sexta-feira, 31 de julho de 2009

Especuladores

Algumas pérolas do “comunicado da CME" sobre a isenção de IMI no Centro Histórico

«6 - O baixo assinado (sic!) que corre na Net integra verdadeiros defensores do Centro Histórico? Não. Integra pessoas que lutam, apesar de legitimamente, pelos seus interesses pessoais, sem terem verdadeiras preocupações patrimoniais, sociais, culturais»

«7 – Os pretensos fazedores de opinião, jornalistas, articulistas, cronistas, comentadores políticos e até políticos que responsabilizam a Autarquia pela degradação física e a ausência de actividades que promovam a sociabilidade, a cultura, o turismo, as artes no Centro Histórico têm razão?Não.
Primeiro, omitem, por ignorância ou má-fé, que a responsabilidade directa pela degradação dos prédios no Centro Histórico é dos proprietários alguns deles ricos e especuladores imobiliários.

in http://maisevora.blogspot.com/

Mas afinal o texto, segundo o Diário do Sul não é da Câmara mas do assessor principal do Presidente da Câmara.
Andei a pensar quem seriam os especuladores. Olhei para mim e não me achei; pensei naquele dono da tasca ali perto e também não me pareceu; um ou outro comerciante que conheço também não o achei em condições disso. Talvez o ex-banco Pinto e Sotto Mayor; talvez a Câmara Municipal que tem negociado tanto património ... E dei por mim a pensar que não pode ser assim: isso era no tempo do Botas que queria que todos desconfiassem de todos e que todos se denunciassem uns aos outros, bastando as suspeitas como fundamento.

Como o senhor assessor é pago pelo erário público deveria fundamentar e, pelo menos, mostrar a lista dos especuladores que aponta, com provas suficientes para isso. Ou então, se não for capaz, que peça desculpas aos moradores e que desconte no ordenado a perda de tempo.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

O imposto municipal e o Património Mundial

«Julgamos que após a longa discussão aqui publicada à volta do IMI do Centro Histórico de Évora teria esgotado o assunto que se espera resolvido a contento. Todavia algumas solicitações recebidas pedem-nos acolhimento aos seus pontos de vista sobre o assunto IMI. Estamos a publicá-las para melhor esclarecimento público e deste modo pomos fim à discussão do assunto nestas colunas. Diário do Sul dedicou a este caso espaço alargado das suas edições»
(Nota da Redacção, publicada hoje no Diário do Sul, enquadrando posições da CME, de António Dieb do PSD, da coordenadora concelhia da CDU e um texto endereçado ao Director Regional da Cultura).
citado por http://maisevora.blogspot.com/

Ora o "Diário do Sul" encerrou a questão, precisamente quando o debate começa a existir.

Não costumo ler o Diário do Sul, até porque na vida temos que ter prioridades. Também não chego ao ponto de dizer que este jornal seja o órgão oficial do executivo camarário. Parece quase, mas não é, nem a tanto se atreveria a Câmara actual.

É estranha esta atitude de regozijo do actual presidente em relação ao possível fim da isenção do imposto municipal no Centro Histórico. Diria que são atitudes que só se coadunam com uma visão de curto prazo e que não têm em conta a identidade e a importância da cidade, o que é grave.

Veja-se o que aconteceu por essa Europa no século XX em relação ao património construído. O que não foi destruído pela revolução industrial foi arrasado pela 1ª e 2ª guerras. Londres, Moscovo, S. Petersburgo, Cracóvia, Colónia, Dresden, Berlim ... foram bombardeadas sistematicamente, algumas até ao limite. Até a Espanha que oficialmente não entrou em nenhuma dessas guerras foi em grande parte destruída pela guerra civil.

E foram reconstruídas!

Muito do que vimos é pastiche, mas mesmo assim fez-se.

Quanto custou, quanto custa essa reconstrução e essa manutenção no dia a dia?

Aqui, em Évora, um caso excepcional na Europa, herdámos um património mais ou menos genuíno, fruto também de muita gente que lutou pela sua preservação.
Mas estas coisas pagam-se e se não houver o mínimo de despesas e subsídios ou minimização de despesas para os proprietários e moradores as coisas caem sem necessidade de guerra nenhuma, como cairam e foram (e são) destruídas em muitos lados e até aqui.

