domingo, 30 de outubro de 2011

Do mito da Europa solidária



A recessão está aí e vai continuando, alegremente para outros, porque o capital não desaparece, muda volatilmente de dono. A Grécia tem sido expropriada continuamente, Portugal tem ido no mesmo caminho. Criam-se mentiras, infelizmente propaladas por alguns candidatos a ditadores da Europa, baseados em conceitos xenófobos. É triste ouvir-se dizer que os gregos e todos os da Europa do sul não trabalham: as estatísticas provam precisamente o contrário. E querem-nos obrigar a acreditar nesses preconceitos. Se se dissesse que a produtividade é menor em alguns setores, teriam razão. Mas apontam os do Sul como se fossem uns malandros, como se nos países nórdicos ninguém passasse férias por todo o mundo, como se não tivessem benesses nenhumas. O que se tem passado é que os países que têm problemas pagam juros enormes com uma transferência incessante para outros centros financeiros, onde aparecem uns dirigentes políticos que se dão ao luxo de chamar aos outros preguiçosos, levarem o capital e ainda quererem mandar nos outros como se fossem colónias ou protetorados.
Tem razão Vasco Pulido Valente (raramente concordo com ele, mas leio-o atentamente porque sabe argumentar e escrever), numa crónica hoje do Público, quando diz que a Europa, ou antes, os países da Europa, têm sido construídos com os nacionalismos. Efetivamente foi assim, desde o século XIX pelo menos, e esses nacionalismos têm sido, porque constantemente exacerbados, os construtores de guerras, submissões, genocídios. Mais do que a paz, a guerra tem sido uma constante nestes últimos dois séculos. A primeira guerra mundial com massacres nunca antes havidos, a segunda com genocídios inimagináveis … as guerras provocadas na ex-Jugoslávia … A Alemanha sempre esteve como protagonista e foi sempre perdoada. Recebeu ajudas após a 2ª guerra … foi ajudada na unificação ou anexação da outra Alemanha. Outros também lucraram e muitos foram os que participaram com prazer no embarque de vagões com destino a campos de morte (não apenas de judeus, como outras grandes minorias, ou simplesmente gente que lutava um pouco pela liberdade). Não nos obriguem a recordar que houve tantos austríacos, flamengos, franceses, húngaros, finlandeses … a participar nessas coisas, tendo-se reconvertido tão rapidamente a ideias que nunca defenderam
A solidariedade europeia tem sido uma ilusão destas últimas décadas. Como é que ainda há o descaramento de se falar em solidariedade quando alguns dirigentes moralistas do norte da Europa se regozijam das medidas que têm sido implementadas na Grécia, na Irlanda, em Portugal, na Espanha… Solidariedade é ficarem todos satisfeitos com o aumento do desemprego, a perda brutal dos rendimentos de que trabalha, a fuga de capitais, a diminuição dos orçamentos na Saúde, na Educação, na Cultura …?

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