Há uns anos (em 2004) senti-me na obrigação de propor debates e procurar soluções. O governo era outro e a despreocupação também. Reproduzo aqui um texto que apresentei numa reunião geral. Como foi público também o posso reapresentar publicamente. Havia questões polémicas que muitos professores também não queriam debater. O texto é longo e, por isso, é natural que muitos façam o mesmo que na época ... isto é, passemos adiante.
A Escola Secundária Severim de Faria perante o ranking das Escolas
Algumas interrogações e sobretudo uma procura de soluções.
Uma questão prévia que se pode pôr é se é ou não legítima a informação sobre os resultados dos exames a nível nacional do 12º ano e a comparação entre os resultados das diferentes escolas. Creio que a resposta lógica é positiva, dado que os pais e encarregados de educação, os professores, o Ministério da Educação, os contribuintes e a população em geral têm direito às informações sobre os resultados do sistema de ensino, num país que se encontra situado no conjunto dos países desenvolvidos e com os quais se pretende comparar. Quanto à comparação desses resultados com a avaliação interna das escolas a situação esta já me parece mais problemática, porque cada escola insere-se numa realidade diferente das outras, tem alunos diferentes, tem professores diferentes, tem pais diferentes, edifícios e condições também diferentes, inclusivamente inserem-se em meios sociais mais ou menos estimulantes, com diferenciados desenvolvimentos económicos e até autarquias ou outras instituições que promovem ou não a tão propalada prioridade da educação e ensino. As perspectivas dos estudantes também não são as mesmas, colocando-se aqui várias alternativas de que citarei duas: a obtenção do diploma para o prosseguimento de estudos (e quais, aqueles em que se entra com médias superiores ou inferiores a 17?) ou uma via profissionalizante?
Comparar coisas não comparáveis não nos permite chegar a qualquer conclusão credível. Contentar-nos com atribuir culpas ainda menos.
Num país em que já temos uma boa percentagem de uma nova geração de diplomados com o ensino superior, mas em que cerca de metade não conclui o ensino secundário, em que a muitos dos pais têm a antiga quarta classe e muitos avós são analfabetos, em que grande parte dos jornalistas e comentadores, quase nada conhece do sistema de ensino actual, qual é a informação que passa, que ideias feitas se consolidam? A conclusão rápida de muitos é a de que há escolas piores e escolas melhores. Alguns pais pensarão que é melhor pôr os filhos na melhor escola ou retirá-los da pior. São imagens do senso comum que se projectam na consciência colectiva.
Não poderemos ser indiferente a essas imagens, mesmo sabendo que elas são fugazes e que, na sociedade actual rapidamente essas imagens se gastam; mas temos que ter consciência, humildade e acção consequente para ultrapassar situações que se nos apresentam como adversas. Infelizmente para alguns, felizmente diria, não podemos esperar pelas soluções milagrosas da máquina burocrática e rotineira do Estado. O problema também é nosso! Diria que somos obrigados a ter a liberdade de pensar e actuar
Muitas escolas privadas podem escolher os alunos que lhes são apresentados e devolver os alunos mais fracos, sabe-se lá para onde, talvez para algumas escolas públicas ou, no secular preconceito em relação ao trabalho manual, empurrá-los para escolas profissionais. Há também escolas estatais que o fazem, embora menos explicitamente. É fácil começar com 50 alunos no décimo ano e obter médias razoáveis apenas com 5 no 12º; é fácil só levar a exame metade dos alunos. E os outros, para onde vão? Certamente serão a mão de obra impreparada e de baixos salários que tem caracterizado um modelo de desenvolvimento (?) que hoje não se compadece com a concorrência internacional. Será que queremos assumir este modelo com futuros cidadãos (?) que nem sequer teriam consciência dos seus direitos nem iniciativa para participar na sociedade? Também seria fácil acabar com cursos tecnológicos só para subir no ranking. Mas não precisamos destes futuros profissionais?
Há que assumir o que é uma escola pública. A escola pública deve exigir rigor (só com conhecimentos e competências se pode atingir o desenvolvimento e a cidadania) mas tem que se preocupar com o percurso de todos os seus alunos e prestar contas ao país sobre o que faz com eles.
Há que ver para onde nos dirigimos. Será que a única preocupação é a entrada na universidade de certos alunos segundo o actual modelo de exames e o actual sistema de ingresso? Ora o actual modelo de acesso à universidade tem sido posto em causa e, também, devido ao urgente processo de Bolonha que prevê a mobilidade dos alunos na Europa, todo o sistema de ensino superior está a ser remodelado, o que vai certamente implicar uma escolha diferente dos futuros alunos. As universidades queixam-se da falta de conhecimentos dos alunos do secundário em algumas áreas, mas sobretudo (as melhores), das dificuldades na resolução de problemas, na capacidade de investigação e até de comunicação. Ora, os exames actuais não avaliam muitos desses requisitos. Novamente pergunta-se: basta trabalhar para o curto prazo? Certamente poucos estarão interessados em que os alunos apenas obtenham um diploma. A sociedade mudou!
Creio que podemos actuar essencialmente a dois níveis. Um, ao nível do sistema, pensar e agir a médio e longo prazo, exigir que as escolas tenham uma autonomia real, que possam desenvolver projectos próprios, actuando junto da Direcção Regional de Educação para que nos permita desenvolver cursos e disciplinas para as quais estamos capacitados ou poderemos vir a estar, com avaliação externa e interna, concurso nacionais ou concursos a nível de escola ... Outro, sem descurar, o longo prazo, mas contando essencialmente com os recursos e a conjuntura que temos.
A este nível poderemos fazer algumas coisas. Aparentemente pequenas ou poucas mas consistentes. Algumas interrogações:
- Pensar que os alunos do 3º ciclo poderão ser os alunos do ensino secundário (alguns vão para outras escolas). Que professores têm agora? Professores do quadro da escola ou professores contratados, muitos bons profissionais mas que mudam todos os anos?
- Novas áreas curriculares. Em que medida dão apoio a alunos, exercitam competências, estimulam também os bons alunos, preparam alunos para o ensino secundário e para o futuro, para a investigação e resolução de problemas?
- Equipas pedagógicas. Um conjunto de professores a leccionar o mesmo ano lectivo, permitindo projectos inter-turmas e inter-disciplinares, facilitando a marcação de reuniões e discussão de problemas em relação ao mesmo ano lectivo?
- Coordenadores de directores de turma por ano (ou sub-coordenadores)?
- Horários que permitissem aos professores da mesma turma encontrarem-se uma vez por mês durante 90 minutos para tratarem de problemas da turma e para consecução de projectos?
- Conselhos de turma intercalares? Do 7º ao 12º ano? E quando, além dos problemas actuais, for necessário pensar em projectos em todos os ciclos?
- Aulas supervenientes. Utilizá-las de acordo com as propostas dos professores ou de acordo com as disciplinas com resultados mais fracos nos exames ou em que os alunos tenham mais dificuldades?
- Aulas supervenientes. Apenas para o 11º e 12º ano ou para todos os anos conforme as necessidades? Apenas alguns professores ou todos, de acordo com o número de horas da fórmula? Por que não aplicar essas horas em aulas de apoio ou para as faltas de professores?
- Distribuição de tempos lectivos no 3º ciclo. Em que disciplinas? Nesta cidade e neste país, quais as prioridades? Nas ciências experimentais há tempo para exercitar o raciocínio científico? Há tempo para compreender e actuar sobre o património cultural?
- Horas de redução para cargos. Onde são mais úteis? Nos departamentos e em quais, e porquê estes; nas direcções de turma ...?
- Relação da escola com os pais. Poderão os professores fazer melhor? Poderão os pais participar mais e fazer melhor?
- Outras instituições (Câmara Municipal ...) Que relações?
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O Presidente do Conselho Pedagógico
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