sábado, 28 de novembro de 2009

As meias tintas

Governo e oposição.


É normal as pessoas em democracia votarem onde querem. Os partidos propõem ideias e sujeitam-se ao escrutínio. O que não podem é pensar que só há a verdade absoluta de um partido.

Faz parte do pacto político: quando se tem a maioria absoluta pode-se cumprir a maior parte daquilo que se propôs, respeitando a Lei e os direitos das minorias, dentro de uma determinada conjuntura; quando a maioria é relativa tem que se ter também em conta as ideias dos outros que foram eleitos. Ou então não se aceita ir para o poder.

Da parte das oposições há também que respeitar a vontade dos eleitores. Se a posição for só sim ou não, então também não se deve aceitar o lugar.

Na maior parte dos regimes parlamentares não há maiorias absolutas. E, no entanto, governam-se e há estratégias. Por que é que em Portugal não pode ser assim?

O pior são as meias tintas e a navegação à vista.

O PS se está no governo tem que conversar a sério e definir uma estratégia e dialogar a sério com os outros para obter apoios. Não pode andar a fazer-se de vítima a toda a hora.

Se não queria governar assim por que é que aceitou? Ou será que quer mudar de regime?

Os cidadãos precisam de saber o que é que se quer fazer nos próximos tempos.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Professores primários em Portugal em 1835



Decreto do Ministro e Secretario d’ Estado dos Negocios do Reino
7 de Setembro de 1835

Repare-se no tempo de serviço necessário para obter a reforma (jubilação): 25 anos

sábado, 21 de novembro de 2009

Propostas precisam-se

As línguas são uma grande ilusão. Pensam as pessoas que estão a falar de uma coisa e há outros que não percebem ou não estão para perceber.
Num país como Portugal, que até tem uma língua já usada oficialmente há muitos séculos (quando no reinado de D. Dinis o Português se tornou língua oficial, ainda os ingleses da corte usavam um francês normando), falam-se muitos discursos que só alguns grupos entendem. O que é que significa para a maior parte das pessoas, num país com elevada iliteracia, usar expressões como avaliação formativa, objectivos individuais, competências, pedagogia, didáctica, construtivismo etc. etc. ? E quando começam com siglas, PE, DE, PCE e outras, ainda muito menos

Não estou aqui armado em arrogante, mas há ainda muitos que não lêem um artigo de um jornal, têm dificuldade em preencher um requerimento simples e quando vêem uma notícia na televisão, ligam mais à imagem e à emoção transmitida do que às informações dadas. Outros sabem, ou julgam saber e depois desligam, porque pensam que há outros assuntos que merecem atenção. Outros ainda presumem que só o que eles e o grupo fazem é que é importante, dividindo em escalas hierárquicas em que uns são superiores e outros inferiores, e mais importantes se pensam quando acham que subiram muito.

Falemos agora da avaliação de professores. Não basta ter razão na contestação. É preciso que o discurso passe. Os professores (quais?) até conseguiram, mas isso pode ser uma ilusão temporária. Ainda têm um capital de prestígio, fruto de as pessoas terem quase todas passado pela escola ou concluído que esta era importante ou porque ainda há muitos professores na sociedade, nas autarquias, em associações e assembleias (até da República), capazes de influenciar.

Mas quando se contesta, não basta apenas reagir. É preciso ter propostas razoáveis e, sobretudo enquanto a opinião pública ainda está desperta.

Não ter propostas claras, pode levar a impasses e ao cansaço, dos próprios que reagem e dos que poderiam apoiar. E se passa demasiado tempo, alguém decide.

O país não vai passar anos a discutir questões dos professores e do ensino. O tempo urge e as pessoas cansam-se.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O cheque em branco do PSD e a pouca credibilidade perdida.


Bordalo Pinheiro

Afinal o PSD e o PS são bons amigos. Já se sabia: tomaram conta do aparelho de estado há muito, rodam nos lugares de nomeação política, das empresas públicas, sucedem-se nos escândalos da apropriação deste capitalismo português, em que raramente se percebe ou distingue se é o Estado que manda nas empresas ou se são as empresas que mandam no Estado.

