.
Afirmar que se vai dialogar depois do essencial estar decidido, é ludibriar as legitimas expectativas dos que confiaram na inteligência e bom senso dos autarcas eleitos na Câmara Municipal de Évora.
O PCP não se revê na posição de voto assumida pelos vereadores eleitos pela CDU na Câmara Municipal de Évora.
O PCP reafirma a sua disponibilidade para, com todos os que entendem necessário mudar o rumo a esta política desastrosa, lutar por uma cidade que tenha na cultura o seu elemento distintivo e um dos seus principais instrumentos para o desenvolvimento sustentado do seu território.
As lutas por objectivos claros, e que vão ao encontro dos interesses das populações, não param por acção de um qualquer contratempo. O PCP apela a todos os que estão contra esta opção de tratar a cultura como um negócio, que se mantenham mobilizados em torno do debate de ideias sobre o assunto, para que seja possível ainda travar, em sede de Assembleia Municipal, esta opção errada do executivo camarário.
Secretariado da Comissão Concelhia de Évora do PCP

citado por http://maisevora.blogspot.com/
sublinhados nossos

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Novos poderes. Indirect Rule

Cito e sublinho algumas expressões:

A constituição, pelo Município de Évora, de uma Sociedade de Reabilitação Urbana constitui um passo de grande importância para a eficácia do processo de revitalização – pelos poderes especiais de que dispõe na elaboração dos Documentos Estratégicos, pela possibilidade de ser dispensada pelo Município da elaboração de Planos de Pormenor, pelo processo e motivos de expropriações, pelo licenciamento e autorização de operações urbanísticas e pelas novas formas de procedimento e prazos a que a administração se obriga. Está assim constituído um instrumento muito poderoso que, sob a direcção da Câmara Municipal de Évora, tem condições para marcar a diferença no processo de reabilitação urbana.

Parque Expo, Relatório Completo, Reinventar o território, 2008, pág.105

Comento: A Parque Expo, como ela própria diz, vai ter poderes excepcionais em relação ao Centro Histórico de Évora (nunca gostei muito desta expressão porque a cidade é um todo e, quando se mexe numa parte, isso altera o conjunto). Delegámos o nosso poder na Câmara, a Câmara vai delegar na ParqueExpo.
Mas onde está a discussão?

Cantares de Abril

Verde que te quiero verde.
Verde viento. Verdes ramas.
El barco sobre la mar
y el cabalo en la montaña.

Con la sombra en la cintura
Ella sueña en su baranda,
Verde carne, pelo verde,
Con ojos de fría plata.
Verde que te quiero verde.
Bajo la luna gitana,
Las cosas la están mirando
Y ella no puede mirarlas.
...........
Federico Garcia Lorca

Estive na sexta-feira passada, nos "Cantares de Abril", no Coliseu. O espectáculo acabou entusiasticamente às 4.00 da madrugada. Também apareceu Patxi Andion, que cantava quando a polícia de Franco perseguia, que foi expulso pela PIDE antes do 25 de Abril, que voltou clandestinamente a Portugal e que retornou a Portugal nos anos revolucionários.
Há muito tempo que não intervinha em público. Voltou emocionado e emocionou.
E cantou também "verde", em homenagem a Federico que foi fuzilado em Granada pelos falangistas, só porque era poeta. Federico, companheiro de Dali e de Buñuel. Buñuel teve que fugir e lutou. Dali adaptou-se ao franquismo, ganhou muito dinheiro e ainda se dedicou a denunciar o "comunismo" de Buñuel, o que o impediu de fazer filmes nos EUA.

Camarón de la Isla e Paco de Lucia (de Luzia, a sua mãe, portuguesa de Castro Marim) também cantam "verde que te quiero...", com música cigana andaluza:
"Bajo la luna gitana".

