quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Dia a dia. Ensino de História no 7º ano

Templo romano de Évora. Reservado talvez aos que em algum país podem estudar História e Património.


Diríamos que vivemos num país com uma História de mais de 800 anos. Diríamos que antes da independência passámos pelo mundo islâmico (500 anos), romano etc.

Digamos que fica bem falar dos Descobrimentos, do Brasil, de Timor, do antes e depos do 25 de Abril, da União Europeia e como chegámos aqui. Que da Grécia Clássica surgiu a matriz de uma certa cultura europeia.

Diríamos até que Évora era Cidade Museu, Património Mundial, e caso raro, até toda a cidade intra-muralhas, que já teve 23 conventos, dezenas de igrejas, dezenas de palácios, muralhas, casas pobres, casas judaicas, mourarias ...
E que até é engraçado contar umas historietas sobre alunos que confundem o primeiro rei de Portugal com algum jogador de futebol.


Quem manda achou que os alunos de 7º ano só deveriam ter nove aulas no segundo período, no ano da Graça de 2008. E dois testes e turmas de 28 alunos, e turmas com alguns alunos de 12, 13, 14, 15 e até mais e desenvolver competências sem conhecimentos (?!?!?). E com alunos que ficam à espera e dizem por palavras ou actos: "ensine-me mas quando eu quiser, motive-me e deixe-me fazer o que eu quiser... E que esse discurso é apoiado por alguns dirigentes (de meia dúzia) de Associações de Pais e de alguns jornalistas que se contentam com o diz que disse e de deputados carreiristas e sempre em apologia de ministros que ouviram dizer qualquer coisa e gostam de decidir depressa.

E depois vêm conselhos de turma. E planos de recuperação para os que não estão motivados, para os que a família é disfuncional e só a escola é que deve tratar porque mais ninguém tem ou quer ter a ver com o assunto, e depois tem que se explicar porque é que alguns tiveram negativas, e tem que se explicar aos pais que fazem ou não o favor de aparecer, e é melhor ficar tudo em acta e em relatório, principalmente no Conselho de Turma onde estão professores de mais doze ou treze disciplinas e Áreas Disciplinares, e explicar à Direcção da Escola e explicar à Direcção Regional e precaver a situação perante a avaliação e esperar pelo fim do ano para ver se não há queixas nem vício de forma. E ainda conselhos de outros colegas para deixarmos mais coisas em acta e mais grelhas e mais justificações. E ...

E além dessa turma de 28 alunos, com nove aulas no segundo período, e mais do mesmo, mais outras não sei quantas turmas, e aulas de substituição e mais reuniões e mais a formulação de objectivos individuais e ... ter qualquer dia aulas assistidas com planificações antecipadas e mais justificações numa turma que tem 9 aulas no segundo período. E predispor-se para acções de formação que se têm que cumprir, de acordo com os objectivos de alguém em qualquer lado.


Há algo que não funciona. Não sei se o surrealismo já passou, mas esse surrealismo que conheço era revolucionário e tinha a ver com sonhos e com a transformação da sociedade.

Isto não sei com o que é que tem a ver. O que sei é que, entre outras coisas, se está a impedir, com nove aulas no segundo período e com estas coisas todas, que um aluno normal e já não falo de outros melhores (porque qualquer dia teremos que justificar porque é que uns sabem mais que outros e encontrar estratégias que não se admitam essas surpresas), está-se a impedir repito, que os alunos percebam o que é o Património da Humanidade e que compreendam minimamente como é que o presente funciona.
Diríamos, por fim, que o que se está a fazer é aumentar o fosso entre os que podem e não podem e que a hierarquia social está a aumentar e, em termos mais "terra a terra", diríamos que os pobres continuam a ser tratados como "pobrezinhos", desprezados e relegados para um futuro papel de ignorantes e submissos.

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