domingo, 23 de janeiro de 2011

Viva a Tunísia

A Tunísia foi outro país esquecido propositadamente por muitos países que abusam da retórica da democracia. O mesmo aconteceu com Portugal, depois da 2ª guerra mundial. Quando muitos democratas portugueses pensaram que com o fim do nazismo(s) e fascismo(s), vencidos pelos aliados, chegaria a hora da democratização, cedo chegou o esquecimento, vencendo o pragmatismo da guerra fria.

Com a Tunísia, a Europa também se esqueceu da democracia. A França tinha interesses, como antiga potência colonial de que não se esqueceu, numa Europa que ainda continua a repartir interesses. A União Europeia, os EUA e outros têm fingido não ver, ou então até afirmavam que na Tunísia nem era tudo mau, que as mulheres até andavam de cara destapada (propositadamente confundem o Maghreb com outros países árabes), que os turistas até podiam ir às praias sem serem incomodados. Até a Internacional Socialista fazia vista grossa.

Esquecia-se a tortura, a censura, a corrupção.

Simpatizo com a Tunísia por motivos histórico e culturais. A Tunísia fez parte da cultura romana que era a nossa; vejam-se as ruínas romanas com uma dimensão maior que as que encontramos em Portugal. Antes, tinha sido o cerne do império cartaginês, donde saíram generais como Haníbal, que assustou Roma com as suas tropas, a maioria saída da Península Ibérica. Foi da Tunísia que saiu um dos maiores pensadores cristãos, Santo Agostinho, Doutor da Igreja. É na Tunísia que continua ainda a música andaluza, dos mourisco expulsos da Península, como tantos judeus e cristãos-novos que aí também se refugiaram. A Tunísia participou da mesma cultura islâmica que no nosso território durou quinhentos anos, fora os que aqui se mantiveram adaptando-se aos tempos. Quantos daqui, ao longo de milénios, não foram para lá, quantos de lá não vieram para aqui e assentaram raízes?

A população da Tunísia exige democracia. Como nós no 25 de Abril.

Vêm alguns com os fantasmas do fundamentalismo, alguns dos que se esquecem do pior fundamentalismo aceite pelo fatalismo das necessidades capitalistas. Falo aqui da Arábia Saudita e outros países do Golfo Pérsico, onde se decapitam pequenos ladrões, se apedrejam mulheres ... tal como no Afeganistão, onde também se têm protegido facínoras.
Nem a cultura dos países do Magrehb é essa e de fantasmas também já estamos fartos. Também quando Portugal entrou numa fase revolucionária houve tantos que previam o Apocalipse e usaram tantos meios para que isto fosse em direcção aos seus interesses.

Há que apoiar estes movimentos que exigem a democracia. Talvez este movimento se espalhe para Marrocos, talvez ...

Um blogue interessante:

http://atunisiangirl.blogspot.com/

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