O descaramento, se não fosse o descaramento de nos levar quase tudo, seria ridículo, mas ainda pasmo com esta revolução semântica (ou antes reação, golpe de estado até). Como é possível dizer que um primeiro-ministro, que retira quase tudo e a toda a hora, tem coragem, quando tem a polícia e todo o aparelho de estado para fazer a espoliação? Ainda admito que um bandido isolado tenha coragem ao roubar um banco, porque se expõe e arrisca. Mas este o que arrisca? Tem quem multe os que reagem, tem prisões e cassetetes à disposição, tem propagandistas e publicitários, formigas no carreiro a aplaudirem-no, subservientes quanto baste e aumente, gente disposta a dar uma facadinha para subir mais um degrau, na longa tradição dos familiares do Santo Ofício, "moscas", "bufos", parentes e outros "amigos inocentes" e "enganados", dos que só repetem aquilo que ouviram mas não se comprometem, consegue até que as vítimas se culpabilizem pelo que ele e outros amigos fizeram, têm feito e aprovado.
Não é demais recordar que alguns dos grandes buracos foram feitos por gente do PSD, alguns ministros ou secretários de estado, presidente de um governo regional, presidentes de câmara, gente que passa depressa do governo para empresas que tinham e têm interesses favorecidos pelos primeiros. Recordemos só, e não é pouco, o caso BPN da nossa desgraça, o despesismo e irresponsabilidade na Madeira ao serviço de um grupo que tem enriquecido, o “autarca-modelo” de Oeiras, o outro autarca do futebol que distribui eletrodomésticos e continua enriquecendo, pelo menos desde que andou em grupos armados de extrema-direita, fora as suspeitas atividades anteriores na Guiné, etc. etc. São muitos e demasiados e ainda acumulam reformas, das grandes.
A diferença entre as promessas da campanha eleitoral e o que se faz agora nunca foi tão grande como agora. É mais do que aldrabice. Desconheço na história de Portugal uma mentira comparável, dada a imensidade. E temos tradição de conselheiros Acácios, de ministros do “Ballet Rose”, de almirantes do monopólio do bacalhau (há quem se lembre ainda) …
Desculpam-se com outros e eu não desculpo esses … alguns destes e desses têm mudado tanto, têm-se promiscuído tanto que a diferença pode ser nula.
Este governo já está no poder há meses e todos os meses tem havido mais medidas gravosas com os mesmos sempre a pagar. De surpresa em surpresa vão-nos tirando tudo, mas não a todos.
Mas recordemos ainda algumas coisas que não podem servir de desculpa como se faz agora, como se fossem virgens pré-Soror Mariana do Alcoforado.
O governo anterior tinha maioria relativa. Quem viabilizou os orçamentos? Não foi o PSD? Foi. Mas eram incompetentes ou analfabetos? Se não eram uma coisa nem outra viabilizaram porque concordavam no essencial.
Quem viabilizou os PEC I, II e III? Repete-se a pergunta e as afirmações.
Quem fez o acordo com o FMI, BCE, União Europeia. Não foi o PS, PSD e CDS/PP durante a vigência do anterior governo?
Mas numa coisa têm falado verdade. O que disseram, e é isso que querem, é a diminuição do Estado, das funções sociais do Estado, mas não da proteção do estado àqueles que este e outros governos servem, ultrapassando até as leis que fazem e as que vigoram (temos ou não um Estado de Direito, com uma Constituição, Código de Trabalho?, etc.) e a glorificação do sacrossanto mercado, de que afinal são agentes, mesmo que os centros de decisão e recolha dos lucros sejam a boa distância deste país de que se proclamam tão patriotas. Mas isso, já Jorge de Sena, tão maltratado por quem aqui mandava, dizia: “A Pátria é o último refúgio dos canalhas”.
Querem-nos, estes e mais alguns lá de fora que mandam cá dentro, que não há alternativas. Há e houve sempre. Como dizia alguém: "De gente imprescindível estão os cemitérios cheios"
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