Os partidos portugueses têm uma história diferente das mesmas famílias europeias, o que em si não é mau nem bom, nem as pseudo-questões morais interessam em política.
Comecemos pelo mais antigo. O Partido Comunista nasceu ainda durante a Primeira República em 1921. Foi formado a partir de elementos anarco-sindicalistas que começaram a divergir após a revolução soviética, com a Federação Maximalista Portuguesa.
Os outros partidos comunistas, entre os quais, os mais influentes na Europa Ocidental, o francês, o italiano, o espanhol, até o alemão, surgiram a partir das cisões da Segunda Internacional, em que uns, chamados “revisionistas”, optaram pelas reformas graduais, tendo dado origem aos partidos social-democratas ou socialistas e outros, agora chamados comunista, proclamaram a revolução como fundamental para atingir o socialismo.
Com o Estado Novo, o fascismo português, tradicionalista, integralista e autoritário, o Partido Comunista Português ficou durante muito tempo isolado do movimento comunista internacional e mais ainda após a guerra civil de Espanha, chegando a ser preterido no tempo de Estaline. Tem uma história de clandestinidade ao longo de décadas, durante a ditadura mais longa da História da Europa Ocidental do século XX que o marcou e ainda marca em parte. Por isso e pelos acontecimentos revolucionários de1974/75, também não acompanhou a tendência euro-comunista dos seus congéneres italiano ou espanhol e por fim do francês.
Nos outros países, continuaram as diferentes formas de propor o socialismo e, durante décadas, comunistas e social-democratas continuaram a reclamar-se do marxismo. Só após a segunda guerra mundial alguns partidos social-democratas começam a proclamar-se interclassistas e novamente a rever o marxismo e por fim, já recentemente, a abandoná-lo a favor de um certo pragmatismo.
O caso inglês, como sempre com a Grã-Bretanha, é diferente. A corrente marxista e até mesmo a tendência trotsquista continuaram presentes no Partido Trabalhista, pelo menos até aos anos 70. No entanto, não houve uma cisão assinalável que desse origem a um partido comunista forte. Tal como os outros, mas mais fortemente ainda no caso inglês, havia uma ligação estreita entre o movimento sindical, com origem nas trade-unions e o próprio Partido Trabalhista era financiado pelos sindicatos. Releve-se que na Inglaterra era muito mal visto alguém que não fosse sindicalizado. Tony Blair acabou com isso mas ainda lá estão as raízes.
O Partido Socialista Português nasceu na Alemanha em 1973, com o apoio de Willy Brandt, ele próprio um resistente ao nazismo e combatente na Guerra Civil de Espanha. Os fundadores eram ex-comunistas ou resistentes republicanos. Em 1973 proclamava-se claramente marxista mas o seu crescimento fez-se em 1974 e 1975 num contexto de ruptura contra o Partido Comunista. O engrossamento de militantes fez-se neste contexto (Nacionalizações, Reforma Agrária ...). Fez-se sobretudo contra um projecto e a favor de outro projecto vago, sem a história longa dos outros partidos social-democratas. Um aspecto “estranho” no Partido Socialista Português, em comparação com os outros da Internacional Socialista foi (e é) a presença de católicos que conseguiram formar um grupo de influência importante, sobretudo durante o governo de António Guterres. Isso seria impossível em França, onde a par de toda a luta secular em torno do socialismo há a tradição republicana de separação entre o Estado e a Igreja que vem da Revolução Francesa de 1789 e da corrente anti-clerical jacobina. Também em Espanha onde a guerra civil marcou uma forte oposição entre de um lado, monárquicos, nacionalistas espanhóis, fascistas e católicos integralistas e, do outro, republicanos, socialistas, comunistas, anarquistas e nacionalistas catalães, bascos, galegos e outros autonomistas. Zapatero ainda é a expressão dessa história. Em Itália onde o Papa só reconheceu o Estado Italiano com Mussolini, o anti-clericalismo e o ateísmo têm também origens antigas.
O PPD, nasceu da Ala Liberal do fim do Estado Novo, com Sá Carneiro e outros, acusados por uns como colaboradores, por outros elogiados como inovadores sem serem revolucionários. Nasceu após o 25 de Abril e construiu-se num ambiente em que, por um lado havia gente que queria a renovação do país de uma forma democrática e por outro, de pessoas que entravam recentemente na política, muitos anti-políticos que não queriam a hegemonia nem do Partido Comunista nem do Partido Socialista. A ideologia nunca foi muito clara.
Ao contrário do PS, do PC e mesmo dos grupos de extrema-esquerda, o PPD poucas ligações tinha com movimentos internacionais. Quis apresentar-se como social-democrata mas ninguém o reconheceu. O CDS tem sido também fruto de equívocos e evoluções, desde o tempo em que ninguém se queria assumir de direita até aos tempos actuais em que oscila entre as colagens e o populismo.
A partir dos anos sessenta e sobretudo após o Maio de 68, cresceram nas universidade os partidos de extrema-esquerda, uns mais libertários e, sobretudo, os chamados marxistas-leninistas, maoístas ou quando se provou a falência da doutrina chinesa, pró-albaneses. Eram grupos pequenos mas fortemente aguerridos. A maior parte foram-se dissolvendo mas , a sua experiência política e organizativa fez com que muitos se tornassem quadros do PPD/PSD e do PS que se tinham tornado partidos de massas mas tinham falta de gente experiente . Aproveitaram também estes partidos, outros que se tinham formado no Partido Comunista que durante décadas era das poucas formações que tinha uma estrutura organizada.
Entretanto, a longa e permanente propaganda do Estado Novo que inculcava insistente nas pessoas que “a política é o meu trabalho” levou a que muitos achassem que a política é só para os senhores que mandam ou dos que “estão contra a Nação”, os perigosos ou aldrabões. No final do Estado Novo era essencialmente essa a ideologia da ANP, que continua a dar frutos.
Se as origens não explicam tudo, até porque não há uma história teleológica, a história recente pode ajudar a compreender alguns aspectos da política actual.
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