Salazar. D. Carlos I
Duas imagens de homens que dirigiram o país. Em ditadura.
Salazar sempre sonhou com um país rural, respeitou e impôs a autoridade, estudou no seminário, foi quase padre, monárquico na juventude, só saíu do país, a custo, para visitar o general Franco, só se ria, às vezes, na intimidade, detestava discussões, detestava a República, o liberalismo, a democracia, o socialismo, o comunismo, o anarquismo, ... promovia e fazia-se à imagem dos santos e heróis e missionários que espalharam a Fé e o Império pelos continentes. Quis sempre manter a imagem de homem de respeito e sacrificado pela Nação, de Salvador da Pátria, sem perguntar se todos queriam ser salvos. Era pragmático e manhoso, conhecia bem a retórica e a arte de convencer analfabetos, só arredou do poder já velho, porque caíu de uma cadeira. Morreu solteiro e quis mostrar que era casto.
No Palácio de S. Bento aquecia-se com mantas.
D. Carlos era rei, neto do rei de Itália que a unificou e a quem o Papa não perdoava pela conquista dos seus territórios, bisneto do rei e imperador que esteve à frente da independência do Brasil e da segunda revolução liberal em Portugal.
Gostava de comer e beber, mulheres muitas, fumava charutos, caçava, viajou por vários países, dava festas frequentemente, gostava de música, pintava com alguma qualidade e coleccionava espécies marítimas nas suas deambulações no iate Amélia. Era liberal mas menos democrata, quis reformar um país que estava dividido entre a pasmaceira e a revolução. Fanfarrão, apresentou-se no Terreiro do Paço, de peito descoberto, alvo perfeito para tiros de carbonários.
Dois modelos diferentes, que ainda hoje perduram, talvez mais o do político sacrificado no Altar da Pátria que gosta de mostrar que prescinde da vida pessoal, que decide e raramente se engana.
Felizmente não precisamos de escolher entre um e outro modelo. Podemos até começar por escolher as nossas ideias e lutar por elas e até ironizar com as historietas de sacrificados e fanfarrões que, afinal, sempre tiveram pés de barro como os outros.
Como alguém dizia: "de imprescindíveis estão os cemitérios cheios"
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