domingo, 6 de abril de 2008

Olivença

Ayuntamiento de Olivenza. Palácio dos duques de Cadaval
Foi ontem novamente apresentado, agora em Évora, o livro de Ana Paula Fitas, Olivença e Juromenha: uma história por contar. Faz todo o sentido porque a Ana Paula é de Évora e Olivença foi historicamente Alentejo..
É um estudo que eu gostaria de ter feito. Ainda bem que foi a minha amiga Ana Paula porque o fez com persistência, atenção e qualidade.
O problema, os problemas relacionados com Olivença, não são fáceis neste país com uma nacionalidade há longos séculos enraizada, com uma nação, estado e língua que se sobrepõem e se amalgamam, e em que a única excepção a esta continuidade é precisamente Olivença.
Fosse o problema na Grécia e as disputas territoriais com a Turquia, Macedónia ..., na Alemanha com a Polónia, República Checa ..., na França com a Espanha e a Alemanha, na Rússia com não sei quantos ..., em África ..., isto é quase todos os países do mundo!
E Olivença também pagou pelos impérios. Este pequeno território alentejano ficou refém das invasões napoleónicas e ante-napoleónicas (de Godoy, ministro espanhol que se usou e foi usado pelos franceses, em grande parte por interesses pessoais), das disputas territoriais na América do Sul (com D. João VI, invadiu-se o que é hoje o Uruguay, ex-colónia espanhola e a Guiana Francesa, hoje também território da União Europeia, visto pertencer à França) e de outros interesses ingleses, que afinal eram quem mandava neste país no primeiro quartel do século XIX, se não antes e depois.
E Olivença, é também um território estranho para quem está habituado só ao presente. Foi, na prática, sede da diocese de Ceuta, que envolvia territórios tão díspares como Ceuta e "outras Áfricas", Olivença e Campo Maior ... Caminha e outras ...
E vale a pena visitar Olivença. Não só porque muitos ainda falam português e conhecem as "saias", essa música e dança do Alto Alentejo, como por um património edificado com um cunho português claro, seja no castelo, nos baluartes e muralhas da Restauração, na Misericórdia (a única fora dos territórios de Portugal ou ex-colónias portuguesas), nas igrejas de forte influência manuelina, de Santa Maria ou da Madalena ou nos montes por esses campos adiante, até e desde o Guadiana, o rio que une.
De jure Olivença é portuguesa. De facto está sob soberania espanhola.
O problema tem sido levantado ao longo dos tempos. Mas repare-se que Salazar, que apregoava a Nação por todo o lado, fez-se esquecido, como, apesar da tal nação "do Minho a Timor", também não tomou sequer posição defensiva quando os japoneses ocuparam e humilharam os portugueses em Timor.
A Espanha continua a reivindicar Gibraltar, problema mais antigo, Marrocos o "regresso" de Melilla e Ceuta (cujo símbolo continua a ser o escudo português) e da ilha da Salsa (Peregil) e Olivença ... é ainda um problema.
E....
Leiam o livro da Ana Paula Fitas. Já li umas 80 páginas e gostei. Tenho trabalho para os próximos dias, além dos outros.
E por que não, como disse o Professor Moisés Espírito Santo, tornar Olivença um lugar de encontro?

Um comentário:

Anônimo disse...

Compreende-se o desejo de "tornar Olivença um ponto de encontro". Mas... sobre todos os territórios que referiu, não há tratados CLAROS de devolução! Os erros de Moisés Espírito Santo são (e cito o erro, conforme o publicado no artigo do Diário do Sul de de 09-Abril de 2008)(...) "desenvolver uma idéia aparentemente generosa, mas muito perigosa! Se as situações "de facto", em Direito Internacional, fossem aceitáveis, teríamos várias agressões de estados poderosos a territórios de estados vizinha mais fracos, ou a estados inteiros, que, após algum tempo, porque eram situações "de facto", se tornariam "legais". Imagine-se o Inferno! Ou imagine-se o que teria sido este princípio aplicado a Timor. Ou, já agora, pergunte-se o que leva Madrid a não encarar esta hipótese sobre Gibraltar, ou a Argentina sobre as Malvinas... A idéia é, pois, um contra-senso...
(...) Mais uma vez, por detrás de uma idéia generosa de fraternidade, verifica-se uma falácia! NÂO HÀ SITUAÇÔES DE DISPUTA TERRITORIAL EM Vilar de Mouros ou Zambujeira do Mar[referidas concretamente por Moisés Espírito Santo](...) A proposta do Prof. Moisés Espírito Santo corresponde a propor a Madrid que celebre a Amizade Hispano-britânica em ...Gibraltar... continuando este território sob administração britânica. Imagine-se a resposta de Madrid a uma tal proposta. Parece também que o Professor desconhece o absoluto branqueamento ( e falsificação) da História que prossegue em Olivença. Em 9 de Abril de 2008, no maior super-mercado de Olivença, três jovens funcionários oliventinos insistiram, uma e outra vez, que Olivença fora trocada por Campo Maior Na Guerra das Laranjas. Perante um livro de História (ESPANHOL) onde tal era desmentido (um dos poucos que o faz), replicaram que "o livro estava errado", porque "toda a gente em Olivença sabia que assim [a troca] fora, e não havia mais conversa!" Perante este "quadro", como é possível sustentar "encontros culturais apolíticos"?"
Carlos Eduardo da Cruz Luna// carlosluna@iol.pt//caedlu@gmail.com