Ruínas fingidas. Évora

Gosto deste nome.
São fingidas só aparentemente. São colunas, capitéis, arcos, que vieram do Palácio de Vimioso, ao pé da Sé. Numa perspectiva anacrónica ainda veríamos o "fingimento" de arcos em ferradura numa arquitectura cristã. São verdadeiras mas fingidas porque foram recolocadas como em cenário. A torre é também verdadeira e está no local desde a Idade Média, em que tinha função, mas tornou-se fingida no novo velho conjunto.
E o Vimioso foi também um fingido. O conde de Vimioso foi amante da Severa, cantora da Mouraria de Lisboa, um aristocrata perdido por uma plebeia que valia mais que ele em sentimento, beleza e fado. E o Vimioso era liberal mas ficou como Marialva. E a família Vimioso era de origem bastarda e havia pais bispos pelo meio e tinha o apelido Portugal. E Almeida Garrett escreve o Frei Luís de Sousa, onde uma das personagens é Vimioso e, portanto da família Portugal e também a personificação do Portugal derrotado em Alcácer Quibir e renascido no infortúnio dos Filipes.
Romantismo, nacionalismo e tragédia tão ao gosto do século XIX, burguês mas de nostalgia aristocrata.

Era por estas ruínas falsamente fingidas, assumidas no seu fingimento que a boa sociedade de Évora se passeava.

Temos umas ruínas fingidas que fingimos não ver. Abandonamos um jardim romântico, fingindo que não existe.
Ao menos no século XIX passeava-se, ouvia-se música e usufruiam-se as ruínas fingidas.
Mais autênticas afinal que as ruínas fingidas e as fingidas ruínas que por aí andam fingido que existem.

Cântico Negro

De um antigo professor do Liceu de Portalegre

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém. -
Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe
Não, não vou por aí!

Só vou por onde Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde

Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,

Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi

Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois sereis vós

Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,

Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.

Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!

Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou -
Sei que não vou por aí!

José Régio

Precisamos de explicações

Afinal a empresa municipal de cultura foi aprovada por unanimidade.
O que levou o PSD a aprovar? Não se sabe muito bem, além do facto de haver um compromisso em que os gestores não seriam remunerados. Mas essa seria uma questão importante? Certamente não se partiria do princípio que os gestores iam para lá só para ganhar dinheiro.
A outra é que os funcionários da Câmara seriam recrutados em primeiro lugar. Mas não seria lógico inserir quem tem experiência e provas dadas? Ou iríamos continuar a meter pessoas na prateleira?
Outra, a vaga promessa de o CENDREV ir para o antigo Salão Central. Mas há quantos anos se anda a deixar cair as ruínas do Salão Central?

E a CDU? Anda a fazer o quê, ao delegar decisões a outros e a esquecer os que se mexem; a salvar o quê? Ou antes, a afundar o quê? A desperdiçar a confiança depositada? A deixar promover a desacreditada maioria e a fazer renascer um PSD que não existe?

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Planta da Judiaria de Évora


Planta da antiga Judiaria de Évora in Maria José P. Ferro Tavares, Os judeus em Portugal no século XV, Lisboa 1982.

As setas em cima fui eu que as inscrevi e corresponderão ao traçado da rua projectada pela Parque Expo.

Há dúvidas sobre os limites da Judiaria. Mas o espaço que é delimitado pela Praça do Giraldo, Rua da Palmeira, Rua de Alconxel e Rua do Raimundo forma um conjunto harmonioso, com uma malha urbana com ruas estreitas que, ao ser atravessada por uma nova via para a circulação automóvel, poderá perder a unidade.

Reabilitação urbana. Nova rua.


Ex-Banco Pinto e Sotto Mayor (desprezado), Rua de Serpa Pinto (antiga Rua de Alconxel), início da nova rua.


Travessa do Sol (vista a partir do Norte, a partir das traseiras do ex-Banco Pinto e Sotto Maior).

Travessa do Sol (vista do lado Sul)



Travessa torta

Pelo que vejo na planta do projecto "Recuperar o processo histórico, Évora", da responsabilidade da sociedade de reabilitação urbana, Parque Expo, a rua projectada passará por aqui. O percurso que vislumbro implica o rompimento do edifício do ex-Pinto e Sotto Mayor, a continuação pela Travessa do Sol e Travessa Torta.
A Travessa do Sol já é estreita, mais estreita ainda é a Travessa Torta, que passaria a Direita. O que vai ser demolido é que não sei, porque, sendo a nova rua para atravessamento de automóveis, estes não cabem neste percurso.
A não ser por aqui, outros prédios teriam que ser derrubados também na Judiaria.
Quais?
Nota ainda. Ouvi, em tempos uma pessoa conceituada sobre estudos judaicos, dizer que a Travessa do Sol, teria sido em tempos Travessa de Solimão (Salomão). A rua está orientada Norte-Sul, o que corresponde também a muitas ruas do Sol neste país. A Travessa Torta corresponderia a uma das portas ou saídas da Judiaria.

