No ensino, o governo teve várias bandeiras, entre as quais o Estatuto dos professores e a Gestão das escolas. Outras, como o Estatuto do aluno, em especial o regime de faltas, são coerentes com estas. Mas não se mexeu no curriculum, o que seria essencial, visto que até, coisa nunca antes vista, há várias disciplinas onde há apenas uma aula por semana, no meio de uma dispersão, onde nem o melhor professor consegue que se cumpram os programas nas suas várias latitudes, isto é, conhecimentos e competências.
De facto, as coisas têm relação e obedecem a princípios, por vezes não declarados. Em comum, partiu-se do princípio que era necessário reforçar e pessoalizar a autoridade, nas escolas, mas sempre dependentes do poder central, diminuindo a autonomia dos professores, ao mesmo tempo que se facilita a vida aos alunos, com menos avaliações internas e externas e com perdão sucessivo das faltas, o que leva ainda mais a que os professores sejam culpabilizados pelos resultados dos alunos, como se estes fossem apenas uns dependentes das motivações e malabarismos, os quais não existindo sempre, levam a que se o aluno não estudar é culpa dos professores. Cito exemplos: as faltas são sempre relevadas, desde que façam uma prova; as aulas de substituição, em que não existe uma relação entre alunos e uma turma, levando ao desrespeito sem consequências; as provas globais no final do ano e o fim de exames externos em disciplinas como Filosofia.
Não houve uma avaliação credível do que se passava. Antes, partiu-se de uma ideologia, preconceitos, que nada têm a ver com a ideologia socialista ou social-democrata. Em parte, o problema tem a ver com a própria formação do Partido Socialista, fundado em 1973, com ideias ainda marxistas, mas expandindo-se rapidamente após o 25 de Abril, contra o Partido Comunista, aliando-se a forças de direita, aos EUA em tempo de guerra fria. Diferentemente de outros congéneres, como o PSOE, que combateu na Guerra Civil de Espanha e na clandestinidade, o Partido Social-Democrata alemão com Willy Brandt, mesmo o Partido Trabalhista Britânico com as suas ligações aos sindicatos. Claro que a maior parte destes renderam-se ao capitalismo neoliberal, sendo exemplo o caso de Tony Blair que inventou a “Terceira Via”. Os nórdicos, na Suécia, ainda são um caso à parte, continuando ainda com preocupações sociais muito fortes. E existem ainda casos estranhos, como o Partido Trabalhista de Israel que tem defendido uma política colonialista e de “apartheid”.
Aqui, este governo, não só se rendeu ao liberalismo, como defende a maior parte dos seus pressupostos.
Mas voltemos um pouco atrás e vejamos de que paradigma se parte nas relações entre chefias e subordinados.
Poderemos simplificar:
Uns defendem um serviço público, que contribua, até com espírito de abnegação, que dignifique e melhore a Nação, com vista ao progresso e ao bem da comunidade. Isso leva a que as pessoas não se importem até de trabalhar horas a mais, a prescindir de outros trabalhos que lhe poderiam dar um proveito pessoal. A satisfação é obtida não apenas pelo rendimento pessoal gerado mas pelo reconhecimento da sua utilidade. Se houver autonomia com responsabilidade a actividade ainda decorrerá melhor.
Nas empresas privadas o importante é o lucro. Quem trabalha é essencialmente estimulado pelos proventos individuais que possa auferir, em dinheiro ou outras regalias.
Por exemplo, ninguém faz voluntariado numa empresa privada, mas muitos fazem em entidades do estado ou sem fins lucrativos, sem receber dinheiro em troca
Em plena maturidade da revolução industrial, era muito claro, que havia classes sociais com interesses diferentes, até antagónicos para os marxistas e outros socialistas, assim como para anarquistas e outros. Os partidos à direita, também reconheciam as diferenças de interesse e, por isso, tentavam e conseguiam pôr o aparelho de estado ao seu serviço, polícia, proibições etc.
Houve evolução e, caso exemplar, foram as empresas do sector automóvel do senhor Ford. Continuou a repressão, mas tentou-se “mascarar” as diferenças de classes, com prémios de produção, acesso à compra de produtos feitos em série, com divisão minuciosa do trabalho, com facilidades no crédito para comprar automóveis, sem “tempos mortos”. Havia um sistema hierárquico, com capatazes e “inspectores” que iam até a casa dos trabalhadores sob pretexto de verificarem as condições higiénicas, mas controlando toda a vida privada, não permitindo que os trabalhadores fossem sindicalizados ou pertencessem a qualquer associação “suspeita”. Para “melhorar” o sistema, punham os trabalhadores uns contra outros, principalmente jogando com as nacionalidades dos operários e opondo os mais produtivos aos menos produtivos.
