segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Crónica biscainha, ou impressões do País Basco


  (esta já é na Cantábria)
Estive há dias em Bilbau. Ideias anteriores havia muitas. Queria ver o Museu Guggenheim e pouco mais. Imaginava uma cidade rica, mas um pouco escura, fruto da Revolução Industrial, coisa rara na Península Ibérica. Do País Basco já tinha algumas imagens visuais, uma antiga, em que ao passar por lá em Setembro, nos anos setenta ainda, por estradas entre montanhas, verdes sempre, porque sempre chovia, depois de atravessar uma Espanha semidesértica, S. Sebastian foi em tempos uma revelação: montanhas, mar e rio, numa cidade viva.  Hei-de lá voltar um dia, embora tenha passado ao lado várias vezes. Outras vezes também atravessei na auto-estrada e vi cidades mal construídas à beira da estrada, com chaminés fumegantes. Há dois anos até, entrei num bar, perto de Donostia (S. Sebastian) e, sinceramente, fiquei mal impressionado: cheiro a fritos, um barulho impressionante para quem chega de França, papéis e beatas no chão, dois polícias bascos com ar ostensivo, com pistolas bem à vista.
   As impressões são míticas e ideológicas e contraditórias. Há muito que simpatizo com os ideais de resistência de muitos bascos, a sua persistência na manutenção da identidade, embora muito dessa identidade tenha sido reconstruída a partir do século XIX, mais ainda que a catalã. Impressiona-me ainda a resistência basca durante a Guerra Civil, a luta contra um dos piores fascismos da Europa (o franquismo massacrou muito mais gente que o fascismo italiano e durou muito mais tempo; décadas, uma vergonha para a democracia). Até os padres bascos foram fuzilados em massa, crime perpetrado por um regime que se proclamava católico, mas que não hesitava em usar tropas mouras para chacinar espanhóis, apesar de usar uma ideologia de cruzada contra os mouros em nome da fé católica.
Hoje continua a ETA que força a identificação do País Basco com a sua actividade. Esta organização mudou ao longo dos tempos e hoje está longe do que em tempos foi, assumindo práticas bombistas até contra incautos e inocentes e práticas até xenófobas.
   Mas deixemos isso. Gostei de Bilbau! Gostei do atrevimento arquitectónico do museu Guggenheim e de outros edifícios e espaços modernos, também uma mostra de um nacionalismo e cosmopolitismo basco que não precisa do poder central.
   E gostei do movimento das ruas de Bilbau, tanto da novíssima Bilbau, como da Bilbau do século XIX em diante, como do “casco” velho que continua vivo e vivido. Em poucas horas experimentei a simpatia dos bascos, em pequenos episódios. Vinha eu de Santander (Cantábria) quando um camião soltou uma pedra para o vidro do pára-brisas. Fiquei preocupado, porque existe a possibilidade das estrias irem alargando. Por um engano qualquer, daqueles que acontecem aos viajantes, fui parar a uma zona industrial. Parei numa oficina e o empregado ou patrão imediatamente me indicou outra oficina onde reparavam vidros com uma resina própria; fui a essa e também um empregado simpático disse-me que não havia problemas e entretanto deu-me outras indicações sobre Bilbau. Mais tarde, depois do Guggenheim e cidade nova fui à cidade antiga, visitei várias coisas entre as quais a catedral e Plaza Mayor, vi uma manifestação com frases em basco que evidentemente não percebi (mas pareceu-me que era sobre presos), um início de desfile de Carnaval, uma tapas que provei e, pensei comprar uma “mítica” boina basca (que afinal não é como as boinas militares). Dirigi-me a uns senhores dos seus setenta e perguntei-lhes onde poderia encontrar. Tinham algumas dúvidas sobre o local mais indicado, discutiram entre dúvidas, explicaram-me que havia vários tipos e lá me deram indicações. Não encontrei logo a loja mas, entretanto vi outro senhor à entrada de uma loja de roupas (percebi que a mulher estava lá dentro e ele um pouco enfastiado. Acompanhou-me durante um quarteirão até mostrar onde havia e, de acordo com as informações dos outros e dele, lá comprei uma boina “Tchapela Elósegui”.

Um comentário:

Paula Vidigal disse...

Bolas! estava eu A pensar " E o gajo até comprou uma boina basca!" e depois vem uma estória sobre a dita cuja...
e como te sentiste? Um revoluciário? O que significa "“Tchapela Elósegui”.?Simas , na luta? :)))