terça-feira, 16 de junho de 2009

Eleições para o Parlamento Europeu

Agora que toda a gente disse quase tudo vou talvez repetir alguma coisa.

Surpresa estas eleições? Parcialmente sim. Supunha que o PS desceria, mas não tão estrondosamente. O resto não é de grande admiração.

Comecemos pelo Parlamento Europeu. Não é propriamente um parlamento, visto que o poder legislativo é controlado pelos governos. E as pessoas nem percebem muito bem para que serve. Para mais, tudo o que é importante, desde a adesão dos países, à PAC, as directivas, tudo tem sido decidido por negociações e por uma burocracia distante dos cidadãos. Nos tratados, na pretensa ou pretendida constituição europeia importam mais o liberalismo económico do que os direitos cívicos, políticos, sociais ou culturais. Países e culturas com histórias diferentes, até com tradições coloniais diferentes, com opções estratégicas diferenciadas e opostas. Veja-se a atitude seguidista do Reino Unido e da Polónia face à invasão do Iraque, diferente da França, ou o reconhecimento da independência da República (mafiosa) do Kosovo, em contradição com as leis internacionais, da ONU que tanto dizem prezar, excepto nestes casos ou em relação a Israel.

O PS há muito que meteu o socialismo na gaveta. O que é que distingue a prática do PS da do PSD, a não ser o estilo? O governo mandou apertar o cinto para cobrir o deficit. Vieram os escândalos do BPN, do BPP e outros e agora esbanja-se o dinheiro dos contribuintes para pagar a especuladores. Desde há muito que saem ministros do governo e vão para a Portucel, para a Mota Engil, para o BPN, para grandes empresas ibéricas da comunicação e da energia. Saem do PSD, saem do PS, despudoradamente voltam a regressar a cargos de estado.

Os deputados são escolhidos por estes partidos e, em última análise, nestes partidos do centro, deputados e ministros são escolhidos por este centrismo de conluio entre empresas que dependem do estado e de um estado dominado por estas. Bem podem os eleitores querer votar em determinado deputado que logo estes partidos baralham tudo, metendo uns aqui outros ali, ficando no fim alguns que ninguém conhece, nem reconhece. E, se refiro estes dois partidos, devo acrescentar também o CDS que também ora faz alianças e negócios com um ora com outro.

Não admira o PSD ter subido. Afinal as pessoas pouco distinguem PS e PSD e este está agora fora do governo, mesmo que tenha estado calado tanto tempo em matérias importantes, até porque gostava de ter feito o mesmo. A memória também é curta!
O caso do Bloco de Esquerda pode ser um fenómeno conjuntural. Digo pode, porque houve muitos eleitores do PS que votaram nele, mas pode consolidar algum eleitorado. A CDU, contra as previsões (e o que há mais é gente arrogante a dar palpites) também subiu.

O governo, ao longo destes anos resolveu teimar num estilo arrogante e com tiques autoritários, mas sem competência para resolver os problemas do país. Veja-se o que se tem passado com a Educação: congelaram-se carreiras, contra as expectativas, com má-fé até, mudou-se a gestão das escolas para um modelo mais autoritário, burocratizou-se a avaliação, tentou-se controlar as consciências e as práticas até à intimidade, facilitou-se demagogicamente a passagem dos alunos, fez-se cair numa campanha de maledicência as culpas dos problemas do ensino sobre os professores. E não se resolveram os problemas; agravaram-se com a teimosia e falta de competência do ministério.

Pode ter-se a certeza que a questão dos professores teve peso nestas eleições. Não são só os 150000 professores, são as famílias, os amigos. E é bom não esquecer que os professores, que têm formação superior, ainda têm algum prestígio que a sociedade lhes reconhece, tendo a população mais confiança neles do que em muitas profissões.

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