Confesso que não me informei devidamente sobre a matéria e que pouco me interessa o que classifico à partida, salvo melhor informação, como baixa política.
Não gosto da política deste primeiro-ministro, nem simpatizo pessoalmente com ele, nem sequer gosto das técnicas do discurso usadas, mais parecidas com as de um vendedor em que falta autenticidade. Socorro-me, a propósito, de um exemplo de homem da política para explicar melhor:
Churchill era conservador, arrogante, colonialista, coisas de que não gosto, mas soube fazer frente ao nazismo não hesitando em fazer alianças com regimes que até tinha combatido. Tinha convicções e soube escolher. Mas não era nada inocente. Hoje nem na Inglaterra nem na maior parte do mundo ocidental seria escolhido, porque tinha defeitos que actualmente não são tolerados: fumava insistentemente charutos caros, comia e bebia demais e certamente diria algumas asneiras durante os almoços. Aí apraz-me ver que se apresentava como humano.
Vem isto a propósito de um escândalo que anda por aí porque o primeiro-ministro num almoço com amigos disse umas coisas e um jornalista ouviu, escreveu uma crónica que não foi publicada, mas foi publicada, e mais o diz que disse, mais a vitimização e etc. etc. Para já, acho que há alguma falta de pudor até em ir para um restaurante ouvir as conversas dos outros. Eu, por mim, quando vou a um restaurante ou a uma tasca, esqueço-me momentaneamente da conta que irei pagar e quero é gozar o que como e bebo e as conversas com os amigos e, se calhar, digo e oiço também algumas alarvidades, com algum respeito pelos que estão à volta, mas sem pensar nas virgens impolutas que não podem, pelo menos nestes lugares, ouvir palavras menos sacrossantas, com os seus ouvidos atentos. Como ao telefone com amigos, se me apetecer também falo mal dos juízes, dos polícias, dos padres, das freiras, dos parvos e até dos amigos. Certamente há coisas que digo em privado mas que não escreverei nem direi em lugares oficiais. Faz parte da liberdade pessoal e ninguém tem nada a ver com isso, nem um sistema judicial que se deve reportar às suas funções e ser eficaz, que é para isso que os cidadãos pagam impostos, e não deixar escapadelas fora do contexto.
Num país que durante 48 anos se aguentou com bufos e pides, aldrabões de vária ordem armados em puritanos, que deixaram este país na maior miséria da Europa até 74, custa-me a sobrevalorização das escutas, as fugas parciais e a conta-gotas em momentos estrategicamente determinados por poderes que não dão a cara.
As coisas têm que ser provadas com factos, com uma justiça célere, em que o objectivo seja a preservação do bem público e não a coscuvilhice que deixa marcas e suspeitas. Que o primeiro-ministro, o presidente da República, o arcebispo, o juiz ou outro qualquer arrotem, pouco me incomoda, desde que não cheire demasiado. O que me preocupa é a política que fazem, excepto a do arcebispo que deve é cuidar de outras coisas num Estado laico ou o juiz que faça Justiça.