terça-feira, 8 de abril de 2008

La Lys. 9 de Abril de 1918


Faz noventa anos que se deu a terrível batalha de La Lys. O Corpo Expedicionário Português estava semi-abandonado pelo governo. Alguns oficiais tinham regressado; os soldados não eram rendidos. Estava-se sob comando inglês. Vivia-se nas trincheiras num clima inóspito, viscoso, nevoento, chuvoso, sobretudo para gente do Sul. Humidade, lamas, paisagens destruídas, tiros por todo o lado, trincheiras infestadas de ratazanas, cheiro a morte constante, epidemias, feridos em agonia, paisagem de nevoeiros e crateras de bombas, sem árvores, gaz mostarda mais pesado que o ar, comunicações impossíveis, ordens autoritárias e indecifráveis, soldados camponeses, operários, pescadores, analfabetos quase todos. Sairam quase directamente das suas terras para os campos da morte anónima.
O exército alemão avançou em massa, avassalador, bombardeando tudo. Proporção de dez para um e melhor armados, segundo relatos. Nas primeiras quatro horas da batalha de 9 de Abril, cerca de 7500 militares portugueses foram mortos ou ficaram prisioneiros.
As imagens são das cadernetas de Francisco Simões, bisavô dos meus filhos. Uma é a da inscrição marítima, pois conduzia barcos de Mértola para Vila Real de S. António numa empresa familiar. A outra é a da caderneta militar. Nesta (as imagens podem ser aumentadas) diz-se explicitamente que foi feito prisioneiro no dia 9 de Abril de 1918. Esteve num campo de prisioneiros alemão até Novembro, segundo a caderneta. Dizia ele que houvia todas as noites os tiros dos fuzilamentos.
Em Mértola pensaram que tinha morrido. Rezaram-se missas por alma. O comando militar não se deu ao trabalho de informar.
Apareceu um dia em 1919 na vila e foi uma festa e um espanto para todos.
Sofreu sempre de problemas pulmonares devido aos gazes.
Em vida nunca teve direito a nenhuma pensão.
Foram estes os heróis. Quando se fala em Europa devemos também pensar em quem a construíu.

Projectos urbanísticos para Évora

Cito:
O estabelecimento destes novos percursos permite, ainda, a valorização dos espaços intersticiais existentes e a ligação à zona do Mercado, recentemente objecto de uma operação
de requalificação.
Estes percursos, a constituir, dão continuidade ao eixo que vem do Convento de S. Francisco, permitindo a sua ligação à Rua de Serpa Pinto. Permitem, eventualmente, o próprio reforço da actividade comercial.
Sendo uma zona de grande densidade, o estabelecimento destes percursos transversais, as suas diversas opções e variantes, têm que ser analisadas a uma outra escala e numa fase de análise de muito maior detalhe, nomeadamente no que se refere aos edifícios e usos.
Eventualmente o início deste percurso na Rua Serpa Pinto poderia ser realizado com uma intervenção num edifício recente, onde terá funcionado um serviço bancário, permitindo a abertura de uma passagem sob ou integrada na construção.

in Recuperar o Processo Histórico, Março de 2008, pág. 65

Amanhã vai ser decidida em reunião de Câmara a aprovação de um plano da Sociedade de Reabilitação Urbana Parque Expo.
Há mudanças estruturais condicionadoras da evolução da cidade.
Aqui está um exemplo de uma nova rua, em pleno Centro Histórico e com o atravessamento da antiga judiaria e a prevista demolição de alguns prédios.
Nem queria acreditar e as pessoas que por aqui moram também não, nem tinham ouvido falar do assunto.
Amanhã vai ser um dia histórico para esta cidade. Se a Câmara Municipal entregar a gestão urbanística à sociedade de reabilitação urbana e a Cultura a uma empresa é certo que muita coisa vai mudar nos próximos anos.

