sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

As mulheres de Salazar


Agora parece que está numa certa moda falar das habilidades de sedução de Salazar em relação às mulheres.

Ora Salazar toda a vida tentou provar que era casto. Foi seminarista, obedeceu o mais que pôde à madrinha que queria que ele fosse padre, quis devotar-se à Nação dele como se fosse sua mãe e Nossa Senhora de Fátima ao mesmo tempo, nunca quis casar, arranjou uma governanta da província pouco dada à beleza para servir num palácio, antigo convento, onde o único aquecimento era a sua manta e as suas botas. O seu grande amigo, desde o seminário e Coimbra, foi sempre o Cardeal Cerejeira, amigo, como ele, de todas as ditaduras que mantivessem Deus, Pátria e a Família e, claro, a sua Ordem como antes da Revolução Francesa. Tentou a todo o custo que as mulheres não votassem, a não ser as que tivessem frequentado o liceu, às quais diligentemente se tentava interpor todas os possíveis impedimentos. As professoras primárias só podiam casar com autorização do Estado, as enfermeiras eram impedidas de casar, as mulheres casadas não podiam sair sem autorização do marido…

É certo que sempre houve mulheres para tudo, tal como há homens para tudo, para todos os gostos.

Mas Salazar!?
Ele dizia que não queria casar, só com a Pátria dele. Está bem que o homem dizia que era sempre honesto, mas também pregou algumas mentirinhas. Mandou matar o Humberto Delgado e disse que tinha sido a oposição. Mandou prender umas dezenas de milhares de pessoas, mandou torturar ainda mais umas dezenas de milhares e dizia que eram só umas chamadas de atenção, deixou o país numa miséria, mas numa pobreza honrada e com o pessoal analfabeto a fugir para França.

Agora mulheres? Tanto me faz que o homem tenha sido casto ou não. Ter relações sexuais é o que fazem biliões de homens e mulheres, não é nenhuma proeza especial nem uma qualidade excepcional. Mas ele tentou sempre demonstrar que era tão casto como qualquer santo após o Concílio de Trento. Perdoem-lhe outras mentirinhas, mas não desmintam um homem que toda a vida lutou pela misoginia e que nunca se envergonhou de defender os ideais dos tempos da Inquisição e do Ultramontanismo.

Haja respeito! (como no tempo de Salazar!?!?...)
Nota: As mulheres de Salazar são sobretudo as mulheres do Couço, as enfermeiras presas, as militantes, as que ficaram viúvas, e tantas outras, com retrata Irene Pimentel no livro cuja imagem aparece acima. E também aquelas que não podiam estudar, que não saíam de casa, as que trabalhavam todo o dia e de noite também ...

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