O PSD na última legislatura votou pela suspensão do processo de avaliação dos professores. Sucessivamente questionado durante a campanha eleitoral sempre declarou que iria apresentar uma proposta de suspensão ou votaria nas propostas de outros partidos que propusessem a suspensão.

Agora limitou-se a trair as próprias palavras juradas e votou com o partido do governo, dando-lhe um prazo de um mês. Votou na farsa desacreditada da avaliação e passou um cheque em branco, como se o PS desse garantias de cumprir.

Afinal voltou ao que era. Quando o estatuto dos professores foi publicado não dizia nada, quando foi publicada a avaliação também não; eram os tempos em que Manuela Ferreira Leite não falava.
Quando começou a ver grandes manifestações, então acordou e vá de prometer.

Agora que já tem os votos volta àquilo que  foi e que no fundo queria: fazer a mesma política que o PS.

Quando não há ideologia, quando não há princípios, é assim!
Tristes figuras!

Respostas3

De um deputado do PSD:

Muito obrigado pela sua pertinente reflexão, quer no que diz respeito ao disgnóstico do modelo que ainda vigora, quer quanto às propostas que apresenta.

Cumprimentos

Respostas2

De deputados do PS:

Caro Professor João Simas

Tem razão quando diz que o momento é de debate de propostas que possam equacionar um modelo exequível e equilibrado de avaliação. O ministério, como é público e diariamente acompanhado por todos, está em reuniões de trabalho com os representantes dos professores. As notícias e declarações dos intervenientes deste processo levam a crer que estarão a ser resolvidas todas as questões que fragilizavam o anterior modelo. Creio que, e resumindo a uma generalidade, cada escola tem meios suficientes para fazer a avaliação dos seus docentes, entre avaliadores e órgãos de gestão e pedagógicos. A ideia das aulas assistidas apenas em determinados momentos da carreira, nomeadamente na mudança de escalão, parece-me bem – para mim, até deveria ser menos, em dois ou três momentos-chave…
Devemos esperar as conclusões que julgamos deverão ser do agrado de ambas as partes.
Cumprimentos
..................................

Caro Amigo João Simas

Obrigado pelo teu contributo. Agora, como no passado, estamos empenhados em garantir, aos cidadãos, um serviço público de educação que garanta a máxima qualidade e confiança. Para garantir essa finalidade, entendemos que é necessária a existência de um paradigma e de uma prática de avaliação rigorosa, objectiva, transparente, justa e exequível. É nisso que todos, os que defendem estes princípios, estamos a trabalhar.
Espero continuar a receber os teus contributos e envio-te votos de bom trabalho.
Um abraço
..........................................

Caro Senhor

Agradeço a amabilidade que teve ao enviar-me a sua opinião. Como sabe, foi definido o calendário e a metodologia a seguir nas negociações entre o Ministério da Educação e os representantes dos sindicatos representativos dos docentes, que decorrerão até final deste ano. Os temas que refere estão no centro dessa negociação. Todos esperamos que elas conduzam a bons resultados.
Cordiais saudações

Respostas1

Entretanto recebi respostas.
Do Grupo Parlamentar do PCP:

