quarta-feira, 25 de março de 2009

Citações

Há, por um lado, aqueles que nunca citam nada e desprezam os autores, como se os que fazem coisas ainda tivessem que obter o favor de pedirem permissão para existirem e viverem de pão e água.
Mas há também a mania de citar continuamente, por vezes banalidades, como se só a autoridade de certos nomes permitisse a propriedade da palavra. Isto é muito comum em certas instituições, de tal maneira que nem se percebe o discurso de uns nem de outros, como se vivêssemos no tempo da Escolástica.

Aproveito um texto de Jorge de Sena e cito, porque vale a pena.

CITAR OU NÃO CITAR- Eis a questão

Certa vez, um inimigo meu que passava e ainda passa, graças à sua produção copiosa e hebdomadária, por crítico literário (o que me salva a mim, nestas matérias copiosas, é não ter sido nunca hebdomadário), e que, nesse tempo, sabia muito pouco inglês, dizia que a minha poesia e a de outros amigos meus era desse inglês traduzida... Esta a anedota n.º 1, que vamos comentar. A anedota n.º 2 refere-se a um amigo meu que não fazia versos «traduzidos» ou não, e que fora meu colega de curso. Certo dia, anos passados, visi­tando-me na minha casa de Lisboa e vendo-se rodeado de livros até ao tecto, perguntou-me muito honesta­mente: - Mas tu, quando escreves, não metes do que lês no que escreves? Como fazes para pensar por ti? - A 3.ª anedota passou-se com um erudito competentís­simo e digno, cujo carácter creio ter motivos para prezar. Dizia-me ele: - Vocês nunca citam nada, nunca fazem uma citação, nunca dão uma abonação -. E estra­nhava sinceramente a prática.
Em face destas três historiazinhas, que há-de um pobre homem fazer? Se a crítica analfabeta desconfia que ele está copiando do que ela não conhece... Se o público bem intencionado acha que a cultura e a infor­mação podem prejudicar a originalidade espontânea... Se a crítica erudita acha, no fundo, que a espontanei­dade corre o risco de, inocentemente, repetir o que já foi dito... E se - o que constitui por si só uma 4.ª ane­dota a comentarmos - a moda é que não se escreva um mísero e mesquinho artigo de jornal, sem um arraial de notas capazes de fazer corar tipógrafos... Digam-me o que há-de um pobre homem perpetrar […]

Acontece, porém que um “ensaio”, sem descer ao nível- que pode ser brilhante, mas é menor como arte literária- das “belas letras” sem mais consequências, é muito susceptível de ter sido escrito sem aparato crítico […]. Daí não se pode concluir que seja uma mastigação do muito que o autor leu. Não se pode concluir que seja uma manifestação de audácia e petulância […]
Se fosse preciso e indispensável, de cada vez que se pense em alguma coisa, fazer o levantamento de tudo o que se disse, neste mundo, acerca dessa coisa não se chegaria nunca a pensar nada. E não se julgue que a segurança do que foi dito, a exibição do que se sabe, etc. etc., constituem por si sós, ciência ou sinal distintivo dela.

SENA, Jorge- O Reino da Estupidez-1. Lisboa: Ed. 70, 1984, pp. 117 a 121

Palavras de Jorge de Sena, engenheiro de formação, doutorado em Literatura Portuguesa, especialista em Camões, romancista, dramaturgo, poeta ensaísta, que teve que se exilar no Brasil e depois nos EUA, leccionando na Universidade de Santa Bárbara, Califórnia, onde morreu, pois nenhuma universidade portuguesa o convidou nem antes nem depois do 25 de Abril

De Jorge de Sena

NO PAÍS DOS SACANAS

Que adianta dizer-se que é um país de sacanas?
Todos os são, mesmo os melhores, às suas horas,
e todos estão contentes de se saberem sacanas.
Não há mesmo melhor do que uma sacanice
para poder funcionar fraternalmente
a humidade de próstata ou das glândulas lacrimais,
para além das rivalidades, invejas e mesquinharia
sem que tanto se dividem e afinal se irmanam.

Dizer-se que é de heróis e santos o país,
a ver se se convencem e puxam para cima as calças?
Para quê, se toda a gente sabe que só asnos,
ingénuos e sacaneados é que foram disso?

Não, o melhor seria aguentar, fazendo que se ignora.
Mas claro que logo todos pensam que isto é o cúmulo da sacanice,
porque no país dos sacanas, ninguém pode entender
que a nobreza, a dignidade, a independência, ajustiça,
a bondade, etc., etc., sejam
outra coisa que não patifaria de sacanas refinados
a um ponto que os mais não são capazes de atingir.
No país dos sacanas, ser sacana e meio?
Não, que toda a gente já é pelo menos dois.
Como ser-se então nesse país? Não ser-se?
Ser ou não ser, eis a questão, dir-se-ia.
Mas isso foi no teatro, e o gajo morreu na mesma.


Jorge de Sena

Nota: a palavra sacana é de origem japonesa e significava peixe ou comedor de peixe. Evidentemente não foram os samurais que fizeram esta alteração semântica.

Palavras gastas

Há quem tenha passado estes últimos anos irritado com a Ministra da Educação. A irritação deu lugar a bombardeamentos de mensagens, com autor e sem autor, como se os outros tivessem que aturar tudo de pessoas que só acordam tarde de mais. Alguns acordaram demasiado tarde e agora mergulham outra vez no sono. Depois de continuamente falarem da “sinistra” que tinha todos os defeitos, agora fazem tudo o que ela quer. E vão passar à frente dos outros, agora desta forma curvilínea, depois de tanta excitação a excitar os outros contra os demónios.
Arrependeram-se e deixam muitos para trás.
Liberdade de opinião é uma coisa, tolerância outra, incoerência é coisa que não me interessa. Como não me interessam os arrependidos de uma hora para outra, aqueles que pedem desculpa continuamente e mais uma vez atropelam os companheiros do dia anterior.
Eu, por mim, não preciso de sorrisos amarelos e não tenho paciência para máscaras que não sejam de Entrudo.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Alexandre Herculano e pensamentos





Sinto algum tédio em relação à política do Ministério da Educação e sua incompetência e às reacções de alguns. E à falta de visão, agora que já pouco falta para acabar o ano lectivo, sendo que um processo de avaliação deve começar logo no início do ano e não depois de meio.
Lembro-me de frases de Alexandre Herculano:

Quanto mais conheço os homens, mais estimo os animais.


Querer é quase sempre poder: o que é excessivamente raro é o querer.


Mas já a natureza rebenta por todo o lado. Na Primavera recomeça o ciclo da alegria. Já a figueira tem figos e a roseira e a laranjeira flores e a vinha parras, indiferentes a crises, governos e incoerências.

domingo, 22 de março de 2009

Os meus funcionários no quintal






Os meus funcionários.


Chamo-lhes funcionários porque funcionam. Sem ordens, numa anarquia como deve ser. Aparecem quando querem, não têm horário definido, trabalham quando querem, descansam quando lhes apetece, mas cumprem as metas e os objectivos. Misturam ócio com trabalho e prazer e não obedecem à voz do dono. Diga-se de passagem que o presumível dono também não está interessado na obediência; nem pode.
Um dos funcionários é o cágado. Não aparece na fotografia porque não lhe apeteceu mostrar-se hoje. Mas, desde que ele começou na sua actividade, o número de caracóis e outros bichinhos tem diminuído. É lento aparentemente, mas eficaz.
O outro é o ouriço. Ainda está em observações. O que significa que só o verei quando lhe apetecer, provavelmente à noite. Espera-se que coma alguma fruta caída e que afaste indesejáveis: os ratos.
Outros são os gatos. Não têm dono, andam por aí. Alguns aparecem, às vezes, com um lacinho ou uma campainha ao pescoço. Mas a natureza deles leva-os ao mesmo. Como dizia um amigo meu, que agora é advogado na Amareleja (uma bela terra), os gatos não são animais domésticos, são comensais. Além disso são uns alarves, não respeitam regra nenhuma que eles não queiram. Quando muito fazem contratos, com contrapartidas, em negociação permanente. E depois até parece que gozam connosco, enquanto andamos a arrancar ervas, eles refastelam-se ao sol, esperam com paciência até atacar no momento certo, em que levam um bocado de chouriço, um queijo ou uma cabeça de peixe, ou mais ainda, além de marcarem a presença com umas urinadelas fedorentas, (eles, elas são mais maviosas, sobretudo quando têm responsabilidades acrescidas, após o mês de Janeiro), apesar de preservarem muito o seu asseio. Mas com eles, desaparecem os ratos, as cobras e, sabe-se lá mais o quê.
É assim. Estes bichos já há muito que descobriram a Ecologia. Nós vamos também aprendendo com eles.

Diana Andringa na Biblioteca Pública de Évora

Recebi da Biblioteca Pública:


No próximo dia 26 de Março, Quinta-feira, pelas 21.30 horas, a Biblioteca Pública de Évora promove mais umas Leituras das Ciências, Artes e Sociedade. A área em foco é o Jornalismo, pela voz da reputada jornalista Diana Andringa.

Diana Andringa nasceu em 1947 em Angola e conta com um vasto currículo que lhe granjeou já diversos prémios pelo seu trabalho jornalístico e condecorações pela sua intervenção cívica. São exemplos os prémios "Nova Gente" de Jornalismo (1985), pelo trabalho sobre a guerra Irão/Iraque; o prémio de Jornalismo da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (1993), pelo documentário "Aristides de Sousa Mendes, o Cônsul injustiçado" e ganhou uma Menção Honrosa no Prémio de Jornalismo “Direitos Humanos, Tolerância e Luta contra a Discriminação na Comunicação Social” do Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (2006), por “Era uma vez um Arrastão”, documentário que analisa o comportamento da comunicação social e desmistifica o célebre acontecimento. Foi condecorada com Ordens nacionais por duas vezes, sendo Comendadora da Ordem do Infante e Grande Oficial da Ordem da Liberdade.
Foi jornalista em vários jornais e revistas como Vida Mundial ou Diário de Lisboa e exerceu cargos de importância na RTP, onde foi responsável por programas, realizou documentários e conduziu entrevistas, focando situações e personalidades de interesse.
Entre os muitos exemplos, abordou nos seus documentários o tema do 25 de Abril, a integração de Goa na República da Índia ou o regresso de Macau à administração chinesa; abordou personagens literárias como José Rodrigues Miguéis ou David Mourão Ferreira, e personagens políticas como Humberto Delgado ou Bento de Jesus Caraça, entre muitos outros.
As Leituras da Ciências, Artes e Sociedade integram-se num programa de longa duração que contou já com a participação de alguns dos nossos mais ilustres cientistas e divulgadores de ciência, como Paquete de Oliveira (Sociologia), Carlos Fiolhais (Física), Máximo Ferreira (Astronomia), Viriato Soromenho Marques (Ecologia), Daniel Sampaio (Psiquiatria) e Cláudio Torres (Arqueologia).
A sessão tem lugar às 21.30 horas na BPE e é de entrada livre, embora esteja sujeita a marcação. Para reservar o lugar basta proceder à inscrição on-line através do sítio da BPE em http://www.evora.net/BPE/ ou através do número de telefone 266 769 330.

O despertar da Primavera. No meu quintal





quarta-feira, 18 de março de 2009

Não e sim. Eis a decisão.

Entrevista à Ministra da Educação.

Haverá mesmo penalização para quem não entregar os OI?
Pode haver ou não. Não é o ME que tem esse poder disciplinar sobre os professores.
[...]
Até mesmo Mário Nogueira reconhece que o professor não pode deixar os problemas à porta da sala de aula e, simultaneamente, lembra que as burocracias da avaliação dos docentes vão coincidir com o final do terceiro período.
O trabalho que se exige aos professores avaliados é, num momento inicial, a entrega dos Objectivos Individuais (OI) e, mais tarde, o preenchimento de uma ficha de auto-avaliação sobre o cumprimento desses OI. Depois, pode acontecer, ou não, uma reunião entre avaliadores e avaliados.
....
Jornal de Notícias, 18 de Maio
http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Nacional/Interior.aspx?content_id=1170558

Parlamento dos Jovens. Sessão distrital.









Ontem foi a sessão regional do Parlamento dos Jovens, em Évora. Havia propostas de onze escolas do distrito, cada uma representada por quatro alunos (deputados) e um suplente. Os deputados da E.S. Severim de Faria foram duplamente vencedores na sessão regional.
Foi aprovada a proposta feita pela turma de Ciência Política desta escola.
A escola ficou em primeiro lugar. Assim vão à Assembleia da República quatro representantes do distrito de Évora, os dois primeiros são da turma, João Zorrinho e José Benjamim.
Valeu a pena o esforço colectivo.
Das outras escolas houve também propostas muito interessantes.