quarta-feira, 29 de junho de 2011

New York Times noticia Évora

Sabe-se que este é um dos jornais mais lidos no mundo e que influencia a opinião de muita gente. O jornalista, com um ar quase anónimo entrou, tomou notas, gostou e publicou sobre este casa na Rua de Serpa Pinto, antiga Rua de Alconchel (Alconxel):

The surrounding streets offer glimpses of local life, with lots of small cafes and taverns and more than a few unusual shops like Lojatelier 73 (Rua Serpa Pinta 73), a brand-new store selling updated local handicrafts including ceramics, as well as aprons, bags and totes that the shop owner Isabel Bilro designs herself. 

Notícia completa em:

http://travel.nytimes.com/2011/06/26/travel/from-lisbon-a-visit-to-evora-overnighter.html?pagewanted=1



Nota: Sempre dá algum gozo especial interessar-se mais o "New York Times", do que alguma imprensa e instituições locais!

terça-feira, 21 de junho de 2011

Um dia importante na democracia.

Estabeleceu-se há muito a independência dos poderes. Mas as tentativas de sobreposição são frequentes, mesmo na República, na res publica.

Os incidentes com Fernando Nobre foram um bom exemplo do que não se deve fazer ao menorizar o Parlamento e o voto daqueles que elegem os seus representantes ou que simplesmente votam, mesmo em branco, uma opção legítima quando se contesta um sistema emperrado.

Não ponho em causa a personalidade de Fernando Nobre nem o seu trabalho na AMI. Mas todo o seu discurso contra “os políticos”, num tom populista e com ares de salvador nunca me agradou. Os saltos ideológicos e estratégicos em tão pouco tempo, a arrogância de quem sabe mas não explica e os outros que o sigam, também não me serve. Não precisamos de “salvadores”, e os que assim se presumiam e exigiam que os outros assim os considerassem e se submetessem, deram mau resultado. 

Não gosto também daqueles que querem transformar as eleições para deputados num simples acto plebiscitário para escolha do primeiro-ministro. Frequentemente plebiscitos são a antecâmara das ditaduras, quando não as são já. Não chega dizer sim ou não, a preto e branco; é essência das democracias discutir as questões, numa pluralidade de opiniões e representações, e não apenas fazer uma cruz um dia. Trata-se de eleger deputados; o primeiro-ministro e o governo vêm depois.

Foi um mau exemplo escolher alguém com a promessa que seria presidente da Assembleia da República, mesmo antes das eleições, mesmo antes de os deputados eleitos poderem eleger o seu presidente. Foi uma tentativa arrogante de menorizar o parlamento, os deputados e quem os elege. Foi uma derrota vergonhosa e bem merecida para tantas ultrapassagens de regras básicas e da Ética da Democracia.

Hoje a Assembleia da República cumpriu a sua função e elegeu uma presidente que falou em Razão, Esperança, em Direitos, mesmo daqueles anónimos que têm dificuldade em exercê-los.

Fez um discurso político. É disso que precisamos. Foi aplaudida de pé por todos os deputados e jurou cumprir humildemente as suas funções.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Nuno Crato e o ministério

Começo pelo ministério, agora dois em um, como antes, há uns anos.
É complicado, e muito. Com muitos organismos, muita burocracia que se alimenta a si própria, muitas ideologias, que ultrapassam o sistema partidário.
O ministério é grande, grande demais. Centralista, mesmo quando se apregoa a autonomia. Com direcções regionais que aumentam ainda mais o excessivo tempo da burocracia de “Ancien Régime”. Basta ver quando sai uma lei nova, um decreto-lei, logo surgem inúmeras circulares, a explicar, ou mais frequentemente a desvirtuar o que foi decretado. E a partir do princípio, não explícito que os outros têm compreensão lenta, ou que são apenas súbditos. E se fosse só uma lei de vez em quando! Mas não, nem se avalia o que já foi feito e já aí vêm mais.
Um dos problemas é o da confiança. O ministério não tem confiança nos seus agentes, nem em ninguém. São mais importantes os formalismos, como nos exames, do que os conhecimentos e as aprendizagens dos alunos. Ao contrário do que se diz, parte-se do princípio que todos são culpados até provarem que não são. O problema não é só deste ministério, é comum a outros e à administração em geral.
Daí a papelada, daí a moderna papelada informática, em conjunto com a antiga. Daí que a autonomia das escolas (coisa diferente de um neo-feudalismo em acção e repressão) não seja levada à prática.
E os lobbies, os corporativismos, os grupos de pressão? Não se fala já das maçonarias, que existem, da Opus Dei, em crescimento, das ideologias de algumas ESEs e universidades, das “contra ideologias” de outras universidades, das “tias” ou “madrinhas” que vão infantilizando os alunos e os utentes das bibliotecas, que querem festas e avaliações mas que não se preocupam com aquilo com que se fazem os melões, a começar por uns míseros tostões entregues a quem sabe fazer coisas, com autonomia e sem subserviências.
Temos um novo governo que vai executar as decisões do FMI e dos poderes europeus, piores ainda. Um governo que pretende ir mais além do que os outros que agora mais mandam em nós. Um governo que pensa que tudo deve ser privatizado e que tem uma componente conservadora, para além dessa difusa ideologia neo-liberal, claramente interveniente, corporizada pelo PP de Paulo Portas e outros, a quem os meios de comunicação e instituições têm dado muito mais poder do que aquele que teriam pelos votos.
Agora é cortar nas despesas. Percebe-se, mas em quais? Corta-se no ensino público e vai-se aumentar nos privados que vivem à custa do estado, promovendo o ensino religioso ou ideologias conservadoras e elitistas?
Nuno Crato contestou muita coisa que se fez nestes últimos anos no Ministério da Educação.
Vamos ver. Vamos ver se aguenta tanta pressão. Vamos ver se passar das opiniões à acção muda alguma coisa que não está bem, sem destruir o que funciona melhor.
Ao contrário de outros, confio nas pessoas até ser provado que agiram mal.

