terça-feira, 21 de junho de 2011

Um dia importante na democracia.

Estabeleceu-se há muito a independência dos poderes. Mas as tentativas de sobreposição são frequentes, mesmo na República, na res publica.

Os incidentes com Fernando Nobre foram um bom exemplo do que não se deve fazer ao menorizar o Parlamento e o voto daqueles que elegem os seus representantes ou que simplesmente votam, mesmo em branco, uma opção legítima quando se contesta um sistema emperrado.

Não ponho em causa a personalidade de Fernando Nobre nem o seu trabalho na AMI. Mas todo o seu discurso contra “os políticos”, num tom populista e com ares de salvador nunca me agradou. Os saltos ideológicos e estratégicos em tão pouco tempo, a arrogância de quem sabe mas não explica e os outros que o sigam, também não me serve. Não precisamos de “salvadores”, e os que assim se presumiam e exigiam que os outros assim os considerassem e se submetessem, deram mau resultado. 

Não gosto também daqueles que querem transformar as eleições para deputados num simples acto plebiscitário para escolha do primeiro-ministro. Frequentemente plebiscitos são a antecâmara das ditaduras, quando não as são já. Não chega dizer sim ou não, a preto e branco; é essência das democracias discutir as questões, numa pluralidade de opiniões e representações, e não apenas fazer uma cruz um dia. Trata-se de eleger deputados; o primeiro-ministro e o governo vêm depois.

Foi um mau exemplo escolher alguém com a promessa que seria presidente da Assembleia da República, mesmo antes das eleições, mesmo antes de os deputados eleitos poderem eleger o seu presidente. Foi uma tentativa arrogante de menorizar o parlamento, os deputados e quem os elege. Foi uma derrota vergonhosa e bem merecida para tantas ultrapassagens de regras básicas e da Ética da Democracia.

Hoje a Assembleia da República cumpriu a sua função e elegeu uma presidente que falou em Razão, Esperança, em Direitos, mesmo daqueles anónimos que têm dificuldade em exercê-los.

Fez um discurso político. É disso que precisamos. Foi aplaudida de pé por todos os deputados e jurou cumprir humildemente as suas funções.

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