segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Fotografia de 1933/44


   Encontrei esta fotografia no Facebook, na página dos Antigos Alunos do Liceu de Évora. É interessante ver a evolução destas fotografias. São quase sempre no claustro, onde hoje é a Universidade e onde foi a antiga Universidade dos Jesuítas, na escadaria, tendo como fundo a Sala dos Actos e as colunas. Em muitas delas aparece o Reitor, professores, um ou dois funcionários, entre os quais o senhor Francisco, chefe dos contínuos, o homem que tocava a sineta para o início e fim das aulas, sempre solícito e prestável, encarregado de educação de muitos estudantes deste Alentejo. As fotografias são formais, mas a formalidade evolui com o tempo. Em tempos mais antigos, os rapazes tinham que andar de capa e batina, as raparigas com vestuário discreto. Mais tarde as raparigas usam bata e os rapazes vão ficando com o vestuário quotidiano. Tudo evolui, do vestuário ao penteado, até à pose menos formal, com a banalização da fotografia, já nos finais do regime.
   Esta fotografia é de 1933/34. Ano terrível da História da Europa, com a ascensão do nazismo, com a implantação do Estado Novo em Portugal, formalizado por uma constituição corporativista, o Estatuto do Trabalho Nacional, com a fascização dos sindicatos, o Acto Colonial, com a “missão civilizadora”, que dividia as gentes das colónias em portugueses, assimilados e indígenas …
O Liceu de Évora, ainda chamado Liceu Central André de Gouveia, era o único do distrito, mas atraía alunos de outros, de concelhos de Portalegre ou de Beja. Poucos! O ensino era ainda elitista, a maior parte não estudava ainda. Recorde-se que por essa altura havia mais de 50% de analfabetos, quanto mais alunos nos liceus. Neste edifício funcionava no claustro do rés-do-chão, o Liceu, no segundo andar a Escola Técnica, evolução a partir da Casa Pia, que se situava num segundo claustro e ainda existiam outros serviços, como o Arquivo Distrital. Assim se resumia o ensino secundário oficial no distrito! Para diferenciar, os alunos do Liceu eram obrigados a andar de capa e batina.
   Esta fotografia emocionou-me porque está ali o meu pai, o primeiro do lado esquerdo, por baixo da coluna. E está ali, porque havia uma família solidária, de outro modo não teria estudado. Um tio e duas tias, irmãs da minha avó, moravam em Évora, onde tinham uma loja de fazendas na Praça do Giraldo. Protegeram os sobrinhos, sobretudo sobrinhas que foram estudando em Évora, alugaram quartos a parentes que também foram estudar. Uma das tias achou que o meu pai também merecia e foi assim que veio para esta cidade.
   Na fotografia está também um antigo ministro da Justiça e professor de Direito, Antunes Varela, natural do Ervedal. Foi colega do meu pai desde a escola primária. Outra história que relembra  também a solidariedade familiar. Os meus avós viviam no Cano, concelho de Sousel. Havia algumas dificuldades em os alunos da escola primária fazerem a 4ª classe. O ensino obrigatório, e não era obrigatório para todos, ia até à 3ª classe. Segundo consta, o professor primário do Cano estava zangado com o de Sousel, onde os alunos do concelho fariam exame da 4ª classe. Uma tia, desta vez, do lado paterno, casada mas sem filhos, levou o meu pai para a escola primária do Ervedal.  Era a mais velha dos irmãos e já tinha ajudado alguns deles a obter uma profissão (ao que parece o meu bisavô era bem disposto, mas não demasiado preocupado).
   E foi assim que o meu pai veio parar a esta fotografia.

Nenhum comentário: