segunda-feira, 6 de junho de 2011

Dos pepinos alemães ao euro grego



Uma bactéria mortífera apareceu por Hamburgo. Logo, a culpa é dos pepinos espanhóis. Como é possível dizer isto no país de Kant? E como, apesar da literacia oficial, muitos europeus (o que é isso agora?) confundem todos os europeus do Sul, latinos,  gregos, turcos até, vá de fazer boicote até aos tomates portugueses (já poucos se lembram que Portugal era o maior produtor de tomate na Europa antes de entrar para a CEE).

Há até quem se esqueça que o hábito de tomar poucos banhos é mais frequente no Norte da Europa ou que a poluição secular dos campos raramente permite o que se poderia definir como agricultura biológica, que a armazenagem e conservação dos produtos tem mais em conta a imagem final do que a qualidade intrínseca, já desconhecida por muitos.

A falta de lógica tem sido essa. A arrogância estrutural de grupos com alguma preponderância, agora no poder, fala pela voz de Ângela Merkl e outros. Não conseguem já disfarçar o desprezo e socorrem-se do fácil populismo imediato. Recomenda ela que os portugueses trabalhem mais e que gozem menos férias, sabendo ela e outros que mandam, ou pelo menos tendo obrigação disso, que a média dos portugueses trabalha mais horas mensais que os alemães, que os portugueses se reformam em média com mais anos e que Portugal é dos países com maior percentagem de mão-de-obra feminina. Já não se comparam as férias que uns ou outros gozam.

Vêm com a conversa da ajuda. Ajuda? Tanta fama de rigor e não sabem que “ajudar” com juros de 5%, 10% e mais (perguntem aos gregos) é especulação ou como se dizia antigamente, acusando os judeus, é usura?

Há pelo menos dois séculos que aguentamos excessos alemães. Os povos eslavos começaram mais cedo. Recordo aqui aquelas imagens dos cavaleiros de ferro da Ordem Teutónica no filme de Eisenstein, Alexandre Nevski.
Não queria recuar tanto, mas é de recordar os massacres e devastações da Grande Guerra (onde os portugueses participaram e sofreram sem receber indemnizações), os genocídios e a destruição generalizada da 2ª guerra mundial.

Pode dizer-se, e é verdade, que estes alemães populistas de hoje não são os mesmos, não têm culpa do que os pais fizeram. Mas herdaram a riqueza feita à custa de trabalho escravo e esquecimento de crimes inomináveis. As empresas que nisso participaram, muitas existem ainda, como a Wolkswagen ou a Krupp.

Pagámos todos, na União Europeia, a reunificação alemã (há quem fale ainda de anexação). Não queremos dividendos disso, mas custa-nos pagarmos tanto para os bancos alemães e outros e levarmos ainda por cima com a demagogia e populismo que pretende transformar o povo, os cidadãos, em ralé.

Em relação a esses finlandeses, os “verdadeiros finlandeses” como se intitulam, que se gabam tanto das suas qualidades, recomendo-lhes que estudem um pouco e que se lembrem de que alguns seus antecessores colaboraram entusiasticamente com os nazis (como tantos austríacos, flamengos, húngaros, croatas …) ou que se submeteram e rastejaram facilmente (e com lucros) perante o poder soviético.

O que quer esta gente da Europa? Despertar fantasmas? Dominar o que não puderam pela guerra? Fazer-nos crer que é inevitável submeter-nos a tudo?

De vez em quando lembro-me daquela resposta de Lawrence da Arábia, no filme de David Lean, depois da “impossível” travessia do deserto, contra o que diziam que as Escrituras ou o Alcorão diziam:
Nothing is written

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