Foram hoje debatidas as várias iniciativas parlamentares relativas ao estatuto da Carreira Docente e à avaliação dos professores, entre as quais se conta o Projecto de lei n.º 2/XI apresentado pelo Grupo Parlamentar do PCP.
Do debate resultou, no essencial, a insistência por parte do PS na manutenção em vigor do actual modelo de avaliação enquanto se procede à sua revisão. Mas resultou igualmente uma posição preocupante por parte do PSD.
Depois de, na anterior Legislatura, ter apresentado um Projecto de Lei e dois Projectos de Resolução propondo a suspensão da avaliação e de ter votado favoravelmente todas as iniciativas apresentadas no mesmo sentido, o PSD prepara-se agora para inviabilizar a aprovação dos Projectos de Lei e de Resolução apresentados pelos vários Grupos Parlamentares.
Esta lamentável atitude do PSD, violando inclusivamente os compromissos assumidos no programa eleitoral que apresentou em Setembro, poderá comprometer os objectivos centrais visados pela luta dos professores: impedir que o actual modelo de avaliação produza mais prejuízos e reparar aqueles que entretanto foram causados.
O PCP manter-se-á firme e coerente nas posições que tem assumido, em solidariedade com os professores e a sua luta na defesa de uma escola pública de qualidade.
Se os restantes partidos da oposição adoptarem a mesma posição, certamente amanhã sairá da Assembleia da República uma Lei que suspenda o actual modelo de avaliação e reponha alguma tranquilidade nas escolas portuguesas.
Se o mesmo não ocorrer, os professores portugueses continuarão a ter no PCP uma força política que não poupará esforços na intervenção política para que esta questão seja resolvida, na Assembleia da República e fora dela.
Junto anexamos a Intervenção do Deputado Miguel Tiago na abertura do debate e os vídeos das intervenções decorrentes do mesmo.


Intervenção do Deputado Miguel Tiago
http://www.pcp.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=34670&Itemid=196
Intervenção do Deputado João Oliveira
http://80.251.167.42/videos-gppcp/2009-11-19Prof3.wmv
Intervenção do Deputado António Filipe
http://80.251.167.42/videos-gppcp/2009-11-19Prof4.wmv
Intervenção do Deputado Bernardino Soares
http://80.251.167.42/videos-gppcp/2009-11-19Prof5.wmv

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Onde está a Ministra da Educação?

A Assembleia da República está a discutir a avaliação dos professores.
Por que é que a Ministra da Educação não apareceu na principal casa da democracia?
Há respostas urgentes a dar.

A farsa do 1º ciclo de avaliação dos professores.

O primeiro ciclo de avaliação correspondia aos anos lectivos de 2007/2008 e 2008/2009. O decreto de avaliação saiu a meio do ano lectivo de 2007/2008, já o ano lectivo ia por aí adiante. Só teria sentido se fosse publicado antes, porque os objectivos só têm sentido se forem propostos no início de um ciclo. Ora apresentar a meio de um ano lectivo já pressupunha efeitos retroactivos.

Mas a coisa piorou. Em 2009 foi publicado o decreto “simplex” que contrariava e anulava os objectivos propostos, já que a legislação tinha mudado,  já o processo ia a mais de meio.

Depois deu para tudo. Quem apresentou objectivos, estivessem ou não de acordo com o Projecto de cada escola, apresentou quando quis ou segundo a “boa vontade das escolas”, uma forma de desacreditar o processo ainda mais e prejudicar os que se mantiveram coerentes: uns em Fevereiro, Março… até em Junho, depois do final das aulas.

É ou não uma farsa classificar professores que propuseram meses e até anos (repare-se nas datas) depois de iniciado o ciclo? Que sentido tem dar Muito Bom ou Excelente a quem no fim do processo (alguns dos quais até tinham assinado documentos contra) apresentou objectivos e teve aulas assistidas? Com efeitos retroactivos, com prejuízo dos outros?

Desrespeito para com os que no final se lembraram de ser avaliados?

Alguém formulou objectivos no início do ciclo? Agora que no final formularam objectivos têm que ser premiados em desfavor dos outros?


Todos os partidos da oposição votaram a favor da suspensão do processo na última legislatura. Todos os partidos da oposição durante a campanha eleitoral prometeram a suspensão da avaliação.
A suspensão é necessária e os partidos têm obrigação de serem coerentes e respeitar os resultados das eleições.

Parece, pelo que vejo agora na Assembleia da República, o PSD está a “roer a corda”.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Assembleia da República. O nosso poder legislativo

Hoje enviei uma mensagem (semelhante ao texto que aqui escrevi ontem) a vários deputados.
É altura de os professores escreverem novamente aos deputados sobre a situação no ensino.
Nem todos vão ler, mas há muitos que vão pensar sobre as informações que cada um der.
Uma mensagem pode levar à mudança de atitude de um deputado hesitante.
Amanhã há discussão na Assembleia da República.