Ora, em termos actuais, tendo em conta a evolução dos tempos, o que este governo fez foi transpor o paradigma do privado para o ensino (assim como para todos os funcionários do estado). Achou que era mais fácil impor a autoridade com a divisão dos professores, criação de chefias unipessoais obedientes, avaliadores nas escolas, com pequenos poderes, mas dependentes do poder, objectivos imediatamente quantificáveis, maior permanência nas escolas, embora sem as condições suficientes, o que obriga os professores a trabalhar cumulativamente em casa, progressão na carreira de acordo com critérios arbitrários, menor autonomia, cupabilização …
Adoptou-se um modelo de empresa capitalista, mas burocrático e pouco eficiente, sem sequer com estímulos monetários ou apenas com um simulacro destes. Abandonaram-se ou puseram-se a ridículo valores essenciais do serviço público. Esqueceram que um aluno não é um produto acabado, como nas fábricas, mas uma pessoa que vai evoluir a partir do muito que aprendeu na escola.
Não é por acaso que os professores referiram constantemente o problema da indignidade e desprezo com que eram tratados. Nunca poderiam ter existido manifestações desta dimensão, talvez as maiores feitas no mundo só com professores, se o problema fosse só salarial. Repare-se que, durante o governo de Durão Barroso, os salários foram congelados durante dois anos e a reacção foi muito menor.
Este governo de um Partido Socialista que já não sabe nem quer o socialismo, enveredou por uma prática autoritária e ineficiente, demagógica, regressando a pior que a estaca zero, ridicularizando e promovendo campanhas contra toda uma vida profissional de dezenas de milhares de professores que fizeram tantos trabalhos sem recompensas que não fossem o de um serviço em prol da sociedade.
Foram opções autoritárias e com desprezo até pelos estudos feitos. Examinemos nós racionalmente o que se tem passado e façamos a opção em democracia.
De facto, as coisas têm relação e obedecem a princípios, por vezes não declarados. Em comum, partiu-se do princípio que era necessário reforçar e pessoalizar a autoridade, nas escolas, mas sempre dependentes do poder central, diminuindo a autonomia dos professores, ao mesmo tempo que se facilita a vida aos alunos, com menos avaliações internas e externas e com perdão sucessivo das faltas, o que leva ainda mais a que os professores sejam culpabilizados pelos resultados dos alunos, como se estes fossem apenas uns dependentes das motivações e malabarismos, os quais não existindo sempre, levam a que se o aluno não estudar é culpa dos professores. Cito exemplos: as faltas são sempre relevadas, desde que façam uma prova; as aulas de substituição, em que não existe uma relação entre alunos e uma turma, levando ao desrespeito sem consequências; as provas globais no final do ano e o fim de exames externos em disciplinas como Filosofia.
Não houve uma avaliação credível do que se passava. Antes, partiu-se de uma ideologia, preconceitos, que nada têm a ver com a ideologia socialista ou social-democrata. Em parte, o problema tem a ver com a própria formação do Partido Socialista, fundado em 1973, com ideias ainda marxistas, mas expandindo-se rapidamente após o 25 de Abril, contra o Partido Comunista, aliando-se a forças de direita, aos EUA em tempo de guerra fria. Diferentemente de outros congéneres, como o PSOE, que combateu na Guerra Civil de Espanha e na clandestinidade, o Partido Social-Democrata alemão com Willy Brandt, mesmo o Partido Trabalhista Britânico com as suas ligações aos sindicatos. Claro que a maior parte destes renderam-se ao capitalismo neoliberal, sendo exemplo o caso de Tony Blair que inventou a “Terceira Via”. Os nórdicos, na Suécia, ainda são um caso à parte, continuando ainda com preocupações sociais muito fortes. E existem ainda casos estranhos, como o Partido Trabalhista de Israel que tem defendido uma política colonialista e de “apartheid”.
Aqui, este governo, não só se rendeu ao liberalismo, como defende a maior parte dos seus pressupostos.
Mas voltemos um pouco atrás e vejamos de que paradigma se parte nas relações entre chefias e subordinados.
Poderemos simplificar:
Uns defendem um serviço público, que contribua, até com espírito de abnegação, que dignifique e melhore a Nação, com vista ao progresso e ao bem da comunidade. Isso leva a que as pessoas não se importem até de trabalhar horas a mais, a prescindir de outros trabalhos que lhe poderiam dar um proveito pessoal. A satisfação é obtida não apenas pelo rendimento pessoal gerado mas pelo reconhecimento da sua utilidade. Se houver autonomia com responsabilidade a actividade ainda decorrerá melhor.
Nas empresas privadas o importante é o lucro. Quem trabalha é essencialmente estimulado pelos proventos individuais que possa auferir, em dinheiro ou outras regalias.
Por exemplo, ninguém faz voluntariado numa empresa privada, mas muitos fazem em entidades do estado ou sem fins lucrativos, sem receber dinheiro em troca
Em plena maturidade da revolução industrial, era muito claro, que havia classes sociais com interesses diferentes, até antagónicos para os marxistas e outros socialistas, assim como para anarquistas e outros. Os partidos à direita, também reconheciam as diferenças de interesse e, por isso, tentavam e conseguiam pôr o aparelho de estado ao seu serviço, polícia, proibições etc.
Houve evolução e, caso exemplar, foram as empresas do sector automóvel do senhor Ford. Continuou a repressão, mas tentou-se “mascarar” as diferenças de classes, com prémios de produção, acesso à compra de produtos feitos em série, com divisão minuciosa do trabalho, com facilidades no crédito para comprar automóveis, sem “tempos mortos”. Havia um sistema hierárquico, com capatazes e “inspectores” que iam até a casa dos trabalhadores sob pretexto de verificarem as condições higiénicas, mas controlando toda a vida privada, não permitindo que os trabalhadores fossem sindicalizados ou pertencessem a qualquer associação “suspeita”. Para “melhorar” o sistema, punham os trabalhadores uns contra outros, principalmente jogando com as nacionalidades dos operários e opondo os mais produtivos aos menos produtivos.
Ora, em termos actuais, tendo em conta a evolução dos tempos, o que este governo fez foi transpor o paradigma do privado para o ensino (assim como para todos os funcionários do estado). Achou que era mais fácil impor a autoridade com a divisão dos professores, criação de chefias unipessoais obedientes, avaliadores nas escolas, com pequenos poderes, mas dependentes do poder, objectivos imediatamente quantificáveis, maior permanência nas escolas, embora sem as condições suficientes, o que obriga os professores a trabalhar cumulativamente em casa, progressão na carreira de acordo com critérios arbitrários, menor autonomia, cupabilização …
Adoptou-se um modelo de empresa capitalista, mas burocrático e pouco eficiente, sem sequer com estímulos monetários ou apenas com um simulacro destes. Abandonaram-se ou puseram-se a ridículo valores essenciais do serviço público. Esqueceram que um aluno não é um produto acabado, como nas fábricas, mas uma pessoa que vai evoluir a partir do muito que aprendeu na escola.
Não é por acaso que os professores referiram constantemente o problema da indignidade e desprezo com que eram tratados. Nunca poderiam ter existido manifestações desta dimensão, talvez as maiores feitas no mundo só com professores, se o problema fosse só salarial. Repare-se que, durante o governo de Durão Barroso, os salários foram congelados durante dois anos e a reacção foi muito menor.
Este governo de um Partido Socialista que já não sabe nem quer o socialismo, enveredou por uma prática autoritária e ineficiente, demagógica, regressando a pior que a estaca zero, ridicularizando e promovendo campanhas contra toda uma vida profissional de dezenas de milhares de professores que fizeram tantos trabalhos sem recompensas que não fossem o de um serviço em prol da sociedade.
Foram opções autoritárias e com desprezo até pelos estudos feitos. Examinemos nós racionalmente o que se tem passado e façamos a opção em democracia.
Um comentário:
Um excelente texto, João, de resto como nos habituou. O problema de Sócrates e deste PS que esqueceu o socialismo e a social-democracia é que agora, nas vésperas eleitorais, se quer dar ares do esquerdismo que não tem (e que duvido saiba o que significa, que isto é poder pelo poder). Este tipo é um rei da maquilhagem, o príncipe do chico-espertismo que vai enganando o povo português (porque afinal, como dizia Zé Mário Branco, não é qualquer um que nos ... com um passaporte de coelho. Para o fazer tem que ser um grande homem). Será que o vamos aturar mais 4 anos?
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