Não chóro por nada que a vida traga ou leve. Há porém paginas de prosa me teem feito chorar. Lembro-me, como do que estou vendo, da noute em que, ainda creança, li pela primeira vez numa selecta, o passo celebre de Vieira sobre o Rei Salomão, "Fabricou Salomão um palacio..." E fui lendo, até ao fim, tremulo, confuso; depois rompi em lagrimas felizes, como nenhuma felicidade real me fará chorar, como nenhuma tristeza da vida me fará imitar. Aquelle movimento hieratico da nossa clara lingua majestosa, aquelle exprimir das idéas nas palavras inevitaveis, correr de agua porque ha declive, aquelle assombro vocalico em que os sons são cores ideaes - tudo isso me toldou de instincto como uma grande emoção politica. E, disse, chorei; hoje, relembrando, ainda chóro. Não é - não - a saudade da infancia, de que não tenho saudades: é a saudade da emoção d'aquelle momento, a magua de não poder já ler pela primeira vez aquella grande certeza symphonica.
Ora Fernando neste texto não está a dizer, como muita gente pensa, que a pátria é onde se fala Português. O problema era o mau uso da língua. A ortografia nem sequer era o pior dos males, embora ele preferisse uma ortografia mais clássica.
Hoje há quem brade contra a nova ortografia. Mas a que defendem é a dos anos quarenta e não a que Fernando Pessoa usava.
Mas pior que a ortografia é este "portínglich" que está na moda. Não sou purista da língua mas penso que não há necessidade de tanto inglês misturado com português, que mais parece uma gíria que uma língua.
É a toda a hora as evidências, a realização (com significados em inglês, diferentes do português), o benchmarking, advocacy, the big picture, lay out, slideshow, bookcrossing, feed-back, e-mail, labs, links, spam etc. etc. e isto tudo misturado com siglas e acrónimos.
Outra questão é a do esquecimento dos clássicos.
Não tenho sentimento nenhum politico ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriotico. Minha patria é a lingua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente, Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa própria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ípsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.
Sim, porque a orthographia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-m'a do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.
Ora Fernando neste texto não está a dizer, como muita gente pensa, que a pátria é onde se fala Português. O problema era o mau uso da língua. A ortografia nem sequer era o pior dos males, embora ele preferisse uma ortografia mais clássica.
Hoje há quem brade contra a nova ortografia. Mas a que defendem é a dos anos quarenta e não a que Fernando Pessoa usava.
Mas pior que a ortografia é este "portínglich" que está na moda. Não sou purista da língua mas penso que não há necessidade de tanto inglês misturado com português, que mais parece uma gíria que uma língua.
É a toda a hora as evidências, a realização (com significados em inglês, diferentes do português), o benchmarking, advocacy, the big picture, lay out, slideshow, bookcrossing, feed-back, e-mail, labs, links, spam etc. etc. e isto tudo misturado com siglas e acrónimos.
Outra questão é a do esquecimento dos clássicos.
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