O e-mail dos deputados está em:
http://www.parlamento.pt/DeputadoGP/Paginas/Deputados.aspx

Poetas perdidos? Bernardim Ribeiro e o Alentejo


Monte do Álamo, Cano

Hesitei em (re,re) publicar esta poesia, porque deveria ser muito mais conhecida.
Mas tenho chegado à conclusão que os alunos do ensino básico e secundário já não têm oportunidade de usufruir destas coisas.
Os programas mandam-lhes fazer relatórios, analisar textos de natureza diversa: contratos, requerimentos, regulamentos, artigos científicos e técnicos (será que ...?), reclamações (será que se habituam?), ... e também textos literários que sejam argumentativos, líricos... Estudam-se autores "a propósito de". Por exemplo, o Padre António Vieira, porque fez textos argumentativos.
A literatura medieval e o seu contexto quase desapareceram, não fosse uma disciplina optativa escolhida por uma minoria: Literatura Portuguesa.
Muitos autores teriam desaparecido, não fosse o bom senso de alguns professores.
Recordo aqui um que vai entrando no rol do esquecimento. Um alentejano, provavelmente do Torrão, entre os séculos XV e XVI. Também refere o abandono, problema actual:

ÉCLOGA II

Dizem que havia um pastor
antre Tejo e Odiana,
que era perdido de amor
per da moça Joana.
Joana patas guardava
pela ribeira do Tejo,
seu pai acerca morava
e o pastor de Alentejo
era, e Jano se chamava.


Quando as fomes grandes foram
que Alentejo foi perdido,
da aldeia que chamam o Torrão
foi este pastor fugido.
Levava um pouco de gado,
que lhe ficou doutro muito
que lhe morreu de cansado;
que Alentejo era enxuito
de água e mui seco de prado.


Toda a terra foi perdida;
no campo do Tejo só
achava o gado guarida:
Ver Alentejo era um dó!
E Jano, pera salvar
o gado que lhe ficou,
foi esta terra buscar;
e, se um cuidado levou,
outro foi ele lá achar.
[…]
Bernardim Ribeiro

terça-feira, 17 de novembro de 2009

O problema continua por resolver: a avaliação dos professores.

   Agora que na Assembleia da República há vontade de discutir os assuntos e não apenas votar batendo palmas ao governo e com as oposições a falarem sozinhas, mercê do voto popular que não quis que fosse só um a mandar, é altura de contribuirmos também para a discussão, não permitindo, na medida da nossa possibilidade de influenciar, que se façam acordos de bastidores, renegando o que se prometeu em campanha eleitoral.

  É necessária uma avaliação dos professores? É.

   Já muito foi dito sobre o modelo “coqueluche” do PS. A avaliação em vigor era burocrática até ao limite, inquisidora, permitindo até que pequenos ditadores em potência impusessem a sua verdade sobre como se devem dar aulas, o preenchimento de inúmeras e continuamente reinventadas grelhas, e penalizadora e culpabilizadora dos avaliados.

   Esta avaliação punha (põe) até as escolas “de pernas para o ar”, como se a principal missão de uma escola não fosse ensinar e educar, mas avaliar quotidianamente, as palavras, os gestos, as atitudes, o modo de ser de cada professor, o decalque ou o afastamento em relação à ideologia tecnicista e quase totalitária do “pensamento único”.

   Levada a sério, segundo os propósitos do ministério e demais ideólogos e "expertos" do regime e seus clientes, seria um preenchimento constante de fichas e relatórios e de práticas à defesa, com mais relatórios e fichas, dado que a concorrência poderia ir até a um plano em que avaliadores e avaliados lutariam por lugares. Os avaliadores passariam também o tempo com a avaliação, nalguns casos a ter que aprender matérias dos avaliados, por serem de grupos diferentes e as suas aulas passariam para segundo ou terceiro plano. Porque, ou o tempo esticava ou os professores iriam colectivamente tratar-se ou teriam que se arranjar outros horários, o que também ficaria caro, já que se avaliados e avaliadores passassem a maior parte do tempo a “trabalhar” para a avaliação, teria que se contratar mais professores para leccionar.