Será que alguns pensam que o património, para existir, tem que ser preservado apenas pelos moradores? Para que se fomente o turismo, para que se tirem fotografias? E que os moradores paguem o ónus de uma reconstrução mais cara (quando se mexe numa parede ou num chão pode aparecer muita coisa inesperada), de limitações inúmeras, de trânsito e estacionamento condicionado, de transportes obsoletos, de estruturas e serviços que se deslocam para outros lados?

Há quem queira que uns paguem tudo para manter, repito, uma cidade para os turistas tirarem fotografias?
Pensem também nos custos de tornar um centro histórico ainda mais caro para os que lá vivem e depois vejam quem é que o quer preservar só à sua custa.

Afinal, talvez o que falte a alguns é uma concepção de cidade viva e Património Mundial vivido.

A catedral de Miranda do Douro






Faz impressão como se fez uma catedral neste local e com esta dimensão.
Se a província de Trás-os-Montes já era periférica, Miranda ainda mais em relação aos centros de decisão, isto é, Lisboa. Imagine-se uma viagem até lá, antes da chegada do comboio e num país sem estradas. Veja-se também as arribas do Douro e o que elas seriam antes de haver barragens.
E lá está este edifício imenso, como para mostrar aos espanhóis, e a todos em geral, que aqui também mandava o Altar e o Trono.
Uma catedral do século XVI, uma igreja-salão para todos ouvirem a mesma voz e interiorizarem o mesmo ritual, como na de Portalegre, por exemplo.


Descaramento!?!

É surpreendente o descaramento de alguns que, ao dizerem o que lhes apetece só para se promoverem, culpando sempre os outros pelos pretensos azares, parecem querer presumir que os ouvintes são uns atrasados passivos sem memória nenhuma.
Vem isto a propósito de Santana Lopes num debate com António Costa. Até teve o desplante de dizer que os outros é que deixaram dívidas e que um candidato a vereador foi responsável por prejuízos em relação ao túnel (o tal que além de caríssimo, à nossa custa, ainda mete mais automóveis em Lisboa em cima dos passeios). Como se as suas ideias "miraculosas", à custa do orçamento, não pudessem ser postas em causa.
Será que o senhor Lopes não tem consciência que deixou Lisboa quase ingovernável e que se não fossem os outros que lá ficaram, não apenas António Costa mas outros vereadores da oposição, até o seu anterior vice-presidente, Lisboa estaria na bancarrota e que a se a câmara já conseguiu recuperar algum crédito totalmente perdido no tempo em que este senhor desbaratava tudo e não pagava foi porque ele se foi embora? Como é que alguém que (como é que Durão Barroso, ao fugir, e o PSD a dar-lhe confiança …?) que foi despedido sumariamente pelo Presidente da República (demasiado paciente) por incompetência como primeiro-ministro ainda é capaz de se apresentar publicamente com estes dislates?

sábado, 25 de julho de 2009

O maior pecador


Não sei quem foi o maior pecador. Mas sinceramente aqui vai uma pequena homenagem a quem se fez representar assim post-mortem na catedral de Miranda do Douro:
"Aqui jaz Lourenzo Machado o maior pecador pede que..."

Um bom exemplo para alguns! Reconheceu que errou e pede humildemente que rezem por ele. Ou será que foi uma última homenagem a si próprio?
Quanto aos actuais que só se gabam, seria melhor que se fossem embora! Já!
Porque nem sabem reconhecer o que não fizeram ou o que fizeram e não deveriam ter feito.

Linguagem gestual

A esta hora, com a profusão de notícias de última hora do Verão, já alguns se esqueceram dos cornitos do Manuel Pinho.
Estava eu, na véspera dos cornitos, em uma noite de insónias, abri a televisão e vejo uma entrevista com o ministro da Economia. Digo até que achei alguns argumentos interessantes sobre o que ele antes tinha anunciado sobre o fim da crise antes dela começar.
Para lá do resto, o que me admirou foi a maneira de fazer cornos.
Com as duas mãos?!
Isso é coisa de betinhos. Os pobres fazem apenas com os dedos de uma mão.

Autárquicas em Évora

Diz-se que esta câmara não fez nada.
Não é verdade: aumentou a pasmaceira, aumentaram os projectos congelados nas gavetas, aumentaram as dívidas, aumentaram as vendas de património municipal, aumentaram as rendas que a câmara tem que pagar pelos espaços alugados para os serviços ...
Em troca de quê? Há quem não se queixe de uns projectos imobiliários feitos à volta das muralhas de um centro histórico empurrado para a decadência. Experimente-se vir ao Centro Histórico num domingo à tarde!
Há quem diga que há candidatos que não conhecidos. Pois é melhor que não sejam conhecidos pelas más razões, porque os que estão já os conhecemos por isso. Faz falta serem ouvidos os outros e faz sobretudo falta que isto mude.
Lembrei-me disto, não apenas pela conjuntura mas até porque nesta altura do ano havia um festival já bem conhecido: o "Viva a Rua" que distinguia Évora das autarquias que continuamente financiam os "pimbas" de Verão, como se tivéssemos obrigação de ouvir sempre alarvidades.
Lembrei-me também por coisas simples. Há dias precisei de tratar de assuntos no gabinete do Centro Histórico que se situa agora ... na zona industrial. Uma estratégia bem pensada para aumentar a circulação automóvel, as rendas pagas e diminuir o número de possíveis utentes.
Este governo já recebeu uma lição com as eleições europeias. Espero que em Évora se comece a pensar nisso a sério.
Escutemos as propostas. É tempo de pensar na mudança do que já está esgotado, até porque se perguntarmos à equipa que está na câmara, hão-de responder o mesmo de há quatro e de há oito anos.
A propósito disto: a água, o que "fez ganhar" as eleições ao Partido Socialista, ao actual presidente que se fazia fotografar com um cano: está uma porcaria! Pelo menos na minha casa sai amarela ou castanha. Experimentem, cada vez que se enche a banheira ou algum balde, a pensar no que esta equipa prometeu e no que fez.

Menino Jesus da Cartolinha. Miranda do Douro


Não é fácil encontrar uma imagem como esta. Geralmente Jesus aparece representado como um recém-nascido nos braços de sua mãe (há também a versão do Santo António), na cruz ou na descida da cruz, também nos braços de sua mãe. Em geral o importante é a mãe e só depois o filho morto.

Aqui aparece um Jesus criança e aparentemente feliz a salvar os que estavam do lado bom do Mundo, isto é, os portugueses. Um Menino Jesus fidalgo, com capa de honra mirandesa e espada que apareceu à população sitiada pelo exército espanhol em 1711, durante a guerra da Sucessão em Espanha.
E quem é que se lembra desta guerra, em que o exército português dirigido pelo Marquês de Minas se internou pela Espanha a dentro, entrando triunfante em Madrid, para depois retirar após a batalha de Almansa, esperando em vão pelo auxílio inglês?
Pois é, isto já não se estuda na disciplina de História.

Da tragédia à farsa


Paulteiros de Miranda

Actualmente, desde que a crise se tornou mundialmente oficial e com consequências sobre "os suspeitos do costume", está novamente na moda citar Karl Marx. Pois citemos também uma célebre frase do 18 do Brumário:

"Hegel observa em uma de suas obras que todos os factos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa."

Com o Ministério da Educação o caso foi pior ainda: começou com uma tragicomédia, continuou com a tragédia sem brilho e acabou em farsa.

O sistema iluminado de avaliação dos professores foi também o "mons parturiens", a montanha que pariu o rato, caíu completamente no descrédito.
O período considerado de avaliação é o dos anos lectivos de 2007/2008 e 2008/2009. Só que o decreto que mandava fixar objectivos individuais foi publicado depois e ainda por cima alterado já este ano por outro "simplex", em que uns podem escolher ter aulas avaliadas e outros não. E quem entregou objectivos fez da maneira que lhe apeteceu, às dúzias ou às dezenas, mais ou menos. Há escolas que aceitaram objectivos individuais em Julho deste ano e esses professores vão ser classificados com Bom.

Ora há um mínimo nas definições das coisas. Objectivos só o são no início do processo e não depois dos factos consumados, isto é quando o ano lectivo já estava no fim ou já as aulas terminadas.

Assim é fácil: adequam-se os objectivos ao que foi feito e está feita a classificação à medida da burocracia e da autoridade.

Mas que ministério é este que se contenta com tão pouco, depois de exigir tanta papelada, depois de tanta teimosia e tantos estragos?
Felizmente a equipa está quase a ser despedida.

PS. Despedidas foram as deputadas do PS que alinharam com Manuel Alegre contra este sistema de avaliação e o Código de Trabalho. Já não vão voltar à Assembleia. Este Partido socialista não gosta dos que põem em causa a voz do dono.

sábado, 11 de julho de 2009

Reformas

Li o seguinte:

A Assembleia da República aprovou ontem, dia 25 de Junho, o Projecto de Lei n.º 663/X ("Institui um regime especial de aposentação para educadores de infância e professores do 1.º ciclo do ensino básico do ensino público em regime de monodocência que concluíram o curso de magistério primário e educação de infância em 1975 e 1976") e o Projecto de Lei .º 764/X, sobre "Regime especial de aposentação para os educadores de infância e professores do 1.º ciclo do ensino básico do ensino público, em regime de monodocência possuindo, em 31 de Dezembro de 1989, 13 ou mais anos de serviço docente".

In http://www.fenprof.pt/

Em 1974 acabei o Liceu. Nesse ano poderia ter entrado para a universidade, se fosse um ano normal. Ainda bem que não foi normal porque foi o ano do 25 de Abril. Em 1974/75 não houve acesso ao ensino superior, sendo esse acesso substituído por um ano no Serviço Cívico, o que fiz como muitos. Como o curso do Magistério Primário era considerado um curso médio não foi abrangido por essa medida e houve colegas meus de Liceu que entraram e acabaram o curso de dois anos em 1976. Hoje podem reformar-se e já conheço quem esteja reformado.
O curso do Magistério Primário era de dois anos, após o 5º ou 7º ano do Liceu. Para se ser professor do ensino secundário, por exemplo de História (noutros não era bem assim), tinha que se tirar um curso superior de 5 anos e dois anos de estágio (e esperar que houvesse vaga para estágio).

Eu, e outros da mesma idade, vamos ter que esperar mais 13 ou 15 anos com a lei actual.
Não tenho inveja, nem a culpa é dos próprios. Gozem a reforma! Mas também não me venham dizer que é dos sindicatos, dado que o Ministério da Educação e o governo pouco ligam às greves e manifestações, únicas em todo o mundo, pela sua dimensão quer quantitativa quer qualitativa.

O recado está dado:
Se tivesses estudado menos tempo serias beneficiado em tempo.

Uma rua de uma cidade Património Mundial

Esta rua que foi de Alconxel ou Alconchel é há mais de um século Rua Serpa Pinto, em memória do explorador das Áfricas que irritou os ingleses a ponto de estes fazerem um Ultimatum, desfazendo o sonho do Mapa Cor-de-Rosa, a grande colónia que seria de Angola à Contra-Costa, um balde de água fria que transformou os republicanos em nacionalistas ofendidos, acusando a monarquia de decrépita, corrupta e incapaz de preservar os “egrégios avós”, “os heróis do mar, nobre povo”. Daí o refrão contra os canhões (noutra versão “contra os bretões”) marchar, marchar.

Ora hoje, nesta rua, a marcha do progresso é lenta e, como não é regresso, é simples decadência!
Ontem contei alguns estabelecimentos que fecharam nestes últimos anos aqui. Sem ser exaustivo, contei doze. E fui-me lembrando, até porque isto é recente, de três barbeiros, um banco que agora serve de urinol, uma livraria, duas discotecas que depois passaram a bares mas que continuam encerradas, pastelarias, uma casa que vendia antiguidades, tubos de canalizações e coisas inúteis, casas da China que já foram outra coisa … Referi aquelas que estão mesmo encerradas, mas poderia ainda falar de lojas de móveis que se transformaram em tribunal, antigas fábricas de mobílias alentejanas, talhos, padarias, lojas de peças de automóveis, oficinas, um clube desportivo, igreja … e o negócio da palha.

A decadência é nítida em toda a cidade intra-muros (evito o termo Centro Histórico, pois a noção que alguma classe média suburbana local tem deste espaço é que isto é uma espécie de grande sala de visitas, boa para tirar umas fotografias, mostrar aos turistas e passear rapidamente de carro pela Praça do Giraldo e ruas transitáveis ao fim da tarde). Mas aqui ainda é maior o marasmo desde que se acabou com o estacionamento ao pé das muralhas. Não estou contra o ajardinamento desses espaços, até penso que foi uma boa ideia, vinda já de outros tempos. O problema é que não se criaram alternativas, nem de estacionamento próximo, nem de circulação de transportes públicos suficientes e atempados, nem se favoreceu a opção normal das cidades do Norte da Europa, que é a de andar de bicicleta.

E assim, a rua que em tempos foi a grande entrada ou saída em direcção a Lisboa, aquela por onde os reis entravam em pompa e circunstância quando vinham à “muy nobre e sempre leal cidade de Évora” está a transformar-se lentamente num grande beco em vias de desertificação.
Talvez falte àqueles que mandam conhecer melhor o que é a cidade, saber o que é uma cidade viva. Falta certamente uma política de promoção da vivência na cidade (e não apenas na parte antiga), com em grande parte deste país cada vez mais suburbano e motorizado.
E, pensando um pouco, por que é que as pessoas vão aos fóruns modernos? Porque querem passear em ruas e praças, lugares de encontro, com comércio, cafés divertimentos ...
Ora isso já cá temos. Era só adaptar um pouco aos tempos actuais, incentivar um pouco...
Qual é a necessidade de ir construir um "fórum", artificial, com preços subsidiados ou minimizados nos custos, à nossa custa, quando já o temos aqui e muito mais genuíno e humanizado. Para mais tarde se verificar que os prédios aqui vão caindo ou ficando entaipados antes de ruirem?

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Pax Iulia






Pax Julia no tempo dos romanos, em memória de César que pacificou os revoltosos autóctones, Baja dos tempos islâmicos, Beja ainda.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Património Mundial


Há sítios que são classificados Património Mundial. Évora é um caso especial, porque toda a cidade antiga intra-muralhas foi considerada como um conjunto. Cidades como esta são assim consideradas, porque preservaram ao longo de séculos o seu património edificado. Évora é assim mas poderia não o ser. Muitas cidades portuguesas foram vendo o seu património destruído, até recentemente, em nome de uma certa concepção de progresso. Mas pior que esse pretenso progresso é a falta de conhecimento que leva a que o património seja destruído. Quem não conhece não ama.

Évora teve felizmente, e foi até pioneira e persistente, grupos que defenderam o património. O templo romano poderia ter tido o mesmo fim que os conventos de S. Domingos, S. Catarina, Paraíso, parte do Salvador, parte de S. Francisco, parte do aqueduto etc. etc. As muralhas só não foram vendidas em hasta pública, porque houve um grupo, o Pró-Évora que encabeçou uma campanha contra a sua destruição (como noutras cidades). E houve o bom senso de não destruir mais porque se vivia na cidade e havia gente que a conhecia.


Hoje há outros perigos. Já muita gente não frequente a antiga cidade, agora chamada de Centro Histórico. E muitos jovens já não a conhecem nem sequer da escola, porque quase não têm aulas de História. O ministério reduziu o número de aulas de História e deixou ainda opções para as escolas. E, por incrível que pareça, há escolas numa cidade Património Mundial que ainda reduzem mais. Em muitas passou-se de três aulas semanais de 50 minutos no terceiro ciclo para uma única aula de 90 m no 7º ano, outra de 90 m no 8º ano e uma de 90 m mais 45 m no 9º ano. Quase menos um terço de aulas num ciclo, embora com o mesmo programa.

Depois querem que os jovens saibam História de Portugal, que tenham conhecimentos sobre o século XX e o mundo contemporâneo, que conheçam o património da cidade. Por favor não gozem com alguns quando dizem asneiras, porque não lhes foi dado o direito a conhecer.


As responsabilidades têm que ser assumidas por cada um onde está e onde trabalha. A culpa não é sempre só dos outros. Se não ensinarmos as crianças e os jovens, sobretudo aqueles que mais precisam do sistema de ensino, porque os pais não lhes podem ou não sabem fornecer alguns conhecimentos ou experimentar vivências, então deixaremos estas questões para as elites que sempre tiveram acesso ao conhecimento e que os utilizam conforme os seus interesses.


Continuaremos com cidadãos informados e outros que o não são, porque não se lhes permite esse direito, e então veremos as consequências na preservação do património, na identidade cultural, para não referir o simples direito de cidadania.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Gárgulas em Alcobaça




Acho muito interessantes as imagens medievais, santos ou monstros, histórias exemplares ou outras. Algumas interpretam-se sem grande dificuldade. Outras seria necessário conhecer melhor não apenas os textos canónicos, como textos apócrifos, de milagres não oficiais, histórias de santos, da Virgem, não reconhecidos, lendas orais que se perderam, em sociedades onde a comunicação se fazia mais pela fala.
Uma destas gárgulas parece um rinoceronte. Seria? Acho difícil, apesar de todos os acrescentos que foram feitos desde o século XII. Uma das primeiras imagens de um rinoceronte foi feita por Durer, com base numa descrição da célebre embaixada de D. Manuel ao Papa.

Entrada no ensino superior, Magalhães e afins.

Algumas ideias para reflectir, sobretudo quando alguns pensam que só merecem elogios. Extracto de uma entrevista a Stephen P. Heyneman:


Os exames portugueses servem para concluir o ensino secundário e de admissão ao superior. Concorda?
É um erro, usar o mesmo exame, porque isso confunde as diferentes funções que essas provas devem ter e torna-se aterrorizador para os alunos. As instituições deviam ter o direito de escolher os seus alunos, aqueles que pagam e aqueles a quem querem oferecer bolsas.
“Começaria por dar computadores aos professores”
Recentemente, num artigo de opinião, Don Tapscott, um especialista canadiano em tecnologia, recomendava ao presidente norte-americano que pusesse os olhos em Portugal e no seu investimento em computadores individuais para os alunos do ensino básico. O Magalhães não convence Stephen P. Heyneman que esteve em Lisboa para falar sobre a política educativa da administração Obama, na Universidade Católica Portuguesa, há uma semana.
“É um computador colorido. Gosto da sua portabilidade. O que me perturba é ter sido dado às crianças como se elas pudessem ter autonomia para trabalhar sozinhas. E os professores?”, pergunta.
“Começaria por dar computadores aos professores para trabalharem e organizarem as suas lições.
Era isso que recomendaria à vossa ministra da Educação”, responde. O que viu, no Porto ou em Lisboa, foi crianças a brincar com o Magalhães, “como se fosse uma máquina de jogos e não como se tivessem um computador para trabalhar”. “Não deve ter sido para isso que os computadores foram distribuídos. Certamente não eram esses os objectivos do Ministério da Educação, mas sim o da sua integração no trabalho escolar”, sublinha.
Heyneman lembra um estudo comparativo feito na Áustria e nos EUA sobre a utilização dos computadores. Enquanto na Áustria o programa foi um sucesso porque os professores foram envolvidos e tiveram formação para aprender a trabalhar e foram eles que ensinaram as crianças; nos EUA não houve formação, nem integração no currículo e os resultados do programa não foram positivos. É em estudos como este que Portugal deveria reflectir, aconselha.
“Testar é produzir igualdade”
Se muitos estudos dizem que os alunos com melhores resultados são os filhos das classes médias. Há muito que Stephen P. Heyneman diz que “as crianças das famílias pobres têm bons resultados”. A sua teoria foi testada em 29 países, entre eles o Chile, Índia, Tailândia ou Irão. “Quanto mais pobre, maior o impacto da educação. Quanto mais rico, maior o impacto da família”, explica, lembrando que a maior parte das crianças do mundo não estão representadas nas estatísticas da OCDE ou nos estudos feitos nos países desenvolvidos. “O que é verdade é o que se passa nos EUA, onde estão apenas dois por cento das crianças do mundo?”, questiona. Heyneman considera importante fazer exames. “Testar é produzir igualdade. Os testes são a oportunidade para cortar com as desigualdades. Nos países pobres, as provas revelam que as crianças pobres têm os mesmos resultados do que as ricas”.

http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1390370