sábado, 17 de abril de 2010

D. Pedro, Um herói romântico.


Agora que se comemora a República, que se fez contra a monarquia, mas também pela Regeneração de Portugal e pelos ideais de cidadania, lembremos que algumas dessas ideias já existiam antes, com formas e práticas, obviamente diferentes.
D. Pedro foi uma figura singular e contraditória. Não sei porque é que em Portugal ou no Brasil não se fez um filme a sério sobre esta figura. Talvez tenha faltado aqui um Visconti para retratar toda esta comédia e tragédia. Os ingredientes dessa história pessoal, familiar e nacional (ais) poderiam dar imensas ou inúmeras obras, onde não falta o drama, a intriga e o clímax.
Neto de uma rainha que ensandeceu e que chegou ao Brasil com uma corte com senhoras carecas, devido à praga de piolhos, situação que em S. Salvador da Bahia de Todos os Santos (grandes nomes, um pouco como o da Cidade do Santo Nome de Deus de Macau), levou a que as senhoras da elite pensassem que era moda na Europa, até porque nenhum rei ou corte tinha entretanto chegado às Américas. Seu pai, algo compulsivo na arte de comer frangos e de algum aparente desprezo pela política, coisa que muitos portugueses ainda se sentem herdeiros, soube fazer o que os seus parentes espanhóis não conseguiram: preservar o trono. Aqueles, ao contrário deixaram-se prender por Napoleão, que os substituiu por um seu irmão. Entretanto a única da família Bourbon que escapou tornou-se rainha de Portugal, D. Carlota Joaquina, mãe de D. Pedro e D. Miguel, havendo até quem a quisesse para rainha de Espanha ou até para rainha para os lados do rio da Prata. Só que ela não gostava de liberais argentinos, nem da América em geral, nem do marido, que em troca lhe chamava megera. D. João VI ou os seus ministros, entretanto aproveitaram para alargar o Brasil, conquistando terras aos espanhóis ou ao que restava deles, a província Cisplatina, hoje chamada Uruguai e investindo também na Guiana Francesa, alargando a Amazónia. Por cá deixou os portugueses entregues aos franceses e também aos espanhóis, que primeiro aproveitaram e depois se tornaram amigos, se bem que tivessem ficado com Olivença, libertada e depois entregue a Espanha pelos ingleses que ficaram aqui a mandar neste protectorado.
D. Pedro lá foi crescendo no Brasil com o seu irmão D. Miguel, que as más-línguas diziam que era apenas meio-irmão, e talvez pelos calores, talvez por uma tradição herdada de outros seus ascendentes, como D. João V, que gostava de freiras, mas não de uma qualquer, ou de D. José que se interessava pelas Távoras, tendo ainda apanhado um tiro, no coche pelo menos, dizíamos, D. Pedro foi-se interessando pelas senhoras mais jovens, que dado o interesse, também lhe cresciam as respectivas barrigas, em particular a Marquesa de Santos. Não foi tradição que tivesse acabado, pois um seu descendente D. Carlos, também não se esquecia de quase nenhuma, senhora ou criada. O seu irmão, nem tanto, preferia touradas e tradição. Um castiço.
Com a revolução liberal, em 1820, Portugal incendeia-se em entusiasmos liberais e no Brasil também, pelo menos alguns que podiam e não eram escravos.
D. Pedro, educado para ser absolutista, desconfiado dos liberais radicais, mas liberal conservador, proclama a independência, depois de dizer Fico, perante o ultimatum das cortes em Lisboa.
Proclama a independência do Brasil, do alto de um cavalo, em Ipiranga, hoje um bairro de S. Paulo e escreve uma Carta Constitucional para o Brasil. Após a morte do pai, torna-se rei de Portugal, o que não agrada aos portugueses do Brasil, agora brasileiros. Dá o trono a sua filha, D. Maria, visto que o filho mais velho lhe sucederia no Brasil, filha esta que casaria com D. Miguel, depois de jurada a Carta Constitucional, o que este fez, para logo a seguir proclamar o absolutismo.
Depois das perseguições habituais nestas circunstâncias, com o “malhados” (liberais) a serem malhados constantemente, prisões e enforcamentos incluídos, outros a fugiram do país, quando podiam, D. Pedro regressa à frente de voluntários e mercenários, outros que a pouco e pouco vêem que os ventos estão a mudar, e implanta definitivamente o liberalismo, nacionalizando conventos e outros bens, com reformas que mudaram a face do país, se bem que com alguns aproveitamentos particulares e outras guerras e guerrilhas que se seguiriam até meados do século.
D. Pedro foi herói libertador do Brasil, imperador liberal, acusado depois de ditador, abdicou do Império, abdicou do título de rei de Portugal também, fez uma Carta constitucional para o Brasil, fez uma Carta Constitucional para Portugal, como músico que era (à semelhança de D. João IV), fez um hino para o Brasil, outro para Portugal. Morreu novo, como duque de Bragança.
Os hinos das monarquias liberais do Brasil e de Portugal falam também da Liberdade e da Constituição, coisa que os monárquicos miguelistas sempre abominaram.


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