   As consequências deste processo foram, umas imediatas, outras que vão perdurar. Inquinou-se o ambiente nas escolas e só não se foi mais além porque os professores colectivamente reagiram e a sociedade compreendeu. Os resultados viram-se logo nas eleições europeias e depois na perda da maioria absoluta (não só por esta razão, mas esta teve peso). Milhares de professores com experiência, muitos dos quais participaram entusiasticamente em projectos ao longo de uma vida, pediram a reforma antecipada, outros ficaram com uma sensação de vazio perante a desvalorização demagógica do trabalho feito, com a utilização intensiva dos media, onde durante algum tempo imperaram os “idiotas de serviço”.

   A demagogia continuou. O ministério recuou e publicou um decreto com uma avaliação “self-service”, em que o que interessava era obedecer sem perguntas. Quem quisesse, poderia ter aulas assistidas, quem não quisesse não teria; até deu para em certas escolas entregarem os objectivos, que quase ninguém leu, depois das aulas terem acabado !!!

   Como se dizia numa língua quase exterminada no ensino secundário, o Latim: mons parturiens, a montanha pariu um rato.

   Agora falemos em propostas. Os professores devem ser avaliados nas actividades lectivas e não lectivas, em projectos que tenham a ver com a escola e no contexto da escola, com o grande objectivo de melhorar as suas actividades e formação e a escola. Por isso é também importante avaliar as aulas. Mas não é preciso que vá alguém assistir a várias aulas por ano: basta que isso seja feito no ano em quando se muda de escalão, por exemplo. E condição necessária, que se seja avaliado por alguém da sua área e que tenha mais experiência ou curriculum e que não seja um avaliador apenas, mas um júri, preferencialmente com pessoas de dentro e de fora da escola, para garantir alguma independência.

   Continuaremos. Vamos ver o que a Assembleia da República delibera e o que é que a senhora ministra pretende.

Penha de Águia




Pequena povoação construída por pescadores do Guadiana.

Poetas esquecidos. Jerónimo Corte-Real

Nada resiste ao tempo, tudo vence,
Tudo desfaz, consume e tudo gasta,
Grandes males e perdas, grandes danos,
Grandes desgostos dá ao esquecimento.
Leva-nos da memória em pouco espaço
Aquilo que antes era espanto à gente,
E o que nos assombrou ontem, já hoje
Leve o faz parecer, brando e tratável.
Não há tristeza grande que não cure,
Não há dor que co'ele seja grave.
Todo o mal e rigor, toda aspereza
Este velho cruel nos torna fácil.

Corte-Real, J. (1598). Naufrágio e Perdição de Sepúlveda e Leonor.

Suspensão da avaliação de professores. De novo.

Na última legislatura houve votações no sentido de suspender a avaliação dos professores. Houve propostas que tiveram votos de todos os partidos da oposição e de mais quatro deputados do PS, entretanto saneados.
Na campanha eleitoral CDS, PSD, CDU e Bloco de Esquerda prometeram votar favoravelmente a suspensão.
Vamos ver se mantêm todos a mesma posição ou se algum partido "rói a corda".

terça-feira, 10 de novembro de 2009

O muro de Israel

Dados da ONU indicam que, até o momento, Israel construiu 413 km dos 709 km planejados para o muro.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/11/091109_cisjordania_rc.shtml

Nota: o muro de Berlim tinha 61,5 Km, um exagero.
Mas foi derrubado!
Este continua a ser construído, contra as leis internacionais.

