domingo, 19 de outubro de 2008

O discurso anti-sindical

Há quem diga coisas destas: que os sindicatos são os maiores adversários; que não se deve ser sindicalizado; para quê pagar quotas para eles (será que se entendem por eles, uns indivíduos que nem são professores, que vivem à custa dos outros)? Admiram-se de haver gente sindicalizada e até parece que quem é sindicalizado anda fora da onda, ou até é está contra a corrente.

Há quem agradeça. Não só a ministra, mas quem foi a favor do novo código de trabalho, quem não quer parceiros para discutir problemas concretos, quem está a favor da desregulamentação total, dos contratos individuais sem negociação colectiva. Por que não havendo sindicatos, o que é que há? E o que é que existe de permanente, para o dia a dia?

Creio que em muitos casos este discurso resulta da emoção do momento. Compreendo-o, mas há que reflectir.
Mas o sindicato já deveria ter ouvido as pessoas. Já se deveria ter actuado. E o não actuar leva à descrença. Os motivos são demasiado fortes para algum silêncio que tem existido. Já quase ninguém aguenta um Setembro e um Outubro como estes.

Aborrece-me este discurso sobre os sindicatos, em geral. Para já não são todos iguais nem têm a mesma representatividade. No caso dos professores há a FENPROF e a FNE, que têm dezenas de milhares de sócios, e um sem número de organizações que de sindicato apenas têm o nome. Alguns até serviram para umas borlas, isto é para indivíduos terem dispensa de serviço a meio tempo ou a tempo inteiro, embora não representassem ninguém. Eram úteis para o poder porque assinavam como sindicatos, embora não tivessem qualquer poder real.

Esquecem-se alguns que a luta pela existência e até legalização de sindicatos é centenária e que muita gente pagou por isso. O campo de concentração do Tarrafal foi criado com sindicalistas da greve geral de 1934 e marinheiros que se revoltaram. Já antes outros tinham ido parar a Timor e outras colónias. Mesmo depois, muita gente foi despedida, perderam direitos, foram presos etc. Não se conseguiria uma manifestação de 100000 professores se não houvesse organização e lutas anteriores. Aliás, para quem tenha alguma experiência em relação a movimentos de massas sabe que é muito fácil infiltrarem-se movimentos provocatórios que levam à excitação, desorganização e intervenção da polícia. Quem viveu o período pós-25 de Abril sabe o cuidado que se tinha nessas manifestações porque facilmente a extrema-direita ou certa extrema-esquerda (o MRPP, muitos deles hoje no poder), poderia manipular grupos mais ou menos espontâneos .

Faço algumas perguntas legítimas (não me venham dizer que sou do contra e não as posso fazer): quem convocou uma manifestação para dia 15? Quem representa essa organização (quantos associados)? Como se transportam dezenas de milhares de pessoas? Como vai ser organizada a manifestação? O que se propõe?E que legitimidade têm alguns para acharem que ninguém deve ligar aos sindicatos? Discutiram o estatuto antes de ele ser aprovado? Fizeram greves e manifestações nessa altura? Foram àquelas manifestações com cinco mil professores, a outras com dez mil ou só foram à última? E depois o que fizeram?

Eu, por mim, tenho críticas a fazer em relação a sindicatos (a um, porque há outros que nada têm a ver comigo). Mas sou sindicalizado. É lá que tenho que estar. Parto do princípio que os sindicatos não são os outros: somos nós. E nós é que temos o direito e o dever de os fazer representar-nos. E estas coisas não podem ser por um só dia. Acabar com sindicatos é ficar sujeito a movumentos, embora bem intencionados, que vão e vêm.

Por isso vou a uma manifestação que tenha objectivos definidos. Que seja para vencer e não sair de lá pior ainda. E irei a outras.

O problema é o governo, não são os sindicatos.

Ps. Não estou aqui propriamente para ser simpático e acrescento ainda outras: por que é que alguns votaram no PS? Os militantes do PS não discutiram problemas de educação antes deste governo? Se são militantes e não concordam o que é que lá estão a fazer? Porque não derrubam esta gente?

E os daquele partido que agora tem uma dirigente que lhe dá para estar calada? Até nova demonstração, parece-me que não é porque não saiba falar, visto que até já foi ministra da Educação, mas porque concorda com o que este governo faz.

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