sábado, 11 de julho de 2009

Uma rua de uma cidade Património Mundial

Esta rua que foi de Alconxel ou Alconchel é há mais de um século Rua Serpa Pinto, em memória do explorador das Áfricas que irritou os ingleses a ponto de estes fazerem um Ultimatum, desfazendo o sonho do Mapa Cor-de-Rosa, a grande colónia que seria de Angola à Contra-Costa, um balde de água fria que transformou os republicanos em nacionalistas ofendidos, acusando a monarquia de decrépita, corrupta e incapaz de preservar os “egrégios avós”, “os heróis do mar, nobre povo”. Daí o refrão contra os canhões (noutra versão “contra os bretões”) marchar, marchar.

Ora hoje, nesta rua, a marcha do progresso é lenta e, como não é regresso, é simples decadência!
Ontem contei alguns estabelecimentos que fecharam nestes últimos anos aqui. Sem ser exaustivo, contei doze. E fui-me lembrando, até porque isto é recente, de três barbeiros, um banco que agora serve de urinol, uma livraria, duas discotecas que depois passaram a bares mas que continuam encerradas, pastelarias, uma casa que vendia antiguidades, tubos de canalizações e coisas inúteis, casas da China que já foram outra coisa … Referi aquelas que estão mesmo encerradas, mas poderia ainda falar de lojas de móveis que se transformaram em tribunal, antigas fábricas de mobílias alentejanas, talhos, padarias, lojas de peças de automóveis, oficinas, um clube desportivo, igreja … e o negócio da palha.

A decadência é nítida em toda a cidade intra-muros (evito o termo Centro Histórico, pois a noção que alguma classe média suburbana local tem deste espaço é que isto é uma espécie de grande sala de visitas, boa para tirar umas fotografias, mostrar aos turistas e passear rapidamente de carro pela Praça do Giraldo e ruas transitáveis ao fim da tarde). Mas aqui ainda é maior o marasmo desde que se acabou com o estacionamento ao pé das muralhas. Não estou contra o ajardinamento desses espaços, até penso que foi uma boa ideia, vinda já de outros tempos. O problema é que não se criaram alternativas, nem de estacionamento próximo, nem de circulação de transportes públicos suficientes e atempados, nem se favoreceu a opção normal das cidades do Norte da Europa, que é a de andar de bicicleta.

E assim, a rua que em tempos foi a grande entrada ou saída em direcção a Lisboa, aquela por onde os reis entravam em pompa e circunstância quando vinham à “muy nobre e sempre leal cidade de Évora” está a transformar-se lentamente num grande beco em vias de desertificação.
Talvez falte àqueles que mandam conhecer melhor o que é a cidade, saber o que é uma cidade viva. Falta certamente uma política de promoção da vivência na cidade (e não apenas na parte antiga), com em grande parte deste país cada vez mais suburbano e motorizado.
E, pensando um pouco, por que é que as pessoas vão aos fóruns modernos? Porque querem passear em ruas e praças, lugares de encontro, com comércio, cafés divertimentos ...
Ora isso já cá temos. Era só adaptar um pouco aos tempos actuais, incentivar um pouco...
Qual é a necessidade de ir construir um "fórum", artificial, com preços subsidiados ou minimizados nos custos, à nossa custa, quando já o temos aqui e muito mais genuíno e humanizado. Para mais tarde se verificar que os prédios aqui vão caindo ou ficando entaipados antes de ruirem?

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