Os muros


Muro na Cisjordânia/ Muro de Berlim

Nos vinte anos da queda do muro de Berlim houve festa, aliás compreensível. Acabou também um estado policial. Houve ênfase com a ida de muitos presidentes e representantes de muitos estados.
A televisão e o pensamento dominante não falam de contextos. Em 1961, quando foi feito o muro (indefensável do ponto de vista dos direitos inalienáveis e imprescritíveis), estava-se em plena Guerra Fria. Em Berlim Oriental havia tropas soviéticas e polícia, em Berlim Ocidental havia tropas americanas e a CIA. Ambas as partes, a cidade dividida, eram bastiões de propaganda e de muitas perversões para demonstrar que o outro lado estava errado. Na RDA eram proibidos os partidos ou organizações chamadas capitalistas, na RFA era proibida a propaganda comunista. As Alemanhas estavam pejadas de exércitos estrangeiros. A desnazificação, iniciada em 1945, foi logo atalhada, o tribunal de Nuremberga mal teve tempo de condenar alguns criminosos e outros foram aproveitados, seja para fins científicos, seja para manter poderes. Do lado da RDA "não havia "ex-nazis, do lado da RFA foram "esquecidos".

O muro era a fronteira entre duas grandes ideologias, a fronteira política.

O mundo de lá desmoronou-se. Gorbatchev e outros tiveram aí um grande papel. O muro caíu sem sangue, de podre. A RFA anexou a RDA e, ainda hoje continuam os problemas. A RDA estava entre as dez maiores potências industriais. Perdeu mercados a Leste, desindustrializou-se, acabou-se o pleno emprego, ensino e saúde gratuitos, e ainda hoje põem-se problemas de identidade e de discriminação dos “ossies”. Convém aqui lembrar que a Alemanha, ou o império alemão, só existe a partir de 1871 e com grandes mudanças de fronteiras e transferências de populações em massa ao longo do século XX.

Em tempos Kennedy teve uma célebre frase:
“Ich Bin ein berliner”

“I have a dream”. Gostaria que, em vez de se festejar só, com tanto presidente a queda do muro de há vinte anos, se festejassem também as quedas de muros ainda mais electrificados, betonizados e armados que existem aí, como o muro que separa, contra a lei internacional e as decisões das Nações Unidas, o território ocupado da Palestina. É que esse muro não é só político, é racista, confina famílias separadas a territórios, até que desapareçam.

Não espero que venha um presidente americano a dizer em árabe: eu sou palestiniano; nem espero que venha tanto presidente em regozijo e festa.
Mas seria importante considerar que há mais seres humanos com direitos.

Veja-se também o que a insuspeita BBC mostra em relação a muros existentes:

http://news.bbc.co.uk/2/hi/in_depth/world/2009/walls_around_the_world/default.stm

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Lévi-Strauss


Nambinkwara, in Tristes Trópicos

Morreu Claude Lévi-Strauss aos 100 anos.

Lévi-Strauss é ainda uma referência na Antropologia Cultural.
Os seus trabalhos de investigação começam no Brasil, nos anos 30, para onde foi com a“missão francesa" para a Universidade de S. Paulo, tendo percorrido em várias expedições o Mato Grosso, Amazónia e outras terras, por locais onde raramente tinha penetrado o “homem civilizado”. Por lá, andando a pé ou no dorso de mulas, em locais sem caminhos, na densa floresta, onde se altera a noção de espaço, na sombra colectiva de árvores enormes e outra vegetação entremeada, onde mal se vê o Sol e se pode cair numa ravina imensa inesperada, no meio de bicharada estranha, ruídos e silêncios, encontrou tribos que conviviam com a Natureza, com uma sabedoria, um conhecimento dos sons e dos cheiros e outros sentidos já perdidos pelos homens ocidentais.

Um dos muitos livros publicados, “Tristes Trópicos”, relata essas viagens, onde se sente a nostalgia das culturas que se vão perdendo. Um livro de Etnologia, um romance de aventuras, uma viagem por outros mundos que confrontam visões preconcebidas.

E essa viagem começou quase por um acaso e por uma visão europocentrista, que afinal, por acaso, deu resultado com o homem certo, numa França ainda com pretensões coloniais e civilizadoras e num Brasil que se queria desenvolver e conhecer.