Batalha de La Lys

Cito, sem pôr em causa o texto da Wikipédia:

A Batalha do Lys (conforme a historiografia francesa) ou Batalha de La Lys, também conhecida como Batalha de Ypres 1918, ou ainda Quarta Batalha de Ypres , e como Batalha de Armentières pela historiogafia britânica e a alemã, deu-se entre 9 e 29 de Abril de 1918, no vale da ribeira da La Lys, sector de Ypres, na região da Flandres, na Bélgica.
Nesta batalha, que marcou a participação de
Portugal na Primeira Guerra Mundial, os exércitos alemães, provocaram uma estrondosa derrota às tropas portuguesas, constituindo a maior catástrofe militar portuguesa depois da batalha de Alcácer-Quibir, em 1578.
A frente de combate distribuía-se numa extensa linha de 55 quilómetros, entre as localidades de
Gravelle e de Armentières, guarnecida pelo 11° Corpo Britânico, com cerca de 84.000 homens, entre os quais se compreendia a 2ª divisão do Corpo Expedicionário Português (CEP), constituída por cerca de 20 000 homens, dos quais somente pouco mais de 15 000 estavam nas primeiras linhas, comandados pelo general Gomes da Costa. Esta linha viu-se impotente para sustentar o embate de oito divisões do 6º Exército Alemão, com cerca de 55 000 homens comandados pelo general Ferdinand von Quast (1850-1934). Essa ofensiva alemã, montada por Erich Ludendorff, ficou conhecida como ofensiva "Georgette" e visava a tomada de Calais e Boulogne-sur-Mer. As tropas portuguesas, em apenas quatro horas de batalha, perderam cerca de 7.500 homens entre mortos, feridos, desaparecidos e prisioneiros, ou seja mais de um terço dos efectivos, entre os quais 327 oficiais.

Comentário agora:
Portugal estava sob a ditadura de Sidónio Pais, suspeito de ser germanófilo. O certo é que houve um desinvestimento na participação portuguesa na frente da Flandres. E os soldados portugueses não eram rendidos e foram postos sob comando inglês que preferiu que fossem os portugueses a aguentar o embate. Como aconteceu com os outros exércitos, os soldados eram apenas carne de canhão do ponto de vista dos comandos. Oficiais aristocratas, soldados camponeses. Não terá sido propriamente uma derrota porque apesar da mortandade, como noutras batalhas desta guerra apocalíptica, os portugueses conseguiram suster o avanço alemão.

Outro comentário: noutros países continuam a ver-se coroas de flores em memória dos que tombaram na guerra, nomeadamente em França. Não é só o Exército a depor as coroas de flores, são também as "mairies", e até particulares.
Em Portugal o Exército ainda se vai lembrando. E pouco mais.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Os pombos


