quinta-feira, 17 de julho de 2008

Mário Soares, Chávez e Lula -1

Não gosto particularmente da política de Mário Soares, sobretudo em 1975 e enquanto foi primeiro-ministro. Isso não significa que não o escute (afinal trata-se de uma personalidade relevante da política do século XX em Portugal, como Afonso Costa, Salazar e Álvaro Cunhal).
E, claro, distingo-o de muitos outros. Como pessoa, não tenho nada contra, é afável, sabe captar simpatias e mostra-se como um homem comum, de tal maneira que ninguém já o critica por dormir as suas sestas em qualquer lado, incluindo reuniões internacionais ou congressos. Luta por princípios democráticos e tem algumas preocupações sociais. Tem feito algumas entrevistas históricas que a RTP não tem programado bem nem divulgado suficientemente. Vi parcialmente duas: com Chávez, presidente da Venezuela e Lula, presidente do Brasil.

São países a que os portugueses devem dar uma atenção especial. O Brasil, pelas suas relações históricas com Portugal, pela língua e cultura, pelos investimentos das empresas, pelos emigrantes e imigrantes, pelo facto de ser uma potência emergente no quadro da América do Sul e a nível mundial. Convém não esquecer, por exemplo, que o Brasil tem universidades entre as cem melhores do mundo (Portugal não tem nenhuma) ou que São Paulo é a “cidade-locomotiva” da economia e das artes e cultura da América do Sul.
A Venezuela é um grande exportador de petróleo e tem uma comunidade de portugueses significativa.

Se nos lembrarmos do que se passava ainda há poucos anos na América do Sul, nos anos setenta, tínhamos algumas das ditaduras mais repressivas do mundo (Chile de Pinochet, Brasil do general Geisel e outros, Argentina com Videla … Uruguai, Paraguai, etc.). Outros, poucos, formalmente tinham uma democracia, como a Venezuela, mas a corrupção e o elitismo no poder eram a característica mais evidente. Usaram a receita neo-liberal, mesmo depois das ditaduras, uma enorme dependência externa, forte endividamento, ao FMI e Banco Mundial, inflação galopante, diferenciação social gritante, pobreza extrema (em países como a Venezuela, Peru ... com grandes discriminações em relação à população de origem indígena), pobreza extrema, analfabetismo etc.
Nestes países, a classe dominante na política era tradicionalmente pró-americana e pró-europeia, encantando-se facilmente com a dependência face aos EUA, que aliás dominavam grande parte da sua economia, através das empresas multinacionais e, politica e militarmente, através da CIA, das alianças, da formação de oficiais em academias militares e mesmo da intervenção directa.

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