O próprio Lévi-Strauss começa pela Filosofia e conta em Tristes Trópicos , "não tanto por uma verdadeira vocação como por uma repugnância suscitada com outros estudos".Mas "a Filosofia não era ancilla scientiarum, a serva e auxiliar da investigação científica, mas sim uma espécie de contemplação estética por si própria".(...) Deste ponto de vista o ensino filosófico exercitava a inteligência ao mesmo tempo que secava o espírito"

No Outono de 1934 recebe um convite do director da Escola Normal de Paris para apresentar a sua candidatura para ser professor de Sociologia na Universidade de S. Paulo no Brasil. " Os arredores estão cheios de índios, poderá dedicar-lhes os seus fins-de-semana " . Pode parecer ridículo, já que S. Paulo era uma metrópole densamente habitada, mas era assim que se pensava em Paris.
 Foi o começo das longas e penosas viagens de exploração e estudo e mais tarde os E.U.A., onde contacta com a antropologia americana, obrigado a fugir da invasão alemã e Governo de Vichy, especialistas na purga de cérebros, sobretudo se fossem de origem judaica (como era o caso).
E do Brasil, França e EUA partiu para muitos outros mundos.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

A República


Assembleia da República.

Governo de diálogo?

Neste país há muita gente com tendência a subverter as palavras.
Há uns anos António Guterres usou a palavra diálogo e logo se banalizou na opinião publicada. Apesar das minhas divergências, estou convencido que era sincero e tentou fazê-lo. Também é preciso ver o contexto: tínhamos saído de governos de Cavaco Silva que dizia que nunca se enganava. Retirou-se Guterres do governo antes de tempo e logo vieram alguns gozar ainda mais com a palavra diálogo. E quando gozam querem dizer que o diálogo é uma fraqueza, algo que não interessa a quem detém o poder. Triste conceito de democracia, falta de humildade perante as votações dos eleitores!
Agora o primeiro-ministro, depois de uma constante atitude de sobranceria e apoio repetido aos ministros e secretários de estado arrogantes volta a falar de diálogo.
Durante o último governo preocuparam-me mais as atitudes intransigentes da ministra da Educação e a atitude continuada de provocação do secretário de estado Valter Lemos, do que as gaffes de Manuel Pinho ou os dislates de Mário Lino.
A ministra da Educação foi-se embora, porque era impossível manter-se pelos estragos que fez. Mesmo alguns próceres do PS já começavam a duvidar de tanta iluminação, tanta reforma inovadora (ou reaccionária), contra quase todos.
Mas este governo manteve muitos e catapultou outros, cujo currículo foi a militância de começar por colar cartazes e continuar a dizer sim. Pelo meio, aparecem outras caras mais simpáticas e com obras noutros lados.
Não são as pessoas em si que me interessam, mas como governantes e as políticas que anunciam e executam.
Um sinal muito mau deste governo, que contraria totalmente a ideia de diálogo (forçado porque o governo não tem maioria e é obrigado a dialogar) é o lugar de secretário de estado de Valter Lemos no Ministério do Trabalho.

Esperemos! Esperar em tempo útil é necessário. Vamos ver o programa, o orçamento, as linhas de actuação e os factos.

Mas pôr alguém que nunca soube dialogar, que fez uma guerrilha constante, usando a demagogia no quotidiano, diabolizando os inimigos que criou, e uma apetência pelo poder já sem rebuços, é mesmo um sinal muito mau, é mesmo uma provocação, como dizia Carvalho da Silva há dias. Aliás, para um primeiro-ministro que se apresenta tão esperto, é uma falha mais na anunciada apaziguação. Mas tem companhia, o homem que gosta de "malhar", embora na sua juventude fosse contra os "capitalistas e generais", frase repetida pelos trotsquistas portugueses de há uns anos. Mas isso foi aquilo que alguns consideram "dislates" da juventude, embora alguns companheiros de antanho pensem que se trata de falta de coerência.