domingo, 6 de janeiro de 2008
Rua de Alconxel
As ruas são espaços públicos, por onde passam ricos e pobres, novos e velhos e outros em boa idade, homens e mulheres, de cabelos curtos ou compridos, saia, calças, capote, lenços árabes, se assim aprouver ao dono. Uns passam, outros ficam, andam devagar ou mais depressa mas dão passagem aos que querem seguir. As ruas podem ser tortas, até tortuosas mas são como as linhas rectas que não têm princípio nem fim. A rua de Alconxel ou Alconchel, com a velha nova ortografia, começa na Praça do Giraldo, que já foi a Praça Grande, onde desembocam tantas ruas como as bicas da fonte, e continua para fora das muralhas, onde também começava, e vai em direcção à capela de S. Sebastião, Chafariz das Bravas, Montemor, Lisboa e outras desvairadas terras. Na Rua de Alconxel, também Serpa Pinto hoje, há ou passam fumadores e não fumadores, pastelarias ou tabernas, tribunais e bêbados, antigo convento e pensões, floristas e casas de ferramentas, até filósofos e coscuvilheiros mas todos têm cara. Nesta rua não temos paciência para anónimos, cada um é como é, mas dispensamos familiares do Santo Ofício, “moscas” e “bufos” (salve-se o verdadeiro passarão em extinção) e gente que só conhece a verdade absoluta e se delicia com as ideias no churrasco. Moralistas também têm outros sítios mais confortáveis, que se divirtam entre si ou que “orem pro nobis”ou até que ganhem o Céu. Nós por aqui, contentamo-nos com o Inferno, que à letra é o mundo inferior, aquele em que vivemos à procura de qualquer coisa, seja do espanto pelas coisas simples seja por aquelas coisas que nos dão prazer, corpo e espírito como se soía dizer.
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