quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Aulas de substituição

Em Outubro de 2006 envieei para o jornal "O Público" um texto sobre as aulas de substituição.
Mantenho o que disse e verifico que, nas escolas onde se continuam a fazer "piquetes" para as eventuais aulas de substituição, em que os professores são chamados na hora para "apagar o fogo" numa turma que não conhecem, numa sala qualquer para onde são chamados no momento, só tem contribuído para o fomento da indisciplina e a falta de respeito pelos professores que, por enquanto, a sociedade ainda vai considerando.
Por outro lado continuo a lembrar-me que na Constituição e mesmo no actual Estatuto está consagrada a liberdade de ensinar e, portanto, a escolha de métodos que nunca se poderão resumir a uma escolha feita por outrem.

O texto era este.

Aulas de substituição


O problema das aulas de substituição tem sido frequentemente tratado de ânimo leve, inclusivamente pelo próprio Ministério de Educação, centralista e uniformizador em quase tudo, descentralizador quando não quer resolver problemas, deixando a sua resolução para as escolas, desde que não envolvam meios financeiros, mas sempre obrigadas a dar conta de tudo à Inspecção e Direcções Regionais e sempre sujeitas a ulteriores críticas e sanções. Ninguém contesta que os alunos devem estar ocupados durante o seu horário lectivo e em contexto escolar, de aprendizagem.
Mas o que significa substituir um professor que deixou um plano de aula, por outro que terá que executar esse plano? Será que se considera que os professores são peças intercambiáveis numa máquina pré-programada? Considera-se que os alunos são também peças, tábuas rasas, vasos que se enchem de forma pré-determinada em que se espera que o produto final esteja de acordo com o desejado por alguém?

Parece que se esquece tanta coisa que a Humanidade levou séculos e milénios a conquistar! Em primeiro lugar a relação pedagógica. Há uma relação dialéctica entre quem ensina e aprende. Sabe-se isso, pelo menos, desde Sócrates. Quantas vezes, um bom professor experimenta com um aluno formas diferentes de o abordar, de o interrogar, de o pôr a trabalhar, até que um dia esse aluno sente o que Arquimedes gritou: Eureka.
Esquece-se que uma aula não é apenas uma aula, faz parte de um processo.
Em segundo lugar, o tempo de preparação de uma aula. Há aulas que podem demorar pouco tempo a preparar, fruto dos conhecimentos e da experiência; há outras que implicam novas leituras, novas investigações, discussões com outros, preparação de estratégias. Pode executar-se qualquer aula para o dia seguinte?

Por último, onde fica a liberdade de ensinar quando se executa um plano de alguém que não foi sequer discutido por aquele que foi administrativamente chamado? O professor que executa não tem o direito de acrescentar nada? O que pensarão os alunos no dia seguinte? Tiveram um mestre ou um programa?

João Simas
Évora

Um comentário:

Setora disse...

Descobri agora o seu blogue. Também me cansei de barafustar contra aquela macaquice das substituições.O meu blogue, a partir de Outubro de 2006, está cheio de episódios mais ou menos "tristes"sobre essas "aulas".
Ainda estou à espera (sentada) que mas paguem.
É preciso que não nos deixemos esmagar.