segunda-feira, 16 de junho de 2008

Os c e os p do Acordo Ortográfico e ... a falta de reflexão.

Recebo constantes mails sobre o acordo ortográfico, petições, falsas petições etc. Diga-se de passagem que ele foi aprovado há mais de dez anos, mas só agora, e no prazo de seis anos, é que vai passar à prática. Em meses, fizeram-se muito mais mudanças durante a República, em 1911.

Algumas mensagens já me irritam porque repetem coisas que lá não estão. E quem as reproduz também deveria pensar um pouco. A discussão é útil mas tem que ser séria, sem alarmismos ou pseudo-patriotismos.

Ontem recebi esta com o título "A minha pátria é a língua portuguesa":

De fato, este meu ato refere-se à não aceitação deste pato com vista a assassinar a Língua Portuguesa.Por isso ... por não aceitar este pato ... também não vou aceitar ir a esse almoço para comer um arroz de pato ...A esta ora está úmido lá fora ... por isso , de fato lá terei hoje de vestir um fato ..
Concordas com o modo de escrever acima exemplificado? Se não concordares, clica na imagem que se segue e assina:


O que diz o Acordo?
Cito:

BASE IV: DAS SEQUÊNCIAS CONSONÂNTICAS
1
[...]
Assim:
a) Conservam-se nos casos em que são invariavelmente proferidos nas pronúncias cultas da língua: compacto, convicção, convicto, ficção, friccionar, pacto, pictural; adepto, apto, díptico, erupção, eucalipto, inepto, núpcias, rapto;
b) Eliminam-se nos casos em que são invariavelmente mudos nas pronúncias cultas da língua: ação, acionar, afetivo, aflição, aflito, ato, coleção, coletivo, direção, diretor, exato, objeção; adoção, adotar, batizar, Egito, ótimo;
c) Conservam-se ou eliminam-se, facultativamente, quando se proferem numa pronúncia culta, quer geral, quer restritamente, ou então quando oscilam entre a prolação e o emudecimento: aspecto e aspeto, cacto e cato, caracteres e carateres, dicção e dição; facto e fato, sector e setor, ceptro e cetro, concepção e conceção, corrupto e corruto, recepção e receção;
[...]

BASE II: DO H INICIAL E FINAL
1
O h inicial emprega-se:
a) Por força da etimologia
: haver, hélice, hera, hoje, hora, homem, humor;
b) Em virtude da adoção convencional: hã?, hem?, hum!
2
O h inicial suprime-se:
a) Quando, apesar da etimologia, a sua supressão está inteiramente consagrada pelo uso: erva, em vez de herva; e, portanto, ervaçal, ervanário, ervoso (em contraste com herbáceo, herbanário, herboso, formas de origem erudita);
b) Quando, por via de composição, passa a interior e o elemento em que figura se aglutina ao precedente: biebdomadário, desarmonia, desumano, exaurir, inábil, lobisomem, reabilitar, reaver.
3
O h inicial mantém-se, no entanto, quando, numa palavra composta, pertence a um elemento que está ligado ao anterior por meio de hífen: anti-higiénico/ anti-higiênico, contra-haste, pré-história, sobre-humano.
4
O h final emprega-se em interjeições: ah! oh!

in http://www.portaldalinguaportuguesa.org/index.php?action=acordo&version=1991

Sublinhados nossos

Portanto, o que existe aqui nestas mensagens é ou irreflexão ou um pouco de má fé. Ninguém em Portugal irá ser obrigado a escrever fato em vez de facto, pato em vez de pacto. O h inicial também se mantém na maioria dos casos. Claro que erva já há muito que se escreve sem h e hora continua com H.
Grandes nacionalistas!

Quem é o pato?

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