sexta-feira, 12 de setembro de 2008

As invasões francesas e a opressão local

Há uns anos estava a fazer um estudo sobre o poder local em Arraiolos e deparei com umas actas de 1807 e 1808, com umas requisições e obrigações, escritas em português, emanadas de um general e nobre português, mas em nome de "Sua Magestade Imperial e Rey de Italia". Tratava-se simplesmente de Napoleão e de tropas portuguesas às suas ordens, aliás com a anuência da regência (de D. João), que já vivia no Rio de Janeiro. Essas tropas portuguesas (uma parte do exército foi dissolvido), combateram, como Legião Portuguesa, em toda a Europa e até na campanha da Rússia. Alguns quando voltaram a Portugal eram sistematicamente suspeitos ( e quantos não foram enforcados), apesar de quase toda a gente ter sido obrigada, até pela coroa portuguesa, a obedecer aos franceses.
Para a época, o exército francês era o mais bem organizado e o mais rápido nas suas movimentações. Mas esta rapidez fazia-se à custa das populações locais que ficavam sem nada. Foi essa força que os russos transformaram em fraqueza ao incendiarem os seus campos agrícolas e até a sua capital, deixando os franceses à fome e frio.
Segue parte do texto; em itálico extractos de actas da Câmara de Arraiolos, com grafia actualizada:

As autoridades portuguesas começam por colaborar com os invasores em 1807, aliás por ordem do príncipe regente, mas estes, apesar de se assumirem como protectores, em breve começam a fazer requisições, aquartelamentos de tropas (francesas e também espanholas), impostos extraordinários...

Por ordem do Marquês de Alorna, futuro comandante da Legião Portuguesa, a Câmara de Arraiolos executa as suas determinações :

[...] em cumprimento das Ordens de Exmº Snr. Marquês de Alorna, Tenente General, que Governa as Armas desta Província; ... se nomeassem doze Cabos, a cada um dos quais fosse encarregado apresentar uma carreta com dois bois que pudesse carregar vinte e cinco arrobas ... E do mesmo modo se nomeará três homens para apresentar as três bestas maiores que se pudesse, devendo-se estas avaliar no dia vinte e cinco, porque no dia vinte e oito pela manhã se devem entregar na Vila de Estremoz.

Seguir-se-ão outras requisições ainda mais pesadas. Em 2 de Dezembro de 1807 a Vereação de Arraiolos vê-se obrigada a apoiar o exército invasor: “E logo se determinou que dêm todas as providencias para o bom agasalho das tropas do Imperador dos Franceses, e Rei de Itália e do Rei de Espanha que por esta terra transitem ...”

Além das requisições o exército francês impõe contribuições extraordinárias:

Nesta elegeram para comissários para Colectarem uma Contribuição extraordinária de guerra deitada [?] por ordem Imperial à Comarca da Cidade de Évora de Vinte e oito Contos de Réis para se destribuirem pelas terras agregadas à dita Comarca"

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