Muro na Cisjordânia/ Muro de Berlim
Nos vinte anos da queda do muro de Berlim houve festa, aliás compreensível. Acabou também um estado policial. Houve ênfase com a ida de muitos presidentes e representantes de muitos estados.
A televisão e o pensamento dominante não falam de contextos. Em 1961, quando foi feito o muro (indefensável do ponto de vista dos direitos inalienáveis e imprescritíveis), estava-se em plena Guerra Fria. Em Berlim Oriental havia tropas soviéticas e polícia, em Berlim Ocidental havia tropas americanas e a CIA. Ambas as partes, a cidade dividida, eram bastiões de propaganda e de muitas perversões para demonstrar que o outro lado estava errado. Na RDA eram proibidos os partidos ou organizações chamadas capitalistas, na RFA era proibida a propaganda comunista. As Alemanhas estavam pejadas de exércitos estrangeiros. A desnazificação, iniciada em 1945, foi logo atalhada, o tribunal de Nuremberga mal teve tempo de condenar alguns criminosos e outros foram aproveitados, seja para fins científicos, seja para manter poderes. Do lado da RDA "não havia "ex-nazis, do lado da RFA foram "esquecidos".
O muro era a fronteira entre duas grandes ideologias, a fronteira política.
O mundo de lá desmoronou-se. Gorbatchev e outros tiveram aí um grande papel. O muro caíu sem sangue, de podre. A RFA anexou a RDA e, ainda hoje continuam os problemas. A RDA estava entre as dez maiores potências industriais. Perdeu mercados a Leste, desindustrializou-se, acabou-se o pleno emprego, ensino e saúde gratuitos, e ainda hoje põem-se problemas de identidade e de discriminação dos “ossies”. Convém aqui lembrar que a Alemanha, ou o império alemão, só existe a partir de 1871 e com grandes mudanças de fronteiras e transferências de populações em massa ao longo do século XX.
Em tempos Kennedy teve uma célebre frase:
“Ich Bin ein berliner”
“I have a dream”. Gostaria que, em vez de se festejar só, com tanto presidente a queda do muro de há vinte anos, se festejassem também as quedas de muros ainda mais electrificados, betonizados e armados que existem aí, como o muro que separa, contra a lei internacional e as decisões das Nações Unidas, o território ocupado da Palestina. É que esse muro não é só político, é racista, confina famílias separadas a territórios, até que desapareçam.
Não espero que venha um presidente americano a dizer em árabe: eu sou palestiniano; nem espero que venha tanto presidente em regozijo e festa.
Mas seria importante considerar que há mais seres humanos com direitos.
Veja-se também o que a insuspeita BBC mostra em relação a muros existentes:
http://news.bbc.co.uk/2/hi/in_depth/world/2009/walls_around_the_world/default.stm
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