Há uns anos fiz um trabalho sobre Arraiolos. Aqui segue um extracto sobre a construção do que hoje se chama ecopista. Previa-se uma linha férrea que ligasse o Alentejo ao Norte Interior e a Espanha. Só assim tinha sentido.
"No início do século XX continuava ainda a construção da rede de caminhos de ferro considerada essencial para o desenvolvimento nacional. No caso de Arraiolos depositava-se uma grande esperança na construção do ramal entre Évora e Ponte de Sor, o que facilitaria as comunicações com Lisboa, através de Évora, mas também com o Norte e o Sul do País e Espanha, numa região considerada como tendo grandes potencialidades a explorar.
A Camara vendo as grandes vantagens que trazia a construção desta linha para o comercio, agricultura e industria, deliberou por unanimidade enviar a Sua Majestade a mensagem seguinte: Senhor! Tendo sido decretada a rede ferro-viaria ao Sul do Tejo, n’ella foi indicada a linha d’Evora á Ponte de Sor, por Arrayolos, Mora e Montargil. No inquerito ferroviario ordenado pelo decreto de 6 d’Outubro de 1898 esta linha era indicada como sendo a mais conveniente da rede do Sul com a linha do Norte, Leste, Beira Baixa e ramal de Caceres, tendo por ponto de partida a Capital do Alentejo. E pelo inquerito foram fornecidos aos distinctos engenheiros que constituiram a Comissão encarregada de estudar o plano da referida rede ferro-viaria elementos de que resultou a opinião de perferirem a ligação Evora-Ponte do Sor para acabar com o isolamento em que se tem encaminhado a tão vasta e importante região constituida pelo Baixo Alentejo e Algarve . Um rapido olhar lançado pela carta do paiz, fara facilmente conhecer a grande vantagem d’esta ligação, que vae pôr communicação ininterrupta as importantes provincias do Alentejo e do Algarve com o Norte do Reino, fechando assim a linha mais directa entre Faro e Melgaço, pelo entroncamento e brevemente, é de esperar, entre Faro e Bragança, por Abrantes. A ligação dos dois estremos do paiz é, para o commercio, agricultura e a industria de vantagens tão conhecidas, que impertinencia seria enumeral-as, e ao interesse geral acresce a conveniencia local. Senhor! A região comprehendida entre Evora e a Ponte do Sor é uma das mais ferteis e viçosas aquem do Tejo; n’ella [...]
Em 1904 previa-se a construção de um segundo lanço, a partir da Graça do Divor, para o qual o governo solicita a colaboração da Câmara com dinheiro, cedência gratuita de terrenos ou, pelo menos, expropriações a baixo preço. A Câmara dinheiro não tem, mas compromete-se a fazer tudo o que estiver ao seu alcance.
Foi presente pelo Excellentissimo Prezidente um officio do Ministerio das obras Publicas nº 12694 do corrente mez, no qual se declara que estão adjudicadas as terraplanagens e obras de arte do 1º lanço da linha ferrea de Ponte do Sôr entre Evora e a Senhora da Graça e empenha-se o Governo por que muito brevemente comece a construção do 2º lanço da Senhora da Graça à estação de Arrayolos e o 3º que vae até às proximidades de Pavia; e que necessario se torna que as localidades interessadas na construcção d’essa linha, prestem ao Estado a possivel coadjuvação para que os recursos de que esta dispõe tenham a maxima utilização, e caso a Camara queira contribuir com quanto em si caiba para a referida construcção da linha d’Evora à Ponte do Sor, O Excellentissimo Ministro pergunta:
1º se a Camara pode tomar sobre si no todo ou em parte as expropriações na area do concelho;
2º no caso de não assumir esse encargo, se contribue com algum subsidio e ao mesmo tempo se encarrega de obter dos proprietarios cedencia gratuita dos terrenos necessarios ou ao menos de aquelles que não queiram ou não possam fazer essa cedencia, moderação nas suas exigencias. A Camara discutindo sobre o assumpto deliberou que se dissesse ao Excellentissimo Ministro que, estando este municipio muito onerado com varias despesas inadiaveis que absorvem todos os seus rendimentos, não pode, e com grande magua, concorrer pecuniariamnete para a construcção da referida linha, mas tomará sobre si o encargo de auxiliar o pessoal encarregado das expropriações, a fim de obter dos proprietarios benificiados pela mencionada linha ferrea a cedencia gratuita dos terrenos ou pelo menos que esses proprietarios sejam moderados na avaliação e as expropriações se façam amigavelmente e em boas condições.
A crise agrícola que se atravessava é também uma forma de apressar os trabalhos, empregando trabalhadores rurais na construção da via:
Declarou o Excellentissimo Prezidente que estando a organisar a representação de que foi encarregado pela Camara na sessão de onze do mês d’agosto findo, para se pedir ao Governo de Sua Magestade um subsidio para atenuar a crise agricula, não a concluio, em consequencia de ver no Diario do Governo nº 186 de 23 do dito mês, uma Portaria que manda proceder sem demora aos trabalhos do segundo lanço da linha ferrea d’Evora à Ponte do Sor, desde a Graça até Arrayolos, para obviar a crise de trabalhos na região atravessada pela dita linha.[3]
Em 1907 o caminho de ferro chega a Arraiolos e a Câmara pede a todos que se associem à festa de inauguração em 21 de Abril:
“[...] deliberou promover festejos naquelle dia e assistir à ditta inauguração e encarregou o Exmo Sr. Prezidente de convidar os Exmos Administrador das Obras Publicas e Governador Civil deste distrito para também assistirem àquelle auto, bem como os cavalheiros desta localidade para acompanharem a Camara nestas festividades e os proprietarios para illuminarem as janellas na noite do referido dia e infeital-as na ocasião do festejo por meio de edital.”
Mas em 1911 a Câmara manifesta preocupação pela não conclusão da linha que só chega a Mora, e pela gare e armazém que estão em mau estado: “Considerando que é um dos principaes meios de educação dos povos a via ferrea, além das vantagens economicas [...]”
Apesar destas vantagens, o caminho de ferro necessita de trabalhadores, que reivindicam e fazem greves, o que leva a edilidade, já durante a República a um “ Protesto por acha-la antipatriotica; e põe-se incondicionalmente ao lado do mesmo Governo”. Ainda em 1913 continua a haver dificuldades na continuação desta obra e por isso decide “associar-se à Camara de Avis para uma representação sobre continuação da linha”, a qual nunca chegaria a Ponte de Sor nem Avis.
in Livro de Actas das Vereações de Arraiolos
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