Pombos na Travessa das Cruzes, Évora
Os pombos estão de há muito inscritos na mitologia ocidental. Na Bíblia, a começar, anunciam o fim do dilúvio e o reaparecimento da Terra Firme e, portanto, o fim do castigo divino e a redenção dos homens novos, que os outros ficaram afogados. Os pombos apareceram a Noé, o homem da barca que também descobriu a vinha e provou o vinho e de quem seu filho Caim se riu, porque viu o pai sob influência alegre dos vapores que nunca mais deixaram em paz a cristandade. Caim, porque se riu do pai, que se alegrava rebolando no chão, foi castigado com o trabalho. E foi com este argumento que se legitimou a escravatura ao longo de séculos. O trabalho é castigo, portanto "o trabalho é para o preto", portanto, diz-se que se "trabalha que nem um mouro". Por isso, os importantes em Portugal até ao século XVIII (?) eram os definidos legalmente por "gente de mãos limpas", ao contrário dos inferiores, das "artes mecânicas".
O pombo, e sobretudo a pomba, têm sido também sinal da paz, imortalizado por Picasso, esse artista genial que já não se percebe se foi um ditador familiar execrável ou se teve a má sorte de ter múltiplos filhos sedentos dos dinheiros rendidos pela obra do pai.
Enfim, pelo menos ficou uma obra inovadora e causas tão universais como a da democracia em Espanha, o que não é nada pouco.
Deixemos Santo Agostinho e Noé e voltemos aos pombos.
Há várias espécies de pombos. Em particular relembro o utilissimo serviço dos pombos correio que tanto espantaram os recém-cristianizados bárbaros que fizeram as cruzadas na Palestina, contra povos herdeiros de várias civilizações (vale a pena ler a História vista pelos árabes de Amin Malouf).
Os pombos andavam pelos campos e faziam o seu trabalho ecológico, admirado e comido por muitos.
Mas esta civilização industrial e pós-industrial resolveu metê-los nas cidades. E ficam bem nas fotografias, sobretudo naquelas praças londrinas que enformaram a mente dos que resolveram embelezar as praças latinas (o lugar historicamente onde havia praças). Entretanto, os centros antigos das cidades começaram a ser menos povoados e as populações a envelhecer. E para os que vivem isolados e não têm já possibilidade de ter um cão ou um gato, o pombo torna-se o bicho quase doméstico que não dá trabalho. Com a vantagem de ser agradável aos netos que vêm de vez em quando, a quem se dá um pacote de milho e umas sobras de pão que a criança distribui e se alegra com a movimentação dos comensais.
Só que os pombos, descontando as fotografias e as pequenas e efémeras satisfações individuais tornaram-se uma praga. Os dejectos são ácidos e atacam o granito, o calcário e outras rochas dos monumentos e casas. E entram pelas chaminés e casas adentro. E deixam excrementos e derrubam o que está à sua frente. E multiplicam-se rápidamente, todos os meses. E multiplicam-se nas inúmeras casas vazias desta cidade e de outras. E para melhor moerem o que engolem, esgravatam nos granitos para engolirem areias, como na Sé de Évora com as colunas carcomidas. E há também quem os utilize, na miséria escondida, como "galinheiro" em que se caça um de vez em quando. Um jantarinho para consolar! Mesmo que se saiba que são portadores de inúmeras doenças.
Mesmo que as autoridades públicas conheçam a praga.

domingo, 6 de abril de 2008

S. Sebastião III. Outro

S. Sebastião, Bretanha

Os santos têm tantas interpretações como os povos que os constroem ou veneram. Apesar do martírio, o S. Sebastião, em Portugal ou na Andaluzia, tem um aspecto menos sofredor e menos rígido.

Ora, segundo informações a confirmar, o CENDREV vai sair do teatro Garcia de Resende. A tal empresa vai gerir o espaço (e suponho que irá também gerir as respectivas dificuldades, dos fios eléctricos aos cabos, estuques, tectos etc.) e o CENDREV vai para a igreja de S. Sebastião.
Já se percebeu que não interessa a alguns a história do CENDREV nem o seu papel na formação de actores após o 25 de Abril, produto deste também. Nem o seu papel actual como companhia residente que irá deixar de o ser e, portanto, perder o estatuto.

S. Sebastião, em Portugal pelo menos, ficava sempre fora de portas, isto é à entrada das cidades, vilas ou aldeias, ou seja, também à saída. A razão ou motivação era simples. S. Sebastião era o protector contra a peste. E a peste vinha de fora, ou tinha que ser expulsa.

Assim veremos o que vai acontecer.
Ou o CENDREV é a peste que vai ser expulsa ou o CENDREV fica como que resquício da protecção contra a peste que há-de vir.