terça-feira, 7 de junho de 2011

A fulanização e a ralé

Continuo a pensar que a participação e a discussão política são essenciais. Com argumentos, claro.

Não venho em defesa de alguém agora. Pouco me interessa a vida privada de Paulo Portas, de Sócrates (nem deste nem do original), de Passos Coelho, de qualquer com apelido Coelho, Cavaco, nomes sonantes ou da moda, franceses, americanos ou outros.

Ninguém pode ser crucificado por insinuações. Qualquer um tem direito ao bom nome, à vida privada e à imagem. Os problemas devem ser resolvidos no seu lugar; se há indícios de crime que sejam tratados nos tribunais, se os tribunais não funcionarem, ponham-se os tribunais a funcionar.

Mesmo os facínoras! Por exemplo, achei péssimo que Ceausescu tivesse sido executado sem um julgamento a sério. Muita coisa se saberia se se tivesse tratado o caso com acusações fundamentadas e um processo claro. Talvez por isso muitos já não se lembram dele, o que permite que apareça alguém semelhante. Fiquei sempre com a suspeita que os que o mataram tinham também algo a esconder, conivências, sobretudo.

Com as imagens o mesmo. Não apreciei aquela fotografia de Savimbi morto, rodeado de moscas ou de Sadam desmazelado e enforcado, embora detestasse ambos. Há diferenças entre Justiça e a vingança que roça o sadismo. Tantos séculos de proselitismo cristão, parece que não servem aos que apregoam essa moral. Mas também não é a moral que me interessa.

As regras têm que servir para um universo de casos. Fui bombardeado ao longo de anos com mails sobre José Sócrates e outros. Fui prejudicado pela política deste Partido Socialista, não apenas pessoalmente, mas sobretudo pelo que fez, ou não fez, a este país.

Mas também não me venham com essa atitude de virgens ruborizadas de outros tempos, perante uma entrevista insensata de Ana Gomes. Não me venham sobretudo com moralismos, aqueles que têm o hábito de se satisfazer com insinuações, acusações anónimas, do género "não sei se é verdade mas repasso". Nem essa atitude, nem só para um lado.

Que se trate rapidamente dos submarinos, dos sobreiros, do BPN e dos seus tentáculos e promiscuidades, das nomeações, favoritismos etc., com provas, e que se faça justiça e que os culpados paguem pelo que fizeram.

E que se vá em frente, porque se há gente na política (não gosto do termo políticos, porque isso não é uma profissão nem herança) que é corrupta, há outros que o não são.
Não confundamos as coisas para que só uns ganhem há custa do ruído.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

O POVO E A RALÉ


 De Hannah Arendt um texto que vale a pena reler

4. O POVO E A RALÉ

Se o erro comum dos nossos tempos é imaginar que a propaganda pode conseguir tudo e que um homem pode ser persuadido a fazer qualquer coisa, contanto que a persuasão seja suficientemente forte e atraente, era crença comum naquela época que a "voz do povo era a voz de Deus", e que a tarefa de um líder era, como disse Clemenceau com tanto desdém, seguir essa voz com esperteza. As duas atitudes derivam do mesmo erro fundamental de considerar-se a ralé idêntica do povo, e não uma caricatura dele.
A ralé é fundamentalmente um grupo no qual são representados resíduos de todas as classes. É isso que torna tão fácil confundir a ralé com o povo, o qual também compreende todas as camadas sociais. Enquanto o povo, em todas as grandes revoluções, luta por um sistema realmente representativo, a ralé brada sempre pelo "homem forte", pelo "grande líder". Porque a ralé odeia a sociedade da qual é excluída, e odeia o Parlamento onde não é representada. Os plebiscitos, portanto, com os quais os líderes modernos da ralé têm obtido resultados tão excelentes, correspondem à táctica de políticos que se estribam na ralé. Um dos mais inteligentes líderes dos adversários de Dreyfus, Déroulède, clamava por uma "República através do plebiscito".
A alta sociedade e os políticos da Terceira República haviam apresentado à ralé francesa uma série de escândalos e fraudes públicas. Invadia-os agora um tenro sentimento de familiaridade paterna por seu rebento, um sentimento misto de admiração e medo. O menos que a sociedade podia fazer pela sua sua filha era protegê-la com palavras. 

Arendt, H. (2006). As origens do totalitarismo. Lisboa: D. Quixote.

Nota: por uma questão de facilidade o texto é um misto de uma edição brasileira com uma portuguesa