terça-feira, 6 de abril de 2010

Reflexões sobre o ensino secundário (cursos científico-humanísticos)- 3


Uma disciplina que todos os alunos dos cursos científico-humanísticos têm no seu percurso, ao longo dos três anos, é a disciplina de Português, disciplina fulcral, já que todo o ensino, com excepção óbvia das línguas estrangeiras, é feito na língua materna, contribuindo todas as disciplinas ( e o que se fala e escreve em casa …) para a literacia na língua materna.
O programa em vigor, propõe um diagnóstico inicial no décimo aluno e refere as competências que devem ser avaliadas também no início. Por exemplo:
compreensão oral
. identificar a intenção comunicativa do interlocutor;
. saber escutar e compreender géneros formais e públicos do oral;
. saber escutar criticamente discursos orais, identificando factos, opiniões e enunciados persuasivos.
Ou
expressão escrita
. dominar técnicas fundamentais de escrita compositiva:
- organizar o texto em períodos e parágrafos, exprimindo apropriadamente
os nexos temporais e lógicos;
- escrever com correcção ortográfica, morfológica e sintáctica;
- usar vocabulário apropriado e preciso;
- aplicar correctamente regras básicas da pontuação
Ou ainda:
– funcionamento da língua
. identificar classes e subclasses de palavras;
. reconhecer o valor polissémico das realizações lexicais;
. dominar os paradigmas da flexão nominal, adjectival e verbal;
. identificar modos e tempos verbais em frases simples e complexas;
. reconhecer funções sintácticas nucleares;
. distinguir relações de coordenação e de subordinação.
Uma observação simples, a experiência relatada ou efectuada no terreno, indica que a maior parte dos alunos não atingiram suficientemente estas competências. Mais, os testes internacionais PISA quando medem a literacia (alunos com 15 anos),chegam a conclusões destas, como no PISA, 2001:
[…] cerca de 60% dos jovens de 15 anos no espaço da OCDE são bem sucedidos na realização das tarefas correspondentes a estes três níveis. Mas esta percentagem varia muito de país para país (PISA, 2001, pág. 5)..
Em Portugal, bem assim como no Brasil, na Grécia, na Letónia, no Luxemburgo, no México e na Federação Russa esta percentagem não atinge os 50%.
Se observarmos a distribuição por nível, verificamos que, no nível 5 (o mais elevado) se situam 4% dos estudantes portugueses de 15 anos, contra uma média de 9% no espaço da OCDE. No nível 4 temos 17% dos alunos portugueses, contra uma média de 22% na OCDE. O nível 3 foi atribuído a 27% dos alunos portugueses, em comparação com 29% no espaço da OCDE. No nível 2 o contraste é entre 25% em Portugal e 22% na OCDE.
Finalmente, no nível 1 temos 17% dos nossos alunos, contra a média de 12% no espaço da OCDE.

O recente  relatório da DataAngel Policy Research Incorporated (2009), A dimensão Económica da Literacia em Portugal: uma análise, na página 9, aponta também para conclusões semelhantes ou piores:
Quase um quarto da totalidade dos alunos (24,5%) obteve pontuações de nível 1 ou inferior, enquanto 28,8% obtiveram pontuações de nível 2. As distribuições dos resultados por níveis foram semelhantes nos testes realizados em 2002 e 2003.
Esta tendência é preocupante, porque significa que mais de 50% da actual juventude portuguesa está classificada como pouco qualificada nas disciplinas principais de literacia de leitura, matemática e ciências. Este resultado tem implicações importantes para as perspectivas económicas futuras de Portugal, porque os trabalhadores, com competências inferiores ao nível 3, terão grande dificuldade em competir na economia global do conhecimento. (Pág. 74).
Ora, perante isto chegaremos à conclusão que os programas são irrealistas e não têm em conta os alunos que estão no sistema. Já que em semanas não se recupera o que não se aprendeu antes, há duas soluções que têm sido praticadas: reprovar os alunos, logo no décimo ano ou aprovar administrativamente, acumulando problemas exponencialmente.

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