Gostava de perceber se esta gente que ora manda nesta cidade, percebe o que é a cultura urbana ou se apenas exprime os recalcamentos da sua origem rural que odeia e a cultura suburbana que exprime, fingindo que são modernos ou pós-modernos (não percebendo eu, que vivo no século XXI, o que seja isso).
Será a cultura do que julga que subiu a pulso (sem reparar que teve a sorte do país evoluir), que vive na vivenda com jardim para mostrar aos outros, que vem à cidade no seu jipe mostrar que há uma cidade-museu para tirar fotografias?
É a mentalidade do "pay per view". Querem ver uma cidade património mundial? Sentem-se no sofá e liguem o canal x, sem necessidade de ouvir as imprecações dos bêbados, dos pícaros, os excrementos dos pombos, nem os fumos dos autocarros da plebe, de vaga origem alemã ( plebe portuguesa, os autocarros "nórdicos" aparentemente reciclados). Querem ver teatro, ouvir música? Há alternativas, sem tempos de espera, sem "gaffes", com o som depurado com várias colunas e surround e com a vantagem de escolhermos quando queremos, sem essas porcarias do calor, dos ventos das chuvas e dos malucos e chatos que andam por aí. Quer-se um espectáculo de entretenimento? Pede-se a uma empresa de fora (uma qualidade), privada certamente, que aluga um pacote com várias modalidades. Ouvir coisas de outros mundos é um luxo, é snobismo, elitismo, coisas diferentes dos desfiles de modas, que o pessoal até gosta, até gosta de ver a elite sentada a apreciar essas artes.
Incómodos para quê? É a civilização! Com uma diferença. É que o outro, o que o José Maria retratou, tinha vivido e gozado Paris, além de chatear também o pessoal de Évora, os padres de Leiria, os americanos em Cuba ..., quase toda a gente, visto que era um mal disposto e gozão de primeira. Mas quando conheceu Tormes, passado o primeiro mal estar, gostou. E quis mais!
E eu, que só conheço Paris de uma semana, também gostaria que Évora fosse uma cidade de cultura.
Viva, cidade viva.
Viva a Rua!

Olivença

Ayuntamiento de Olivenza. Palácio dos duques de Cadaval
Foi ontem novamente apresentado, agora em Évora, o livro de Ana Paula Fitas, Olivença e Juromenha: uma história por contar. Faz todo o sentido porque a Ana Paula é de Évora e Olivença foi historicamente Alentejo..
É um estudo que eu gostaria de ter feito. Ainda bem que foi a minha amiga Ana Paula porque o fez com persistência, atenção e qualidade.
O problema, os problemas relacionados com Olivença, não são fáceis neste país com uma nacionalidade há longos séculos enraizada, com uma nação, estado e língua que se sobrepõem e se amalgamam, e em que a única excepção a esta continuidade é precisamente Olivença.
Fosse o problema na Grécia e as disputas territoriais com a Turquia, Macedónia ..., na Alemanha com a Polónia, República Checa ..., na França com a Espanha e a Alemanha, na Rússia com não sei quantos ..., em África ..., isto é quase todos os países do mundo!
E Olivença também pagou pelos impérios. Este pequeno território alentejano ficou refém das invasões napoleónicas e ante-napoleónicas (de Godoy, ministro espanhol que se usou e foi usado pelos franceses, em grande parte por interesses pessoais), das disputas territoriais na América do Sul (com D. João VI, invadiu-se o que é hoje o Uruguay, ex-colónia espanhola e a Guiana Francesa, hoje também território da União Europeia, visto pertencer à França) e de outros interesses ingleses, que afinal eram quem mandava neste país no primeiro quartel do século XIX, se não antes e depois.
E Olivença, é também um território estranho para quem está habituado só ao presente. Foi, na prática, sede da diocese de Ceuta, que envolvia territórios tão díspares como Ceuta e "outras Áfricas", Olivença e Campo Maior ... Caminha e outras ...
E vale a pena visitar Olivença. Não só porque muitos ainda falam português e conhecem as "saias", essa música e dança do Alto Alentejo, como por um património edificado com um cunho português claro, seja no castelo, nos baluartes e muralhas da Restauração, na Misericórdia (a única fora dos territórios de Portugal ou ex-colónias portuguesas), nas igrejas de forte influência manuelina, de Santa Maria ou da Madalena ou nos montes por esses campos adiante, até e desde o Guadiana, o rio que une.
De jure Olivença é portuguesa. De facto está sob soberania espanhola.
O problema tem sido levantado ao longo dos tempos. Mas repare-se que Salazar, que apregoava a Nação por todo o lado, fez-se esquecido, como, apesar da tal nação "do Minho a Timor", também não tomou sequer posição defensiva quando os japoneses ocuparam e humilharam os portugueses em Timor.
A Espanha continua a reivindicar Gibraltar, problema mais antigo, Marrocos o "regresso" de Melilla e Ceuta (cujo símbolo continua a ser o escudo português) e da ilha da Salsa (Peregil) e Olivença ... é ainda um problema.
E....
Leiam o livro da Ana Paula Fitas. Já li umas 80 páginas e gostei. Tenho trabalho para os próximos dias, além dos outros.
E por que não, como disse o Professor Moisés Espírito Santo, tornar Olivença um lugar de encontro?

