domingo, 6 de abril de 2008

S. Sebastião III. Outro

S. Sebastião, Bretanha

Os santos têm tantas interpretações como os povos que os constroem ou veneram. Apesar do martírio, o S. Sebastião, em Portugal ou na Andaluzia, tem um aspecto menos sofredor e menos rígido.

Ora, segundo informações a confirmar, o CENDREV vai sair do teatro Garcia de Resende. A tal empresa vai gerir o espaço (e suponho que irá também gerir as respectivas dificuldades, dos fios eléctricos aos cabos, estuques, tectos etc.) e o CENDREV vai para a igreja de S. Sebastião.
Já se percebeu que não interessa a alguns a história do CENDREV nem o seu papel na formação de actores após o 25 de Abril, produto deste também. Nem o seu papel actual como companhia residente que irá deixar de o ser e, portanto, perder o estatuto.

S. Sebastião, em Portugal pelo menos, ficava sempre fora de portas, isto é à entrada das cidades, vilas ou aldeias, ou seja, também à saída. A razão ou motivação era simples. S. Sebastião era o protector contra a peste. E a peste vinha de fora, ou tinha que ser expulsa.

Assim veremos o que vai acontecer.
Ou o CENDREV é a peste que vai ser expulsa ou o CENDREV fica como que resquício da protecção contra a peste que há-de vir.

Gostava de perceber se esta gente que ora manda nesta cidade, percebe o que é a cultura urbana ou se apenas exprime os recalcamentos da sua origem rural que odeia e a cultura suburbana que exprime, fingindo que são modernos ou pós-modernos (não percebendo eu, que vivo no século XXI, o que seja isso).
Será a cultura do que julga que subiu a pulso (sem reparar que teve a sorte do país evoluir), que vive na vivenda com jardim para mostrar aos outros, que vem à cidade no seu jipe mostrar que há uma cidade-museu para tirar fotografias?
É a mentalidade do "pay per view". Querem ver uma cidade património mundial? Sentem-se no sofá e liguem o canal x, sem necessidade de ouvir as imprecações dos bêbados, dos pícaros, os excrementos dos pombos, nem os fumos dos autocarros da plebe, de vaga origem alemã ( plebe portuguesa, os autocarros "nórdicos" aparentemente reciclados). Querem ver teatro, ouvir música? Há alternativas, sem tempos de espera, sem "gaffes", com o som depurado com várias colunas e surround e com a vantagem de escolhermos quando queremos, sem essas porcarias do calor, dos ventos das chuvas e dos malucos e chatos que andam por aí. Quer-se um espectáculo de entretenimento? Pede-se a uma empresa de fora (uma qualidade), privada certamente, que aluga um pacote com várias modalidades. Ouvir coisas de outros mundos é um luxo, é snobismo, elitismo, coisas diferentes dos desfiles de modas, que o pessoal até gosta, até gosta de ver a elite sentada a apreciar essas artes.
Incómodos para quê? É a civilização! Com uma diferença. É que o outro, o que o José Maria retratou, tinha vivido e gozado Paris, além de chatear também o pessoal de Évora, os padres de Leiria, os americanos em Cuba ..., quase toda a gente, visto que era um mal disposto e gozão de primeira. Mas quando conheceu Tormes, passado o primeiro mal estar, gostou. E quis mais!
E eu, que só conheço Paris de uma semana, também gostaria que Évora fosse uma cidade de cultura.
Viva, cidade viva.
Viva a Rua!

Um comentário:

Anônimo disse...

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