Dou uma importância relativa a certas explicações que relacionam a Igreja Católica e o celibato dos sacerdotes com a homossexualidade, pedofilia, assédio sexual e outras.
São coisas diferentes e cada uma merece uma explicação, se a houver, já que o ser humano não é propriamente o “homo sapiens”, antes aproximando-se da definição de “homo demens”. Nem todos, nem a maior parte, certamente. E, em termos de Estado de Direito, teremos que começar com as responsabilidades individuais, sob pena de andarmos a procurar culpas colectivas que podem levar à desresponsabilização, aquilo que na linguagem comum é traduzido como a “culpa morreu solteira”.
Na história da Igreja Católica há uma obsessão com o sexo, proibido para solteiros, oficializado e permitido com casais heterossexuais, mas regulado incessantemente. Nas igrejas protestantes também, sobretudo entre puritanos ou calvinistas, que transformaram este mundo no crescimento incessante do capitalismo. Muitos muçulmanos e judeus fizeram interdições. Basta ler os Livros, seja a Bíblia, o Alcorão, a Tora e, sobretudo, as práticas. Nem sempre foi assim: mesmo naquilo que chamamos matriz europeia (e não só), nas culturas grega e latina clássicas, o sexo era encarado de modo diferente. Basta visitar Pompeia ou a ilha de Delos para ver que a sexualidade era mais “natural”, do que os séculos que se seguiram.
Não é só na Igreja Católica que há sinais de pedofilia. Entre outros também, mas não relativizemos a questão.
Um dos problemas, que não explica tudo, é a relação entre um poder não contestado e o sexo, sobretudo com uma moral repressora e a manutenção desse poder que leva a desprezar as vítimas e a esconder os abusos, ainda que com o esquecimento de princípios constantemente apregoados.
Vejamos o caso da Irlanda. Uma luta secular pela independência e contra o colonialismo inglês e protestante levou a que os irlandeses transferissem parte do seu poder como cidadãos para a Igreja Católica, incontestada assim. Isso permitiu que orfanatos dirigidos por padres pudessem fazer o que queriam com crianças que nunca poderiam exigir nada, nem denunciar nada porque ninguém os ouviria. Como também por cá, como noutros lugares.
O problema não é a religião mas o poder, os ambientes totalitários, concentracionários, católicos ou outros, que permitem que as vítimas possam ser sujeitas a sevícias várias. Uma ou outra prática ou moral religiosa pode agravar, mas o poder incontestado é que permite situações destas.
Portanto, procuremos primeiro os indivíduos e depois passemos, sem esquecer, às hierarquias, às conivências e aos silêncios.
Nenhum comentário:
Postar um comentário