Le métèque. Georges Moustaki

Vale a pena ouvir e apreciar a letra de um dos cantores malditos que quase não tem lugar nesta sociedade mediatizada, controlada e novamente moralista.

Avec ma gueule de métèque
De Juif errant, de pâtre grec
Et mes cheveux aux quatre vents
Avec mes yeux tout délavés
Qui me donnent l'air de rêver
Moi qui ne rêve plus souvent
Avec mes mains de maraudeur
De musicien et de rôdeur
Qui ont pillé tant de jardins
Avec ma bouche qui a bu
Qui a embrassé et mordu
Sans jamais assouvir sa faim

Avec ma gueule de métèque
De Juif errant, de pâtre grec
De voleur et de vagabond
Avec ma peau qui s'est frottée
Au soleil de tous les étés
Et tout ce qui portait jupon
Avec mon cœur qui a su faire
Souffrir autant qu'il a souffert
Sans pour cela faire d'histoires
Avec mon âme qui n'a plus
La moindre chance de salut
Pour éviter le purgatoire

Avec ma gueule de métèque
De Juif errant, de pâtre grec
Et mes cheveux aux quatre vents
Je viendrai, ma douce captive
Mon âme sœur, ma source vive
Je viendrai boire tes vingt ans
Et je serai prince de sang
Rêveur ou bien adolescent
Comme il te plaira de choisir
Et nous ferons de chaque jour
Toute une éternité d'amour
Que nous vivrons à en mourir

Et nous ferons de chaque jour
Toute une éternité d'amour
Que nous vivrons à en mourir

A mania das empresas municipais

Desde há uns anos para cá muitas câmaras municipais têm criado empresas e até fundações. São apresentadas como uma forma de desburocratizar os serviços.
A primeira desburocratização que aparece é a do ordenado dos gestores. Deixam de ter os limites da função pública e, até agora, não se conhece nenhuma em que se ganhe menos numa situação equivalente nas câmaras municipais ou no Estado. A desburocratização permite também não estarem sujeitas a limitações de contratação, o que leva a contratar-se quem se quiser, uns com ordenados mais chorudos no topo, outros com recibos verdes "negociados" (como se na actual situação de desemprego de jovens qualificados estes tivessem algum poder de negociação) e contratos temporários. A fiscalização por órgãos independentes do Estado, torna-se mais frouxa, evitam-se as "chatices" do Tribunal de Contas.

A mudança tem também outros custos. Quem fazia antes as funções, funcionários das próprias câmaras, começam a ficar na prateleira, sem serviço, sem se aproveitarem recursos humanos experientes. Como as novas empresas não têm, à partida, alguns recursos humanos e infra-estruturas, a solução é pagar serviços a outras empresas, a preços de mercado.

Não é só pelos escândalos, nomeadamente na Câmara de Lisboa, em que sobretudo no tempo de Santana Lopes, proliferaram os gestores, a troca de favores, nomeações de clientelas, corrupção que levaram à ruína financeira das "res publica", de uma câmara que deveria ter estado ao serviço dos cidadãos.
Em Évora também a câmara já cedeu serviços a empresas. A Habévora uma delas. Melhoraram os serviços?; promoveu-se o direito à habitação consignado na Constituição da República e no programa do Partido Socialista? Não me parece.

O problema é a burocracia? Então desburocratize-se. As câmaras municipais têm autonomia. E as empresas também se burocratizam. Ou será que privatizar é a panaceia para tudo (ainda por cima num país onde os privados andam sempre a pedir ao Estado)?

Agora quer-se aprovada a "Empresa Municipal para a Gestão dos Espaços Culturais e Desportivos".

Para suprir alguma falta? Agum arrependimento por se ter acabado com tanta coisa?

