Nestas questões relacionadas com eleições costumo distinguir as dimensões ética e política e procuro ser racional, apesar das ideologias que hão-de continuar, onde a visão do mundo e as perspectivas e prospectivas hão-de ser diferentes conforme a posição onde nos colocamos. A verdade é sempre uma procura e não uma finalidade encontrada, muito menos decretada. Mas o relativismo é o contrário do que se disse antes e a demissão é o favorecimento de quem já manda, a não ser que se transforme numa atitude de contestação, com uma acção que leve ao desmascaramento do sistema que se contesta. A simpatia pelas pessoas, até a simpatia pelas ideologias, não se pode sobrepor à necessidade de participar numa estratégia pragmática em que se vislumbre os objectivos essenciais de uma política, em que não se pode perder o essencial, mas preservar, continuar e lutar pelo que é importante.
Falemos dos candidatos. Se se candidatam têm que apresentar programas e responder às perguntas. O tempo execrável da censura já não é admissível. Quem se expõe tem que se apresentar e sujeitar-se ao questionamento, já que se propõe representar este país. E num país onde se quer cultivar a democracia, todos têm que apresentar-se e apresentar os programas, sem favorecimentos de instituições ou de televisões, sem tabus à partida, sem a presunção de que têm uma honestidade inquestionável, porque nada nem ninguém pode ser inquestionável, a não ser que desistamos do poder que delegamos em quem nos representa e que nos há-de dar contas, como nós daríamos se fossemos eleitos. Isso é uma conquista que vem de há mais de dois séculos e de que não podemos prescindir.
Aleatoriamente falemos dos candidatos. Saúdam-se quase todos pela disponibilidade em nos representarem.
José Manuel Coelho tem contestado uma situação em que muitos se sentem mal: o populismo, o nepotismo, as tentações e actos ditatoriais na Madeira, protegidos por alguns governos e presidentes que têm admitido o endividamento à custa de todos. Não usa propriamente o mesmo discurso de Jardim, até trata as pessoas sem ser malcriado, usa até de algum humor. Mas, assumidamente não é um verdadeiro candidato.
Defensor Moura (não conhecendo eu pormenores sobre a sua gestão autárquica) bate-se por causas importantes, como a regionalização e uma cultura cívica. Mas também não se assume, nem tem apoios, como um candidato a presidente.
Francisco Lopes é um homem honesto, lutador e coerente, mas não participa numa estratégia alargada para eleger um presidente que possa ter uma maioria.
Fernando Nobre tem uma actividade meritória na AMI, e certamente vai continuar. Tem descaído numa via populista, contra o sistema sendo do sistema, voluntarista, como quem se bate em duelo. Continuarei a apoiá-lo como presidente da AMI mas nunca como presidente. Um equívoco muito grande.
Cavaco Silva. Nada tenho a ver com ele. Se para muitos não interessa, a mim faz-me impressão como é que não deu por nada antes do 25 de Abril e como é que progrediu na carreira, mesmo sabendo que não sabia nada, apesar de se reputar como alguém que sabe muito e que não costuma ter dúvidas. Pessoalmente pouco me interessam pessoas que ganham lucros enormes de acções, enquanto eu e outros andamos a pagar impostos disparatados, que compram casas a empresas com off shores, enquanto eu e outros temos que andar a demonstra tudo às Finanças que nos levam tudo. Não digo que seja corrupto, mas anda rodeado de tantos, tem promovido tantos, é apoiado por tantos, mostra tanta ignorância sobre pormenores que o comum cidadão tem que demonstrar. Continuo a achar esquisito tanto esquecimento e enriquecimento dele e, sobretudo, dos amigos. Quanto à moral que apregoa também não o percebo: promulga leis, aprova políticas e depois diz que não concorda muito. Mas também não tenho dúvidas, há muito povo que perdoa, ou até pensa que é vítima de campanhas, de conspirações. Pode vir a ser um S. Sebastião sem setas.
Manuel Alegre também tem defeitos, como muitos. Ridícula é a acusação de ser caçador, como se alguém aguentasse uma invasão de coelhos, raposas e javardos por todo o lado. De há uns tempos há campanhas insidiosas sobre a guerra colonial. O homem esteve na tropa, aguentou-se e foi expulso do exército pelas suas posições políticas e foi impedido de estudar e viver em Portugal, ao contrário de outros que sabem tudo e não deram por nada, mas subiram. Ao menos tem um passado e um presente de luta e independência de ideias, coisa que parece pouco a alguns mas que é essencial nestes tempos, em que à conta dos credores, tudo se quer esvair,
Tem um problema muito grande: o apoio de um governo que tem feito favores aos mesmos que são apoiados por Cavaco Silva e que este apoia.
Contra os pretensos apolíticos que andam na política há décadas, contra esta gente que nos pretende submeter ao poder deste capitalismo financeiro especulativo, contra os oportunistas deste sistema, pela democracia, pelos direitos sociais e culturais, vou votar também em Manuel Alegre.
Um comentário:
O Coelho vai ser uma surpresa para certos políticos e comentadores!
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