Numa primeira reflexão, ainda sem dados suficientes que permitam um melhor retrato e comparação com os resultados das eleições legislativas anteriores, constato algumas mudanças importantes, estruturais e conjunturais, algumas que nem sequer esperava que atingissem estas dimensões.
- Há um grande descontentamento em relação à prática do governo e ao seu estilo de governação, tendo o PS perdido votos e deputados. Usou meios poderosos de comunicação e alguma “chantagem emocional”, alertando para o perigo de deixar reformas incompletas que seriam destruídas se a direita ganhasse, embora demonstrando convicção que isso não aconteceria. Ainda passou a imagem de um líder forte e reformador;
-Mesmo assim o PSD não conseguiu capitalizar esse descontentamento, tendo perdido votos, em parte para o CDS. Manuela Ferreira Leite não fez passar mensagens pela positiva, isto é não se percebeu o que é que o PSD/PPD pretendia se governasse. Contestou o TGV, que tinha aprovado anos antes e o partido enredou-se em discursos sobre “asfixia democrática” (não na Madeira!), “escutas”, "papão espanhol" e outras, além de ter candidatos a contas com a Justiça. Não me parece que tenha jeito para a política;
- O CDS foi mais claro, teve um resultado espantoso, subiu principalmente com eleitorado provindo do PSD. Paulo Portas sabe comunicar, focando-se em ideias simples, embora com muita demagogia, como se ele fosse o representante dos agricultores (fala em lavoura, palavra quase desusada em meios urbanos) e de outros grupos que se sentem marginalizados, usando uma linguagem moralista conservadora;
- O Bloco de Esquerda subiu estrondosamente por todo o lado, mesmo em distritos que se sabe que não tinha hipótese de conseguir um deputado. Por exemplo, no distrito de Évora onde obteve mais de 11%, embora não sejam quase conhecidos os candidatos a deputado. Tal como já tinha acontecido captou muito descontentamento de votantes do PS e de alguns que já votaram na CDU;
-A CDU ficou na mesma, com o mesmo número de deputados e com mais alguns eleitores que não chegaram para eleger mais um deputado.
- O descontentamento favoreceu o CDS/PP e o Bloco de Esquerda, que eram até aqui as margens da direita e da esquerda;
- A abstenção é preocupante, embora não muito diferente de outros países da Europa, o que é também preocupante. Alguma desta abstenção é agora mais clara, dado o recenseamento automático, aparecendo novos eleitores que nunca se deram ao trabalho sequer de se recensearem.
-Mesmo assim o PSD não conseguiu capitalizar esse descontentamento, tendo perdido votos, em parte para o CDS. Manuela Ferreira Leite não fez passar mensagens pela positiva, isto é não se percebeu o que é que o PSD/PPD pretendia se governasse. Contestou o TGV, que tinha aprovado anos antes e o partido enredou-se em discursos sobre “asfixia democrática” (não na Madeira!), “escutas”, "papão espanhol" e outras, além de ter candidatos a contas com a Justiça. Não me parece que tenha jeito para a política;
- O CDS foi mais claro, teve um resultado espantoso, subiu principalmente com eleitorado provindo do PSD. Paulo Portas sabe comunicar, focando-se em ideias simples, embora com muita demagogia, como se ele fosse o representante dos agricultores (fala em lavoura, palavra quase desusada em meios urbanos) e de outros grupos que se sentem marginalizados, usando uma linguagem moralista conservadora;
- O Bloco de Esquerda subiu estrondosamente por todo o lado, mesmo em distritos que se sabe que não tinha hipótese de conseguir um deputado. Por exemplo, no distrito de Évora onde obteve mais de 11%, embora não sejam quase conhecidos os candidatos a deputado. Tal como já tinha acontecido captou muito descontentamento de votantes do PS e de alguns que já votaram na CDU;
-A CDU ficou na mesma, com o mesmo número de deputados e com mais alguns eleitores que não chegaram para eleger mais um deputado.
- O descontentamento favoreceu o CDS/PP e o Bloco de Esquerda, que eram até aqui as margens da direita e da esquerda;
- A abstenção é preocupante, embora não muito diferente de outros países da Europa, o que é também preocupante. Alguma desta abstenção é agora mais clara, dado o recenseamento automático, aparecendo novos eleitores que nunca se deram ao trabalho sequer de se recensearem.
Há coisas que têm mudado muito neste país a nível social, por comparação com a sociedade em que se fez o 25 de Abril. Já não há quase assalariados rurais no Alentejo e os operários da cintura industrial de Lisboa diminuíram drasticamente, o que “minou” a base social do PCP, que sofreu também a erosão de grupos intelectuais, que antes pouco mais opções de contestação tinham em relação ao Antigo Regime. O país terciarizou-se, o interior despovoou-se, estamos numa sociedade de consumo que ainda tem raízes camponesas, quebraram-se antigos laços familiares e de vizinhança, com perda de interconhecimento e de comunicação cara a cara entre grupos.
Daí o problema da comunicação. Fala-se menos entre pessoas e procura-se mais a informação na televisão (por natureza menos reflexiva e mais espectacular, atingindo os extremos da futilidade e do escândalo na TVI) e na Internet. Mais vale um vídeo com Ana Drago no YouTube, multiplicado através dos blogues e redes informais, sobre a contestação dos professores, do que toda a mobilização feita pelos sindicatos nas manifestações, com transportes, organização dos eventos etc. (não refiro outros grupos que não são partidos). Assim como tem mais impacto um Paulo Portas a vindimar por alguns minutos do que todo o trabalho quotidiano de organizações de agricultores. Também não chega o que se faz nas autarquias, onde o Bloco de Esquerda e o CDS pouca importância têm.
Talvez falte a outros comunicar de outra maneira sem prescindir das ideias.
Vamos ver como vai ser a evolução do Bloco. Actualmente não tem ainda militantes suficientes para manter este peso político. Certamente vai consolidar-se mais, até porque vai receber muito mais do Orçamento de Estado e certamente vão entrar muitos mais militantes, alguns dos quais ainda pensavam há pouco tempo que era um partido da juventude contestatária. Vai ter que assumir responsabilidades e não apenas fazer contestação. E certamente haverá crises de crescimento. Mas é fenómeno para durar mesmo que baixe a votação nas próximas eleições legislativas. Nas autárquicas é que não acredito, até porque é preciso muita gente e existem quotas por género. Só aqui, no concelho de Évora, são precisas centenas de pessoas para a câmara, assembleia municipal e assembleias de freguesias, sendo que não podem estar mais que duas pessoas do mesmo sexo seguidas no ordenamento dos candidatos.
Além disso o conhecimento pessoal é muito mais importante.
2 comentários:
Previa-se que o Boloco subisse, e isso é tão notório que em alguns locais, como por exemplo no conselho de Odemira, as suas listas autárquicas já foram atacadas por gente sedenta de poder mas que se viu recusada nos outros partidos. Note-se que não são esquerdistas, mas apenas os que jogam para po "tacho", para usar uma velha expressão.
Companheiro Simas
Um abraço deste que durante 20 anos esteve sempre ao lado da cdu, engolindo sapos e acreditando naquela do voto útil contra a reacção, mas de há 10 anos para cá começou a votar no bloco obtendo cerca de 40.000 votos e não se sentindo traído com este seu voto, porque afronta quem tem que afrontar!!! Louçã radical? Antes fosse!! Um abraço e vê lá se endureces a ESCRITA PORQUE COM ESTA CANALHA NÃO PODE HAVER PANOS QUENTES!!! Abraço e no sábado temos caminhada!!! tito
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