Para recriar o "VIVA A RUA", um festival que já estava consagrado e onde era possível ver e ouvir músicas e músicos de grande qualidade numa praça digna, dando o valor que merece uma praça viva? Lembro-me assim de repente, de assistir a espectáculos na Praça do Giraldo, com Georges Moustaqui, Paco Ibañez, Mestre Ambrósio, grupos argelinos, de vários países africanos, de tantas culturas menos conhecidas nesta ...

E agora uma questão de fundo também. A da responsabilidade. Os cidadãos votam nas autarquias, pedem responsabilidades às autarquias. Mesmo que não queiram, os vereadores e o presidente têm que dar a cara. Nas empresas municipais não.

Por isso também assino a petição:
http://www.petitiononline.com/cultev08/petition.html

quinta-feira, 3 de abril de 2008

S. Miguel, S. Michel

São Miguel, Guimiliau
Le Mont de Saint Michel, Sala por baixo da catedral.

Imagem de S. Miguel, Le Mont de Saint Michel


Le Mont de Saint Michel

São Miguel Arcanjo, um dos anjos mais venerados da cristandade. O maior! Por isso os lugares a ele dedicados ficam sempre nos montes mais altos, em Portugal também. Le Mont de S.Michel, convento beneditino e fortaleza que os ingleses não conquistaram na Guerra dos Cem Anos é um exemplo eloquente por si.
São Miguel venceu o dragão.
São Miguel é festejado em 29 de Setembro, época que era de grandes feiras, onde se vendiam mulas, borregos e porcos como em Sousel. A data é, ou era, o início do ano agrícola em algumas regiões de Portugal, citada já na Idade Média. Os contratos anuais faziam-se pelo São Miguel de Setembro em muitos lugares.
Também se podem encontrar manifestações em autos populares, seja em Trás-os-Montes seja em São Tomé e Príncipe.
São Miguel pode ser representado popularmente como um triunfador sobre o mal, com lutas em que o arcanjo vence o invencível, onde nunca se sabe no momento, mas todos sabem que no final vencerá o horrível dragão espumante de fogo.
Ou, à maneira barroca, de um ponto de vista da corte, quase como um dançarino em duelo.
A estética do poder impõs-se. Mas conheceria o São Miguel do ano agrícola?

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Mercado na rua, no centro de uma pequena cidade da União Europeia.
















Carantec, Março de 2008


Serão os franceses menos civilizados que nós? Será que têm mais doenças que os portugueses por não terem uma ASAE que proiba quase tudo?

Qual é o problema de vender peixe, fazer refeições .... ao pé de monumentos?
Por que é que muitas câmaras municipais não promovem mercados nas ruas?

As cidades não se querem vivas?

É preciso obrigar as pessoas a irem aos mini, super ou hipermercados?

Bretanha. Igrejas rurais. S. Thégonnec








Nas igrejas rurais bretãs há todo um programa religioso e espaços definidos para os vivos e mortos e lugares de oração.
O cruzeiro adquire um lugar central. Fica no recinto religioso mas antes da igreja. Antes desta há um pequeno edifício onde repousam os ossos dos que já passaram pela vida.
No cruzeiro contam-se os vários momentos da vida de Cristo, pormenorizados e como num cenário, ensinando a camponeses que não falavam francês nem outra língua "civilizada", mas bretão falado simplesmente e sem escrita. Tal como no estilo românico, trata-se de uma Bíblia para analfabetos, com uma linguagem estética que reconheciam.
No interior, igrejas sem uma planta convencional, carregadas de símbolos, de santos vencedores dos dragões, dos touros, dos javalis e outras famílias maléficas ou de mártires com os objectos dos seus martírios e a Mãe original, Santa Ana, mãe de Nossa Senhora, afinal a Deusa Mãe desde tempos imemoriais, desde a invenção da agricultura.

Bretanha. S. Pol de Léon




Vitrais da catedral de Saint Pol de Léon, Finisterra, Bretanha

Saint Pol ou em latim Paulus Aurelianus foi um dos sete (número simbólico) refundadores da antiga Armórica que passa a chamar-se Bretanha. Dirigia uma comunidade de bretões do outro lado da Mancha (Grã-Bretanha) que fugia às invasões germânicas. A Bretanha reforça a sua identidade celta e cristianiza-se.
Assim se representa o santo vencendo os génios antigos, o touro e o dragão em especial.

Segundo a wikipédia: