Agora, ou para as escolas apressadas, há meses, estão a construir-se indicadores para a avaliação dos professores.
Há uma tentação muito perigosa: a de querer avaliar os professores pelos resultados dos exames e, ao mesmo tempo, penalizá-los pelo desvio da classificação interna em relação à classificação de exame.
Em primeiro lugar convém dizer que a maior parte dos professores não tem alunos a fazer exame. Por aí começa a iniquidade. Há uns que podem ser penalizados e outros não. Há uns que não podem ter justificações para não cumprir totalmente o programa, porque ninguém desculpa se sair alguma questão sobre matéria não leccionada. É a imprensa à procura das “melhores” e das “piores”, é uma parte da opinião pública que apressadamente (não) interpreta os “rankings”.
Mas a iniquidade vê-se também através dos resultados e nos desvios no ensino secundário (11º e 12º ano).
Em 2007 (dados do Ministério da Educação), apenas duas disciplinas em trinta e seis tiveram (médias nacionais) classificação superior na classificação interna em relação à do exame e nem sequer são significativas, tendo em conta o número de alunos: foram a prova 239 de Português com 41 alunos e a prova 547 de Espanhol, com 246 alunos.
Nas restantes (apenas alguns exemplos), o desvio entre a classificação interna e o exame é o seguinte:
Português (prova 639) - 67594 alunos: Desvio -1,7. Média de exame: 11,3.
História (prova 623) - 12649 alunos: Desvio -3,6. Média de exame: 9,4 . No ano anterior o desvio tinha sido de 4,6 e a média de exame 8,4.
Biologia e Geologia (prova 702) - 45149 alunos): Desvio -4,9. Média de exame: 9,1.
Matemática (prova 635) - 52163 alunos: Desvio -2,4. Média de exame: 10,6. No ano anterior o desvio foi de 4,9 e a média 8,1.
Física e Química (prova 715) - 45574 alunos: Desvio -5,6. Média de exame: 7,4. No ano anterior o desvio foi de 6,4 e a média 6,4.
Para além destes resultados porem em causa a validade dos exames há que analisar cada nota no seu contexto. Por exemplo, um dez a História ou um oito a Física são classificações melhores que um onze a Português, se compararmos com a média de exame em cada disciplina.
E mais! Os exames não avaliam o mesmo. Isso é evidente nas línguas onde um teste escrito não avalia a oralidade ou nas ciências em que a prática laboratorial ou os trabalhos de campo também não. E, nas outras disciplinas, há muitas outras competências prescritas que também não são avaliadas desta forma.
Além disso há disciplinas anuais, bienais e trienais. Nas trienais, por exemplo, pode acontecer um aluno ter belíssimas notas no décimo ano e ir com doze valores a exame, tendo oito no 12º. O que se compara é a nota (média) de frequência dos três anos com a de exame o que dá uma distorção evidente. Além disso, se a classificação nessa disciplina não for fundamental para a entrada na universidade, pode contentar-se com uma negativa no exame (aí conta 30%), investindo noutras que lhe interessam mais para o acesso. Pode, por exemplo ficar com um seis no exame, sem afectar muito a média.
Por isto tudo, é preciso ter em conta os efeitos perversos. Pode acontecer daqui a algum tempo os professores começarem a recusar disciplinas que têm exame, já que correm o risco de serem, pelo menos, duplamente penalizados.
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Um comentário:
Eu acho uma autentica estupidez avaliar os professores consoante as notas dos alunos nos exames. A nota com que se vai a exame é a media de três anos de continua avaliaçao, em vários campos. Enquanto que um exame são duas horas, duas horas nao podem ser equivalentes a três anos de trabalho como é obvio.
Daniela Parra
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